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A Educação em Ilíada e Odisseia

A EDUCAÇÃO HOMÉRICA

É realmente de Homero que nossa história deve partir: é em Homero que começa, para não mais interromper-se, a tradição da cultura grega: seu testemunho é o mais antigo documento que podemos, proveitosamente, compulsar acerca da educação arcaica. O papel de primeiro plano, desempenhado por Homero na educação clássica, convida-nos, por outro lado, a determinar com precisão aquilo que podia já representar, para ele, a educação (1).

INTERPRETAÇÃO HISTÓRICA DE HOMERO

Não é certamente sem precaução que o historiador pronunciará o nome Homero (2): ele não pode falar simplesmente da "época homérica": a Ilíada e a Odisséia apresentam-se-lhe como dois documentos de caráter complexo, e sua análise deve procurar discernir a herança de uma velha tradição legendária e poética, de um lado, e a contribuição própria do poeta, de outro; deve ela distinguir entre a composição de conjunto da obra e as modificações, inserções e conexões que o filólogo crê descobrir.

Na medida em que parece estabelecer-se um acordo sobre uma questão disputada exaustivamente (3), tende-se a admitir que nosso texto — aquele que, segundo se pensa, Hiparco teria levado, no fim do reinado de seu pai Pisístrato (528/7), da Jônia para Atenas, onde foi adotado oficialmente para o concurso de rapsodos das Panatenéias [1] — existia, substancialmente, desde o século VII. Partindo dessa data, fomos levados, aos poucos, a fixar a composição dos cantos essenciais da Ilíada (a Odisséia parece mais tardia) numa data “que não pode ser muito posterior aos meados do século VIII” (4). Supondo-se que essa redação deva ser considerada como obra de um só poeta — de um Homero real, antes que o resultado do esforço coletivo de várias gerações de aedos — ela exige a elaboração prévia de toda a tradição, bastante evoluída, suposta pela língua, o estilo, as lendas homéricas, à qual se deve conceder ao menos um século inteiro a título de margem, o que, entre tantas datas propostas pelos antigos (5) e pelos modernos, nos reconduz àquela em favor da qual se havia manifestado Heródoto que faz Homero (e Hesíodo) viver “quatro centenas de anos de mim, não mais [2]”, ou seja, por volta de 850.

Mas não basta ter feito remontar a epopéia inteira aos anos que medeiam entre 850 e 750: é necessário, ainda, determinar seu valor documental (6). Será útil não o esquecer, Homero é um poeta, não um historiador; e, ademais, dá livre vôo à sua imaginação criadora, uma vez que se propõe não a descrever cenas de costumes realistas, mas a evocar uma gesta heróica, projetada num passado prestigioso e longinquo, em que não somente os deuses mas também os animais falavam: recorde-se Xanto, um dos cavalos de Aquiles, dirigindo a seu dono palavras proféticas [3], à semelhança do cavalo de Roland, no Petit Roi de Galice: pois não se deve exagerar o caráter singelo e primitivo desta obra, herdeira de uma experiência já tão amadurecida. Mas não se pode, tampouco, fazer de Homero um Flaubert ou um Leconte de Lisle, refertos de escrúpulos arqueológicos: a sua imagem de uma idade heróica é uma imagem compósita, em que se superpõem reminiscências esfiadas durante quase um milênio de história (certos elementos remontam para além das sobrevivências micênicas, aos belos dias da grandeza minoana: assim, por exemplo, quando a Ilíada [4] evoca as danças da juventude de Cnossos e as acrobacias no “teatro” (χόρος) de Dédalo, destruído já por ocasião da catástrofe de 1400).

Entretanto, se essa imagem não contém muitos anacronismos, no conjunto deve tirar a maioria de seus elementos não precisamente talvez do período contemporâneo de “Homero” (a idade aristocrática das cidades da Jônia), mas daquele que o precedeu imediatamente, a idade medieva que sucede às invasões dóricas (1180-1000). Com a condição de proceder-se com prudência, eliminando tudo o que nele se possa mesclar de mais antigo ou se tenha introduzido de mais recente, é possível servir-se de Homero como uma fonte válida para estas idades obscuras.

CAVALHEIRISMO HOMÉRICO

Falaremos de uma “idade média homérica” não por tratar-se de um período pouco conhecido, inserto entre dois outros mais conhecidos, mas porque a estrutura política e social dessa sociedade arcaica apresenta analogias formais com a da nossa Idade Média ocidental (analogias que, obviamente, não cabe levar até um paralelismo paradoxal: na História não há retorno idêntico e omne simile claudicat: falo de um cavalheirismo homérico no sentido em que se diz “o feudalismo japonês”) (7). A comparação parece impor-se principalmente em relação à Idade Média primeva, aquela que vai da época merovíngia ao ano 1000: a sociedade homérica mostra-se bastante análoga ao pré-feudalismo carolíngio.

No vértice, o rei, cercado de uma aristocracia de guerreiros, de uma verdadeira corte que compreende, de uma parte, o conselho dos grandes vassalos, homens idosos (λέροντες), honrados como tais, e cuja experiência os torna. valiosos nos conselhos, a assessoria judiciária, e, de outra parte, o circulo dos fiéis, jovens guerreiros (κοῦροι) que formam a classe nobre, o λαός oposto à massa do δῆμος, dos plebeus, os θῆτες. Estes κοῦροι (que equivalem aos pueri vel vassalli de Hincmar) podem ser filhos de príncipes ou de chefes, que sirvam ao rei de sua pátria, como podem ser recrutados entre os peões e os aventureiros alienígenas perseguidos: essa sociedade da idade média helênica é ainda bastante instável e bem próxima do tempo das invasões. Vivem eles na corte (acaso não são companheiros do rei, ἔταἶροι?), alimentados à sua mesa com as contribuições ou tributos recebidos pelo soberano.

Essa vida de comunidade, essa confraria de guerreiros (cujas conseqüências para a história da educação e da moral logo veremos) dura até o dia em que, em recompensa por seus leais serviços, o súdito fiel é enfeudado, mediante a outorga de um domínio (τέμενος) provido dos rendeiros necessários ao seu usufruto e subtraído ao domínio público. Concessão a princípio precária, ou pelo menos transitória, antes de estabilizar-se e tornar-se hereditária. Parece que da Ilíada à Odisséia se processa uma evolução análoga aquela por que passou a sociedade carolíngia: a nobreza torna-se cada vez mais senhora de seus feudos, ao passo que o poder real se desintegra pouco a pouco ante a elevação desses domínios senhoriais à escala de pequenos burgos, os quais serão mais tarde aproximados e unidos para constituir a cidade clássica (os Côdridas aparecem-nos um pouco assim  como os Capetos da Ática).

A CULTURA CAVALHEIRESCA

Eis o fato fundamental que explicará as características originais da tradição educativa da Grécia clássica: a cultura grega foi, originariamente, privilégio de uma  aristocracia de guerreiros. Vemo-la aqui, essa cultura, em seu estado nascente. Pois estes heróis homéricos não são combatentes selvagens, guerreiros pré-históricos, como se compraziam em imaginá-los nossos predecessores românticos: em certo sentido, são já cavalheiros.

A sociedade homérica sucedera a uma velha civilização, da qual nem todos os refinamentos haviam desaparecido. Os jovens κοῦροι dispensam a seu suzerano o que se pode chamar propriamente um serviço de corte: como os donzéis da Idade Média, eles servem à mesa por ocasião dos festins reais: “os κοῦροι enchem as crateras até às bordas [5]”: verso tão característico de seu papel de copeiros que voltamos a encontrá-lo, repetido ou interpolado, em quatro outros episódios [6]; serviço nobre, bem diverso do dos simples domésticos (κήρυκες).

Participam também dos cortejos: sete jovens acompanharão Ulisses trazendo Briseida a Aquiles [7]; desempenham um papel nos sacrifícios, ao lado do sacerdote [8], não somente como trinchantes, mas porque “cantam o belo peã e com sua dança celebram o Preservador”,

καλὸν ἀείδοντες παιήονα κοῦροι  Ἀχαιῶν
μέλποντες Ἐκἀεργον [9].

Pátroclo veio refugiar-se na corte de Ftia, procedente de Opunte, sua pátria, depois de um assassínio involuntário. Seu próprio pai, Menécio, ali o apresenta ao rei Peleu; este o acolhe com afabilidade e o põe ao lado de seu filho Aquiles, ao qual prestará o serviço nobre de “escudeiro” (termo com que A. Mazon traduz, elegantemente, o θεἀπων de Homero [10]).

Juntamente com as cerimônias, os jogos constituíam o aspecto dominante da vida destes cavaleiros homéricos. Jogos ora livres e espontâneos, meros episódios da vida cotidiana (esta vida nobre é já uma vida de lazeres de bom gosto): como na festa promovida por Alcino [11]; jogos esportivos (8), divertimentos “musicais”: dança dos jovens feácios, dança da bola pelos filhos de Alcino, canto do aedo, dedilhar da lira: Aquiles, recolhido em sua tenda, disfarça sua pena cantando, somente para si mesmo, os feitos dos heróis, e acompanhando-se com a phorminx sonora [12]; possivelmente já, também, concursos de eloqüência e disputas verbais (9).

Outras vezes, ao contrário, constituem os jogos uma manifestação solene, organizada e regulamentada com diligência: que me baste lembrar, no canto Ψ da Ilíada, os jogos funerários em honra de Pátroclo: o boxe, tão caro já aos minoanos (10), a luta, a corrida, a justa, o arremesso de peso, o tiro de arco, o dardo e, especialmente e em primeiro lugar, o esporte que ficará sendo sempre o mais nobre, o mais estimado: a corrida de carros [13].

Sim, estes cavalheiros distinguem-se bastante de guerreiros bárbaros: sua vida é realmente uma vida de corte, já “cortês”: implica um refinamento notável de atitudes: considere-se a amabilidade que revela Aquiles em seu papel de organizador e de árbitro dos jogos [14], o espirito esportivo dos campeões e dos espectadores, seja do boxeador Epeio reerguendo seu adversário Euríalo após o duro golpe que acabava de pô-lo fora de combate [15], seja dos aqueus contendo Diomedes quando, sob seus golpes, a vida de Ájax está em perigo [16].

Essa polidez acompanha os heróis também no combate, até mesmo nos assaltos rituais de afrontas que preludiam a refrega. Subsiste ela em todas as circunstâncias: que refinamentos de cortesia nas relações entre Telêmaco e os pretendentes, relações no entanto tão tensas e transbordantes de ódio!

Essa atmosfera de polidez, pelo menos na Odisséia, que é mais recente, leva, como por seu florescimento normal, a uma grande delicadeza de atitude para com a mulher: como então esses mesmos pretendentes não respeitam Penélope? Do velho Laertes se diz que, para não despertar o ciúme de sua esposa, não se permitiu a si mesmo desfrutar da escrava Euricléia [17]. A mãe de família é, realmente, senhora da casa: atente-se para Arete, rainha dos feácios; atente-se para Helena em sua casa, em Esparta: é ela quem acolhe Telêmaco, quem dirige a conversação, quem “recebe”, na acepção mundana da palavra.

Cortesia, mas também habilidade (confluímos, aqui, na sabedoria oriental): como portar-se no mundo, como reagir ante circunstâncias imprevistas, como proceder e, antes de tudo, como falar: seja-me suficiente evocar Telêmaco em Pilos ou em Esparta, e Náusica diante de Ulisses náufrago.

Tal é, sumariamente esboçada, a imagem ideal do “perfeito cavalheiro” da epopéia homérica. Mas ninguém podia, espontaneamente, tornar-se um κοῦρος consumado: essa cultura, de conteúdo rico e complexo, supõe uma educação adequada. Ora, esta última não nos é desconhecida: Homero interessa-se pela psicologia de seus heróis na medida suficiente para que saibamos de que maneira foram eles educados, de que maneira puderam chegar a essa flor do cavalheirismo; a legenda heróica transmitia dados sobre a educação de Aquiles exatamente como os ciclos épicos da Idade Média, que consagravam, por exemplo, uma canção de gesta aos Enfances Vivien.

QUIRÃO E FÊNIX

A figura típica de educador é a de Quirão, “o sapientíssimo centauro [18]”; grande número de lendas parece ter-se apossado de seu nome: ele educou não somente Aquiles, mas ainda muitos outros heróis: Asclépio, o filho de Apolo [19], Actéon, Céfalos, Jasão, Melânio, Nestor...; Xenofonte [20] enumera, de enfiada, vinte e um nomes. Consideremos aqui sômente a educação de Aquiles. Quirão era amigo e conselheiro de Peleu (que lhe deve, entre outras coisas, a fortuna de suas núpcias com Tétis): é de modo bastante natural que este lhe confia o filho.

Grande número de monumentos literários e figurativos mostram (11) mostram Quirão ensinando a Aquiles os esportes e os exercícios cavalheirescos, caça, equitação, dardo, ou as artes corteses, como a lira, e mesmo (não reina ele sobre as planícies do Pelion, ricas em ervas medicinais?) a cirurgia e a farmacopéia [21]: curiosa tintura de saber enciclopédico, de sabor bem orientalizante (pensar-se-á na imagem da cultura de Salomão, evocada pelo autor alexandrino da Sabedoria [22]: não há dúvida de que se trata, aqui como lá, de uma imagem idealizada: o herói homérico deve. saber. tudo, mas é um herói; seria ingênuo imaginar que o cavalheiro homérico fosse também, normalmente, um feiticeiro curandeiro).

Este último traço é o único explicitamente mencionado por Homero, mas um episódio da Ilíada apresenta-nos [23] outro mestre de Aquiles cuja aparência, menos mítica que a de Quirão, tem a vantagem de permitir-nos entrever, de maneira realista, o que seria essa educação cavalheiresca: trata-se do episódio de Fênix (12). A fim de contribuir para o êxito de sua difícil embaixada junto a Aquiles, Nestor sabiamente reuniu, a Ulisses e Ájax, este bom velho que poderá comover o coração de seu antigo pupilo (e é realmente enternecido, com efeito, que Aquiles responderá a seu “velho bom papai”, como o chama: ἃττα γεραιέ [24]).

Para ser ouvido, Fênix julga que deve recordar a Aquiles toda a sua história, num longo discurso [25] cuja prolixidade um tanto senil é bastante instrutiva para nós: Fênix, fugindo à cólera de seu pai (estavam em conflito por causa de uma bela cativa), veio refugiar-se na corte de Peleu, que lhe outorgou um feudo nos Dólopes [26]. É a este vassalo querido que o rei vai confiar a educação de seu filho (não é este também um traço bastante “medieval"?): é-lhe entregue bem criança; vemos Fênix tomar Aquiles sobre os joelhos, cortar-lhe carne, fazê-lo comer, beber: “E quantas vezes me molhaste, de vinho, a túnica, no penoso tempo da infância! [27]"

“Fui eu quem fez de ti o que tu és!", declara com orgulho o velho preceptor [28], pois que sua assistência não se restringira à primeira infância: ainda a ele é confiado Aquiles por ocasião de sua partida para a guerra de Tróia, a fim de que venha em socorro de sua inexperiência. Nada mais notável que a dupla missão de que Peleu o investira nessa ocasião: “Não passavas de uma criança e nada sabias ainda da guerra, que a ninguém poupa, nem das assembléias onde os homens se fazem ilustres. E foi para isso que êle me havia enviado: para ensinar-te a ser, ao mesmo tempo, um bom conselheiro, um bom realizador de façanhas (μύθων τε ρητῆρ' ἕμεναι, πρηκτῆρά τε ἕργων) [29]”; fórmula em que se condensa o duplo ideal do perfeito cavalheiro: orador e guerreiro, capaz de prestar a seu suzerano tanto serviço judiciário como serviço de campanha. A Odisséia mostra-nos, da mesma maneira, Atena instruindo Telêmaco sob a inspiração dos exemplos de Mentes [30] ou de Mentor [31].

Encontramos assim, na origem da civilização grega, um tipo de educação nitidamente definido: aquele que o jovem nobre recebia dos conselhos e dos exemplos de um mais velho a quem tinha sido confiado, em vista de sua formação.

SOBREVIVÊNCIAS CAVALHEIRESCAS

Ora, durante longos séculos (pode-se dizer que quase até o termo de sua história), a educação antiga conservará muitos traços que lhe vinham desta origem aristocrática e cavalheiresca. Não me refiro ao fato de as sociedades antigas, inclusive as mais democráticas, permanecerem sempre, para nós modernos, sociedades aristocráticas em virtude do papel que nelas desempenha a escravatura, mas a um elemento mais intrínseco: mesmo quando pretendiam e se reputavam democráticas (como a Atenas do século IV, com sua política demagógica em matéria de cultura: θεωρικόν, arte ao alcance do povo, etc.), as sociedades antigas viviam sobre uma tradição de origem nobre: a cultura podia ser repartida igualitariamente, mas nem por isso conservava menos a marca dessa origem; estabelecer-se-á aqui, sem dificuldade, um paralelo com a evolução da civilização francesa. que progressivamente estendeu a todas as classes sociais e, de a1gum modo, vulgarizou uma cultura cuja origem e inspiração são nitidamente aristocráticas: não acabou de tomar sua Forma nos salões e na corte do século XVII? Todas as crianças da França descobrem a poesia e a literatura nas Fábulas de La Fontaine: este as havia dedicado ao Grão Delfim e (l. XII) ao duque de Borgonha!

Eis por que convém examinar um pouco mais de perto o conteúdo da educação homérica e seu destino. Nela se distinguirão, como em toda educação digna deste nome (a distinção encontra-se já em Platão [32]), dois os aspectos: uma técnica, pela qual a criança é preparada e progressivamente “iniciada em determinado modo de vida, e uma ética, algo mais que uma simples moral de preceitos: certo ideal da existência, um tipo ideal de homem a realizar (uma educação guerreira pode contentar-se em formar bárbaros eficazes ou, ao contrário, colimar um tipo refinado de “cavalheiros”).

O elemento técnico já nos é familiar: manejo de armas, esportes e jogos cavalheirescos, artes musicais (canto, lira, dança) e oratória; arte de bem viver, traquejo mundano; sabedoria. Todas estas técnicas se encontrarão de novo na educação da época clássica, não certamente sem passar por uma evolução no curso da qual veremos, particularmente, os elementos mais intelectuais desenvolverem-se em detrimento do elemento guerreiro: quase que somente em Esparta este último conservará seu lugar de primeiro plano, embora sobreviva, mesmo na pacífica e civil Atenas, no gosto do esporte e em certo estilo de vida realmente viril.

Importa, mais ainda, analisar a ética cavalheiresca, o ideal homérico do herói, e constatar-lhe a sobrevivência na época clássica.

HOMERO, EDUCADOR DA GRÉCIA

Tal sobrevivência parece, à primeira vista, explicar-se pelo fato de ter a educação literária grega conservado, durante toda a duração de sua história, Homero como texto de base, como centro de todos os estudos: fato considerável, do qual nós dificilmente conseguimos imaginar as conseqüências, porque, se temos clássicos, não temos (como os italianos têm Dante e os anglo-saxões Shakespeare) um clássico por excelência; e a dominação de Homero sobre a educação grega exerceu-se de maneira bem mais totalitária ainda do que, entre uns ou outros, a de Shakespeare ou a de Dante.

Como o disse Platão [33], Homero foi, no mais pleno sentido, o educador da Grécia (τν λλάδα πεπαίδευκεν). E o foi desde o princípio (ξ ρχς), como já salientava Xenófanes de Cólofon [34] no século VI: vede, no fim do século VIII, a profunda influência que, nesta Beócia ainda inteiramente campesina, exerce já sobre o estilo de Hesíodo (que começou sua carreira como rapsodo, recitador de Homero). E o será sempre: em plena Idade Média bizantina, no século XII, o arcebispo Eustácio de Tessalônica compilou seu grande comentário, acrescido de toda a contribuição da filologia helenística. Entre tantos testemunhos que atestam a presença de Homero à cabeceira de todo grego cultivado, como à de Alexandre em campanha, ressaltarei o do Banquete de Xenofonte [35], onde um personagem, Nicerato, nos diz: “Meu pai, desejando que eu me tornasse um homem completo (νρ γαθός), forçou-me a aprender Homero; e assim, até hoje, sou capaz de recitar de cor a Ilíada e a Odisséia

Em vista disso, deve-se admitir, o argumento se anula ou, pelo menos, serve a duas interpretações: porque a ética cavalheiresca permanecia no centro do ideal grego é que Homero, intérprete eminente desse ideal, foi escolhido e conservado como texto de base na educação. É necessário, com efeito, reagir contra uma apreciação puramente estética de sua longa primazia: não foi sobretudo por ser obra-prima literária que a epopéia foi estudada, mas porque seu conteúdo fazia dela um manual ético um tratado do ideal. Com efeito, como o veremos adiante, o conteúdo técnico da educação grega evoluiu profundamente, refletindo as transformações profundas de toda a civilização: somente a ética de Homero podia conservar, ao lado de seu valor estético imperecível, uma projeção permanente.

Não pretendo, obviamente, que, no curso de tão longa seqüência de séculos, essa projeção tenha sido, sempre, clara e exatamente compreendida. Na época helenística encontraremos pedagogos obtusos, que, com uma carência total de espirito histórico e subestimando a considerável diferenciação operada nos costumes, se esforçaram por descobrir em Homero todos os elementos de uma educação religiosa e moral válida para o tempo deles: com engenho freqüentemente cômico, esforçavam-se por tirar, dessa epopéia tão pouco sacerdotal e, no fundo, de espírito tão “laico” (13), algo equivalente a um verdadeiro catecismo, ensinando não somente (o que era legítimo [36]) a teogonia e a legenda dourada dos deuses e dos heróis, mas também uma teodicéia, e mesmo uma apologética, deveres para com os deuses e, mais que isso — todo um manual de moral prática, ensinando, através de exemplos, todos os preceitos, a começar pelos da civilidade pueril e virtuosa; melhor ainda: pela prática da exegese alegórica, Homero era utilizado para ilustrar a própria filosofia...

Mas isso não passava de tolices; o verdadeiro alcance educativo de Homero residia alhures: na atmosfera ética em que ele faz atuarem seus heróis, no estilo de vida destes. Desse clima, nenhum leitor assíduo podia, a longo prazo, deixar de impregnar-se. É com razão que se pode falar aqui, como apraz fazê-lo a Eustácio, de uma “educação homérica” (ὀμηρικὴ παιδεία): a educação que o jovem grego hauria em Homero era a mesma que o Poeta imprimia a seus heróis, aquela que vemos Aquiles receber da boca de Peleu ou de Fênix, e Telêmaco, da de Atena,

A ÉTICA HOMÉRICA

Ideal moral de natureza bastante complexa: de início compreende aquele, algo chocante para nós, do “homem das mil voltas” (πολὐτροπος ἀνήρ), que aos nossos olhos encarna a suspeita figura de aventureiro levantino que Ulisses reveste por um momento na epopéia marítima: a sabedoria de vida, a habilidade do herói homérico assimila-se aqui, como o notei de passagem, à sabedoria prática do escriba oriental; converte-se na arte de saber desvencilhar-se em qualquer circunstância. Nossa consciência, depurada por séculos de Cristianismo, perturba-se por um momento diante disto: pense-se na satisfação indulgente de Atena diante de uma mentira particularmente frutífera de seu querido Ulisses! [37]

Felizmente, porém, o essencial não está aí: muito mais do que o Ulisses do Regresso, é a nobre e impoluta figura de Aquiles que encarna o ideal moral do perfeito cavalheiro homérico; uma frase o define: uma moral heróica da honra, É a Homero, com efeito, que remonta, é em Homero que cada geração antiga reencontra aquilo que constitui o cerne fundamental desta ética aristocrática: o amor da glória.

A base sobre a qual repousa é esse pessimismo radical da alma helênica que o jovem Nietzsche tão profundamente meditou: a tristeza de Aquiles! (14) A vida breve, angústia da morte, pouca consolação a esperar da vida de além-túmulo: nada há ainda de bem firme, na idéia de uma sorte privilegiada que se possa receber nos Campos Eliseos, quanto ao destino comum das sombras, esta existência incerta e vaga, que escárneo! Sabemos como a julga o próprio Aquiles, na famosa apóstrofe que dirige, do Hades, a Ulisses, admirando a maneira pela qual as sombras vulgares se afastam, respeitosas, da sombra do herói: “Ah! Não tentes consolar-me de minha morte, ilustre Ulisses: eu preferiria, sendo lavrador, viver a serviço de um homem pobre, que não tivesse muitos bens, a reinar sobre estes mortos, sobre todo este povo extinto!” [38].

Esta vida tão breve, que seu destino de combatentes torna ainda mais precária, nossos heróis a amam ferozmente, com este coração tão terrestre, com este amor tão franco, sem segundo pensamento, que definem, a nossos olhos, certo clima da alma pagã. E, no entanto, esta vida cá embaixo, tão preciosa, não constitui a seus olhos o valor supremo. Estão dispostos — e com que decisão! — a sacrificá-la por algo mais elevado que ela própria; por isso a ética homérica é uma ética da honra (15).

Esse valor ideal, pelo qual a vida mesma é sacrificada, é a ἀρετή, palavra intraduzível, que não se pode exprimir, como o fazem nossos léxicos, por “virtude”, a menos que se enriqueça este vocábulo sem força de tudo aquilo que os contemporâneos de Maquiavel punham em sua virtù. A ἀρετή é, de modo muito geral, o valor, no sentido cavalheiresco da palavra, aquilo que faz do homem um bravo, um herói: “Ele tombou como um bravo que era (νρ γαθός γενόμενος ἀπέθανε)”, fórmula incessantemente repetida para saudar a morte do guerreiro, a morte em que se consagra verdadeiramente seu destino, no sacrifício supremo: o herói homérico vive e morre por encarnar em sua conduta certo ideal, certa qualidade da existência, que esta palavra ἀρετή simboliza.

Ora, a glória, o renome adquirido no meio competente dos bravos, é a moderação, o reconhecimento objetivo do valor, Donde este desejo apaixonado da glória, de ser proclamado o melhor, que é a mola fundamental dessa moral cavalheiresca. Foi Homero o primeiro a formulá-la; em Homero os antigos redescobriram, com entusiasmo, esta concepção da existência como uma competição esportiva em que se trata de excelir este “ideal agonístico da vida”, em que, desde as brilhantes análises de Jakob Burckhardt, é clássico apontar um dos aspectos mais significativos da alma grega (16). Sim, o herói homérico, como, a seu exemplo, o homem grego, não é verdadeiramente feliz senão quando se sente, quando se afirma como o primeiro em sua categoria, distinto e superior.

É essa uma idéia fundamental na epopéia que, por duas vezes, põe o mesmo preceito, formulado pelo mesmo verso, na boca de Hipóloco, dirigindo-se a seu filho Glauco, e na do prudente Nestor, reportando a Pátroclo os conselhos de Peleu a seu filho Aquiles: “Ser sempre o melhor e conservar-se superior aos outros!”

ἀιὲν ἀριστεύειν καί ὐπείροχον ἒμμεναι ἂλλων [39].

A figura de Aquiles recebe, desta tensão da alma inteira para esse fim único, aquilo que faz sua nobreza e sua grandeza trágicas: ele sabe (Tétis revelou-lho) que, uma vez vitorioso sobre Heitor, deverá morrer; no entanto, de cabeça erguida, avança ao encontro desse destino. Não se trata, para ele, de sacrificar-se pela pátria aqueana, nem de salvar a expedição ameaçada, mas somente de vingar Pátroclo, de subtrair-se ao opróbrio que o teria ameaçado. Avança unicamente por sua honra. Não vejo nisto nenhum individualismo romântico, embora este ideal seja terrivelmente pessoal: este amor de si mesmo (φιλαυτία), que Aristóteles analisará mais tarde, não é o amor do eu, mas do Si, da Beleza absoluta, do Valor perfeito que o herói procura encarnar numa Gesta que arrebatará a admiração da turba invejosa de seus pares.

Ofuscar, ser o primeiro, o vencedor, sobrepor-se, afirmar-se na competição, excluir um rival perante os juízes, realizar a façanha (ἀριστεία) que o classificará perante os homens, diante dos vivos, e talvez da posteridade, no primeiro plano: eis por que vive ele, e por que morre.

Sim, uma ética da honra, por vezes bastante estranha para uma alma cristã; implica na aceitação do orgulho (μεγαλοψυχία), que não é um vicio, mas o desejo elevado de quem aspira a ser grande, ou, no herói, a tomada de consciência de sua superioridade real; a aceitação da rivalidade, da inveja, esta nobre Ἒρις, inspiradora de grandes ações que Hesíodo celebrará [40], e com ela, do ódio, como o reconhecimento de uma superioridade manifestada: vede como Tucídides faz Péricles falar [41]: “O ódio e a hostilidade são sempre o que atraem, de imediato, aqueles que pretendem comandar os outros. Mas expor-se ao ódio por um fim nobre é bem inspirado!”

A IMITAÇÃO DO HERÓI

É em função desta alta idéia da glória que se define o papel próprio do poeta, que é de ordem educativa. O fim a que sua obra se subordina não é essencialmente de ordem estética, mas consiste em imortalizar o herói. O poeta, dirá Platão [42], “cobre de glória miríades de feitos dos antigos e assim faz a educação da posteridade”: sublinho este último traço, que parece fundamental.

Para compreender qual foi a influência educadora de Homero, basta lê-lo e ver como ele próprio procede, como ele concebe a educação de seus heróis. Faz-lhes propor, por seus conselheiros, grandes exemplos tirados à gesta legendária, exemplos que devem despertar neles o instinto agonístico, o desejo de rivalizar. Assim Fênix propõe a Aquiles, ao pregar-lhe a conciliação, o exemplo de Meleagro: “É exatamente isto o que nos ensinam os feitos dos antigos heróis... Recordo-me ainda desta gesta (τόδε ἒργον), uma história bem antiga... [43]”

Da mesma maneira Atena, querendo despertar afinal a vocação heróica nesse meninão irresoluto que é Telêmaco, opõe-lhe o exemplo de decisão viril de Orestes: “Deixa os brinquedos de criança, que não são mais para a tua idade. Vê o renome que entre os humanos conquistou o divino Orestes, quando matou o assassino de seu pai, esse astucioso Egisto [44]". O mesmo exemplo aparece ainda três vezes [45].

Tal é o segredo da pedagogia homérica: o exemplo heróico (παράδειγμα): Assim como à baixa Idade Media nos legou a Imitação de Cristo, a idade média helênica transmitiu à Grécia clássica, por meio de Homero, esta Imitação do Herói. É nesse sentido profundo que foi Homero o educador da Grécia: como Fênix, como Nestor ou Atena, continuamente apresenta, ao espirito de seu discípulo, modelos idealizados de ἀρετὴ heróica; ao mesmo tempo, pela perenidade sua obra, manifesta a realidade desta suprema recompensa que é a glória.

A História atesta o quanto suas lições foram ouvidas: o exemplo dos heróis freqüentou a alma dos gregos. Alexandre (como Pirro, depois dele) julgou-se, sonhou ser um novo Aquiles: quantos gregos aprenderam como ele, em Homero, “a subestimar uma vida longa e sem brilho por uma glória breve”, mas heróica!

Sem dúvida, não foi Homero o único educador que a Grécia ouviu: de século em século, os clássicos vieram completar o ideal moral da consciência helênica (vede como Hesíodo a enriquece já com suas noções tão preciosas de Direito, Justiça, Verdade); todavia, não é menos verdadeiro, por isso, que Homero representa a base fundamental de toda a tradição pedagógica clássica, e, quaisquer que tenham sido, aqui ou ali, as tentativas de sacudir sua influência tirânica, a continuidade dessa tradição manteve viva por séculos, na consciência de todos os gregos, sua ética feudal da façanha.


Notas Complementares

(1) A educação homérica: não há dúvida que sobre este tema se encontra, como sobre todos os temas possíveis, a Dissertação inaugural alemã de tipo clássico: R. F. KLÖTZER, Die Griechische Erziehung. Erziehung in Homers Iliad und Odyssee, ein Beitrag zur Geschichte der Erziehung im Altertum, diss. Leipzig, 1911; as páginas mais sugestivas que encontrei são, porém, as de W. JAEGER, Paideia, I, ps. 46-105 (ital). V. BENETTI-BRUNELLI, L'Educazione in Grecia, I. L'Educazione della Grecia eroica. Il problema (Publicazioni della Scuola di filosofia della R, Università di Roma, XIII), Florença, 1939, contém apenas prolegômenos e não versa a matéria anunciada.

(2) A questão homérica: seria abusivo, aqui, pretender orientar o leitor no dédalo da bibliografia; limito-me a remetê-lo a P. MAZON, Introduction à l'Iliade, Paris, 1942: obra recente, bem informada, bastante equilibrada e bem repousante, após as orgias conjecturais da erudição romântica, alemã sobretudo — da qual a Odyssée de V. BÉRARD, Paris, 1924, é ainda, de algum modo, uma bem curiosa herança.

(3) Jamais haverá consensus omnium em filologia: sempre haverá espíritos aventurosos a proporem hipóteses ousadas (equivalentes àquilo que os químicos chamam “experiências para ver”): mas não é necessário registrá-las, como tampouco refutá-las pormenorizadamente. Aqui, alude-se a Ed. SCHWARTZ (1924) e a U. VON WILAMOWITZ (1927), que pretendiam situar por volta de 550 as partes recentes da Odisséia: contrariamente, JAEGER, Paideia, I, p. 48.

(4) Sigo, citando-o, P. MAZON, Introduction à l'Iliade, p. 266.

(5) Relativamente à fixação desta data, os antigos hesitavam entre 1159 a.C. (Helanico) e 686 (Teopompo): PAULY-WISSOWA, VIII, c. 2207-2210, s. v. Homeros.

(6) Valor histórico do testemunho de Homero: ver um resumo das discussões a este respeito, ap. H. JEANMAIRE, Couroi et Courètes, essai sur l'Éducation spartiate et sur les Rites d'adolescence dans l'Antiquité hellénique, Travaux et Mémoires de l'Université de Lille, n.º 21, Lille, 1939, p. 12, n. 1; acrescentar MAZON, Introduction, ps. 288-292.

[7] Cavalaria homérica: adoto aqui as conclusões do primeiro capítulo (que tem este título) da tese, já citada, de H. JEANMAIRE, Couroi et Courètes, ps. 11-111.

(8) O esporte nos lazeres homéricos: cf. ainda B 773-775 (quando em inatividade, os guerreiros de Aquiles entretêm-se, na praia, no arremesso do disco ou do dardo, ou no exercício do arco).

(9) “Torneios de eloqüência? Pelo menos a aceitar-se (hesito, porém, em fazê-lo) a interpretação de H. JEANMAIRE, que toma em sentido forte os versos O 283-284, onde o poeta diz, de Thoas:

ἀγορῆ δὲ ἐ ραῦροι Ἀχαιῶν
νίκων, ὀππότε κοῦροι ἐρίσσειαν περὶ μύθων

“e na ágora poucos aqueus o sobrepujam quando os jovens guerreiros deblateram sobre os mitos”, — e não: “...discutem as opiniões na assembléia” (tese citada, p. 42).

(10) Pugilismo minoano: E. N. GARDNER, Athletics of the ancient world, ps. 11-14. Não posso senão levantar aqui o árduo problema das sobrevivências creto-micênias nos jogos gregos clássicos, esportivos ou musicais: cf. PAUS. XVIII, 4, 1; 23, 2; HES. Op., 655 (GARDINER, ibid. p. 30; W. D. RIDINGTON, The Minoan-Mycaenian background of Greek athletics, dissert. de Filadélfia, 1935).

(11) Quirão, educador de Aquiles: cf. V. SYBEL, s. v. Cheiron, ap. W. H. ROSCHER, Ausf. Lexikon der gr. u röm. Mythologie, I, c. 888-892; DE RONCHAUD, s. v. Chiron, ap. DAREMBERG-SAGLIO, I, 2, ps. 1105a- 1106a. Os textos mais interessantes são os de PÍNDARO, privilegiada testemunha da tradição aristocrática: Pyth., III, 1-5 (cf. IV, 101-115); VI, 20-27; Nom., III, 43-58. Entre os monumentos figurados, notar-se-ão um belo vaso de figuras vermelhas no Louvre, em que se vê Peleu conduzindo Aquiles pequeno até Quirão (C.V.A., Louvre, fasc. 2, III, 1 c, pl. 20, fig. D, uma pintura frequentemente reproduzida de Herculanum, no museu de Nápoles, Quirão ensinando a lira a Aquiles (O. ELIA, Pitture murali e mosaici nel Museo Nazionale di Napoli, Roma, 1932, n.º 25 (9019), fig. 5, p. 25) e os relevos da tensa capitolina, Quirão ensina a Aquiles a caça e o dardo (S. REINACH, RR.G.R., I, 377, II, a).

Existiu um poema arcaico, os Ensinamentos de Quirão (Χίρωνος  'Υροθῆκαι), do qual nos restam alguns fragmentos gnômicos, transmitidos sob o nome de Hesíodo. (ver, por exemplo, na edição Didot deste, ps. 61-69).

(12) Conjugar os papéis respectivos de Fênix e Quirão é tarefa que oferece algumas dificuldades. Os antigos (a julgar por LUCIANO, Dial. Mort., XV, 1) não viam malícia nisto, e falavam, simplesmente, “dos dois mestres” de Aquiles (τοῖν διδακάλοιν αμφοῖν). J. A. SCOTT, American Journal of Philology, XXXIII (1912), p. 76, esforça-se por mostrar que Aquiles teria tido Fênix por tutor durante sua primeira infância, antes de estudar com Quirão: mas Homero não reduz Fênix ao simples papel de “ama seca” (cf. 438 segs. 485). Para W. JAEGER, Paideia, I, ps. 60-65, Fênix é um correspondente humanizado do personagem mítico de Quirão, que o poeta não podia trazer judiciosamente à cena, em virtude do realismo de sua epopéia: o canto I pode ter sido composto à parte e acrescentado depois, mais ou menos tardiamente, e não sem certa discrepância, ao resto da Ilíada (cf. no mesmo sentido MAZON, Introduction, p. 178).

(13) Homero, como poeta não religioso, de espirito nobre, laico, anti-sacerdotal: cf. as fecundas observações de O. SPENGLER, Le Déclin de l'Occident, tradução francesa, II, II, p. 418 — este monumento de tenebrosos erros, entremeados de brilhantes lampejos. Em sentido contrário, a hipótese, bastante aventurosa e mal assentada, de C. AUTRAN, Homère et les Origines sacerdotales de l'Epopée grecque, t. I-III, Paris, 1938-1944; cf. também M. P. NILSSON e, contra, E. EHNMARK: ap. A, PASSERINI, IXe Congrès intern. des Sciences historiques, Paris, 1950, t. I, p. 125, n. 28; p. 126, a opinião do próprio Passerini.

(14) A tristeza de Aquiles: cf. o artigo, bastante falacioso, de resto, publicado sob este título por G. MÉAUTIS, ap. Revue des Études Grecques, XLIII (1930), ps. 9-20.

(15) A ética homérica: é aqui, principalmente, que faço eco do substancioso pensamento de W. JAEGER, Paideia, I, ps. 76 segs. Cf. também, secundariamente, P. MAZON, Introduction, ps. 296 segs.: “La morale de l'Iliade”, e uma bela página do padre A.-J. FESTUGIÈRE, L'Enfant d'Agrigente, ps. 13-14.

(16) O ideal agonístico: J. BURCKHARDT, Griechische Kulturgeschichte, pass. (assim II, ps. 365 segs.; IV, ps. 89 segs.) e, para uma sumária recapitulação, C. ANDLER, Nietzsche, I, ps. 299 segs.


Referências

[1] [PLATÃO] Hiparco, 228 b.

[2] Heródoto, História, II, 53.

[3] Homero, Ilíada, XIX, 404-423.

[4] Idem, XVIII, 590-605.

[5] Idem, I, 463; 470. 

[6] Idem, IX, 175; Odisséia, 1, 148; III, 339; XXI, 271.

[7] Ilíada, XIX, 238 a.

[8] Idem, I, 463 s.

[9] Idem, I 473-474.

[10] Idem, XXIII, 90.

[11] Odisséia, VIII, 104 a.

[12] Ilíada, IX, 186 s. 

[13] Idem, XXIII, 261-897.

[14] Idem, 257 s.

[15] Idem, 694.

[16] Idem, 822. 

[17] Odisséia, 1, 433.

[18] Ilíada, XI, 832.

[19] Idem, 219.

[20] XENOFONTE, Sobre a Caça I.

[21] Homero, Ilíada, XI, 831-2; IV, 219.

[22] Sabedoria de Salomão (Antigo Testamento grego), 7, 17-20. 

[23] Homero, Ilíada, IX, 434 s.

[24] Idem, 607. 

[25] Idem, 434-605.

[26] Idem, 480 s.

[27] Idem, 488-491.

[28] Idem, 485. 

[29] Idem, 442.

[30] Odisséia, I, 80 s.

[31] Idem, II, 267 s.

[32] PLATÃO, As Leis, I, 643a-644a.

[33] A República, X. 606e; cf. Protágoras, 339a.

[34] XENÓFANES DE CÓLOFON, frag. 10 (ed. Dils).

[35] Xenofonte, O Banquete, III, 5.

[36] Heródoto, História, II, 53.

[37] Homero, Odisséia, XIII, 287 s.

[38] Idem, XI, 488 a.

[39] Ilíada, VI, 208 - XI, 784.

[40] HESÍODO, Os Trabalhos e os Dias, 17 s.

[41] TUCÍDIDES, História da Guerra do Peloponeso, II, 64. 

[42] PLATÃO, Fedro, 245a.

[43] HOMERO, Ilíada, IX, 524 s.

[44] Odisséia, 1, 206 s.

[45] Idem, 1, 30, 40; III, 306.

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Texto retirado de MARROU, Henri-Irénée. História da Educação na Antigüidade. 4ª Impressão, São Paulo, Editora Pedagógica Universitária Ltda. e Editora da Universidade de São Paulo, 1973. (Esta obra foi reeditada pelas Edições Kírion, Campinas em 2017).


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Lista de livros sobre a Educação verdadeira - parte 3

Still Life with Books and Candle -
Henri Matisse - 1890


Esta já a parte 3 dessa Lista que está sendo a mais lida deste blog. A lista 1 (disponível aqui: parte 1) e lista 2 (disponível aqui: parte 2) começaram com uma simples lista com alguns livros em língua portuguesa sobre educação. Agora trago uma parte 3. O critério daquela lista foi e continua sendo o mesmo: livros sobre educação que não contivessem influências ideológicas e que estivessem preocupados em explanar sobre uma verdadeira educação. Novamente muitos desses livros foram publicados pela primeira vez ou republicados recentemente no Brasil. Obviamente esta lista complementa e amplia as listas anteriores.

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História da Pedagogia - Vol. 1: Da Antigüidade à Patrística. Louis Riboulet. Editora Liceu, 2020 e Editora Paulo de Azevedo, 1951.

Sinopse: Entre os povos não civilizados, a educação se apresenta sob a mais simples das suas formas: não há escolas propriamente ditas, nem programa de estudos; imitação servil é o único método empregado.

A formação da juventude é instintiva, rotineira e limitada somente às coisas que têm por objeto a satisfação das precisões materiais: alimentação, vestuário, abrigo. Sob a direção dos pais, o menino se inicia, pouco a pouco, nas várias ocupações da tribo: Cuidados da casa, fabricação de utensílios, tecelagem de vários panos, pesca e caça, manejo de armas, guarda dos rebanhos, trabalhos agrícolas.

Não obstante, este modo de proceder implica uma espécie de educação intelectual e até o cultivo de certas qualidades morais. É possível, portanto, depreender desta formação rudimentar alguns traços da educação como nós a concebemos, isto é, ocupando-se ao mesmo tempo do corpo, da inteligência e da alma, em geral.

— A Antigüidade

Os Padres da Igreja, eminentes em santidade como em doutrina, tiveram por missão explicar as verdades da religião, defendê-las contra os ataques de pagãos e hereges e lançar os fundamentos da doutrina católica. Não se desinteressaram dos estudos estranhos à religião. Foram amigos e ardentes propagadores das letras, ciências e artes, e todos se distinguiram por alta cultura clássica.

Do ponto de vista da educação, os Padres se aplicaram principalmente a conciliar a ciência profana com a doutrina moral e religiosa dos cristãos. Tendo eles próprios haurido, nas escolas romanas, a brilhante educação que lhes dava tanta influência, na Igreja, julgavam o estudo dos clássicos indispensável. Por outro lado, os chefes da Igreja nunca proibiram estudar os autores gregos e romanos nem os ensinar.

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História da Pedagogia - Vol. 2: Do Período Monástico ao Renascimento. Louis Riboulet. Editora Liceu, 2020 e Editora Paulo de Azevedo, 1951.

Sinopse: Terminou o quinto século em calamidades de toda ordem. Nuvens de bárbaros caíram sobre a Europa; saqueando, incendiando as cidades, não deixando atrás de si senão sangue e ruínas. As obras-primas da antigüidade teriam perecido, as escolas teriam desaparecido se a Igreja não as tivesse salvado e protegido.

“O espírito humano, pode-se dizer sem exagero, batido pela tempestade, refugiou-se nas igrejas e nos mosteiros; abraçou suplicante os altares para viver em seu abrigo e a seu serviço até que melhores tempos lhe permitissem reaparecer no mundo e respirar ao ar livre”.

(Guizot, História da civilização na França, I. p. 137).

O nome de monástico, dado ao período que se estende do sexto ao duodécimo século está, portanto, amplamente justificado.

— Período Monástico

Uma admiração excessiva da Antigüidade leva os humanistas neopagãos ao desprezo da Idade Média. Consideram época de barbárie todos os séculos que os separam da Antigüidade e dão sentido pejorativo ao termo Idade Média. A escolástica, de que não conhecem senão os abusos e as obras da decadência, é objeto principal dos seus ludíbrios. Petrarca ridiculariza os doutores em silogismo “inchados de nada, trabalhando no vácuo e exercitando-se em futilidades”. Ramus passa parte da vida a rebater as antigas doutrinas.

Segundo Montaigne, é Baroco e Baralipton que tornam as bases da filosofia tão enlameadas e enfumaçadas. Rabelais não compreende melhor as obras da grande época escolástica; admira-se, no meio das luzes de seu tempo, de encontrar ainda gente “que não pode ou não quer tirar os olhos desse nevoeiro gótico e cimeriano".

— O Renascimento

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História da Pedagogia - Vol. 3: Do século XVII ao século XIX. Louis Riboulet. Editora Liceu, 2020 e Editora Paulo de Azevedo, 1951.

Sinopse: No século XVII, muitos países foram perturbados por divisões e questões muito nocivas aos interesses da educação. Na Inglaterra, terrível guerra civil fez cair no mais completo descrédito a maior parte das escolas. O ensino tornou-se o recurso supremo daqueles que haviam malogrado em tudo. O diretor se desembaraçava do trabalho confiando-o aos mestres subalternos.

Barbeiros e açougueiros fizeram fortuna mantendo escolas. O desgosto pelo estudo tornou-se tal que os filhos dos gentis-homens se gloriavam de nada

saber. “Juro, dizia um nobre, que antes de fazer de meu filho um mestre-escola, o enforcaria. Fazer ressoar a buzina, entender de caçadas, levar bem o falcão e adestrá-lo, eis o que assenta bem a filho de gentil-homem. Quanto ao saber que se busca nos livros, deve-se deixar aos vadios”.

— O século XVII

Não é fácil formar juízo definitivo sobre o século XIX. Os fatos são por demais complexos e estão muito próximos de nós; seus resultados não são suficientemente conhecidos. Certos sentimentos estão muito vivos ainda, nas almas, para permitirem apreciações imparciais. Todas as nações têm aberto escolas numerosas. A sociedade civil, a Igreja Católica com suas legiões de sacerdotes e suas admiráveis Congregações docentes, as várias seitas cristãs, se têm dedicado a estas obras com um devotamento sem limites. Nunca se compreendera melhor a obrigação de difundir a luz, de dar a todas as classes da sociedade instrução sólida e variada.

Esta evolução das obras escolares se nota sobretudo na Europa e nos países sujeitos à influência das nações civilizadas. A América do Norte se tem distinguido de modo particular e, a certos respeitos, tem até excedido o antigo continente.

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História da Pedagogia - Vol. 4: O século XIX. Louis Riboulet. Editora Liceu, 2020 e Editora Paulo de Azevedo, 1951.

Sinopse: O programa da Idade Média compreendia as Sete Artes Liberais. No século XVI se organizou o ensino das humanidades e, em seguida, alguns educadores de tendências naturalistas o julgaram pouco conforme às realidades da vida.

No século XVIII, a Alemanha abriu as primeiras escolas reais. Maria Teresa, influenciada pelo Emílio, diminuiu, nos colégios, a parte consagrada ao classicismo. Na França, os Enciclopedistas e os pedagogos da Revolução, especialmente Diderot, Lakanal, Dauneu, Condorcet, pedem a substituição das humanidades por estudos científicos. No século XIX, o ensino moderno penetrou em todo os países civilizados.

Seria injusto contestar a necessidade desse ensino. Mas o que não se admite é que tenha o mesmo valor educativo que as humanidades clássicas. Estas têm a seu favor os mais magníficos resultados. Devemos a esses métodos, dizia Voltaire, “os nomes mais célebres do nosso país”, em particular os grandes escritores, a maior parte dos inventores e dos sábios mais ilustres dos três últimos séculos. Em nossos dias, um exame desinteressado tem verificado que os alunos que têm as melhores classificações para admissão às escolas superiores, com impressionante maioria, foram os que tinham cursado antes as humanidades clássicas.

Acrescentemos que os partidários do ensino moderno pareciam não ter em vista senão vantagens econômicas e materiais. Tem-se até pretendido que certos adversários dos estudos clássicos agiam sob a influência de duas paixões: a da igualdade, que não toleraria nem mesmo a aristocracia da inteligência; e a da irreligião, que acha meio de prejudicar a Igreja abolindo o ensino do latim.

Esta luta do cientificismo contra o ensino tradicional não tem dado bons resultados.

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O Amor às letras e o desejo de Deus: Iniciação aos autores monásticos da Idade Média. Jean Leclercq. Paulus, 2012.

Sinopse: Este é um livro de iniciação aos autores monásticos da Idade Média dirigido a estudantes. Publicado pela primeira vez em 1957, impôs-se como um clássico não só pela solidez das informações e acuidade das percepções, mas também pela autenticidade da atitude intelectual que traduz: rigor científico e interesse por um saber aberto sobre as questões essenciais da existência humana. Dividida em  três partes, a obra é composta por uma série de lições dadas a jovens monges do Instituto de Estudos Monásticos do mosteiro de Santo Anselmo, em Roma, durante o inverno de 1956-1957.



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A Educação Superior e o Resgate Intelectual. O Relatório de Yale de 1828Universidade de Yale, Giovanna Louise (Tradutora). Vide Editorial, 2016.

Sinopse: Em 1828 foi pedido ao corpo docente da Universidade de Yale que avaliasse a necessidade de se insistir nos estudos clássicos e de línguas antigas como parte do programa acadêmico da instituição, dados os avanços industriais dos novos tempos e suas novas demandas.

Após expor o currículo adotado até então naquela instituição, justificados seus princípios e defendidos seus objetivos, o corpo docente conclui que seria uma tragédia anunciada substituir o ensino clássico por uma espécie de ensino profissionalizante.

É indiscutível a perspicácia de tal análise e a importância que este documento de Yale tem principalmente hoje em dia, visto que se vive em meio justamente à tragédia acadêmica anunciada em 1828.

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A conexão de Leipzig. A destruição sistemática da educação americana. Paolo Lionni. Vide Editorial, 2020.

Sinopse: Nos últimos anos do século XIX, teve início uma grande transformação na educação americana.

Depois da Primeira Guerra Mundial, o povo americano notaria cada vez mais uma grande mudança nos rumos da educação dada a seus filhos. Nas décadas seguintes, as mesmas escolas que haviam nutrido o sonho americano seriam assoladas pelo crime e pelas drogas, e os colégios passariam a formar alunos semi-analfabetos que mal sabiam aritmética básica.

Este livro descreve essa metamorfose, que teve início numa universidade alemã com o trabalho do psicólogo Wilhelm Wundt e culminou na atuação do educador americano John Dewey.


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A Escola sem Deus. Monsenhor de Ségur. Editora Santa Cruz 2022. Edições Livre, 2018.

Sinopse: Louis Gaston Adrien de Ségur, sacerdote e escritor francês, nascido e falecido em Paris (15/04/1820 – 9/06/1881). Descendente de uma família nobre, era filho do marquês Eugène de Ségur e da célebre condessa de Ségur, conhecida escritora de livros infantis. Zeloso nos estudos, logo que se formou em Direito foi enviado como adido à Embaixada Francesa em Roma, junto à Santa Sé. Ao retornar a Paris, ingressou no Seminário de Santo Sulpício, sendo ordenado sacerdote em dezembro de 1847. Dedicou-se principalmente à evangelização das crianças e dos pobres, assim como dos soldados prisioneiros de guerra. Foi muito estimado pelo Papa Pio IX, por muitas autoridades eclesiásticas e diplomáticas, e até mesmo por Napoleão III.

Em 1856, Mons. de Ségur teve um grave problema na visão que o levou à cegueira e o obrigou a renunciar às suas funções. Chegou a ser nomeado bispo, mas não recebeu a ordenação episcopal, impedido por sua condição. Com a cegueira, passou a ditar livros explicando - e defendendo com fervor - a doutrina católica em linguagem popular. Escreveu mais de 70 livros, e até o momento de sua morte, em 1881, suas obras somavam mais de 700 mil cópias vendidas apenas na França e na Bélgica, sem contar as edições em italiano, espanhol, alemão, inglês e até mesmo na língua hindu.

O livro A escola sem Deus foi escrito em 1872. Nessa obra, Mons. de Ségur fala da importância da educação católica, defendendo que o ensino deve ser cristão, e não laico. Ou seja, as escolas, principalmente no nível de instrução básica, necessariamente precisam ser católicas, considerando que, entre outros fatores, as crianças passam grande parte de suas vidas dentro das escolas, e assim os professores teriam que auxiliar os pais e os sacerdotes na formação cristã das crianças. Entre outras coisas, diz Mons. de Ségur: “... Na prática, não tratar da religião na escola é tornar impossível a instrução religiosa das crianças!”

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A boa e a má educação: exemplos internacionais. Inger Enkvist. Edições Kírion, 2020.

Sinopse: Este livro tem o propósito de explicar em que consiste a boa qualidade educacional. Para isso, estudaremos vários sistemas escolares, tanto os que dão bons resultados como os que dão maus, trazendo dados da França, Finlândia, Estados Unidos, Suécia, Japão, China e Espanha. Por meio desse percurso comparativo, e com o auxílio de uma porção de relatos e de estudos acadêmicos de disciplinas variadas, tentaremos mostrar por que o modelo educacional em vigor em muitos países ocidentais não funciona.

Para entender o que aconteceu com a educação do Ocidente nos últimos anos é essencial estudar os conteúdos e métodos de todo um conglomerado de pedagogias que poderíamos chamar de “libertárias” ou “progressistas”, e que, na falta de nome melhor, chamaremos sinteticamente de “nova pedagogia”. 

A tônica deste livro, porém, não é a crítica generalizada desse conjunto, mas destacar, para todo leitor livre de preconceitos, que tipo de práticas são mais recomendáveis — e como, curiosamente, muitas delas coincidem com o que foi a educação tradicional do Ocidente.

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Educação: Guia para perplexosInger Enkvist. Edições Kírion, 2019.

Sinopse: Com este guia, a pedagoga sueca Inger Enkvist ajuda pais, professores e alunos a compreender as causas dos fenômenos estranhos que temos visto em nossas escolas, como a queda vertiginosa de sua qualidade, o desrespeito pelos professores e a substituição do ensino tradicional por práticas suspeitas. Com coragem e elegância, ela expõe as contradições intrínsecas do igualitarismo, do multiculturalismo e do construtivismo, e apresenta os resultados concretos a que levaram as idéias de autonomia, de tolerância, inclusão e outras.

“Um aspecto essencial do presente livro é a denúncia do tabu que impede mencionar a relação entre a crise da educação no Ocidente e o igualitarismo permissivo que desprezou o aprendizado como idéia estruturante da educação, ou, em outras palavras, a combinação do igualitarismo com a nova pedagogia. [...] A crise da educação se deve a uma visão igualitarista, tecnológica e economicista da mesma, que não valoriza suficientemente o conhecimento em si nem o aluno em si, mas a igualdade entre os alunos e o bom funcionamento da economia”.

“Os professores estão sendo utilizados para fins políticos e sociais, e percebem vagamente que estão sendo manipulados pelas autoridades políticas. Na educação tradicional eram vistos como profissionais com a clara missão de elevar o nível educacional de seus concidadãos. Eram modelos, respeitados pelos alunos e por seus pais. Os estruturalistas e os pós-estruturalistas vêem os professores como uma mera função. Poucas vezes se leva em conta sua opinião profissional sobre como se deveria organizar a educação, e são obrigados a obedecer às instruções dos políticos”.

Sobre a autora: Inger Enkvist (1947–) é professora de literatura espanhola na Universidade de Lund, na Suécia. Já publicou estudos sobre Miguel de Unamuno, José Ortega y Gasset, Mario Vargas Llosa e outros, além de vários livros sobre educação, em sueco e em espanhol. Nestas obras, critica as bases ideológicas da nova pedagogia, demonstra seus maus resultados e suas conseqüências malignas para a cultura ocidental como um todo, e apela para a recuperação de elementos da pedagogia tradicional, como o valor do conhecimento, da dedicação do aluno e da autoridade do professor competente.

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Maquiavel Pedagogo ou o ministério da reforma psicológica. Pascal Bernardin. Editora: Ecclesiae, 2013.

Sinopse: Quais são as razões da profunda crise na escola? É possível encontrar uma espécie de vírus no gene de nossa sociedade e de nosso sistema educativo? Podemos concluir que é urgente uma redefinição do papel da escola e de suas prioridades?

Inúmeros pais e educadores, testemunham, estupefatos, a revolução em curso. Interrogam-se sobre as profundas mutações que de forma acelerada vêm ocorrendo em nosso sistema educativo. Porém, nenhum governo, seja de direita ou de esquerda, vem à público esclarecer os fundamentos ideológicos dessas constantes reformas no ensino e tampouco se preocupam em apresentar, de forma clara, as coerências e os objetivos dos métodos adotados.

Mas, ainda que tudo nos pareça muito obscuro, podemos encontrar todas as respostas na filosofia da revolução pedagógica que se expõe, em termos explícitos, nas publicações dos organismos internacionais como a Unesco, a OCDE, o Conselho da Europa, a Comissão de Bruxelas e tantas outras. Apoiando-se sobre textos oficiais desses organismos, Pascal Bernardin mostra detalhadamente que o objetivo prioritário da escola atual não é mais possibilitar aos alunos uma formação intelectual e muito menos fazê-los adquirir conhecimentos elementares.

O que se pretende com a redefinição do papel da escola é torná-la nada mais do que o instrumento de uma revolução cultural e ética destinada a modificar os valores, as atitudes e os comportamentos das pessoas em escala mundial. As técnicas de manipulação psicológica, que não se distinguem muito das técnicas de lavagem cerebral, estão sendo utilizadas de forma maciça. Naturalmente, os alunos são as primeiras vítimas.

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O código da educação: Uma história verdadeiraAntônio Donato Paulo Rosa. Editora Pie Pellicane, 2022.

Sinopse: No primeiro milênio da era cristã o cristianismo estava em vertiginosa ascensão. Santo Agostinho descrevia assim seu assombro diante da irreversível cristianização do mundo:

"Pelas cidades e bairros, e até pelos campos, deseja-se o afastamento do mal e a conversão ao único e verdadeiro Deus. São inumeráveis os que deixam as riquezas e as honras do mundo, desejosos de consagrar a sua vida ao Deus supremo. Todas estas coisas são agora acolhidas de tal modo que, se antes era impensável argumentar a seu favor, agora o é colocar-se contra elas. Ninguém já se admira de tantos milhares de jovens renunciarem ao matrimônio e abraçarem a vida cristã. As igrejas estão se multiplicando com fertilidade e abundância, até mesmo entre os povos bárbaros" (S. Agostinho: De Vera Religione, 4).

Mas, no segundo milênio, o Papa João XXIII descrevia e outro modo o mundo moderno:

"Estamos em um mundo de fisionomia profundamente mudada, em meio a uma procura quase exclusiva de bens materiais, no esquecimento, ou no enfraquecimento, dos princípios da ordem espiritual, que caracterizaram a penetração da civilização cristã através dos séculos" (SS. João XXIII: Alocução de 14 de novembro de 1960).

As origens deste fenômeno remontam aos anos entre 1300 e 1600. A sociedade transformou-se radicalmente. A natureza dos acontecimentos dificultou o entendimento do que acontecia. A partir daí, estas transformações incoporaram-se à educação. A educação reproduz a sociedade existente, formando os homens para a sociedade existente ou, como ocorreu com o cristianismo, para formar uma nova. Se não se entende claramente a transformação ocorrida na sociedade e como ela se incorpora e se reproduz na escola, os erros do início somente serão percebidos em suas consequências quando já não houver mais lembrança do que realmente ocorreu.

O Código da Educação narra como a escola se adequou à nova configuração social e como se perdeu a noção do que seria a educação cristã e sua relação para com a estrutura social.

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A Educação na Antiguidade: Uma introdução ao amor da sabedoriaAntônio Donato Paulo Rosa. Editora Pie Pellicane, 2024.

Sinopse: Que pensamos nós sobre a natureza? 

A natureza certamente é repleta de mistérios. Mas isto significa que pretende dizer-nos algo?  E teríamos nós sido feitos precisamente para compreender esta mensagem? 

A visão que hoje fazemos do mundo nos sugere que a natureza surgiu por forças agindo ao acaso e que os homens, graças a muito progresso, estão alcançando pleno domínio sobrea natureza. Esta visão contrasta com a de um povo que, muito antes de Cristo, observou a natureza e descobriu que ela parece querer comunicar-nos algo, e que os homens mal alcançaram, diante dela, a primeira infância. 

Este livro quer apresentar a epopéia deste povo. Quer mostrar como seus achados foram tão facilmente acolhidos pelo Cristianismo. E também como, mais tarde, foram tão facilmente esquecidos. 

Houve uma época em que um povo buscou apaixonadamente a sabedoria. Uma multidão de cidadãos vendia tudo o que tinha para  viver contemplando a natureza. Eles  haviam percebido que a natureza era muito coerente, parecia ter um segredo e querer mostrá-lo para os homens. Especialmente para os homens.  A própria natureza parecia tê-los feito para isto. Estas pessoas buscavam entender o segredo da natureza mas não para construir uma máquina ou fazer dinheiro. 

Pouco a pouco perceberam que toda a natureza  tinha uma só ordem, que esta era ordenada por um único princípio e dentro desta grande ordem, cada coisa parecia dirigir-se a um fim. Todas as formigas constroem um formigueiro. Todas as abelhas constroem uma colméia. E o fim de cada coisa está em harmonia com a ordem maior de toda a natureza. Todas as coisas parecem saber qual é o seu fim e como este fim se sincroniza com os fins das demais coisas. 

Em toda esta ordem, porém, o homem parecia ser uma exceção. Talvez a única exceção. Justamente o homem. Os seres humanos não parecem agir como se estivessem se direcionando a algum fim. Ao contrário da formiga e da abelha, o homem nunca parece estar satisfeito com o que faz. Nem sequer parece supor que possa existir algo específico que devesse fazer para encaixar-se na ordem natural. Era um mistério como, em meio à ordem natural, pudesse haver um ente, que parecia ser o mais perfeito e a obra-prima da natureza, e era justamente este o que parecia não saber o que fazer. Como se explicaria isto? Estava aí um mistério dentro da natureza. Tudo tão bem sincronizado, mas o homem, justamente o homem, fora daquela grande sincronia. 

O que provavelmente deveria estar acontecendo é que tal finalidade deveria ser algo tão elevado que somente poderia ser alcançada com plena consciência da inteligência e plena liberdade da vontade. Portanto, para que o homem pudesse cumprir o objetivo que a natureza devia ter-lhe traçado, teria primeiro que compreender, pela luz da inteligência, sua própria natureza e o modo como ela se insere na ordem natural, e depois aceitar ambas estas coisas livre e conscientemente.

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Aprendendo Inteligência: Manual de instruções do cérebro para estudantes em geral 1Pierluigi Piazzi. Editora Aleph, 2015.

Sinopse

Durante muito tempo, acreditou-se que a inteligência fosse uma característica inata. O fator genético era considerado bem mais influente do que o fator ambiental. Porém, devido aos avanços da neurociência, ficou demonstrado que inteligência, talento e vocação são características que podem ser adquiridas com facilidade e um pouco de esforço. Neste livro, dedicado aos estudantes de todos os níveis, o Pierluigi Piazzi (conhecido carinhosamente pelos seus alunos como Prof. Pier) ensina a usar a inteligência para se tornar uma pessoa mais inteligente.



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Estimulando Inteligência: Manual de instruções do cérebro de seu filho 2Pierluigi Piazzi. Editora Aleph, 2015.

Sinopse:

As mais recentes descobertas das neurociências mostram que a inteligência pode ser aprendida, e que esse fato não se dá durante as aulas, mas sim no momento do estudo individual, extraescolar. Desde as primeiras semanas de vida, cabe aos pais dar carinho e fornecer estímulos para o despertar da inteligência de suas crianças. Essa interação entre pais e filhos representa um fator determinante para um maior desenvolvimento intelectual. Por isso, o papel da família torna-se crucial, e este livro busca orientar os pais nessa jornada. Estimulando Inteligência mostra como criar um ambiente doméstico e escolar que estimule o aumento do nível de inteligência das crianças, dos jovens e até dos adultos.


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Ensinando Inteligência: Manual de instruções do cérebro de seu aluno 3Pierluigi Piazzi. Editora Aleph, 2015.

Sinopse:

Ao longo da vida profissional, quantas vezes um professor não se depara com um ótimo aluno, mas péssimo estudante? O sistema escolar muitas vezes tende a valorizar aquele que decora conteúdo para tirar uma boa nota, e não necessariamente aquele que aprende de verdade. Ensinando inteligência, livro baseado em mais de cinquenta anos de experiência em sala de aula de Pierluigi Piazzi, apresenta a seus colegas de profissão as inovadoras técnicas das neurociências para estimular de forma eficiente o cérebro de seus alunos, transformando-os, finalmente, em estudantes.



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A idéia de uma universidadeSão John Henry Newman. Ecclesiae, 2020.

Sinopse: Em 1852, o Cardeal Newman foi convidado a proferir uma série de discursos em Dublin, na Irlanda, a respeito da essência do ensino universitário. Dar-se-ia aí a fundação de uma Universidade Católica, da qual ele foi o reitor de 1854 a 1858, supervisionando os projetos e a própria construção do campus. Mais tarde, esses discursos, unidos a palestras e ensaios ocasionais dirigidos aos membros dessa mesma universidade, viriam a ser unidos pelo autor neste livro, A idéia de uma universidade.

“A visão de uma universidade nestes discursos é a seguinte: trata-se de um lugar de ensino do conhecimento universal. Isso implica que seu objetivo é, por um lado, intelectual, não moral; e, por outro, que ele gira em torno da difusão e ampliação do conhecimento, e não de sua promoção. Se seu objetivo for a descoberta científica e filosófica, não vejo por que uma universidade ter alunos; se for a prática religiosa, não vejo como ela pode ser a sede da literatura e da ciência. Assim é uma universidade em sua essência, independentemente de sua relação com a Igreja.

Na prática, porém, ela não tem como cumprir devidamente seu objetivo, conforme descrito acima, sem a assistência da Igreja; ou, para usar o termo teológico, a Igreja é necessária para sua integridade. Tais são os princípios centrais dos discursos que se seguem, embora seja absurdo esperar que eu tenha abordado um campo de pensamento tão vasto e importante com a plenitude e a precisão necessárias”.

Sobre o autor: John Henry Newman nasceu em 1801, em Londres. Estudou no Trinity College (1816) e no Oriel College (1822), ambos na Universidade de Oxford, onde mais tarde viria a lecionar. Adepto do celibato, foi ordenado sacerdote na Igreja Anglicana em 1825. Foi um dos líderes do “Movimento de Oxford” (1833), que, por meio de panfletos, defendia a continuidade entre a doutrina dos apóstolos e o anglicanismo, mas pregava uma regeneração dos costumes e da própria igreja na Inglaterra. Seu interesse genuíno pela história do cristianismo e pelo desenvolvimento da doutrina cristã o levou, contudo, ao estudo dos Santos Padres e da fé católica, à qual ele se converteu em 1845.

Aos 8 de outubro desse ano, tendo deixado seu posto de tutor e professor em Oxford, Newman confessou-se e foi recebido na Igreja de Cristo. Passou a ser ignorado, evitado, a ser alvo de maledicência, deixou de ser convidado para os círculos que freqüentava... Parte no ano seguinte para Roma, onde é ordenado sacerdote católico, em 1847. Ao voltar para a Inglaterra, levou consigo a força e o testemunho da fé verdadeira: estabeleceu em Birmingham o primeiro oratório de São Felipe Néri do mundo anglófono, e começou a escrever àqueles que antes liderara no Movimento de Oxford, encorajando-os a levarem a cabo sua busca pela verdadeira Igreja e a se converterem.

Em 1852, foi convidado a dar uma série de palestras em Dublin, na Irlanda, a respeito da essência do ensino universitário. Dar-se-ia aí a fundação de uma Universidade Católica, da qual ele foi o reitor de 1854 a 1858, supervisionando os projetos e a própria construção do campus. Essas palestras, unidas a discursos e ensaios posteriores, viriam a compor este livro, The idea of a university. Nas duas décadas seguintes, viu-se envolvido numa série de controvérsias e de desconfianças por parte da própria Igreja, às quais respondeu com uma demonstração magna de sinceridade e entrega: escreveu a história de sua vida, a Apologia pro vita sua (1865), que calou os críticos e restaurou sua reputação, tanto entre católicos quanto entre anglicanos. Foi convidado a participar do Concílio Vaticano I como consultor teológico, mas declinou em vista de publicar, nessa mesma época, sua Grammar of assent, uma profunda investigação filosófica sobre como a pessoa humana atinge suas convicções. Em 1879, Leão XIII o nomeou Cardeal na Igreja Católica. Apesar disso, Newman não quis ser sagrado bispo, contrariando o costume, e continuou em Birmingham, no seu amado oratório, onde permaneceu escrevendo e orientando espiritualmente os fiéis. Por ocasião de sua morte, em 1890, cerca de 15 mil pessoas acompanharam o cortejo. O Cardeal Newman foi beatificado pelo Papa Bento XVI em 2010, e canonizado pelo Papa Francisco aos 13 de outubro de 2019.

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A Educação dos Filhos. Antonio Royo Marín, Editora Katechesis, 2023.

Sinopse: Chegamos a um dos temas mais culminantes da santificação do leigo por meio da família cristã. A educação cristã dos filhos é de importância tão capital e decisiva no seio do lar e em toda a sociedade humana que, sem ela, seria totalmente impossível não só a santificação dos pais, que deixariam de cumprir um de seus mais graves deveres, senão também a de seus filhos e, por consequência, a da sociedade humana em geral, já que essa sociedade não é, em definitivo, senão o resultado do agrupamento orgânico de todos os seus membros componentes.

Como já indicamos em outra parte, sem a educação cristã dos filhos, a vinda ao mundo destes, mais que um feliz acontecimento e uma benção de Deus, haveria que considerá-la como uma verdadeira desgraça e o começo de sua desventura eterna: «Melhor seria para esse homem não ter nascido», disse o próprio Cristo sobre o traidor Judas (cf. Mc 14,21). Por isso a Igreja, nossa mãe, perfeitamente consciente dessa gravíssima obrigação dos pais, declara reiteradamente que «a geração e a educação da prole é o fim primário do matrimônio» (cn. 1013, I.º). Não basta, pois, para cumprir o fim primário, a mera geração dos filhos: é preciso, ademais, educá-los cristãmente para lhes assegurar a sua felicidade temporal e eterna, como filhos de Deus que são.

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O verme roedor ou o paganismo na educaçãoMons. J. Gaume. Editora Katechesis, 2021.

Sinopse

Que fará um médico na presença de um infeliz, vítima de fatal doença que ameaça a cada momento precipitá-lo no túmulo? Se não for cego ou criminoso, lançará logo mão não dos paliativos, ou dos remédios usuais, mas sim dos recursos extremos da arte para operar uma crise salutar. Se preciso for empregará o ferro e o fogo, sem atender às resistências e gritos do doente.




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Da vanglória e da educação dos filhos. São João Crisóstomo. Editora Katechesis, 2017.

Sinopse:

"Se desde a primeira infância carecem as crianças de mestres, que será delas? Se alguns, educados e instruídos desde o ventre materno até a velhice, não conseguem triunfar, que males serão capazes de cometer os que nunca foram educados? O certo é que todas as pessoas se esforçam para que seus filhos se instruam nas artes, nas letras e na eloqüência, mas a ninguém ocorre pensar em como exercitar sua alma. Portanto, não cesso de vos exortar, rogando-vos e suplicando-vos que, antes de qualquer coisa, eduqueis bem os vossos filhos. Se tendes consideração por vossos filhos, aqui o haveis de mostrar."


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Corrija seu filho - A formação do homemMonsenhor Álvaro Negromonte. Editora Calvariae Editorial, 2019.

Sinopse: Para os que procuram mais o próprio sossego que o progresso moral dos filhos, castigar é mais cômodo: umas palmadas no pequenino que jogou a merenda no chão, uns bofetões no rapazola que respondeu com arrogância, chineladas na menina que entornou tinta no vestido novo, um mês sem passeio para quem não teve média na prova parcial, trancar as crianças no quarto dos fundos porque perturbaram o silêncio de que precisa o pai, e outras medidas policiais do mesmo teor dão “soluções” imediatas, que contentam o adulto desprevenido, mas nada adiantam à educação, e, pelo contrário a prejudicam.

Não julguemos, porém, sejam essas umas fórmulas mágicas que resolvam tudo, rapidamente e que, quando não resolverem, o caso é irremediável. Não há fórmulas mágicas em educação. As soluções rápidas são pedidas em geral pelos que “não têm tempo a perder com os filhos”, e por isso perdem os filhos.

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A educação da sexualidade: Um guia para pais e educadoresMonsenhor Álvaro Negromonte. Editora Calvariae Editorial, 2019.

Sinopse: Ora, é dever dos educadores preparar os homens para viverem no seu tempo, e não nos tempos idos. O que lhes incumbe é preparar os homens para resistirem aos perigos da sua época, e poderem praticar a virtude, quaisquer que sejam as dificuldades. 

É natural que os educandos de hoje, tomem tão errada orientação na vida, como a que até hoje têm tomado. É natural que nunca se acostumem a encarar como coisas respeitáveis e dignas essas que lhes foram ensinadas sem nenhum respeito nem dignidade. 

Eis porque só sabem falar ou ouvir desses assuntos com risinhos inconvenientes e maliciosos, pondo maldade em todas as coisas. Eis porque o corpo é para eles um instrumento de prazer e não um templo do Espírito Santo.

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A educação dos filhos - A missão dos pais e educadoresMonsenhor Álvaro Negromonte. Editora Calvariae Editorial, 2019.

Sinopse: Para muitos a grande preocupação é o bem-estar dos filhos: a saúde, os estudos, a condição econômica. Os próprios estudos são orientados num sentido utilitário, com uma finalidade prática, a mais imediata possível. As profissões são escolhidas em vista das possibilidades econômicas. Daí a primazia das carreiras técnicas, e o desprestígio dos estudos clássicos ou filosóficos, desprezados por nada “adiantarem” na vida...

As atenções com a saúde superam a formação moral. Se o menino adoece, tomam-se logo todas as medidas, à custa dos maiores sacrifícios. Mas se ele tem uma tendência ao vício, pouco se cuida: “é da idade, passa com o tempo”, “o pai também foi assim”, “hoje ninguém repara mais certas tolices”... Considera-se “vencedor” o jovem que conseguiu uma rendosa colocação. Ainda melhor, se for um emprego público, bem remunerado e sem trabalho. A satisfação dos pais rivaliza então com a inveja dos que não “venceram” na vida com tanta rapidez e eficiência! Para chegar a esses resultados, às vezes são bons todos os processos. Não os censurem, que a explicação vem cabal e definitiva: o mundo hoje é assim; o que ontem era imoral, hoje não é; o que hoje ainda é proibido, talvez amanhã seja obrigatório; a vida tem dessas coisas... Por outras palavras: não há valores morais definitivos!

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Sobre o autor: Monsenhor Álvaro Negromonte nasceu em 26 de outubro de 1901, no Engenho Gameleira, em Timbaúba. Entrou no Seminário de Olinda aos treze anos de idade e ordenou-se sacerdote em 08 de junho de 1924. Foi designado logo após diretor do Colégio Diocesano e capelão do Colégio Santa Cristina, em Nazaré da Mata. Em 1927, transferiu-se para Minas Gerais, onde passou a exercer a capelania do hospital de Ituna, para depois fixar-se em Belo Horizonte. E foi na capital mineira que o padre Álvaro iniciou realmente sua brilhante carreira sacerdotal. Foi secretário do Arcebispado, capelão do Hospital Carlos Chagas, professor de catequética no seminário de Belo Horizonte, fundador e reitor do Instituo Católico de Cultura. Vice-presidente da Sociedade Pestalozzi e vice-diretor Arquidiocesano do Ensino Religioso. Seu primeiro livro, “O Caminho da Vida”, ao qual se seguiu Pedagogia do Catecismo, de 1936, que sintetiza os princípios pedagógicos de renovação catequética. De Minas, onde seu nome se propagara com brilho, como educador dos mais ilustres, foi para o Rio de Janeiro, centro irradiador por excelência, onde foi designado, em 1945, orientador educacional do Serviço de Assistência a Menores do Ministério da Justiça, cargo que exerceu com brilhantismo. Já no Rio, publica os livros: “Educação Sexual, Noivos e Esposos” e “O que fazer de seu filho”, onde já encara de frente, com prudência mas sadia e indispensável objetividade já louvada por Tristão de Athayde, os complexos e difíceis problemas da educação sexual e do matrimônio no primeiro livro e os da educação dos filhos no último. Em 1950, foi diretor do ensino religioso na Arquidiocese do Rio e nesse mesmo ano representou o Brasil no Congresso Internacional de Catequética realizado em Roma. Em 1956, foi Monsenhor (camareiro) de S.S. o Papa Pio XII.

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