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Lista de livros sobre a Educação verdadeira - parte 3

Still Life with Books and Candle -
Henri Matisse - 1890


Esta já a parte 3 dessa Lista que está sendo a mais lida deste blog. A lista 1 (disponível aqui: parte 1) e lista 2 (disponível aqui: parte 2) começaram com uma simples lista com alguns livros em língua portuguesa sobre educação. Agora trago uma parte 3. O critério daquela lista foi e continua sendo o mesmo: livros sobre educação que não contivessem influências ideológicas e que estivessem preocupados em explanar sobre uma verdadeira educação. Novamente muitos desses livros foram publicados pela primeira vez ou republicados recentemente no Brasil. Obviamente esta lista complementa e amplia as listas anteriores.

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História da Pedagogia - Vol. 1: Da Antigüidade à Patrística. Louis Riboulet. Editora Liceu, 2020 e Editora Paulo de Azevedo, 1951.

Sinopse: Entre os povos não civilizados, a educação se apresenta sob a mais simples das suas formas: não há escolas propriamente ditas, nem programa de estudos; imitação servil é o único método empregado.

A formação da juventude é instintiva, rotineira e limitada somente às coisas que têm por objeto a satisfação das precisões materiais: alimentação, vestuário, abrigo. Sob a direção dos pais, o menino se inicia, pouco a pouco, nas várias ocupações da tribo: Cuidados da casa, fabricação de utensílios, tecelagem de vários panos, pesca e caça, manejo de armas, guarda dos rebanhos, trabalhos agrícolas.

Não obstante, este modo de proceder implica uma espécie de educação intelectual e até o cultivo de certas qualidades morais. É possível, portanto, depreender desta formação rudimentar alguns traços da educação como nós a concebemos, isto é, ocupando-se ao mesmo tempo do corpo, da inteligência e da alma, em geral.

— A Antigüidade

Os Padres da Igreja, eminentes em santidade como em doutrina, tiveram por missão explicar as verdades da religião, defendê-las contra os ataques de pagãos e hereges e lançar os fundamentos da doutrina católica. Não se desinteressaram dos estudos estranhos à religião. Foram amigos e ardentes propagadores das letras, ciências e artes, e todos se distinguiram por alta cultura clássica.

Do ponto de vista da educação, os Padres se aplicaram principalmente a conciliar a ciência profana com a doutrina moral e religiosa dos cristãos. Tendo eles próprios haurido, nas escolas romanas, a brilhante educação que lhes dava tanta influência, na Igreja, julgavam o estudo dos clássicos indispensável. Por outro lado, os chefes da Igreja nunca proibiram estudar os autores gregos e romanos nem os ensinar.

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História da Pedagogia - Vol. 2: Do Período Monástico ao Renascimento. Louis Riboulet. Editora Liceu, 2020 e Editora Paulo de Azevedo, 1951.

Sinopse: Terminou o quinto século em calamidades de toda ordem. Nuvens de bárbaros caíram sobre a Europa; saqueando, incendiando as cidades, não deixando atrás de si senão sangue e ruínas. As obras-primas da antigüidade teriam perecido, as escolas teriam desaparecido se a Igreja não as tivesse salvado e protegido.

“O espírito humano, pode-se dizer sem exagero, batido pela tempestade, refugiou-se nas igrejas e nos mosteiros; abraçou suplicante os altares para viver em seu abrigo e a seu serviço até que melhores tempos lhe permitissem reaparecer no mundo e respirar ao ar livre”.

(Guizot, História da civilização na França, I. p. 137).

O nome de monástico, dado ao período que se estende do sexto ao duodécimo século está, portanto, amplamente justificado.

— Período Monástico

Uma admiração excessiva da Antigüidade leva os humanistas neopagãos ao desprezo da Idade Média. Consideram época de barbárie todos os séculos que os separam da Antigüidade e dão sentido pejorativo ao termo Idade Média. A escolástica, de que não conhecem senão os abusos e as obras da decadência, é objeto principal dos seus ludíbrios. Petrarca ridiculariza os doutores em silogismo “inchados de nada, trabalhando no vácuo e exercitando-se em futilidades”. Ramus passa parte da vida a rebater as antigas doutrinas.

Segundo Montaigne, é Baroco e Baralipton que tornam as bases da filosofia tão enlameadas e enfumaçadas. Rabelais não compreende melhor as obras da grande época escolástica; admira-se, no meio das luzes de seu tempo, de encontrar ainda gente “que não pode ou não quer tirar os olhos desse nevoeiro gótico e cimeriano".

— O Renascimento

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História da Pedagogia - Vol. 3: Do século XVII ao século XIX. Louis Riboulet. Editora Liceu, 2020 e Editora Paulo de Azevedo, 1951.

Sinopse: No século XVII, muitos países foram perturbados por divisões e questões muito nocivas aos interesses da educação. Na Inglaterra, terrível guerra civil fez cair no mais completo descrédito a maior parte das escolas. O ensino tornou-se o recurso supremo daqueles que haviam malogrado em tudo. O diretor se desembaraçava do trabalho confiando-o aos mestres subalternos.

Barbeiros e açougueiros fizeram fortuna mantendo escolas. O desgosto pelo estudo tornou-se tal que os filhos dos gentis-homens se gloriavam de nada

saber. “Juro, dizia um nobre, que antes de fazer de meu filho um mestre-escola, o enforcaria. Fazer ressoar a buzina, entender de caçadas, levar bem o falcão e adestrá-lo, eis o que assenta bem a filho de gentil-homem. Quanto ao saber que se busca nos livros, deve-se deixar aos vadios”.

— O século XVII

Não é fácil formar juízo definitivo sobre o século XIX. Os fatos são por demais complexos e estão muito próximos de nós; seus resultados não são suficientemente conhecidos. Certos sentimentos estão muito vivos ainda, nas almas, para permitirem apreciações imparciais. Todas as nações têm aberto escolas numerosas. A sociedade civil, a Igreja Católica com suas legiões de sacerdotes e suas admiráveis Congregações docentes, as várias seitas cristãs, se têm dedicado a estas obras com um devotamento sem limites. Nunca se compreendera melhor a obrigação de difundir a luz, de dar a todas as classes da sociedade instrução sólida e variada.

Esta evolução das obras escolares se nota sobretudo na Europa e nos países sujeitos à influência das nações civilizadas. A América do Norte se tem distinguido de modo particular e, a certos respeitos, tem até excedido o antigo continente.

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História da Pedagogia - Vol. 4: O século XIX. Louis Riboulet. Editora Liceu, 2020 e Editora Paulo de Azevedo, 1951.

Sinopse: O programa da Idade Média compreendia as Sete Artes Liberais. No século XVI se organizou o ensino das humanidades e, em seguida, alguns educadores de tendências naturalistas o julgaram pouco conforme às realidades da vida.

No século XVIII, a Alemanha abriu as primeiras escolas reais. Maria Teresa, influenciada pelo Emílio, diminuiu, nos colégios, a parte consagrada ao classicismo. Na França, os Enciclopedistas e os pedagogos da Revolução, especialmente Diderot, Lakanal, Dauneu, Condorcet, pedem a substituição das humanidades por estudos científicos. No século XIX, o ensino moderno penetrou em todo os países civilizados.

Seria injusto contestar a necessidade desse ensino. Mas o que não se admite é que tenha o mesmo valor educativo que as humanidades clássicas. Estas têm a seu favor os mais magníficos resultados. Devemos a esses métodos, dizia Voltaire, “os nomes mais célebres do nosso país”, em particular os grandes escritores, a maior parte dos inventores e dos sábios mais ilustres dos três últimos séculos. Em nossos dias, um exame desinteressado tem verificado que os alunos que têm as melhores classificações para admissão às escolas superiores, com impressionante maioria, foram os que tinham cursado antes as humanidades clássicas.

Acrescentemos que os partidários do ensino moderno pareciam não ter em vista senão vantagens econômicas e materiais. Tem-se até pretendido que certos adversários dos estudos clássicos agiam sob a influência de duas paixões: a da igualdade, que não toleraria nem mesmo a aristocracia da inteligência; e a da irreligião, que acha meio de prejudicar a Igreja abolindo o ensino do latim.

Esta luta do cientificismo contra o ensino tradicional não tem dado bons resultados.

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O Amor às letras e o desejo de Deus: Iniciação aos autores monásticos da Idade Média. Jean Leclercq. Paulus, 2012.

Sinopse: Este é um livro de iniciação aos autores monásticos da Idade Média dirigido a estudantes. Publicado pela primeira vez em 1957, impôs-se como um clássico não só pela solidez das informações e acuidade das percepções, mas também pela autenticidade da atitude intelectual que traduz: rigor científico e interesse por um saber aberto sobre as questões essenciais da existência humana. Dividida em  três partes, a obra é composta por uma série de lições dadas a jovens monges do Instituto de Estudos Monásticos do mosteiro de Santo Anselmo, em Roma, durante o inverno de 1956-1957.



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A Educação Superior e o Resgate Intelectual. O Relatório de Yale de 1828Universidade de Yale, Giovanna Louise (Tradutora). Vide Editorial, 2016.

Sinopse: Em 1828 foi pedido ao corpo docente da Universidade de Yale que avaliasse a necessidade de se insistir nos estudos clássicos e de línguas antigas como parte do programa acadêmico da instituição, dados os avanços industriais dos novos tempos e suas novas demandas.

Após expor o currículo adotado até então naquela instituição, justificados seus princípios e defendidos seus objetivos, o corpo docente conclui que seria uma tragédia anunciada substituir o ensino clássico por uma espécie de ensino profissionalizante.

É indiscutível a perspicácia de tal análise e a importância que este documento de Yale tem principalmente hoje em dia, visto que se vive em meio justamente à tragédia acadêmica anunciada em 1828.

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A conexão de Leipzig. A destruição sistemática da educação americana. Paolo Lionni. Vide Editorial, 2020.

Sinopse: Nos últimos anos do século XIX, teve início uma grande transformação na educação americana.

Depois da Primeira Guerra Mundial, o povo americano notaria cada vez mais uma grande mudança nos rumos da educação dada a seus filhos. Nas décadas seguintes, as mesmas escolas que haviam nutrido o sonho americano seriam assoladas pelo crime e pelas drogas, e os colégios passariam a formar alunos semi-analfabetos que mal sabiam aritmética básica.

Este livro descreve essa metamorfose, que teve início numa universidade alemã com o trabalho do psicólogo Wilhelm Wundt e culminou na atuação do educador americano John Dewey.


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A Escola sem Deus. Monsenhor de Ségur. Editora Santa Cruz 2022. Edições Livre, 2018.

Sinopse: Louis Gaston Adrien de Ségur, sacerdote e escritor francês, nascido e falecido em Paris (15/04/1820 – 9/06/1881). Descendente de uma família nobre, era filho do marquês Eugène de Ségur e da célebre condessa de Ségur, conhecida escritora de livros infantis. Zeloso nos estudos, logo que se formou em Direito foi enviado como adido à Embaixada Francesa em Roma, junto à Santa Sé. Ao retornar a Paris, ingressou no Seminário de Santo Sulpício, sendo ordenado sacerdote em dezembro de 1847. Dedicou-se principalmente à evangelização das crianças e dos pobres, assim como dos soldados prisioneiros de guerra. Foi muito estimado pelo Papa Pio IX, por muitas autoridades eclesiásticas e diplomáticas, e até mesmo por Napoleão III.

Em 1856, Mons. de Ségur teve um grave problema na visão que o levou à cegueira e o obrigou a renunciar às suas funções. Chegou a ser nomeado bispo, mas não recebeu a ordenação episcopal, impedido por sua condição. Com a cegueira, passou a ditar livros explicando - e defendendo com fervor - a doutrina católica em linguagem popular. Escreveu mais de 70 livros, e até o momento de sua morte, em 1881, suas obras somavam mais de 700 mil cópias vendidas apenas na França e na Bélgica, sem contar as edições em italiano, espanhol, alemão, inglês e até mesmo na língua hindu.

O livro A escola sem Deus foi escrito em 1872. Nessa obra, Mons. de Ségur fala da importância da educação católica, defendendo que o ensino deve ser cristão, e não laico. Ou seja, as escolas, principalmente no nível de instrução básica, necessariamente precisam ser católicas, considerando que, entre outros fatores, as crianças passam grande parte de suas vidas dentro das escolas, e assim os professores teriam que auxiliar os pais e os sacerdotes na formação cristã das crianças. Entre outras coisas, diz Mons. de Ségur: “... Na prática, não tratar da religião na escola é tornar impossível a instrução religiosa das crianças!”

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A boa e a má educação: exemplos internacionais. Inger Enkvist. Edições Kírion, 2020.

Sinopse: Este livro tem o propósito de explicar em que consiste a boa qualidade educacional. Para isso, estudaremos vários sistemas escolares, tanto os que dão bons resultados como os que dão maus, trazendo dados da França, Finlândia, Estados Unidos, Suécia, Japão, China e Espanha. Por meio desse percurso comparativo, e com o auxílio de uma porção de relatos e de estudos acadêmicos de disciplinas variadas, tentaremos mostrar por que o modelo educacional em vigor em muitos países ocidentais não funciona.

Para entender o que aconteceu com a educação do Ocidente nos últimos anos é essencial estudar os conteúdos e métodos de todo um conglomerado de pedagogias que poderíamos chamar de “libertárias” ou “progressistas”, e que, na falta de nome melhor, chamaremos sinteticamente de “nova pedagogia”. 

A tônica deste livro, porém, não é a crítica generalizada desse conjunto, mas destacar, para todo leitor livre de preconceitos, que tipo de práticas são mais recomendáveis — e como, curiosamente, muitas delas coincidem com o que foi a educação tradicional do Ocidente.

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Educação: Guia para perplexosInger Enkvist. Edições Kírion, 2019.

Sinopse: Com este guia, a pedagoga sueca Inger Enkvist ajuda pais, professores e alunos a compreender as causas dos fenômenos estranhos que temos visto em nossas escolas, como a queda vertiginosa de sua qualidade, o desrespeito pelos professores e a substituição do ensino tradicional por práticas suspeitas. Com coragem e elegância, ela expõe as contradições intrínsecas do igualitarismo, do multiculturalismo e do construtivismo, e apresenta os resultados concretos a que levaram as idéias de autonomia, de tolerância, inclusão e outras.

“Um aspecto essencial do presente livro é a denúncia do tabu que impede mencionar a relação entre a crise da educação no Ocidente e o igualitarismo permissivo que desprezou o aprendizado como idéia estruturante da educação, ou, em outras palavras, a combinação do igualitarismo com a nova pedagogia. [...] A crise da educação se deve a uma visão igualitarista, tecnológica e economicista da mesma, que não valoriza suficientemente o conhecimento em si nem o aluno em si, mas a igualdade entre os alunos e o bom funcionamento da economia”.

“Os professores estão sendo utilizados para fins políticos e sociais, e percebem vagamente que estão sendo manipulados pelas autoridades políticas. Na educação tradicional eram vistos como profissionais com a clara missão de elevar o nível educacional de seus concidadãos. Eram modelos, respeitados pelos alunos e por seus pais. Os estruturalistas e os pós-estruturalistas vêem os professores como uma mera função. Poucas vezes se leva em conta sua opinião profissional sobre como se deveria organizar a educação, e são obrigados a obedecer às instruções dos políticos”.

Sobre a autora: Inger Enkvist (1947–) é professora de literatura espanhola na Universidade de Lund, na Suécia. Já publicou estudos sobre Miguel de Unamuno, José Ortega y Gasset, Mario Vargas Llosa e outros, além de vários livros sobre educação, em sueco e em espanhol. Nestas obras, critica as bases ideológicas da nova pedagogia, demonstra seus maus resultados e suas conseqüências malignas para a cultura ocidental como um todo, e apela para a recuperação de elementos da pedagogia tradicional, como o valor do conhecimento, da dedicação do aluno e da autoridade do professor competente.

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Maquiavel Pedagogo ou o ministério da reforma psicológica. Pascal Bernardin. Editora: Ecclesiae, 2013.

Sinopse: Quais são as razões da profunda crise na escola? É possível encontrar uma espécie de vírus no gene de nossa sociedade e de nosso sistema educativo? Podemos concluir que é urgente uma redefinição do papel da escola e de suas prioridades?

Inúmeros pais e educadores, testemunham, estupefatos, a revolução em curso. Interrogam-se sobre as profundas mutações que de forma acelerada vêm ocorrendo em nosso sistema educativo. Porém, nenhum governo, seja de direita ou de esquerda, vem à público esclarecer os fundamentos ideológicos dessas constantes reformas no ensino e tampouco se preocupam em apresentar, de forma clara, as coerências e os objetivos dos métodos adotados.

Mas, ainda que tudo nos pareça muito obscuro, podemos encontrar todas as respostas na filosofia da revolução pedagógica que se expõe, em termos explícitos, nas publicações dos organismos internacionais como a Unesco, a OCDE, o Conselho da Europa, a Comissão de Bruxelas e tantas outras. Apoiando-se sobre textos oficiais desses organismos, Pascal Bernardin mostra detalhadamente que o objetivo prioritário da escola atual não é mais possibilitar aos alunos uma formação intelectual e muito menos fazê-los adquirir conhecimentos elementares.

O que se pretende com a redefinição do papel da escola é torná-la nada mais do que o instrumento de uma revolução cultural e ética destinada a modificar os valores, as atitudes e os comportamentos das pessoas em escala mundial. As técnicas de manipulação psicológica, que não se distinguem muito das técnicas de lavagem cerebral, estão sendo utilizadas de forma maciça. Naturalmente, os alunos são as primeiras vítimas.

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O código da educação: Uma história verdadeiraAntônio Donato Paulo Rosa. Editora Pie Pellicane, 2022.

Sinopse: No primeiro milênio da era cristã o cristianismo estava em vertiginosa ascensão. Santo Agostinho descrevia assim seu assombro diante da irreversível cristianização do mundo:

"Pelas cidades e bairros, e até pelos campos, deseja-se o afastamento do mal e a conversão ao único e verdadeiro Deus. São inumeráveis os que deixam as riquezas e as honras do mundo, desejosos de consagrar a sua vida ao Deus supremo. Todas estas coisas são agora acolhidas de tal modo que, se antes era impensável argumentar a seu favor, agora o é colocar-se contra elas. Ninguém já se admira de tantos milhares de jovens renunciarem ao matrimônio e abraçarem a vida cristã. As igrejas estão se multiplicando com fertilidade e abundância, até mesmo entre os povos bárbaros" (S. Agostinho: De Vera Religione, 4).

Mas, no segundo milênio, o Papa João XXIII descrevia e outro modo o mundo moderno:

"Estamos em um mundo de fisionomia profundamente mudada, em meio a uma procura quase exclusiva de bens materiais, no esquecimento, ou no enfraquecimento, dos princípios da ordem espiritual, que caracterizaram a penetração da civilização cristã através dos séculos" (SS. João XXIII: Alocução de 14 de novembro de 1960).

As origens deste fenômeno remontam aos anos entre 1300 e 1600. A sociedade transformou-se radicalmente. A natureza dos acontecimentos dificultou o entendimento do que acontecia. A partir daí, estas transformações incoporaram-se à educação. A educação reproduz a sociedade existente, formando os homens para a sociedade existente ou, como ocorreu com o cristianismo, para formar uma nova. Se não se entende claramente a transformação ocorrida na sociedade e como ela se incorpora e se reproduz na escola, os erros do início somente serão percebidos em suas consequências quando já não houver mais lembrança do que realmente ocorreu.

O Código da Educação narra como a escola se adequou à nova configuração social e como se perdeu a noção do que seria a educação cristã e sua relação para com a estrutura social.

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A Educação na Antiguidade: Uma introdução ao amor da sabedoriaAntônio Donato Paulo Rosa. Editora Pie Pellicane, 2024.

Sinopse: Que pensamos nós sobre a natureza? 

A natureza certamente é repleta de mistérios. Mas isto significa que pretende dizer-nos algo?  E teríamos nós sido feitos precisamente para compreender esta mensagem? 

A visão que hoje fazemos do mundo nos sugere que a natureza surgiu por forças agindo ao acaso e que os homens, graças a muito progresso, estão alcançando pleno domínio sobrea natureza. Esta visão contrasta com a de um povo que, muito antes de Cristo, observou a natureza e descobriu que ela parece querer comunicar-nos algo, e que os homens mal alcançaram, diante dela, a primeira infância. 

Este livro quer apresentar a epopéia deste povo. Quer mostrar como seus achados foram tão facilmente acolhidos pelo Cristianismo. E também como, mais tarde, foram tão facilmente esquecidos. 

Houve uma época em que um povo buscou apaixonadamente a sabedoria. Uma multidão de cidadãos vendia tudo o que tinha para  viver contemplando a natureza. Eles  haviam percebido que a natureza era muito coerente, parecia ter um segredo e querer mostrá-lo para os homens. Especialmente para os homens.  A própria natureza parecia tê-los feito para isto. Estas pessoas buscavam entender o segredo da natureza mas não para construir uma máquina ou fazer dinheiro. 

Pouco a pouco perceberam que toda a natureza  tinha uma só ordem, que esta era ordenada por um único princípio e dentro desta grande ordem, cada coisa parecia dirigir-se a um fim. Todas as formigas constroem um formigueiro. Todas as abelhas constroem uma colméia. E o fim de cada coisa está em harmonia com a ordem maior de toda a natureza. Todas as coisas parecem saber qual é o seu fim e como este fim se sincroniza com os fins das demais coisas. 

Em toda esta ordem, porém, o homem parecia ser uma exceção. Talvez a única exceção. Justamente o homem. Os seres humanos não parecem agir como se estivessem se direcionando a algum fim. Ao contrário da formiga e da abelha, o homem nunca parece estar satisfeito com o que faz. Nem sequer parece supor que possa existir algo específico que devesse fazer para encaixar-se na ordem natural. Era um mistério como, em meio à ordem natural, pudesse haver um ente, que parecia ser o mais perfeito e a obra-prima da natureza, e era justamente este o que parecia não saber o que fazer. Como se explicaria isto? Estava aí um mistério dentro da natureza. Tudo tão bem sincronizado, mas o homem, justamente o homem, fora daquela grande sincronia. 

O que provavelmente deveria estar acontecendo é que tal finalidade deveria ser algo tão elevado que somente poderia ser alcançada com plena consciência da inteligência e plena liberdade da vontade. Portanto, para que o homem pudesse cumprir o objetivo que a natureza devia ter-lhe traçado, teria primeiro que compreender, pela luz da inteligência, sua própria natureza e o modo como ela se insere na ordem natural, e depois aceitar ambas estas coisas livre e conscientemente.

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Aprendendo Inteligência: Manual de instruções do cérebro para estudantes em geral 1Pierluigi Piazzi. Editora Aleph, 2015.

Sinopse

Durante muito tempo, acreditou-se que a inteligência fosse uma característica inata. O fator genético era considerado bem mais influente do que o fator ambiental. Porém, devido aos avanços da neurociência, ficou demonstrado que inteligência, talento e vocação são características que podem ser adquiridas com facilidade e um pouco de esforço. Neste livro, dedicado aos estudantes de todos os níveis, o Pierluigi Piazzi (conhecido carinhosamente pelos seus alunos como Prof. Pier) ensina a usar a inteligência para se tornar uma pessoa mais inteligente.



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Estimulando Inteligência: Manual de instruções do cérebro de seu filho 2Pierluigi Piazzi. Editora Aleph, 2015.

Sinopse:

As mais recentes descobertas das neurociências mostram que a inteligência pode ser aprendida, e que esse fato não se dá durante as aulas, mas sim no momento do estudo individual, extraescolar. Desde as primeiras semanas de vida, cabe aos pais dar carinho e fornecer estímulos para o despertar da inteligência de suas crianças. Essa interação entre pais e filhos representa um fator determinante para um maior desenvolvimento intelectual. Por isso, o papel da família torna-se crucial, e este livro busca orientar os pais nessa jornada. Estimulando Inteligência mostra como criar um ambiente doméstico e escolar que estimule o aumento do nível de inteligência das crianças, dos jovens e até dos adultos.


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Ensinando Inteligência: Manual de instruções do cérebro de seu aluno 3Pierluigi Piazzi. Editora Aleph, 2015.

Sinopse:

Ao longo da vida profissional, quantas vezes um professor não se depara com um ótimo aluno, mas péssimo estudante? O sistema escolar muitas vezes tende a valorizar aquele que decora conteúdo para tirar uma boa nota, e não necessariamente aquele que aprende de verdade. Ensinando inteligência, livro baseado em mais de cinquenta anos de experiência em sala de aula de Pierluigi Piazzi, apresenta a seus colegas de profissão as inovadoras técnicas das neurociências para estimular de forma eficiente o cérebro de seus alunos, transformando-os, finalmente, em estudantes.



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A idéia de uma universidadeSão John Henry Newman. Ecclesiae, 2020.

Sinopse: Em 1852, o Cardeal Newman foi convidado a proferir uma série de discursos em Dublin, na Irlanda, a respeito da essência do ensino universitário. Dar-se-ia aí a fundação de uma Universidade Católica, da qual ele foi o reitor de 1854 a 1858, supervisionando os projetos e a própria construção do campus. Mais tarde, esses discursos, unidos a palestras e ensaios ocasionais dirigidos aos membros dessa mesma universidade, viriam a ser unidos pelo autor neste livro, A idéia de uma universidade.

“A visão de uma universidade nestes discursos é a seguinte: trata-se de um lugar de ensino do conhecimento universal. Isso implica que seu objetivo é, por um lado, intelectual, não moral; e, por outro, que ele gira em torno da difusão e ampliação do conhecimento, e não de sua promoção. Se seu objetivo for a descoberta científica e filosófica, não vejo por que uma universidade ter alunos; se for a prática religiosa, não vejo como ela pode ser a sede da literatura e da ciência. Assim é uma universidade em sua essência, independentemente de sua relação com a Igreja.

Na prática, porém, ela não tem como cumprir devidamente seu objetivo, conforme descrito acima, sem a assistência da Igreja; ou, para usar o termo teológico, a Igreja é necessária para sua integridade. Tais são os princípios centrais dos discursos que se seguem, embora seja absurdo esperar que eu tenha abordado um campo de pensamento tão vasto e importante com a plenitude e a precisão necessárias”.

Sobre o autor: John Henry Newman nasceu em 1801, em Londres. Estudou no Trinity College (1816) e no Oriel College (1822), ambos na Universidade de Oxford, onde mais tarde viria a lecionar. Adepto do celibato, foi ordenado sacerdote na Igreja Anglicana em 1825. Foi um dos líderes do “Movimento de Oxford” (1833), que, por meio de panfletos, defendia a continuidade entre a doutrina dos apóstolos e o anglicanismo, mas pregava uma regeneração dos costumes e da própria igreja na Inglaterra. Seu interesse genuíno pela história do cristianismo e pelo desenvolvimento da doutrina cristã o levou, contudo, ao estudo dos Santos Padres e da fé católica, à qual ele se converteu em 1845.

Aos 8 de outubro desse ano, tendo deixado seu posto de tutor e professor em Oxford, Newman confessou-se e foi recebido na Igreja de Cristo. Passou a ser ignorado, evitado, a ser alvo de maledicência, deixou de ser convidado para os círculos que freqüentava... Parte no ano seguinte para Roma, onde é ordenado sacerdote católico, em 1847. Ao voltar para a Inglaterra, levou consigo a força e o testemunho da fé verdadeira: estabeleceu em Birmingham o primeiro oratório de São Felipe Néri do mundo anglófono, e começou a escrever àqueles que antes liderara no Movimento de Oxford, encorajando-os a levarem a cabo sua busca pela verdadeira Igreja e a se converterem.

Em 1852, foi convidado a dar uma série de palestras em Dublin, na Irlanda, a respeito da essência do ensino universitário. Dar-se-ia aí a fundação de uma Universidade Católica, da qual ele foi o reitor de 1854 a 1858, supervisionando os projetos e a própria construção do campus. Essas palestras, unidas a discursos e ensaios posteriores, viriam a compor este livro, The idea of a university. Nas duas décadas seguintes, viu-se envolvido numa série de controvérsias e de desconfianças por parte da própria Igreja, às quais respondeu com uma demonstração magna de sinceridade e entrega: escreveu a história de sua vida, a Apologia pro vita sua (1865), que calou os críticos e restaurou sua reputação, tanto entre católicos quanto entre anglicanos. Foi convidado a participar do Concílio Vaticano I como consultor teológico, mas declinou em vista de publicar, nessa mesma época, sua Grammar of assent, uma profunda investigação filosófica sobre como a pessoa humana atinge suas convicções. Em 1879, Leão XIII o nomeou Cardeal na Igreja Católica. Apesar disso, Newman não quis ser sagrado bispo, contrariando o costume, e continuou em Birmingham, no seu amado oratório, onde permaneceu escrevendo e orientando espiritualmente os fiéis. Por ocasião de sua morte, em 1890, cerca de 15 mil pessoas acompanharam o cortejo. O Cardeal Newman foi beatificado pelo Papa Bento XVI em 2010, e canonizado pelo Papa Francisco aos 13 de outubro de 2019.

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A Educação dos Filhos. Antonio Royo Marín, Editora Katechesis, 2023.

Sinopse: Chegamos a um dos temas mais culminantes da santificação do leigo por meio da família cristã. A educação cristã dos filhos é de importância tão capital e decisiva no seio do lar e em toda a sociedade humana que, sem ela, seria totalmente impossível não só a santificação dos pais, que deixariam de cumprir um de seus mais graves deveres, senão também a de seus filhos e, por consequência, a da sociedade humana em geral, já que essa sociedade não é, em definitivo, senão o resultado do agrupamento orgânico de todos os seus membros componentes.

Como já indicamos em outra parte, sem a educação cristã dos filhos, a vinda ao mundo destes, mais que um feliz acontecimento e uma benção de Deus, haveria que considerá-la como uma verdadeira desgraça e o começo de sua desventura eterna: «Melhor seria para esse homem não ter nascido», disse o próprio Cristo sobre o traidor Judas (cf. Mc 14,21). Por isso a Igreja, nossa mãe, perfeitamente consciente dessa gravíssima obrigação dos pais, declara reiteradamente que «a geração e a educação da prole é o fim primário do matrimônio» (cn. 1013, I.º). Não basta, pois, para cumprir o fim primário, a mera geração dos filhos: é preciso, ademais, educá-los cristãmente para lhes assegurar a sua felicidade temporal e eterna, como filhos de Deus que são.

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O verme roedor ou o paganismo na educaçãoMons. J. Gaume. Editora Katechesis, 2021.

Sinopse

Que fará um médico na presença de um infeliz, vítima de fatal doença que ameaça a cada momento precipitá-lo no túmulo? Se não for cego ou criminoso, lançará logo mão não dos paliativos, ou dos remédios usuais, mas sim dos recursos extremos da arte para operar uma crise salutar. Se preciso for empregará o ferro e o fogo, sem atender às resistências e gritos do doente.




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Da vanglória e da educação dos filhos. São João Crisóstomo. Editora Katechesis, 2017.

Sinopse:

"Se desde a primeira infância carecem as crianças de mestres, que será delas? Se alguns, educados e instruídos desde o ventre materno até a velhice, não conseguem triunfar, que males serão capazes de cometer os que nunca foram educados? O certo é que todas as pessoas se esforçam para que seus filhos se instruam nas artes, nas letras e na eloqüência, mas a ninguém ocorre pensar em como exercitar sua alma. Portanto, não cesso de vos exortar, rogando-vos e suplicando-vos que, antes de qualquer coisa, eduqueis bem os vossos filhos. Se tendes consideração por vossos filhos, aqui o haveis de mostrar."


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Corrija seu filho - A formação do homemMonsenhor Álvaro Negromonte. Editora Calvariae Editorial, 2019.

Sinopse: Para os que procuram mais o próprio sossego que o progresso moral dos filhos, castigar é mais cômodo: umas palmadas no pequenino que jogou a merenda no chão, uns bofetões no rapazola que respondeu com arrogância, chineladas na menina que entornou tinta no vestido novo, um mês sem passeio para quem não teve média na prova parcial, trancar as crianças no quarto dos fundos porque perturbaram o silêncio de que precisa o pai, e outras medidas policiais do mesmo teor dão “soluções” imediatas, que contentam o adulto desprevenido, mas nada adiantam à educação, e, pelo contrário a prejudicam.

Não julguemos, porém, sejam essas umas fórmulas mágicas que resolvam tudo, rapidamente e que, quando não resolverem, o caso é irremediável. Não há fórmulas mágicas em educação. As soluções rápidas são pedidas em geral pelos que “não têm tempo a perder com os filhos”, e por isso perdem os filhos.

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A educação da sexualidade: Um guia para pais e educadoresMonsenhor Álvaro Negromonte. Editora Calvariae Editorial, 2019.

Sinopse: Ora, é dever dos educadores preparar os homens para viverem no seu tempo, e não nos tempos idos. O que lhes incumbe é preparar os homens para resistirem aos perigos da sua época, e poderem praticar a virtude, quaisquer que sejam as dificuldades. 

É natural que os educandos de hoje, tomem tão errada orientação na vida, como a que até hoje têm tomado. É natural que nunca se acostumem a encarar como coisas respeitáveis e dignas essas que lhes foram ensinadas sem nenhum respeito nem dignidade. 

Eis porque só sabem falar ou ouvir desses assuntos com risinhos inconvenientes e maliciosos, pondo maldade em todas as coisas. Eis porque o corpo é para eles um instrumento de prazer e não um templo do Espírito Santo.

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A educação dos filhos - A missão dos pais e educadoresMonsenhor Álvaro Negromonte. Editora Calvariae Editorial, 2019.

Sinopse: Para muitos a grande preocupação é o bem-estar dos filhos: a saúde, os estudos, a condição econômica. Os próprios estudos são orientados num sentido utilitário, com uma finalidade prática, a mais imediata possível. As profissões são escolhidas em vista das possibilidades econômicas. Daí a primazia das carreiras técnicas, e o desprestígio dos estudos clássicos ou filosóficos, desprezados por nada “adiantarem” na vida...

As atenções com a saúde superam a formação moral. Se o menino adoece, tomam-se logo todas as medidas, à custa dos maiores sacrifícios. Mas se ele tem uma tendência ao vício, pouco se cuida: “é da idade, passa com o tempo”, “o pai também foi assim”, “hoje ninguém repara mais certas tolices”... Considera-se “vencedor” o jovem que conseguiu uma rendosa colocação. Ainda melhor, se for um emprego público, bem remunerado e sem trabalho. A satisfação dos pais rivaliza então com a inveja dos que não “venceram” na vida com tanta rapidez e eficiência! Para chegar a esses resultados, às vezes são bons todos os processos. Não os censurem, que a explicação vem cabal e definitiva: o mundo hoje é assim; o que ontem era imoral, hoje não é; o que hoje ainda é proibido, talvez amanhã seja obrigatório; a vida tem dessas coisas... Por outras palavras: não há valores morais definitivos!

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Sobre o autor: Monsenhor Álvaro Negromonte nasceu em 26 de outubro de 1901, no Engenho Gameleira, em Timbaúba. Entrou no Seminário de Olinda aos treze anos de idade e ordenou-se sacerdote em 08 de junho de 1924. Foi designado logo após diretor do Colégio Diocesano e capelão do Colégio Santa Cristina, em Nazaré da Mata. Em 1927, transferiu-se para Minas Gerais, onde passou a exercer a capelania do hospital de Ituna, para depois fixar-se em Belo Horizonte. E foi na capital mineira que o padre Álvaro iniciou realmente sua brilhante carreira sacerdotal. Foi secretário do Arcebispado, capelão do Hospital Carlos Chagas, professor de catequética no seminário de Belo Horizonte, fundador e reitor do Instituo Católico de Cultura. Vice-presidente da Sociedade Pestalozzi e vice-diretor Arquidiocesano do Ensino Religioso. Seu primeiro livro, “O Caminho da Vida”, ao qual se seguiu Pedagogia do Catecismo, de 1936, que sintetiza os princípios pedagógicos de renovação catequética. De Minas, onde seu nome se propagara com brilho, como educador dos mais ilustres, foi para o Rio de Janeiro, centro irradiador por excelência, onde foi designado, em 1945, orientador educacional do Serviço de Assistência a Menores do Ministério da Justiça, cargo que exerceu com brilhantismo. Já no Rio, publica os livros: “Educação Sexual, Noivos e Esposos” e “O que fazer de seu filho”, onde já encara de frente, com prudência mas sadia e indispensável objetividade já louvada por Tristão de Athayde, os complexos e difíceis problemas da educação sexual e do matrimônio no primeiro livro e os da educação dos filhos no último. Em 1950, foi diretor do ensino religioso na Arquidiocese do Rio e nesse mesmo ano representou o Brasil no Congresso Internacional de Catequética realizado em Roma. Em 1956, foi Monsenhor (camareiro) de S.S. o Papa Pio XII.

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Educação (Paideia) na Antiguidade Cristã

Três Santos Hierarcas da Igreja:
São Basílio, o Grande,
São João Crisóstomo e
São Gregório, o Teólogo

CRISTIANISMO E PAIDÉIA

Desde a obra famosa de Werner Jaeger, o termo paidéia sugere de imediato o conceito de ideal formativo do homem, descoberto e formulado pelos gregos. A paidéia seria, então, o ideal de educação do homem completo, bem desenvolvido física e espiritualmente, isto é, amadurecido com o auxílio da arte e a colaboração dos adultos experientes no pleno exercício das suas potencialidades físicas, intelectuais e morais. Acontece, entretanto, que esse ideal formativo, formulado de modo clássico e com valor perene, por se assentar na realidade e no conceito de personalidade humana, revestiu na prática certos aspectos muito discutíveis e dignos de censura. Assim, por exemplo, a clara percepção da existência do poder intelectual e do papel da lei na vida física, social e moral foi sombreada pelos raptos imaginativos que engendravam quimeras, como as figuras mitológicas dos deuses que se apresentavam como seres reais, e ela não foi apenas entenebrecida, como também conspurcada, pelos vícios que degradaram o povo que soube espargir pelo mundo ideias tão luminosas. Por isso, quando o Cristianismo surgiu, houve de início um choque entre os representantes da paidéia clássica e os mensageiros da Boa Nova anunciada por Nosso Senhor Jesus Cristo. Os discípulos do Verbo Salvador receberam do Mestre divino a mesma noção da eminente dignidade do ser humano e, ainda mais, com uma idéia muito superior dessa dignidade, quando tomaram consciência de que o homem não é só imagem de Deus pela sua inteligência e pela sua liberdade, como por ter sido elevado ao plano da vida sobrenatural mediante a posse da graça divina que lhe foi outorgada com a criação, perdida pelo pecado e recuperada por meio do sacrifício redentor de Cristo. Por conseguinte, havia uma identidade de concepção greco-cristã quanto ao valor da personalidade humana, mas com vantagem para os cristãos, que tiveram acesso, pela Revelação, ao conhecimento do valor superior do homem, enquanto ser participante da vida divina. Ora, essa concepção do homem criado íntegro, decaído e redimido, mas que deve lutar para se conservar no estado de graça que lhe abre as portas para o reino que não é deste mundo, vinha impor novas condições para a educação do ser humano, sobre ser a nova paidéia inteiramente refratária aos desvarios da fantasia, que se permitia construir o mundo lúcido e fabuloso dos mitos sem consistência real, e aos vícios que corrompiam e enfeavam os homens já enfraquecidos pelo pecado original. Daí, segundo a concepção educacional cristã, a necessidade da ascese, o perpétuo combate espiritual, enquanto dura a existência, a necessidade da penitência, da metanoia, a contínua conversão da pessoa no rumo do Senhor Deus, o abandono do velho fermento do pecado, do homem velho, num contínuo esforço de renovação espiritual. Por isso, os cristãos podiam assumir valores naturais da paidéia grega, mas não podiam admitir os extravios do seu espírito e da sua mentalidade. Em virtude deste último aspecto do espírito grego, muitos pensadores cristãos julgaram, de início, inconciliável a paidéia grega com a doutrina cristã condenando os pagãos ou gentios idólatras e imorais e recusando o que tomavam como pretensa sabedoria deste mundo oposta à sabedoria de Deus, revelada através dos Profetas e dos Apóstolos. Ora, foi exatamente o alto feito educacional de Clemente de Alexandria, nas pegadas do mártir São Justino, ter concorrido para harmonizar a paidéia grega com o espírito cristão, a filosofia pagã com o Evangelho, procurando demonstrar que a filosofia não é "pagã" por natureza, mas uma decorrência da natureza, mas uma decorrência da natureza intelectual do ser humano do ser humano e, por conseguinte, uma dádiva de Deus ao homem, como as artes e as ciências, dons subjetivos, mas dons como os bens externos representados pela variedade e pela beleza das criaturas, como o mar, as montanhas, as flores e as estrelas. Com essa convicção, Clemente de Alexandria aprofunda a idéia de São Justino quanto ao Logos que se fez homem e é o princípio de toda sabedoria, e procura demonstrar que a plenitude da razão e da vida espiritual só se encontra na vida cristã.

[...]

A PAIDÉIA GREGA E A VIDA CRISTÃ

O ínclito helenista Festugière O. P. escreveu páginas notáveis a respeito da paidéia grega e da vida cristã, tomando por base a cidade de Antioquia no século IV e as figuras cimeiras do retórico Libânio e do maior orador cristão do Oriente, São João Crisóstomo. Este, como teremos ocasião de estudar detidamente num capítulo especial, nutria a convicção de que os jovens deviam recolher-se sem pestanejar a um mosteiro, para se dedicarem à religião e ao estudo da santa doutrina, livres dos perigos da sociedade mundana. São João Crisóstomo demonstrava com isso um excessivo e feroz rigorismo, tal como São Jerônimo, ódio por tudo que fosse humano, desconhecimento das verdadeiras condições da vida religiosa e uma ausência de tato espiritual, diz Festugière, que nos aflige e aborrece [19]. Nessa época cultivou-se um erro, que durou muito tempo: o de poderem os pais constranger os filhos a seguir a vida religiosa num mosteiro, embora estes não tivessem a mínima inclinação para este gênero de vida.

O que se sabe a respeito da educação clássica em Antioquia no século IV vale igualmente para outros grande centros escolares do Oriente. A essência da educação antiga consistia da leitura assídua dos famosos autores gregos, os clássicos, de Homero a Demóstenes. O método seguido era o de ler os grande textos e decorá-los, a fim de recitar trechos poéticos ou em prosa diante do mestre, do pedagogo ou para si mesmo. Depois vinha as composições escritas, e as declamações feitas em classe perante mestres e colegas e, às vezes, diante dos pais e dos amigos. Evidentemente, só os meninos e jovens de famílias dotadas de recursos recebiam esses tipo de formação em gramática e retórica, uma vez que os pobres aprendiam um ofício manual que passavam de artesão a artesão numa tradição imemorial.

Festugière traça com mestria o quadro das oposições de vantagens e perigos da paidéia grega. Inegavelmente, a paidéia propunha ao homem um tipo de vida decente que a pessoa bem educada devia levar. As regras de conduta iam da epieiqueia, modéstia e conveniência, e da filantropia, generosidade (ajuda às pessoas em desgraça), até a civilidade pueril e honesta. Esse código de boas maneiras assemelhava-se ao do honnête homme do século XVII ou do gentleman inglês, e Libânio denominava-o maneira grega de viver, ellênikón esti, de tal modo que iniciar-se na cultura grega significava estudar os autores da Grécia e adotar o estilo de vida helênico, Ellênikos Bios, sem os seus vícios tradicionais. Quando se compara a moral grega com a cristã verifica-se que há uma diferença radical entre ambas, mas que podem congraçar-se numa obra de plena realização humana. A moral grega baseia-se na noção de prépon, ou seja, um homem para ser homem, e portanto para viver como ser racional, tem o dever para consigo mesmo de ser belo aos próprios olhos e aos olhos dos outros, isto é, deve procurar alcançar um alto nível de vida moral que constituí a beleza por excelência.

A moral cristã baseia-se na noção de pecado, de ofensa ou falta contra Deus e que por Ele é punida, de modo que o temor de Deus, o temor do seu juízo e da sua punição, constitui a mola primordial dessa moral. Ora, podem conciliar-se perfeitamente os dois ideais, de forma objetivo natural e humano enaltecido pelos gregos seja coroado pela meta sobrenatural e pelo critério evangélico da moral cristã.

Festugière aponta, finalmente, duas classes de perigos da paidéia grega: a indecência de algumas lendas mitológicas e certa aliança dos ierá e dos lógoi, da religião pagã com o estudo das letras, relação que não era necessária mas se fazia na prática habitualmente. Ora, os próprios pagãos perceberam, denunciaram e condenaram a indecência de muitas lendas mitológicas tanto que, desde a Stoa, pelo menos, existiam interpretações físicas ou morais desses mitos que lhes retiravam o veneno. Aliás, observa Festugière, se havia algum perigo em certos mitos gregos, não era nos livros que ele se achava mas na sua representação no teatro sob a forma de pantomimas. Além disso, adotava-se nas escolas o uso de antologias, em que se omitiam as passagens escabrosas. O recurso às antologias já fora recomendado por Platão, que nas Leis afirma ser de boa prática educacional levar os jovens à leitura de longos trechos seletos e à sua recitação de memória quando se pretende que tais jovens se tornem bons e sábios à custa de experiência e de erudição. Diz ainda Platão que existem nos livros dos poetas muita coisa para louvar e muito para censurar [20]. 

Uma vez que no século IV não existiam colégios para a educação da juventude, e já que também a autoridade paterna decaíra por completo em muitos lares, havia cristãos que condenavam de uma vez os templos, os espetáculos e os livros pagãos, repudiando desse modo a cultura pro- fana. Assim pensaram os monges do Oriente, máxime em Antioquia, e moralistas rigorosos, como São João Crisóstomo, que haviam recebido educação monástica e que, preocupados com a salvação eterna das pessoas, achavam que elas deviam ser preservadas das tentações das cidades e dos perigos dos espetáculos. Por isso, tratavam de arrancar os jovens aos encantos da paidéia e só lhes recomendavam a leitura da Bíblia, a recitação dos salmos e a existência recolhida dos mosteiros. Apesar desse exagero, a obra de São João Crisóstomo contém muitos e valiosos ensinamentos a respeito da educação dos filhos.


Referências:

[19] Festugière O. P., Antioche Païenne et Chrétienne, p. 212.

[20] Platon, Lois, 1. 7, 811 a - 811 b, vol. III, pp. 44-45.

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Texto retirado de História da Educação na Antigüidade Cristã de Ruy Afonso da Costa Nunes de 1978 e republicado em 2018 pelas Edições Kírion.


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Progresso e Tradição em Pedagogia

Avô contando uma história - Albert Anker (1884)

Por P. Leonel Franca

Entre extremos igualmente funestos nem sempre é fácil encontrar o equilíbrio sensato de justo meio. Há amigos da tradição que a comprometem, confundindo-a com a invariabilidade das coisas mortas. Há bajuladores do progresso que não compreendem o benefício das renovações salutares sem o radicalismo das revoluções destruidoras. Como preservar o fiel da balança dos extremos destas oscilações perigosas?

Quer-me parecer que um justo conceito do progresso é a primeira condição para formar a justeza moderada do critério. Da marcha evolutiva da humanidade não raro se apresenta uma noção inteiramente falsa. O homem, ao que se diz, avança na história pelas sendas de um progresso indefinido; o diagrama deste movimento poderia representar-se por uma linha ininterruptamente ascensional. O que para trás ficou não tem mais que um valor histórico; hoje representa um peso morto que devemos alijar; que o presente se desvencilhe do passado; a condição do progresso é a ruptura com a tradição.

Visão precipitada e insuficiente das coisas. Nas ciências há dois domínios nitidamente distintos: o das ciências da natureza -- e consequentemente da técnica -- e o das ciências do homem nos seus valores mais altos e específicos. No campo da observação dos fenômenos naturais o progresso é função quase exclusiva do tempo que multiplica os observadores e as observações. Os que foram grandes outrora, conservam hoje o direito à nossa admiração e reconhecimento pelos serviços prestados à causa científica. Mas já nos não sentamos à sua escola; não vamos estudar astronomia em KEPLER nem química em LAVOISIER; foram, já não são mestres .

Há, porém, outro domínio muito diverso das ciências positivas e suas aplicações técnicas: é o das ciências do espírito. Aqui, o progresso não é a função principal do tempo; do valor de uma obra decide em primeira linha o gênio do seu autor, a profundeza dos seus conhecimentos da vida interior das almas, a capacidade de discernir, sob a superfície das aparências que passam e mudam, a natureza humana no que ela tem de essencial, eterno e imutável. Por isso, na religião, na filosofia, no direito, nas artes, na pedagogia, a tradição não tem só o valor de história do que já se foi, mas ainda o de ensino perenemente vivo do que deve ser. Os mestres nestas disciplinas do homem não se sucedem, eliminando-se; superpõem-se, completando-se. PLATÃO e ARISTÓTELES continuam a ensinar-nos filosofia ao lado de S. AGOSTINHO e de S. TOMÁS; BERGSON [1] e HUSSERL [2] não suprimem KANT ou LEIBNIZ, HOMERO e VIRGÍLIO sobrevivem ao lado de DANTE e de CAMÕES. Nos monumentos de Atenas e de Corinto, como nas obras de BERNINI ou de MICHELANGELO, vamos ainda educar o nosso sentimento estético. Porque lemos BOURGET ou DOSTOIÉVSKI, não deixamos de aprender os refolhos do coração humano em GOETHE ou SHAKESPEARE. Todos estes foram e são mestres, ainda que separados por intervalos de séculos e milênios.

Em todo este imenso domínio em que entra no que tem de mais profundo a pedagogia, a tradição não só continua como mestra viva que quer e deve ser escutada, mas é ainda a cláusula necessária do verdadeiro progresso. Triste e mesquinha concepção esta que faz da ruptura com o passado a condição de vida para o presente e de salvação para o porvir. Neste corte de fio que nos liga às gerações de ontem, querem ver um enriquecimento onde na realidade não há mais que uma dilapidação temerária que nos empobrece. O que é a sociedade no espaço, é a tradição no tempo. A comunhão com os contemporâneos amplia-nos o campo visual, opulentando a nossa experiência própria que é de um só, com a experiência dos que vivem ao nosso lado e são muitos. Sem esta solidariedade no trabalho, seria a esterilidade do isolamento. A tradição vem alargar no tempo os benefícios desta sociedade das inteligências. Já não são somente as vozes contemporâneas, são as vozes de todos os séculos que nos vêm trazer a experiência de sua sabedoria.

Este contato benfazejo com os gênios de outras eras imuniza-nos ainda contra um perigo que não é quimérico: a ditadura da moda, a tirania da geração atual. Como todos os outros, o nosso século tem as suas paixões desorientadoras, sente a fascinação de influências efêmeras e naturalmente reveste-as com o rótulo sedutor de "progresso moderno", "de conquistas da ciência". Corrigir-lhes os desvios, temperar-lhe os excessos, ampliando no tempo o campo de observação, é uma verdadeira benemerência científica. O isolamento de cada geração das que a precederam é que é a verdadeira morte do progresso, a condenação a um recomeço indefinido. Não assistimos, porventura, nestas últimas gerações, ao nascimento, vida efêmera e morte precoce de tantos sistemas pedagógicos que se apresentavam em nome dos fatos e dos resultados definitivos das ciências positivas?

Muito larga e mais compreensiva é a pedagogia cató­lica. Sem renunciar a nenhuma inovação que se imponha em nome de um progresso real, ela não rompe os contatos com o passado. A sua experiência é mais ampla: a segurança dos seus fundamentos mais consolidada pela prova dos séculos.

Esta atitude sensata, preconizara-a, já há quase um século, um dos nossos grandes mestres: 

"Se importa não imobilizar ou prender a educação na rotina, se, pelo contrário, é necessário estudá-la sempre para melhorá-la, fortificá-la, torná-la mais e mais eficaz e fecunda, convém outrossim, nos acautelemos contra as inovações temerárias que vão quebrar a obra dos séculos, calcar aos pés as experiências do passado e lançar, neste grande trabalho da educação, as perturbações mais tempestuosas. O que a sabedoria das idades consagrou, o que a natureza das coisas -- regra suprema -- exige e impõe, convém respeitar profundamente, combinando-o sem o destruir, com o que podem exigir as necessidades novas, a marcha dos tempos, os progressos do espírito humano e as transformações sociais". (DUPANLOUP [4], De la haute éducation intellectuelle, t. III, p. 566.)

Eis uma visão mais compreensiva e justa da historia, colaboradora indispensável de todo progresso estável e duradouro. Fora daí, revoluções destruidoras, renovação perpétua de tentativas efêmeras .

Um grande pedagogo contemporâneo apontou na "transplantação da ideia de progresso contínuo, do domínio da técnica para o da atividade especificamente humana, a causa principal da tragédia de nossa cultura contemporânea. (FR. DE HOVRE [5], Le Catholicisme, ses pédagogues, sa pedagogie. Bruxelas, 1930, p. 403.).

Na lealdade de um esforço reconstrutor tentaremos conciliar as justas exigências da tradição e do progresso, ampliando incessantemente os tesouros do passado com as novas riquezas do presente. É a nobre, pacífica e fecunda missão da pedagogia católica.

Rio, julho de 1932.

Notas:

[1] N. da E.: Henri Bergson (Paris, 18 de outubro de 1859 - Paris, 4 de janeiro de 1941) foi um filósofo e diplomata francês, laureado com o Nobel de Literatura de 1927.

[2] N. da E.: Edmund Gustav Albrecht Husserl (8 de abril de 1859 - Friburgo em Brisgóvia, 27 de abril de 1938) foi um matemático e filósofo alemão que estabeleceu a escola da fenomenologia.

[3] N. da E.: Gian Lorenzo Bernini (Nápoles, 7 de dezembro de 1598 - Roma, 28 de novembro de 1680) foi um eminente artista do barroco italiano, trabalhando principalmente na cidade de Roma. Como arquiteto e escultor é autor de obras de arte presentes até os dias atuais em Roma e no Vaticano, como a Praça de São Pedro, a Capela Chigi, O Êxtase de Santa Teresa, Habacuc e o Anjo, etc.

[4] N. da E.: Mons. Félix Antoine Philibert Dupanloup (3 de janeiro de 1802 - 11 de outubro de 1878) foi um eclesiástico francês. Ele estava entre os líderes do catolicismo liberal na França.

[5] N. da E.: Frans de Hovre (1884-1958) foi um educador belga.

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Trecho retirado do livro A Formação da PersonalidadeP. Leonel Franca. Edições Hugo de São Vitor, 2019.


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S. João Batista de La Salle, padroeiro dos Educadores

São João Batista de La Salle, por
Pierre Léger - Museu La Salle, Roma


São João Batista de La Salle, fundador dos Irmãos das Escolas Cristãs, destinada à educação das classes sociais menos favorecidas. A Igreja celebra sua memória no dia 7 de abril.

Entre as inúmeras glórias da cidade francesa de Reims, conta-se o fato de ter assistido ao nascimento de um novo João Batista, em 30 de abril de 1651.

Esse local, que se tornara a pia batismal da França quando Clóvis ali recebeu o primeiro dos Sacramentos, por volta do ano 498, e o sustento da fé francesa quando Santa Joana d’Arc viu coroado Carlos VII em 1429, serviu também de berço para o varão que batizaria “no Espírito Santo” (Mc 1, 8) inúmeras crianças francesas nos conturbados séculos subsequentes.

João Batista, filho primogênito de Luis de La Salle e Nicolasa Moët, teve uma infância marcada pela calorosa vida de família, pela piedade e pelo estudo. Seus principais divertimentos consistiam em construir oratórios e imitar os ritos sagrados, num ambiente doméstico caracterizado pela ternura dos pais e vivacidade dos irmãos. Enquanto aluno, apresentou um desempenho brilhante.

Cônego de Reims e estudante de Teologia

O destaque do jovem no mundo acadêmico propiciou que ele se tornasse, ainda muito novo, cônego de ­Reims. No Domingo de Páscoa de 1666, houve um concurso de literatura e distribuição de prêmios no colégio que frequentava, durante o qual atuou magistralmente. Sua desenvoltura atraiu a atenção de Pedro Dozet, secretário e cônego de Reims já ancião, levando-o a ceder-lhe seu canonicato quando o Santo contava quinze anos e apenas havia recebido a tonsura.

Tratava-se de um cargo de prestígio, porém muito oneroso. Pertencendo ao cabido, ele estava obrigado a participar da oração coral: três longos períodos de oração oficial em nome da Igreja. Sua condição de estudante o eximia desse dever na maioria dos dias, mas não de comparecer a diversas reuniões administrativas, estar presente em procissões e desempenhar várias outras funções.

Em 1670, tendo já três anos de canonicato, ele ingressou no seminário parisiense de São Sulpício, passando a estudar na Universidade da ­Sorbonne. João Batista rumava por sendas planas em direção ao sacerdócio, que almejara desde a mais tenra infância, e a um futuro brilhante. Contudo, a Divina Providência tinha outros desígnios a seu respeito.

No ano seguinte à mudança para a capital francesa, chegaram-lhe notícias desalentadoras: em julho de 1671, faleceu sua mãe, seguida pelo marido nove meses depois. João Batista teve de deixar o seminário e transladar os estudos novamente para Reims, onde a primogenitura o obrigava a cuidar dos irmãos órfãos.

Ali, não obstante a administração do patrimônio a ele confiado, continuou seus estudos, recebendo a ordenação sacerdotal em 1678, na sua cidade natal.

Um chamado visto com nitidez

Naquela quadra histórica, grande parte do clero encontrava-se contaminada por certa tibieza e relaxamento no empenho apostólico, procurando se destacar junto aos nobres e abastados, enquanto as classes humildes eram deixadas de lado. Como resultado, havia multidões de crianças carentes de qualquer formação religiosa.

Em contrapartida, iniciou-se em algumas cidades francesas um movimento para a fundação de escolas caritativas dedicadas a esses pequenos, notadamente os pobres e órfãos. O responsável por tal iniciativa, Sr. Adrian Nyel, dirigiu-se a Reims com o intuito de organizar ali um estabelecimento semelhante e, ouvindo os rumores acerca das virtudes do jovem cônego, decidiu pedir-lhe ajuda.

Tendo se aliado a essa tarefa, o Pe. de La Salle não tardou em perceber o caráter superficial de seu companheiro, que o levava a vaguear pela França em busca de novas fundações sem haver alicerçado adequadamente as já iniciadas.

Enquanto isso, o espírito ­profundo do Santo constatou a necessidade de fornecer uma sólida formação religiosa aos mestres, antes de lançar-se em empreendimentos que não poderiam se sustentar. A partir dessa moção da graça, e após muitas orações, o Pe. de La Salle começou a delinear os primeiros esboços da ousada empresa que ele percebeu ser sua vocação: fundar uma Ordem Religiosa.

Todavia, a Providência não queria ainda depositar o grão em terra fecunda. Antes era preciso que ele se desenvolvesse em solo pedregoso…

Constituição da congregação religiosa

Após um curto período de vida comunitária com um incipiente conjunto de discípulos, surgiram as primeiras desavenças e discórdias. Coube ao fundador passar pelo crivo aquele grupo, pois percebera que muitos dos que haviam aderido a seu projeto visavam somente pertencer a um corpo docente e jamais lhes passara pela mente abraçar uma vocação religiosa.

Contudo, mesmo depois desta purificação, restava uma reticência de seus seguidores em relação à sua pessoa: ele os convidava a viverem inteiramente confiados na Providência, dependentes de esmolas ou da escassa renda das escolas, enquanto ele próprio conservava uma posição social prestigiosa e recebia a renda do canonicato.

Ao perceber a questão, o Santo não duvidou: decidiu renunciar ao cargo e ao patrimônio que lhe cabia, dando tudo aos pobres. Alguns o desaconselharam nesse sentido, fundamentados no fato de aquela renda ser um dos meios de subsistência da comunidade, mas a confiança do Pe. de La Salle em Deus era total.

A depuração interna e a renúncia do fundador marcam uma nova fase para o estabelecimento de uma verdadeira congregação religiosa. O terreno pedregoso tornara-se fértil para a semente começar germinar.

Expansão e perseguições

Depois de se instituir o hábito próprio, definir o nome de Irmãos das Escolas Cristãs e se estabelecerem os primeiros regulamentos, a obra entrou em franca expansão, conquistada a preço de grandes sofrimentos.

Com a fama das escolas gratuitas, os mestres leigos sentiram-se prejudicados, pois algumas famílias que só a muito custo conseguiam manter os filhos nos estabelecimentos de ensino convencionais preferiram transferi-los para as instituições caritativas, fazendo-os perder cada vez mais alunos. O problema chegou a gerar vários processos contra os Irmãos das Escolas Cristãs, aos quais o fundador teve de responder pacientemente.

Entrementes, a obra ia-se desenvolvendo: em 1691, foram organizados dois grandes retiros; em 1692, fundou-se o noviciado; em 1694, realizou-se a primeira emissão de votos perpétuos e foi definida a regra. A instituição começava a tomar ares de uma congregação religiosa pujante, mas isso não agradou a todos…

Em 1702, alguns dos irmãos tomaram, imprudentemente, atitudes demasiado severas ao punir os noviços, gesto que propiciou a certos clérigos, avessos a São João Batista de La Salle, afirmarem que os castigos haviam sido infligidos por orientação do Santo.

Movido pelos detratores, o Cardeal Louis Antoine de Noailles tomou a deliberação de destituí-lo do cargo de superior e substituí-lo por um clérigo alheio ao carisma fundacional. O fundador foi informado de que estava degredado e recebeu a ordem de convocar todos os irmãos de Paris para uma assembleia, na qual seriam postos a par das novas medidas.

No dia 3 de dezembro, reuniram-se os filhos espirituais de São João Batista de La Salle, sem saber que estavam ali para ouvir a terrível notícia dos lábios de um enviado do Cardeal. Quando ouviram aquela decisão draconiana, ergueram imediatamente um clamor unânime de indignação: “Temos um superior eleito livremente por nós; não podemos aceitar outro […]. Se queres estabelecer um superior, traze também os inferiores; nós nos retiramos”.

A intransigência dos irmãos conquistou a vitória. O novo superior acabou limitando-se a uma atuação “externa”, à maneira de um capelão, completamente impossibilitado de alterar o carisma. O fundador continuava como superior efetivo.

Não obstante, em 1709 outro sofrimento assomou. O inverno rígido converteu a classe mais modesta da França numa turba de mendigos, e os irmãos também foram atingidos: a fome afetou quase todas as casas e vários adoeceram gravemente; o grande noviciado, fundado quatro anos antes em Saint-Yon, não podendo manter as condições mínimas de dignidade, transferiu-se para Paris.

Últimos combates

Em 1717 convocou-se o segundo Capítulo Geral, no qual, a pedido do fundador, foi oficialmente nomeado o primeiro Superior Geral – o Ir. Bartolomeu – e se procedeu à revisão da regra inicial. Naquela ocasião, a comunidade alcançava sua maturidade: “tinha hábito próprio; afirmava sua completa laicidade; professava três votos perpétuos; dispunha de regras adequadas; declarava como seu campo de apostolado eclesial a educação integral, mediante a escola cristã; considerava indispensável a gratuidade total; tinha sua hierarquia estabelecida”.

Dali em diante, o fundador permaneceria recolhido em Saint-Yon, atuando como confessor da comunidade e inteiramente obediente ao superior constituído. Enquanto sua saúde física definhava de dia para dia, sua alma o tornava cada vez mais semelhante aos Anjos.

A fim de que atingisse o cume do calvário, o Santo recebeu, dias antes de seu falecimento e encontrando-se ele quase já sem forças, um enviado do Arcebispo local, o qual lhe comunicou que estava suspenso do uso de ordens e, consequentemente, proibido até mesmo de confessar os irmãos. Não parece despropositado pensar que a medida se devia a antigas ou novas calúnias… Sem qualquer reclamação, São João Batista de La Salle tragou o amargo cálice.

A 7 de abril de 1719, tendo recebido os Sacramentos, ele entregou sua alma a Deus, faltando apenas alguns dias para completar sessenta e oito anos de idade.

Obra “post mortem”

Iniciava-se então a glorificação do Santo: em 1724, os Irmãos das Escolas Cristãs receberam a sanção civil e, no ano seguinte, a aprovação pontifícia, tão desejada pelo fundador em vida, das mãos do Papa Bento XIII; em 1888, Leão XIII o beatificou; em 1900, ele foi canonizado pelo mesmo Pontífice; em 1950, Pio XII o proclamou Padroeiro dos Educadores.

O instituto, fundado sobre a rocha firme e regado com o sangue do fundador, deu muito mais que cem por um. Após atravessar as mais árduas veredas – suprimiram-no durante a Revolução Francesa, em 1904 praticamente o expulsaram do solo francês, a perseguição religiosa na Espanha ceifou a vida de 165 irmãos –, o instituto conta, em nossos dias, com milhares de membros, espalhados pelos cinco continentes.

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Texto extraído, com adaptações, da Revista Arautos do Evangelho n. 244, abril 2022. Por Fernando Joaquim Costa Mesquita, [disponível neste link e neste outro link].


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