Captura de tela do filme A Árvore da Vida (2011), dirigido por Terrence Malick, Diretor de Fotografia: Emmanuel Lubezki. |
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Apresentamos a transcrição traduzida do vídeo [LINK]: Las matematicas son para siempre, palestra feita por Eduardo Sáenz de Cabezón. Crédito do texto: Tradutor: Claudia Sander e Revisor: Leonardo Silva.
Esta palestra foi dada em um evento local do TEDx, produzido independentemente pelas Conferências TED. Como usar a matemática para expressar seu amor por alguém? Eduardo Sáenz de Cabezón dá-nos uma resposta muito inesperada.
Eduardo Sáenz de Cabezón combina ciência com humor e histórias. Ele é formado em Teologia e doutor em Matemática e já deu diversas palestras informativas sobre sua área em universidades e escolas de ensino médio. Ele é um contador de histórias para crianças, jovens e adultos. Ele nasceu em Logroño, Espanha, em 1972. Formou-se na Pontifícia Universidade de Comillas em 1996 e também obteve seu bacharelado e doutorado em matemática pela Universidade de La Rioja.
Ele é professor de Ciência da Computação, Sistemas de Informação, Matemática Discreta e Álgebra na Universidade de La Rioja desde 2010. Ele também é tutor de projetos de graduação e mestrado nos programas de Ciência da Computação e Matemática. Ele publicou artigos de pesquisa e é autor do espetáculo matemático "El baúl de Pitágoras", exibido em teatros e bares de diversas cidades espanholas desde 2012. Ele venceu o concurso de monólogos científicos FameLab, na Espanha, em 2013. É um dos fundadores do grupo de monólogos científicos "The Big Van Theory", que se apresentou mais de 200 vezes na Espanha entre 2013 e 2014.
Sobre o TEDx, x = evento organizado de forma independente. No espírito de ideias que valem a pena disseminar, o TEDx é um programa de eventos locais e auto-organizados que reúne pessoas para compartilhar uma experiência semelhante à do TED. Em um evento TEDx, o vídeo das TEDTalks e os palestrantes ao vivo se combinam para estimular discussões profundas e a conexão em um pequeno grupo. Esses eventos locais e auto-organizados são denominados TEDx, onde x = evento TED organizado de forma independente. A Conferência TED fornece orientações gerais para o programa TEDx, mas os eventos TEDx individuais são auto-organizados.* (*Sujeito a certas regras e regulamentos)
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Eduardo Saenz de Cabezon: Imagine que você está em um bar ou em uma boate. Você começa a conversar com uma garota e logo surge esta pergunta: "Com o que você trabalha?" Como você acha seu trabalho interessante, responde: "Sou matemático". Nessa hora, 33,51% das garotas simulam uma ligação urgente e se vão. Outros 64,69% das garotas tentam, desesperadamente, mudar de assunto e se vão. Há algo como 0,8% que são sua prima, sua namorada e sua mãe, que sabem que você trabalha em algo incomum, mas não se lembram em quê, e há 1% que continua a conversa. Quando a conversa segue, inevitavelmente, aparece uma destas duas frases: A) "Eu era péssima em matemática, mas não era minha culpa. O professor é que era péssimo." B) "Mas pra que serve matemática?" Vou tratar do Caso B.
Quando alguém pergunta para que serve a matemática, ele não quer saber quais são as aplicações das ciências matemáticas. Ele está perguntando: "Por que tive que estudar esta droga que nunca mais usei na vida?" É isso que está perguntando realmente. Por isto, quando os matemáticos são questionados para que serve a matemática, costumamos nos dividir em grupos: cerca de 54,51% dos matemáticos vão tomar uma posição de ataque, e 44,77% deles ficarão na defensiva.
Há uma exceção de 0,8%, na qual eu me incluo. Quem são os que atacam? São aqueles matemáticos que irão te dizer: "Esta pergunta não faz sentido, porque a matemática tem um significado próprio. É um bela estrutura que se constrói com a sua lógica própria, e que não precisa que estejam sempre buscando todas as aplicações possíveis. Para que serve a poesia? Para que serve o amor? Para que serve a própria vida? Que tipo de pergunta é esta?"
[GH] Hardy, por exemplo, era um expoente deste tipo de ataque. E os que ficam na defensiva vão dizer: "Mesmo que você não perceba, amigo, a matemática está por trás de tudo". Estes caras sempre vão citar pontes e computadores. "Se você não sabe matemática, sua ponte vai desabar." Realmente, os computadores são matemática pura. E esses caras também vão dizer que por trás da segurança da informação e dos cartões de créditos estão os números primos.
Estas são as respostas que o seu professor vai lhe dar se você perguntar. Ele é do time dos defensivos. Tudo bem, mas quem está certo então? Os que dizem que a matemática não precisa ter um propósito, ou os que afirmam que a matemática está por trás de tudo? Na verdade, ambos estão certos. Mas lembra que eu disse que pertenço aos 0,8% que alegam outra coisa? Então vá em frente e me pergunte para que serve a matemática.
Plateia: "Pra que serve a matemática?"
Eduardo Saenz de Cabezon: Certo, 76,34% perguntaram para que serve, 23,41% não falaram nada e 0,8% que não sei o que está fazendo. Bem, queridos 76,34%... É verdade que a matemática não precisa servir a um propósito. Realmente ela é uma estrutura bela, lógica, provavelmente um dos maiores esforços coletivos já realizados na história da humanidade.
Mas também é verdade que lá, onde cientistas e técnicos estão à procura de teorias matemáticas e modelos que os permitam avançar, está a estrutura da matemática que permeia tudo. É verdade que devemos nos aprofundar para ver o que está por trás da ciência.
A ciência funciona através da intuição, da criatividade. E a matemática controla a intuição e comanda a criatividade. Quase todo mundo que nunca ouviu isto antes se surpreende ao saber que, se pegar uma folha de papel de 0,1 milímetro de espessura, das que usamos normalmente, e se ela for grande o suficiente para ser dobrada 50 vezes, a espessura final ocuparia a distância da Terra até o Sol. A sua intuição diz que isso é impossível. Faça os cálculos e verá que ela está certa. A matemática serve para isso. É verdade que a ciência, todos os tipos de ciência, só faz sentido porque nos ajuda a entender melhor o belo mundo em que vivemos. E ao fazer isso, ela nos ajuda a escapar das armadilhas deste mundo doloroso em que vivemos.
Há ciências que nos ajudam nessa direção claramente. As ciências oncológicas, por exemplo. E há outras que olhamos de longe, com inveja às vezes, mas sabendo que somos o seu suporte. Todas as ciências básicas são a base daquelas, incluindo a matemática.
Tudo o que faz a ciência ser ciência é o rigor da matemática. E esse rigor existe porque seus resultados são eternos. Você já disse ou ouviu dizer, em algum momento, que um diamante é eterno, não é? Isso depende da sua definição de eterno. Um teorema, isso sim, é eterno. O teorema de Pitágoras continua verdadeiro, eu garanto, apesar de Pitágoras estar morto. Mesmo se o mundo desabasse, o teorema de Pitágoras ainda seria verdadeiro. Onde quer que um par de catetos e uma boa hipotenusa se reúnam, o teorema de Pitágoras estará lá, funcionando como um louco.
Bem, nós, matemáticos, nos dedicamos a fazer teoremas, verdades eternas. Mas nem sempre é fácil saber o que é uma verdade eterna, um teorema, e o que é uma simples hipótese. Você precisa de uma demonstração. Por exemplo: imagine que eu tenho aqui um campo grande, enorme, infinito. Eu quero cobri-lo com peças iguais sem deixar espaços. Eu poderia usar quadrados, não é? Eu poderia usar triângulos; círculos não, eles deixam lacunas. Qual é o melhor formato para usar? Um que cubra a mesma superfície, mas com uma borda menor.
Pappus de Alexandria, no ano 300, disse que o melhor era usar hexágonos, assim como as abelhas. Mas ele não provou. O cara disse: "Hexágonos, ótimo! Vamos com hexágonos!" Ele não provou, permaneceu uma hipótese. Disse: "Hexágonos!" E o mundo, como você sabe, se dividiu entre Pappistas e anti-Pappistas. Até que, 1.700 anos depois, em 1999, Thomas Hales provou que Pappus e as abelhas estavam certos: o melhor é usar hexágonos. E isso se tornou um teorema, o "teorema da colmeia", que será verdadeiro para todo o sempre. Mais que qualquer diamante que você tenha.
Mas o que acontece se formos para a terceira dimensão? Se eu quiser preencher o espaço com peças iguais, sem deixar espaços, eu posso usar cubos, certo? Esferas não, elas deixam lacunas. Qual é o melhor formato para usar? Lord Kelvin, dos famosos "graus Kelvin" e tudo mais, disse que o melhor era usar um octaedro truncado. Que, como todo mundo sabe. É esta coisa aqui.
Qual é? Quem não tem um octaedro truncado em casa? Mesmo de plástico. "Querida, traga o octaedro truncado, temos visitas!" Todo mundo tem. Mas Kelvin não provou. Permaneceu uma hipótese, a "conjectura de Kelvin". E o mundo, como você sabe, se dividiu entre Kelvinistas e anti-Kelvinistas. Até que cento e poucos anos depois. Cento e poucos anos depois, alguém descobriu uma estrutura melhor. Weaire e Phelan. Weaire e Phelan descobriram esta coisinha aqui. Esta estrutura, à qual deram o criativo nome de: "estrutura de Weaire-Phelan".
Assim como a estrutura de Weaire-Phelan é a melhor até que apareça outra melhor. Mas cuidado! Pois esta tem uma chance real, mesmo que passem cento e poucos anos, ou mesmo 1.700 anos, de alguém provar que ela é o melhor formato possível. Então ela se tornará um teorema, uma verdade para todo o sempre. Mais que qualquer diamante. Então, se você quiser dizer para alguém que o amará por toda a vida, dê-lhe um diamante. Mas se você quiser dizer que o amará para todo o sempre, dê-lhe um teorema! Mas espere um pouco! Você terá que provar que o seu amor não é apenas uma hipótese. Obrigado.
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