Postagem em destaque

Sobre o blog Summa Mathematicae

Este é um blog sobre Matemática em geral, com ênfase no período clássico-medieval, também sobre as Artes liberais (Trivium e Quadrivium), so...

Mais vistadas

Mostrando postagens com marcador Educação Católica. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Educação Católica. Mostrar todas as postagens

Sobre S. Isidoro de Sevilha

Santo Isidoro de Sevilha
por Miguel Zitow
PAPA BENTO XVI
AUDIÊNCIA GERAL
Quarta-feira, 18 de Junho de 2008


Santo Isidoro de Sevilha

Amados irmãos e irmãs

Hoje gostaria de falar de Santo Isidoro de Sevilha: era o irmão mais jovem de Leandro, Bispo de Sevilha, e grande amigo do Papa Gregório Magno. O relevo é importante, porque permite ter presente uma aproximação cultural e espiritual indispensável para a compreensão da personalidade de Isidoro. Com efeito, ele deve muito a Leandro, pessoa muito exigente, estudiosa e austera, que tinha criado à volta do irmão mais jovem um contexto familiar caracterizado pelas exigências ascéticas próprias de um monge e pelos ritmos de trabalho exigidos por uma séria dedicação ao estudo. Além disso, Leandro preocupou-se em predispor o necessário para fazer face à situação político-social do momento: de facto, nestas décadas os Visigodos, bárbaros e arianos, tinham invadido a península ibérica e dominado os territórios que pertenciam ao império romano. Era necessário conquistá-los para a romanidade e para o catolicismo. A casa de Leandro e de Isidoro dispunha de uma biblioteca muito rica de obras clássicas, pagãs e cristãs. Isidoro, que se sentia atraído simultaneamente por umas e outras, foi por isso educado a desenvolver, sob a responsabilidade do irmão maior, uma disciplina mais forte dedicando-se ao seu estudo com discrição e discernimento.

Por isso, no paço episcopal de Sevilha vivia-se num clima sereno e aberto. Podemos deduzi-lo dos interesses culturais e espirituais de Isidoro, assim como sobressaem das suas próprias obras, que incluem um conhecimento enciclopédico da cultura clássica pagã e um aprofundado conhecimento da cultura cristã. Explica-se assim o eclectismo que caracteriza a produção literária de Isidoro, que passa com extrema facilidade de Marcial a Agostinho, de Cícero a Gregório Magno. A luta interior que teve de empreender o jovem Isidoro, tornando-se sucessor do irmão Leandro na cátedra episcopal de Sevilha em 599, não foi de modo algum ligeira. Talvez se deva precisamente a esta luta constante consigo mesmo a impressão de um excesso de voluntarismo que se sente ao ler as obras deste grande autor, considerado o último dos Padres cristãos da antiguidade. Poucos anos depois da sua morte, em 636, o Concílio de Toledo de 653 definiu-o: "Ilustre mestre da nossa época e glória da Igreja católica".

Sem dúvida, Isidoro foi um homem de acentuadas oposições dialéticas. E, mesmo na sua vida pessoal, experimentou um conflito interior permanente, muito semelhante ao que já São Gregório Magno e Santo Agostinho tinham sentido, entre desejo de solidão, para se dedicar unicamente à meditação da Palavra de Deus, e exigências da caridade para com os irmãos de cuja salvação, como Bispo, se sentia responsável. Por exemplo, a propósito dos responsáveis das Igrejas ele escreve: "O responsável de uma Igreja (vir ecclesiasticus) deve por um lado deixar-se crucificar no mundo com a mortificação da carne e, por outro, aceitar a decisão da ordem eclesiástica, quando ela provém da vontade de Deus, de se dedicar ao governo com humildade, mesmo que não o queira fazer" (Sententiarum liber III, 33, 1: PL 83, col. 705 B). Então, somente um parágrafo depois, ele acrescenta: "Os homens de Deus (sancti viri) não desejam de modo algum dedicar-se às realidades seculares e gemem quando, por um misterioso desígnio de Deus, são carregados com certas responsabilidades... Eles fazem de tudo para as evitar, mas aceitam aquilo que gostariam de eludir e levam a cabo o que quereriam evitar. Com efeito, entram no segredo do coração e, ali dentro, procuram compreender o que exige a misteriosa vontade de Deus. E quando se dão conta que se devem submeter aos desígnios de Deus, humilham o pescoço do coração sob o jugo da decisão divina" (Sententiarum liber III, 33, 3: PL 83, coll. 705-706).

Para entender melhor Isidoro é necessário recordar, em primeiro lugar, a complexidade das situações políticas do seu tempo, à qual já me referi: durante os anos da infância, experimentou a amargura do exílio. Não obstante, vivia imbuído de entusiasmo apostólico: experimentava o entusiasmo de contribuir para a formação de um povo que finalmente encontrava a sua unidade nos planos político e religioso, com a providencial conversão do herdeiro ao trono visigodo Hermenegildo, do arianismo à fé católica. Todavia, não se deve subestimar a enorme dificuldade de enfrentar de modo adequado problemas muito graves, como aqueles com os hereges e com os judeus. Toda uma série de problemas que parecem muito concretos hoje, sobretudo se se considera o que acontece em certas regiões onde parece que assistimos ao repropor-se de situações muito semelhantes, presentes na península ibérica naquele século VI. A riqueza dos conhecimentos culturais de que Isidoro dispunha permitia confrontar continuamente a novidade cristã com a herança clássica greco-romana, embora mais que o dom precioso da síntese, parece que ele tivesse o da collatio, ou seja, do recolhimento, que se manifestava numa extraordinária erudição pessoal, nem sempre ordenada como se poderia desejar.

De qualquer maneira, é motivo de admiração a sua preocupação de nada descuidar daquilo que a experiência humana tinha produzido na história da sua pátria e do mundo inteiro. Isidoro nada queria perder daquilo que fora adquirido pelo homem nas épocas antigas, quer fossem pagãs, judaicas ou cristãs. Portanto, não nos devemos admirar se, em vista desta finalidade, acontecia que às vezes ele não conseguia transmitir adequadamente, como desejaria, os conhecimentos que possuía através das águas purificadoras da fé cristã. De fato, todavia, nas intenções de Isidoro, as propostas que ele apresenta permanecem sempre em sintonia com a fé católica, por ele sustentada com determinação. No debate dos vários problemas teológicos, ele demonstra que compreende a sua complexidade e propõe muitas vezes com perspicácia soluções que resumem e exprimem a verdade cristã completa. Isto permitiu que os fiéis, ao longo dos séculos, fruíssem com gratidão das suas definições até aos nossos tempos. Um exemplo significativo, a este respeito, é-nos oferecido pelo ensinamento de Isidoro sobre as relações entre vida ativa e vida contemplativa. Ele escreve: "Aqueles que procuram alcançar o descanso da contemplação devem preparar-se primeiro no estádio da vida ativa; e assim, livres dos resíduos do pecado, serão capazes de exibir aquele coração puro, o único que permite ver Deus" (Differentiarum Lib II, 34, 133: PL 83, col. 91 A). Porém, o realismo de um verdadeiro pastor convence-o do risco que os fiéis correm de reduzir-se a ser homens unidimensionais. Por isso, acrescenta: "O caminho do meio, composto por uma e outra forma de vida, é normalmente mais útil para resolver aquelas tensões que muitas vezes são aumentadas pela escolha de um só gênero de vida e por vezes são melhor temperadas por uma alternância das duas formas" (o.c., 134: ibid., col. 91 B).

Isidoro procura a confirmação definitiva de uma justa orientação de vida no exemplo de Cristo, e diz: "O Salvador Jesus ofereceu-nos o exemplo da vida ativa quando, durante o dia, se dedicava a oferecer sinais e milagres na cidade, mas mostrou a vida contemplativa quando se retirava no monte e ali pernoitava dedicando-se à oração" (o.c., 134: ibid.). À luz deste exemplo do Mestre divino, Isidoro pode concluir com este ensinamento moral específico: "Por isso o servo de Deus, imitando Cristo, dedique-se à contemplação sem se negar à vida ativa. Não seria justo comportar-se de outra forma. Com efeito, assim como se deve amar a Deus com a contemplação, também se deve amar o próximo com a ação. Por conseguinte, é impossível viver sem a presença simultânea de uma e de outra forma de vida, nem é possível amar, se não se vive a experiência de uma e de outra" (o.c., 135: ibid., col. 91 C). Na minha opinião, esta é a síntese de uma vida que busca a contemplação de Deus, o diálogo com Deus na oração e na leitura da Sagrada Escritura, assim como a ação ao serviço da comunidade humana e do próximo. Este resumo é a lição que o grande Bispo de Sevilha deixa a nós, cristãos de hoje, chamados a dar testemunho de Cristo no início de um novo milênio.


Texto disponível no link

Leia mais sobre S. Isidoro aqui.

Leia A Matemática de Isidoro de Sevilha e a Educação Medieval.



Curta nossa página no Facebook Summa Mathematicae. Nossa página no Instagram.



Elementos de crise na educação

Um sinal dos tempos para o apostolado educacional

É sem dúvida uma tarefa difícil abordar em poucos parágrafos o tema da crise da educação. Não é difícil, todavia sinalizar alguns dos principais elementos ou oriundos desta crise ou que contribuem para seu desenvolvimento. Antes, porém é necessário definir o que se entende por crise e por educação.

A palavra ‘crise’ tem sua origem na medicina hipocrática, e “indicava a transformação decisiva que

ocorre no ponto culminante de uma doença e orienta seu curso em sentido favorável ou não”. (...) “Em época recente esse termo foi estendido, passando a significar transformações decisivas em qualquer aspecto da vida social” [1]. A evolução semântica do termo assumiu um caráter prevalentemente negativo: de decadência, depressão, desanimo, situação problemática, desorientação [2].

Já por educação, entendemos tudo que se refere a formação integral do ser humano [3]. Assim sendo, a escola, que é o lugar formal da ação educativa [4], não encerra em si a plenitude da responsabilidade e da missão educativa: a ela devem estar unidas outras instancias da sociedade civil, iniciando pela ‘célula mãe’ desta mesma sociedade civil que é a família [5], mas também a inteira sociedade e de modo particular o Estado e a Igreja que devem, cada qual dentro do que lhe cabe, apoiar a família e a escola nesta missão [6]. O aluno ou educando, por sua vez, como destinatário tem também de acordo com a situação, sua responsabilidade neste processo. E o professor é, de certo modo, um continuador e aperfeiçoador daquilo que faz primeiramente a família, além de transmitir o que lhe é próprio transmitir ao educando [7]. Tudo isto falamos no plano ideal, pois se começamos a olhar a realidade as coisas não são bem assim [8]. E é aí que nos damos conta de que a educação encontra-se em crise, naquele sentido negativo que expúnhamos ali atrás.

Poderíamos começar pela constatação de jovens em idade hábil que não gostam de ler, mas não só, não possuem domínio na leitura e por consequência na escrita – as redes sociais dão testemunho disso o tempo todo, tanto em razão da comunicação escrita quanto aquela oral, nas duas erros em quesitos básicos da gramática [9], na última, inclusive a incapacidade de manter seja uma conversa que uma explanação de modo maduro e livre de ideologia e estereótipos.

Diante disso poderíamos puxar um fio que nos conduziria a um sistema que não facilita a autêntica educação, tanto como formação intelectual quanto para os valores humanos e morais – essencial em qualquer civilização – seja pela enormidade deste sistema, sua burocratização e mesmo o seu aparelhamento por parte de ideologias filosóficas e políticas [10], além de uma espécie de esquizofrenia entre investimento e qualidade da educação: o investimento, equiparado proporcionalmente a outros países é alto, porém a qualidade é baixíssima em relação as reais necessidades e possibilidades do país [11]. E aqui podemos também contemplar a desvalorização do profissional da educação, de modo especial o professor, tanto em relação ao salário quanto a formação para o magistério.

Mas não só! Como dizíamos a escola não é a única responsável pela formação das jovens gerações. A família ocupa lugar prioritário e insubstituível. Sim, os pais são os primeiros responsáveis pela educação dos filhos. Aliás, as duas grandes responsabilidades do Matrimônio, das quais se derivam todas as outras, são a união indissolúvel e a geração da vida – onde se insere o cuidado pela mesma vida, inclusive através da educação [12].

Em nossos dias, infelizmente, vemos o esfacelamento da instituição familiar, por diversas razões, que não vem ao caso elencá-las, mas citar pelo menos uma: a banalização do sexo, visto apenas como elemento biológico e dissociado da sua finalidade que é o amor entre um homem e uma mulher e deste amor a abertura para geração da vida. Não é raro, em razão da banalização do sexo entre as jovens gerações, ver crianças inteiramente sem referencial paterno e materno. E quando existe em termos de presença e sustentamento, às vezes carece seja de estabilidade seja de maturidade necessária para contribuir no processo de formação das novas gerações.

Há ainda a interferência maciça dos meios de comunicação, principalmente através da internet [13] e redes sociais, que podem se tornar um verdadeiro inimigo da família e da escola, tanto na produção e forte disseminação de contra valores, como também na dificuldade que acabam criando a concentração, reflexão, leitura, etc. [14].

Vale a pena notar ainda o tipo de figura do ‘herói’, ou seja, de referencial que a todo tempo é proposto por tais meios. Muitas das vezes modelos estereotipados, fáceis, mas efêmeros e por isso perigosos para o futuro destes jovens, pois estudo denota ascese, dedicação, esforço [15]. Enquanto que estes ditos “modelos” desprezam tudo que não é prazer.

Assim sendo, constatamos o quão deficitário de uma educação para as virtudes é o atual cenário educativo. Muitas das vezes constatamos a presença de uma escala de valores desorientada, não obstante a degradação da dignidade humana com a ampla banalização do sexo, escondida sob a bandeira da educação sexual, de desagregada da verdade da sexualidade e da formação do homem virtuoso, se torna nada mais que o escancaramento para todo e qualquer tipo de vícios. E esta é a receita para degradação de qualquer sistema educativo, porque é inevitável, onde aumentam os vícios decresce o aprimoramento do intelecto e das virtudes.

Por aí não é difícil entrever outras consequências como o despreparo para assumir responsabilidades inerentes a vida humana (família, profissão, etc.). A própria formação de professores, por vezes, é deficitária – note-se o aparelhamento de disciplinas humanas, como a História, a Geografia, a Sociologia, etc. por parte de ideologias, tirando do ensino destas disciplinas (e quaisquer outras que fossem) a retidão que lhes cabe: em outras palavras ao invés de produzir conhecimentos acaba-se por servir de instrumento de doutrinação [16]. E, por fim, mas não menos importante, o assistencialismo social presente no sistema educativo que não leva em conta o aproveitamento da aprendizagem (quanto mais a pessoa) mas as estatísticas para fins políticos [17].

Assim retornamos a elementos como o analfabetismo funcional [18] tanto na jovem idade quanto pela vida adulta afora; inclusive de estudantes universitários, mas deficitários, se levada em conta a exigência estrita da graduação acadêmica. E assim sucessivamente.

Assim sendo, diante da preocupação com a educação, sobretudo das crianças e dos jovens, ao refletir sobre os elementos de crise e na tentativa de procurar a partir destes um “lugar e sujeito” de intervenção em favor da educação, nos damos conta de que agregados aos sujeitos formais que são o aluno, o professor e a escola, devem ser levados em conta outros “lugares e sujeitos” como a família, a sociedade civil nas suas instancias representativas, o Estado, a Igreja e os meios de comunicação. A situação, portanto, é complexa e demanda resposta à altura.

E somente daqui podemos entrever uma possibilidade de acepção positiva da crise: a direção na qual segue o processo de transformação oriundo da mesma. E ainda sim aqui não há nada de positivo relacionado à crise em si, porque os elementos que elencamos, podemos perceber, são agravados, enquanto oriundo de outros, mas também agravantes, enquanto engendram outros. O que só pode conduzir a um colapso do sistema educativo e consequentemente o caos da civilização humana – elementos chaves para a tomada de qualquer poder através de um golpe, dada vulnerabilidade tanto da educação quanto das pessoas.

A Igreja sempre teve de lidar com situações de degradação humana, moral e institucional interna e externa. Ao se dar conta de tal realidade qual foi a resposta no decorrer dos séculos? Olhar para tudo através das “lentes da fé”: para o homem, para a educação, para a sociedade. A fé dá condições para enxergar para além das névoas e da escuridão.

Foi assim com a atividade dos monges diante do Império Romano decadente e ameaçado pelos bárbaros; foi assim com o sistema educativo implantado pelos jesuítas a fim de conter a revolução protestante em curso por toda Europa; foi assim com a implantação de escola católicas nas terras de missão. Só que não estamos falando de um processo automático, mas de um processo desencadeado por uma força motriz, e aqui enxergamos o grande trunfo da Igreja: todo tempo de crise é também o tempo de grandes santos e nobilíssimas iniciativas. De almas verdadeiramente abrasadas de fé, esperança e caridade, que lutam antes de tudo pela causa de Deus e assim alicerçadas, podem lutar ardorosamente pelo homem arriscado de degradar-se e sucumbir diante da própria miséria. A educação cristã é um instrumento poderoso e eficaz [19].


Referências

[1] HIPÓCRATES, Pognosticon, 6, 23-24; Epidemias, I, 8, 22. Apud. N. ABAGNANO. Dicionário de Filosofia. p. 222.

[2] VIDAL, M. Dicionário de Moral. Aparecida: Santuário, 1991. p. 132.

[3] “Devendo a verdadeira educação ter por objetivo a formação integral da pessoa humana, orientada para o seu fim último e simultaneamente para o bem comum das sociedades, as crianças e os jovens sejam de tal modo formados que possam desenvolver harmonicamente os seus dotes físicos, morais e intelectuais, adquiram um sentido mais perfeito da responsabilidade e o reto uso da liberdade, e sejam preparados para participar ativamente na vida social” (Código de Direito Canônico, cân 795).

[4] “A escola exerce uma função social insubstituível. Hoje ainda ela se revela como a resposta institucional mais importante da sociedade ao direito de cada indivíduo à educação e, portanto, à própria realização e como um dos fatores decisivos para a estruturação e a vida da própria sociedade” (SAGRADA CONGREGAÇÃO PARA EDUCAÇÃO CATÓLICA. O leigo católico testemunha da fé na escola, 13).

[5] “São os pais os primeiros educadores dos filhos” (VATICANO II. Gravissimum Educationis, 3). “Os pais, e os que fazem as suas vezes, têm a obrigação e gozam do direito de educar os filhos; os pais católicos, além disso, têm o dever e o direito de escolher os meios e as instituições com que, segundo as circunstâncias dos lugares, possam providenciar melhor à educação católica dos filhos” (Código de Direito Canônico, cân 793, parág. 1).

[6] “Os pais têm ainda o direito de desfrutar dos auxílios que a sociedade civil lhes deve prestar, e são necessários para a educação católica dos filhos” (Código de Direito Canônico, cân 793, parág. 2). “A Igreja tem o direito de fundar e dirigir escolas de qualquer disciplina, género e grau. Os fiéis fomentem as escolas católicas, cooperando na medida das suas forças para a fundação e manutenção das mesmas” (Código de Direito Canônico, cân 793, parágs. 1 e 2).

[7] “(...) a profissão do educador possui uma característica específica: a transmissão da verdade” (SAGRADA CONGREGAÇÃO PARA EDUCAÇÃO CATÓLICA. O leigo católico testemunha da fé na escola, 16). Entre os direitos humanos elencados pelos Magistério está “o direito a maturar a sua inteligência e liberdade na procura e no conhecimento da verdade” (PONTIFÍCIO CONSELHO “JUSTIÇA E PAZ”. Compêndio da Doutrina Social da Igreja (DSI), 155). E neste quesito a Igreja já avisava décadas atrás algo sintomático quanto a transmissão da verdade: “Através de todos os canais possíveis, entre os quais a escola, [os alunos] são colocados em contato com informações muito divergentes sem terem capacidade para as ordenar e para realizar a síntese. Não têm ainda ou nem sempre têm, com efeito, a capacidade crítica para distinguir o que é verdadeiro e bom daquilo que o não é, nem sempre dispõem de pontos de referência religiosa e moral, para assumir uma posição independente e justa, perante as mentalidades e os costumes dominantes. O perfil do verdadeiro, do bem e do belo é apresentado dum modo tão vago que os jovens não sabem para que direção voltar-se; e se ainda acreditam em alguns valores, são todavia incapazes de lhes dar uma sistematização e muitas vezes são inclinados a seguir a própria filosofia segundo o gosto dominante” (SAGRADA CONGREGAÇÃO PARA A EDUCAÇÃO CATÓLICA. Dimensão religiosa da educação na escola católica, 9).

[8] Cf. SAGRADA CONGREGAÇÃO PARA EDUCAÇÃO CATÓLICA. O leigo católico, 26; Dimensão religiosa, 7-23.

[9] Os resultados do ENEM (Exame Nacional para o Ensino Médio) não nos desmentem. Deixando de lado debate quando ao apelo fortemente ideológico relacionado ao tema da redação para 2016 e os critérios de ordem subjetiva presentes na avaliação (como “fuga do tema” e “fere os direitos humanos”), dos mais de 5 milhões e meios de inscritos que fizeram a prova de redação, apenas 77 alcançaram nota máxima. A média geral, numa escala de 0-1000, foi igualmente desastrosa: “Considerada a média total, os participantes obtiveram as maiores médias em ciências humanas e suas tecnologias (533,5), em linguagens e códigos e suas tecnologias (520,5), matemática e suas tecnologias (489,5) e ciências da natureza e suas tecnologias (477,1)”. In.: (acesso 20/01/2017).

[10] E o aparelhamento ideológico há que dificultar tanto o desenvolvimento intelectual quanto a formação para os valores humanos e morais e, diga-se a formação do homem sábio, que busca a verdade, finalidade última da educação. “O nosso tempo exige uma intensa atividade educativa e um correspondente empenho por parte de todos, para que a investigação da verdade, não redutível ao conjunto ou a alguma das diversas opiniões, seja promovida em todos os âmbitos, e prevaleça sobre toda tentativa de relativizar-lhe as exigências ou de causar-lhe qualquer tipo de ofensa”. [Grifo do próprio documento] PONTIFÍCIO CONSELHO “JUSTIÇA E PAZ”. Compêndio da Doutrina Social da Igreja (DSI), 198.

[11] Cf. https://portal.mec.gov.br/ultimas-noticias/211-218175739/32241-brasil-esta-entre-paises-com-maior-investimento-em-educacao (acesso 24/01/2017). https://www.brasil.gov.br/educacao/2015/11/brasil-e-pais-que-mais-investe-em-educacao-diz-ocde (acesso 24/01/2017). https://www.bbc.com/portuguese/internacional-38205956 (acesso 24/01/2017). https://www.businessinsider.com/pisa-worldwide-ranking-of-math-science-reading-skills-2016-12 (acesso 24/01/2017).

[12] Catecismo da Igreja Católica, 1653; 2221; 2223. Sobre o direito e o dever dos pais de educar os filhos.

[13] ABREU, Cristiano Nabuco de; EISENSTEIN, Evelyn; ESTEFENON, Susana Graciela Bruno. (Coords.). Vivendo Esse Mundo Digital: impactos na saúde, na educação e nos comportamentos sociais. Porto Alegre: Artmed, 2013.

[14] O site http://www.essemundodigital.com.br/ aborda temáticas a esse respeito, inclusive apresentando pesquisas científicas e artigos escritos por profissionais da área. Aborda elementos negativos, mas também positivos sobre a internet e a educação.

[15] “(...) O estudo exige certamente ascese e abnegação constantes. Mas precisamente por este caminho a pessoa forma-se para o sacrifício e para o sentido do dever. De facto, o que hoje aprendeis é o que amanhã comunicareis, quando vos for confiado (...) cargos em benefício da comunidade. Aquilo que em qualquer circunstância poderá ser motivo de alegria para o vosso coração será a consciência de ter sempre cultivado a retidão de intenções, graças à qual se tem a certeza de ter procurado e feito unicamente a vontade de Deus. Sem dúvida, tudo isto exige purificação do coração e discernimento” (BENTO XVI. Discurso durante a visita a Pontifícia Universidade Gregoriana. 3.XI.2006).

[16] O site https://www.escolasempartido.org/ aborda a questão da doutrinação ideológica nas escolas.

[17] Longe de questionar a real necessidade das famílias com baixa renda, etc. queremos apenas mencionar o modo como as coisas são tratadas: as “condicionalidades” do programa contemplam matrícula e frequência, mas não um mecanismo para avaliar o rendimento escolar – como se este não se agregasse a real intervenção na situação de miséria.

[18] “O percentual da população alfabetizada funcionalmente foi de 61% em 2001 para 73% em 2011, mas apenas um em cada 4 brasileiros domina plenamente as habilidades de leitura, escrita e matemática”. Dados do INAF (Indicador de Alfabetismo Funcional). In.: [Conferir: https://www.ecodebate.com.br/2012/07/19/apenas-um-em-cada-4-brasileiros-domina-plenamente-as-habilidades-de-leitura-escrita-e-matematica/  e https://alfabetismofuncional.org.br/alfabetismo-no-brasil/]

[19] “Para a reforma da sociedade “a tarefa prioritária, que condiciona o êxito de todas as demais, é a ordem educativa”. CONGREGAÇÃO PARA DOUTRINA DA FÉ. Instrução Libertatis conscientia, 99. Apud. PCJP.DSI, nota 433.

***

Texto de autoria do Padre Alexandre Alessio e retirado do link. Sobre o autor: Pe. Alexandre Alessio, CR - Religioso da Congregação da Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo (CR). Concluiu os estudos de Filosofia no Instituto São Basílio Magno, Curitiba - PR, sua formação teológica ocorreu em Roma pela Pontifícia Universidade Gregoriana. Atualmente é pároco da Paróquia Imaculada Conceição em Franco da Rocha, Diocese de Bragança Paulista - SP, local onde iniciou o Projeto de Evangelização Jesus ao Centro, sustentado pela Associação Bento XVI, da qual é o fundador.


Curta nossa página no Facebook Summa Mathematicae. Nossa página no Instagram.




Princípios Fundamentais de Pedagogia - parte 1

Hugo de São Vítor. Teólogo
 e filósofo francês. Século XII.
Gravura do século XVII.

PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DE PEDAGOGIA

Parte 1

Introdução Geral

1. Princípios fundamentais de pedagogia

O objetivo deste livro é o de apresentar uma concepção de pedagogia bastante diversa do que a maioria dos mais arrojados educadores modernos ousaria conceber.

E, não obstante isso, não se trata de uma utopia, como tantas que foram registradas nos anais da história da educação, nem apenas um projeto, mas algo que foi realidade durante gerações, não em alguma civilização distante, mas na Europa do século XII. E, no entanto, ainda apesar disso, a pedagogia aqui descrita transcende a época em que se realizou como fato histórico; ela pertence, pensamos também nós, ao número daquelas coisas que não passam mais. Foi por isto que demos a este livro o título simplesmente de Princípios Fundamentais da Pedagogia.

Procuramos descrever esta pedagogia através dos textos de um dos educadores daquela época, responsável que foi pela escola anexa ao mosteiro de São Vítor. Limitando-nos aos seus textos, porém, e à sua escola, não apresentamos apenas as idéias educacionais de um só homem, pois ele próprio é o primeiro que se esforça por apresentar em seus textos, nas suas linhas gerais, não as suas idéias pessoais, mas as da tradição em que vive e em que desenvolve o seu trabalho de educador.

A escola de São Vítor, de que foi responsável, tem sua origem em Paris, no fim do século XI, anexa à abadia de São Vítor. Desempenhou no século seguinte papel de elevada importância nos acontecimentos culturais e espirituais da Europa. Fundada por Guilherme de Champeaux, depois de alguns anos teve o nome de Hugo de São Vítor ligado a si própria de uma forma muito semelhante àquela pela qual no século seguinte o de S. Tomás de Aquino se ligaria aos inícios da história da ordem dominicana.

Hugo de São Vítor, o autor dos trabalhos traduzidos neste livro, nasceu provavelmente no ano de 1096 na Saxônia, atual território da Alemanha, onde recebeu sua primeira educação em uma escola monástica. De lá transferiu-se para Paris, o maior centro de estudos da Europa de seu tempo, ingressando no mosteiro de São Vítor, ainda há pouco tempo fundado por Guilherme de Champeaux.

Em 1125 tornou-se professor no mosteiro; em 1133, diretor da escola anexa; logo depois, também prior. Faleceu em São Vítor aos 11 de fevereiro de 1141.

Foi provavelmente o maior dos teólogos do século XII; assim como S. Tomás de Aquino, S. Boaventura, Pedro Lombardo, foi também professor de teologia. Pode parecer redundante hoje em dia acrescentar que um teólogo tenha sido professor de teologia; mas o fato é que os maiores teólogos antes da idade média não o foram.

Ao contrário, porém, de seus demais colegas medievais, Hugo de São Vítor, além de professor, foi também diretor de uma escola, de um dos principais centros de ensino superior do mundo de seu tempo e que, não obstante esta importância, mal acabava de ter sido fundada. Ambas estas características, a direção de uma escola deste porte juntamente com a sua recente fundação, iriam conferir à obra de Hugo de São Vítor contornos inexistentes nas de seus colegas.

Sua obra ocupa três volumes da Patrologia Latina de Migne, respectivamente, os volumes 175, 176 e 177. Para os que não conhecem a coleção, cada um destes livros tem aproximadamente o mesmo tamanho dos volumes da Enciclopédia Britânica; o que temos traduzido neste trabalho é, assim, bem menos do que um por cento da obra de Hugo.

Os trabalhos de Hugo de São Vítor, em uma primeira aproximação, podem ser divididos em quatro grupos: os exegéticos, os ascéticos, os dogmáticos e os pedagógicos. Para os fins deste trabalho, nos interessarão os dois últimos, e mais especialmente os pedagógicos.

Entre os trabalhos dogmáticos os principais são um breve tratado intitulado Summa Sententiarum e outro bem maior, considerado a obra prima de Hugo, o De Sacramentis Fidei Christianae. Nesta última, o autor se propõe a expor o conteúdo teológico das Sagradas Escrituras, nela demonstrando uma capacidade de síntese e sistematização desconhecidas até então, comparáveis, em sua novidade, à especulação metafísico teológica contida nos trabalhos de Santo Anselmo. Ambas estas características seriam posteriormente assimiladas, aprofundadas e fundidas em um mesmo todo por São Tomás de Aquino na sua Summa Teologiae.

De maior interesse, porém, para o presente trabalho, são as obras pedagógicas de Hugo de São Vítor, únicas, talvez, em seu feitio, não só na idade antiga e média, como talvez mesmo em toda a história da pedagogia. Esta singularidade deve sua causa ao fato de que poucas vezes na história pode ter-se reunido, em uma só pessoa, uma inteligência notavelmente brilhante, uma vida de manifesta santidade, a vocação e a atividade docente e a direção de uma das mais importantes escolas do mundo que, não obstante a importância que já desfrutava, ainda estava em fase de formação. Por causa desta confluência de fatores, Hugo se viu obrigado não só a ensinar, mas também a explicar aos alunos como se deveria aprender, aos professores orientar como se deveria ensinar, e à escola como se deveria organizar.

O resultado desta conjunção de fatores foi o surgimento de alguma coisa que merece estar com pleno merecimento tanto na história da pedagogia como na história da espiritualidade: parece ser uma forma de ascese cujo lugar próprio é uma escola.

É um caso particularmente notável de uma pedagogia em que não há interferência destrutiva entre vida intelectual e vida espiritual, nem separação entre estas atividades como coisas independentes uma da outra. Ao contrário, cria-se propositalmente uma situação em que ambas agem entre si no sentido de se amplificarem mutuamente. Que estas duas coisas sejam mutuamente possíveis temos diversos exemplos históricos, entre os quais figuram, de um lado, o exemplo de São Tomás de Aquino, e de outro, o de Santo Antônio de Pádua.

Mas destes dois talvez o que fale mais alto seja o de Santo Antônio de Pádua. Quem conhece um pouco melhor a sua vida não pode deixar de ter a viva impressão de assistir a uma representação literal das palavras de Hugo de São Vítor escritas no fim de sua principal obra pedagógica:

"Olhai, vos peço,
o que seja a luz,
senão o dia,
e o que sejam as trevas,
senão a noite.

E assim como os olhos do corpo
tem o seu dia e a sua noite,
assim também os olhos do coração
tem o seu dia e a sua noite.

Três são os dias da luz invisível,
pelos quais se distingue o curso interior
da vida espiritual.

O primeiro é o temor,
o segundo é a verdade,
o terceiro é o amor".

2. Influência da escola de São Vítor.

Uma lista de quem passou ou esteve em contato com a escola de São Vítor pode dar uma idéia do papel que esta desempenhou no contexto do século XII.

Pedro Abelardo já era aluno de Guilherme de Champeaux quando este ensinava na escola anexa à catedral de Notre Dame. Após Guilherme ter abandonado a escola catedralícia para fundar o mosteiro de São Vítor, consta Pedro Abelardo ainda ter continuado a ser seu aluno.

Após a fundação de São Vítor, São Bernardo de Claraval fez questão de ser ordenado sacerdote por Guilherme de Champeaux, já bispo. Conserva-se até hoje na Patrologia Latina de Migne uma troca de correspondência entre São Bernardo e Hugo de São Vítor acerca de matéria teológica.

Em 1134 São Bernardo escreveu uma carta ao superior de São Vítor pedindo que o mosteiro recebesse como hóspede o jovem Pedro Lombardo até o dia da festa da natividade de Maria. O jovem, porém, não voltou mais. Ficou em Paris até morrer, quase trinta anos depois, em 1160, ocupando o cargo de bispo daquela cidade. Ao que tudo indica, Pedro Lombardo foi aluno de Hugo de São Vítor; antes de ter sido nomeado bispo de Paris, ensinou teologia na escola anexa à catedral de Notre Dame onde já antes havia ensinado Guilherme de Champeaux. Enquanto professor em Notre Dame, redigiu os célebres Quatro Livros das Sentenças, que no século seguinte se tornaria livro a ser obrigatoriamente comentado por todos os candidatos ao doutoramento em teologia. Os primeiros trabalhos teológicos de São Boaventura e São Tomás de Aquino foram comentários aos Livros das Sentenças de Pedro Lombardo, texto tornado básico para o ensino e aprendizado da teologia no século XIII.

A influência de Hugo de São Vítor na teologia posterior exerceu-se também através de sua obra mais extensa, o De Sacramentis Fidei Christianae, aproximadamente traduzível por Os Mistérios da Fé Cristã, uma obra de síntese como até então não havia surgido no cristianismo. Esta obra foi o primeiro exemplo e o precursor de todas as Summas Teológicas que iriam aparecer logo em seguida. Tomás de Aquino e Boaventura testemunham, conforme veremos, terem estudado e muito se aproveitado das obras de Hugo.

Discípulo de Hugo de São Vítor e seu sucessor na escola São Vítor foi também Ricardo de São Vítor, contado, juntamente com ele, entre os grandes teólogos do século XII.

Consta que na época em que Ricardo de São Vítor era prior de São Vítor, foi ali que S. Thomas Beckett, o arcebispo da Cantuária expulso da Inglaterra pelo Rei Henrique VII, foi buscar seu primeiro refúgio.

Em relação aos futuros povos de língua portuguesa, nos séculos XII e XIII o principal centro lusitano de estudos era o mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, dos Cônegos Agostinianos, onde por mais de uma década estudou Santo Antônio de Pádua antes de transferir-se à ordem franciscana. Os principais professores de Santa Cruz de Coimbra haviam estudado em São Vítor no século XII e organizado os estudos de Coimbra segundo o modelo da escola de São Vítor. Apesar de não ter estado nunca em Paris, pode-se dizer que a formação de Antônio de Pádua foi, não só do ponto de vista da doutrina teológica, como também do ponto de vista ascético e pedagógico, baseado no modelo de São Vítor, cuja doutrina, ascese e pedagogia haviam sido moldados por Hugo.

No ano de 1190 o rei de Portugal Dom Sancho I fundou uma bolsa permanente de manutenção para os clérigos de Coimbra que iam estudar em Paris. Durante o século XIII, quando já havia sido fundada a Universidade, consta que os clérigos portugueses que se aproveitavam desta bolsa para estudarem na Universidade de Paris hospedavam-se no mosteiro de São Vítor durante sua permanência em território francês.

3. Obras pedagógicas de Hugo de São Vítor.

Hugo de São Vítor escreveu três obras que a nosso ver podem ser classificadas como estando entre as obras de caráter mais nitidamente pedagógico.

A primeira delas é o opúsculo intitulado Sobre o Modo de Aprender e de Meditar*; a segunda é o opúsculo Sobre a Arte de Meditar; e a terceira e mais conhecida é um verdadeiro tratado sobre a pedagogia da época, conhecido como Didascalicon.

O Didascalicon é dividido em seis ou sete livros, de acordo com a edição. Alguns editores, como foi o caso na Patrologia Latina de Migne, apresentam todos os sete livros como sendo uma só obra. Outros editores julgam que o Didascalicon termina no livro sexto; e que o sétimo é na verdade um tratado à parte, denominado De Tribus Diebus, o Tratado dos Três Dias. Seja como for, ambas as obras são de Hugo, e uma é a continuação natural da outra.

4. Uma pedagogia centrada no aluno.

A primeira impressão que temos ao analisar as obras pedagógicas de Hugo de São Vítor é o fato de todas elas se dirigirem, na íntegra, ao aluno; não ao professor, para quem nada têm a dizer sobre organização escolar; não a mais ninguém, senão unicamente ao aluno, não obstante a tarefa de Hugo fosse a de organizar a escola em todos os seus aspectos.

Esta aparente enorme lacuna se explica pelo fato de que a pedagogia no século XII era manifestamente centrada no aluno e não no professor.

Em dois textos do século XIII, geralmente mais conhecidos entre os estudiosos modernos do que as obras de Hugo de S. Vítor, São Tomás de Aquino (1) afirma que no ensino o professor não pode, por necessidade ontológica, ser a causa principal do conhecimento. Esta causa é a atividade do aluno; o papel do mestre não é o de infundir a ciência, mas a de auxiliar o discípulo. "Assim como o médico é dito causar a saúde no enfermo através das operações da natureza, assim também o mestre", diz Tomás de Aquino, "é dito causar a ciência no discípulo através da operação da razão natural do discípulo, e isto é ensinar" (2) . Se o mestre tentar seguir uma conduta diversa, diz ainda Tomás, o resultado será que ele "não produzirá no discípulo a ciência, mas apenas a opinião ou a fé" (3).

Nos textos de São Tomás de Aquino estas conclusões são deduzidas a partir de princípios da filosofia aristotélica; como, porém, quando muito, dificilmente se conhece atualmente da pedagogia desta época, alguma coisa além destes dois textos, torna-se difícil ao homem de hoje imaginar ao que S. Tomás de Aquino estava se referindo na prática.

Os textos de Hugo de S. Vítor fornecem em parte uma ilustração para tais princípios. Ao redigir uma série de textos para organizar os métodos educacionais que seriam usados em sua escola, Hugo não dirigiu quase uma única palavra aos professores, e sim aos alunos. É exatamente o contrário do que vemos na literatura pedagógica do século XX: toda a literatura sobre metodologia é escrita para a leitura do professor, não do aluno. Aquele era um ensino centrado no aluno; este, embora às vezes se diga o contrário, é um ensino centrado no mestre.

Os resultados destes modos diversos de encarar a pedagogia são também diversos. O primeiro, encontrado no mestre, tende a tornar-se uma transferência mecânica de conhecimento do professor para o aluno; o segundo, centrado no aluno, tende a tornar-se uma aventura do espírito. A escola centrada no mestre só irá produzir um discípulo melhor do que o mestre por acaso, quando o discípulo, apesar do método utilizado, puder fugir espontaneamente às regras desta pedagogia; a escola centrada no aluno tende a produzir por sua natureza um certo número de alunos melhores do que o mestre. Consequência destes fatos é que os professores da escola centrada no mestre são, no que depende da escola, a cada geração possuidores de um nível cada vez mais baixo, enquanto que na escola centrada no aluno a tendência é a oposta.

É um fato conhecido na história da educação que desde a renascença, quando o centro de gravidade do ensino passou a deslocar-se, todas as gerações sempre têm reclamado que o nível do ensino estava caindo, e que o ensino na geração anterior era melhor do que o então ministrado. Tal constatação pode parecer à primeira vista paradoxal, porque, pensamos nós, se isto fosse realmente verdade, após tanto tempo, há muito que o ensino teria sido totalmente pulverizado. A explicação para este fenômeno é que realmente houve muitos momentos históricos desde então em que o ensino não só não decaiu, como inclusive subiu de nível, e às vezes acentuadamente. Mas, se isto aconteceu, não se deveu a fatores internos à pedagogia, e sim a contingências externas ao método educacional: a fundação, por exemplo, de uma nova ordem religiosa; uma reforma educacional; os decretos de algum príncipe. Nestes momentos dava-se uma melhora da qualidade de ensino para, a partir daí, entregue às suas forças intrínsecas, cair gradualmente sem perspectiva aparente de reversão, senão por uma nova interferência externa.

5. Um princípio básico da educação vitorina.

Uma das idéias fundamentais em torno da qual construiu-se a pedagogia vitorina está contida no opúsculo sobre o modo de aprender e de meditar.

Nele, Hugo afirma que há três operações básicas da alma racional, as quais constituem entre si uma hierarquia, e que devem, portanto, ser desenvolvidas uma em sequência à outra.

A primeira ele a denomina de pensamento. A segunda, de meditação. A terceira, de contemplação.

O pensamento ocorre, diz Hugo, "quando a mente é tocada transitoriamente pela noção das coisas, ao se apresentar a própria coisa, pela sua imagem, subitamente à alma, seja entrando pelo sentido, seja surgindo da memória".

Entre os ensinamentos de Hugo de São Vítor entra aqui o papel que a leitura adquire na pedagogia. A importância da leitura reside em que ela pode ser utilizada para estimular a primeira operação da inteligência que é o pensamento. Mas ao mesmo tempo a limitação da leitura está em que ela não pode estimular as operações seguintes da inteligência, a meditação e a contemplação, a não ser indiretamente, na medida em que a leitura estimula o primeiro estágio do pensamento que é pressuposto dos demais. Isto significa que requer-se uma teoria da leitura em que o mestre saiba utilizar-se dela para produzir o pensamento, e ao mesmo tempo compreenda que há outros processos mentais mais elevados que devem também ser desenvolvidos mas que podem vir a ser impedidos por uma concepção errônea por parte do mestre que não conseguisse compreender que estes não dependem mais diretamente da leitura. A importância do assunto é tão grande que os seis primeiros livros do Didascalicon serão dedicados à teoria da leitura.

A segunda operação da inteligência, continua Hugo, é a meditação. A meditação baseia-se no pensamento, e é "um assíduo e sagaz reconduzir do pensamento, esforçando-se para explicar algo obscuro, ou procurando penetrar no que ainda nos é oculto".

O exercício da meditação, assim entendido, exercita o engenho. Como a meditação, porém, se baseia por sua vez no pensamento e o pensamento é estimulado pela leitura, temos na realidade duas coisas que exercitam o engenho: a leitura e a meditação.

Segundo as palavras de Hugo, "na leitura, mediante regras e preceitos, somos instruídos a partir das coisas que estão escritas. A leitura também é uma investigação do sentido por uma alma disciplinada. A meditação toma, depois, por sua vez, seu princípio da leitura, embora não se realizando por nenhuma das regras ou dos preceitos da leitura. A meditação é uma cogitação frequente com conselho, que investiga prudentemente a causa e a origem, o modo e a utilidade de cada coisa".

Mas acima da meditação e baseando-se nela, existe ainda o que Hugo chama de contemplação. Ele explica o que é a contemplação e no que difere da meditação do seguinte modo:

"A contemplação é uma visão
livre e perspicaz da alma
de coisas que existem em si
de modo amplamente disperso.

Entre a meditação e a contemplação
o que parece ser relevante
é que a meditação é sempre de coisas ocultas
à nossa inteligência;
a contemplação, porém, é de coisas que,
segundo a sua natureza,
ou segundo a nossa capacidade,
são manifestas;
e que a meditação sempre se ocupa
em buscar alguma coisa única,
enquanto que a contemplação se extende
à compreensão de muitas,
ou também de todas as coisas.

A meditação é, portanto,
um certo vagar curioso da mente,
um investigar sagaz do obscuro,
um desatar o que é intrincado.

A contemplação é aquela vivacidade da inteligência,
a qual, já possuindo todas as coisas,
as abarca em uma visão plenamente manifesta,
e isto de tal maneira que aquilo que a meditação busca,
a contemplação possui".

Estas passagens do Opúsculo sobre o Modo de Aprender mostram um dos pontos básicos da pedagogia de Hugo, o de levar o discípulo do pensamento à contemplação. Em outras partes de sua obra ele abordará o modo como isto pode ser feito.

Mas antes que tratemos deste outro aspecto da questão, cumpre fazer a seguinte pergunta, importantíssima para os educadores de hoje. Um dos maiores pensadores educacionais brasileiros de nosso século, Anísio Teixeira, escreveu em um famoso livro intitulado Educação para a Democracia exatamente as seguintes palavras:

"A vida já não é governada
pelos velhos índices de intelectualidade
herdados da idade média.

Hoje todos têm que produzir.

Técnicas científicas e industriais
sobrepuseram-se aos encantamentos da vida do espírito.

Precisamos sentir o problema da educação
conforme ele é,
um processo pelo qual a população se distribui
pelos diferentes ramos do trabalho diversificado
da sociedade moderna" (4).


Ora, Hugo de S. Vítor desenvolve uma pedagogia que desemboca em uma atividade chamada contemplação que se ocupa, conforme ele próprio diz, de coisas que já nos são manifestas. Mas se nos são já manifestas, por que se ocupar ainda nelas? Poderá uma educação assim ter ainda alguma justificativa na sociedade moderna?

Hugo provavelmente responderia a esta pergunta com três argumentos.

Em primeiro lugar, a contemplação se ocupa, é verdade, de coisas já manifestas, e o homem moderno, ocupado em seu utilitarismo imediato, geralmente não percebe as vantagens de se cultivar uma qualidade destas. Pelo fato de se ocupar com coisas manifestas, a contemplação, conforme disse Hugo, não se ocupa em buscar "alguma coisa única, mas se estende à compreensão simultânea de muitas ou também de todas as coisas". Ora, é evidente que esta é a atividade fundamental que está por trás de todas as grandes sínteses filosóficas da história, como as obras de Aristóteles, de Tomás de Aquino, e outras. É evidente que é também esta a atividade fundamental que está por trás das grandes sínteses científicas, como a física Newtoniana e a Teoria da Relatividade. É evidente que esta é a operação intelectual fundamental que deveria estar por trás também de outras atividades tão vivamente exigidas nos dias de hoje como a correta orientação política de uma nação e até mesmo o ordenamento plenamente consciente de um sistema educacional. Em suma, é a contemplação, e não a análise, a atividade básica das mais fundamentais conquistas do pensamento humano em todos os tempos. Foi também, evidentemente, a atividade fundamental que estava por trás do monumento do pensamento que foi em sua época o tratado De Sacramentis Fidei Christianae, uma obra de síntese e sistematização em teologia como até aquela época, conforme já mencionamos, ainda não havia aparecido igual.

Obras filosóficas e sínteses deste porte ainda surgem hoje em dia; mas a diferença é que hoje em dia elas aparecem apesar das escolas, enquanto que na época da escola de São Vítor e na época em que Aristóteles estudou com Platão elas surgiam por causa das escolas. O tipo de gênio que havia em Newton e em Einstein foi desenvolvido por eles próprios sem que, entretanto, o soubessem desenvolver em seus alunos. Na escola de Platão, o gênio do mestre soube reproduzir-se em Aristóteles, e na de São Vítor o gênio de Hugo soube reproduzir-se em Ricardo, e, menos diretamente, em diversos contemporâneos que reproduziram seu sistema de ensino.

Mas, ademais, em segundo lugar, não é necessário produzir obra alguma para que a contemplação seja alguma coisa de enorme importância para o homem. A contemplação sempre foi colocada em todas as épocas da história, com exceção, talvez, da idade moderna, como o mais significativo elemento de enobrecimento da mente humana, algo que não precisava de nenhuma justificativa além de si mesma para ser cultivada. Esta foi a posição de todos os principais filósofos gregos. No cristianismo, também, a experiência religiosa dos primeiros Santos Padres apontou esta capacidade como sendo elemento fundamental para a compreensão profunda das grandes verdades do cristianismo, apesar de, e isto é significativo, em nenhuma parte das Sagradas Escrituras esta capacidade ser descrita nos termos empregados por Hugo de São Vítor. Esta afirmação dos Santos Padres tem sua similar nos antigos filósofos gregos quando estes também colocaram que nenhum dos problemas existenciais básicos do ser humano pode ser convenientemente abordado sem ser por este meio.

Estes dois motivos talvez já bastassem, mas existe ainda um terceiro para Hugo de S. Vítor que talvez seja o mais importante. É que, ao contrário do que parece dar a entender o opúsculo sobre o modo de aprender, a contemplação não é ainda a meta final da pedagogia. Assim como a meditação se fundamenta no pensamento, e a contemplação se baseia na meditação, outras operações se baseiam, por sua vez, na contemplação. Estas, porém, são tratadas em outros trabalhos de Hugo.

6. A presente tradução.

Na presente tradução encontramos, primeiramente, o opúsculo Sobre o Modo de Aprender e de Meditar. Nele encontramos expostos a sequência das fases do aprendizado do pensamento, intimamente relacionado com a leitura, à meditação e desta à contemplação. Nele encontramos também vários conselhos relativamente à leitura.

Em outras obras de Hugo encontramos uma explicação mais pormenorizada sobre cada uma destas fases.

A teoria da meditação é encontrada num opúsculo intitulado Sobre a Arte de Meditar, cuja tradução vem em seguida à do modo de aprender e de meditar.

A contemplação é exposta no livro sétimo do Didascalicon, cuja tradução vem em seguida à da arte de meditar.

Os seis primeiros livros do Didascalicon, não traduzidos neste trabalho senão em parte, se ocupam mais extensamente com o problema da leitura. Os três primeiros tratam da leitura e do estudo dos temas que hoje chamaríamos de profanos; os três últimos tratam da leitura e do estudo das Sagradas Escrituras.

Em ambas estas partes aborda-se o problema da leitura tanto do ponto de vista sobre o que ler, como sobre de que modo ler.

Nos três primeiros livros, em relação a o que ler, Hugo expõe o conteúdo das artes liberais, isto é, as dos ciclos de estudos denominados na idade média de trivium e quadrivium. O trivium, introdução ao quadrivium, constituía-se de gramática, retórica e lógica. O quadrivium, introdução aos estudos superiores, constituía-se de matemática, geometria, astronomia e música. Hugo também expõe o conteúdo de outras artes além destas. Quanto ao problema de como ler, o conteúdo dos três primeiros livros do Didascalicon parece-se muito com o Opúsculo sobre o Modo de Aprender. Os três livros restantes do Didascalicon ocupam-se com a leitura e o estudo das Sagradas Escrituras.

Neste trabalho traduzimos integralmente o livro sétimo do Didascalicon que versa sobre a contemplação. Precedemos a tradução deste sétimo livro de passagens tiradas dos livros primeiro e segundo, sobre o caráter da filosofia, e do livro quinto e sexto, passagens todas que pudessem servir para introduzir o assunto contido no sétimo, reproduzindo-lhe algo do contexto relevante dos livros anteriores.

A omissão quanto ao conteúdo de cada arte e das Escrituras Sagradas, consideravelmente extensa, foi proposital. Já existem traduções em línguas modernas dos seis primeiros livros do Didascalicon, tal como a em língua inglesa de 1961 devida a Jeromy Taylor e publicada pela Columbia University Press; quanto aos três textos aqui traduzidos, entretanto, não nos consta existir tradução alguma.

Por outro lado, estes três textos formam uma sequência muito bem concatenada: interrompê-la, traduzindo os seis primeiros livros do Didascalicon na íntegra e introduzindo assim uma enorme massa de material sobre um aspecto bastante diverso, embora da mesma questão que temos em pauta, seria dificultar ainda mais o acesso a uma concepção de pedagogia que é, já sem isto, bastante difícil para a compreensão do homem moderno.

Precedendo os três trabalhos de Hugo, intitulados, pois, Sobre o modo de Aprender e de Meditar, Sobre a Arte de Meditar, e o último, que neste trabalho pode ser encontrado sob o nome de Tratado dos Três Dias, temos ainda uma tradução condensada da introdução de Monsenhor Hugonin sobre a Fundação da Escola de São Vítor que precede as obras de Hugo no volume 175 da Patrologia Latina de Migne.


Referências

(1) São Tomás de Aquino: Summa Theologiae, Prima Pars, Q. 117, a. l. São Tomás de Aquino: Quaestiones Disputatae de Veritate, Quaestio 11, a. 1.
(2) São Tomás de Aquino: Quaestiones Disputatae de Veritate, Q. 11 a. 1.
(3) São Tomás de Aquino: idem.
(4) Anísio Teixeira: Educação para a Democracia. Anísio Teixeira: Bases para uma programação da Educação Primária no Brasil, Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos.

Texto retirado do Link.

Curta nossa página no Facebook Summa Mathematicae. Nossa página no Instagram.



Lista de livros sobre a Educação verdadeira - parte 1

Vincent van Gogh, Os livros amarelos, 1887
Neste texto, trago uma lista com alguns livros em língua portuguesa sobre educação. O critério da lista foi a minha pesquisa por livros sobre educação que não contivessem influências ideológicas e que estivessem preocupados em explanar sobre uma verdadeira educação. Muitos desses livros foram publicados pela primeira vez ou republicados recentemente no Brasil. Obviamente não é uma lista completa ou definitiva. Espero que continuar esta lista posteriormente.






***

História da Educação na AntigüidadeHenri-Irénée Marrou. EPU, 1973 e Edições Kírion, 2017.

Sinopse: "Não se deve dizer, como o fazem freqüentemente seu detratores, que a cultura clássica 'nasceu com a cabeça virada para trás', olhando para o passado: ela não é como um outono, torturado com a lembrança nostálgica da primavera desaparecida. Ela se imagina, antes de tudo, como firmemente estabelecida num imóvel presente, em plena luz de um quente sol de verão. Ela sabe, ela reusa; os mestres estão ali.

Pouco importa que eles hajam aparecido em tal ou qual momento do passado, sob o efeito de tal ou qual força histórica: o importante é que existam, que novamente os descubra, da mesma maneira, cada uma das gerações sucessivas, que sejam reconhecidos, admirados, imitados".



***

História da Educação na Antigüidade Cristã. Ruy Afonso da Costa Nunes. EPU, 1978 e Edições Kírion, 2018.

Sinopse: Henri Marrou dedica os dois últimos capítulos de sua História da Educação na Antigüidade às relações entre a educação clássica e o advento do Cristianismo e ao surgimento das escolas cristãs de tipo medieval. Nesta História da Educação na Antigüidade Cristã, Ruy Afonso da Costa Nunes dá seqüência ao trabalho de Marrou expondo as concepções pedagógicas dos Santos Padres — os doutores e escritores cristãos dos primeiros séculos — no contexto escolar e cultural do fim do mundo antigo.

“O Logos divino se encarnou, se fez homem para a nossa salvação. Agora não precisamos mais de nenhuma escola humana, não nos devemos preocupar com Atenas, com o resto da Grécia ou com a Jônia. Temos por didáscalos, mestre, aquele que tudo sabe e tudo criou com o seu poder e a sua bondade, e esse Mestre tudo nos ensina por meio das suas profecias, das suas leis e da sua doutrina, e pelo Logos divino o mundo inteiro tornou-se Atenas e Grécia”.

***

História da Educação na Idade MédiaRuy Afonso da Costa Nunes. EPU, 1979 e Edições Kírion, 2018.

Sinopse: Depois de ter exposto, em sua História da Educação na Antigüidade Cristã, as idéias e a prática pedagógica dos Santos Padres, Ruy Afonso da Costa Nunes examina agora as transformações culturais e educacionais que ocorreram desde o fim do mundo antigo — a evangelização dos bárbaros e a preservação da cultura greco-romana feita pelos monges cristãos — até o século XIII, “o maior dentre os séculos”, com o surgimento das universidades e da escolástica, o apogeu da educação medieval.

“Da queda de Roma em 476 e do ocaso do Império Romano do Ocidente até ao surgimento da nova civilização medieval no início do século XII, estendem-se os séculos intermediários em que se contam as agitações, as guerras, a insegurança e as invasões, ao mesmo tempo em que se registra a cristianização dos povos germânicos e se processa a assimilação do patrimônio cultural antigo preservado pela Igreja Católica”.

***

História da Educação no RenascimentoRuy Afonso da Costa Nunes. EPU, 1980 e Edições Kírion, 2018.

Sinopse: Nesta História da Educação no Renascimento, Ruy Afonso da Costa Nunes descreve a grande transformação que se deu na Europa nesta época, compondo, com riqueza de detalhes, o quadro geral das causas que confluíram para o ocaso da Idade Média e para a ascensão do humanismo. Além de delinear a mudança nas concepções e nas práticas pedagógicas no Renascimento, o historiador oferece um verdadeiro roteiro de estudos a quem queira se aprofundar no tema, registrando a biografia e as principais obras dos pedagogos mais relevantes do período.

“O fato histórico do Renascimento resultou da confluência de numerosos elementos de natureza diversa: grandes transformações econômicas e sociais, os descobrimentos marítimos e a formação dos impérios coloniais, surgimento de nova arte, aparecimento do humanismo e da ciência moderna, e a crise religiosa que levou à revolução protestante e à reforma católica. [...] A transformação da vida social na Europa, a aceitação de novos valores e o culto do ideal profano da vida pagã alardeado nas obras clássicas refletiu-se de modo claro na educação renascentista, nos escritos dos pedagogos e dos humanistas. Através do estudo da história das instituições e das idéias educacionais do Renascimento pode avaliar-se a extensão e a intensidade das transformações pelas quais passou a Europa no fim da Idade Média e no início da Idade Moderna”.

***

História da Educação no século XVIIRuy Afonso da Costa Nunes. EPU, 1980 e Edições Kírion, 2018.

Sinopse: Com esta História da Educação no Século XVII, o autor encerra sua descrição das concepções, práticas e valores educacionais iniciada na História da Educação na Antigüidade Cristã. Tendo exposto as idéias pedagógicas dos primeiros mestres cristãos, as mutações culturais e civilizacionais transcorridas do fim do mundo antigo até o apogeu das universidades medievais, e em seguida o renascimento do humanismo por sobre o ocaso da Idade Média, Ruy Afonso da Costa Nunes delineia agora o nascimento da ciência e da filosofia modernas e sua influência na educação, tanto na metodologia e na formulação da didática como nos próprios conteúdos a serem estudados. Retrata, além disso, as diversas iniciativas de educação popular promovidas pela renovação das ordens religiosas.

“O século XVII foi a época da gênese da ciência moderna, com grandes avanços no campo das matemáticas e com o emprego vitorioso do método experimental que deu impulso às ciências da natureza, e à física de maneira especial. [...] Pareceu-nos válido e proveitoso começar este livro por um capítulo consagrado à apresentação panorâmica do século XVII, a fim de bem situar a floração das idéias pedagógicas e a germinação de certas instituições educacionais numa época de profunda perturbação política e de crise da consciência européia. [...] Cumpre, ainda, lembrar que fazemos questão de dar ênfase aos aspectos educacionais do século XVII que mais influenciaram os países latinos e que mais interessam à nossa própria história cultural”.

***

Paideia: A formação do homem grego. Werner Jaeger. WMF Martins Fontes, 2010.

Sinopse: "Esta obra famosa de Werner Jaeger, um dos marcos da cultura do nosso tempo, é o estudo mais profundo e completo sobre os ideais de educação da Grécia antiga. Jaeger estudou a interação entre o processo histórico da formação do homem grego e o processo espiritual através do qual os gregos chegaram a elaborar seu ideal de humanidade. A partir da solução histórica e espiritual, foi possível chegar ao entendimento da criação educativa sem par de onde se irradia a imorredoura influência dos gregos sobre todos os séculos".

 

 

 

***

Didascalicon. Sobre a Arte de Ler. Hugo de São Vitor. Edição bilíngüe Latim-Português. Tradução e notas: Roger Campanhari. Edições Kírion, 2018.

Sinopse: O que aqui se oferece ao leitor é uma obra rica e profunda, que por muito tempo constituiu um dos pilares da educação cristã. Neste Didascalicon sobre a arte de ler, o mestre Hugo de São Vítor apresenta as artes liberais e orienta seus alunos mostrando o que devem ler, em que ordem e, especialmente, de que modo devem fazê-lo. Tendo como base a tradição e as Sagradas Escrituras, sua pedagogia visava formar os estudantes para alcançarem a contemplação, o último grau da Sabedoria — com a qual “tem-se um antegosto nesta vida do que será a recompensa futura” —, uma formação integral que proporcionasse a união com Deus. Colocando o foco da educação no próprio estudante, este modelo da educação cristã não é um livro sobre como ensinar, mas sim sobre como aprender; não é um tratado de didática, mas uma verdadeira aula a todo aquele que deseje percorrer o caminho que conduz à Sabedoria.

“Existem principalmente duas coisas por meio das quais alguém é conduzido ao conhecimento, a saber, a leitura e a meditação, das quais a leitura vem em primeiro lugar no aprendizado, e é sobre ela que se ocupa esse livro, oferecendo os preceitos da arte da leitura. São três os preceitos mais necessários à leitura: primeiro, saber o que se deve ler; segundo, em que ordem se deve ler, isto é, o que vem antes e o que vem depois; terceiro, de que modo se deve ler. Este livro trata destes três preceitos, separadamente. Assim sendo, ele instrui tanto sobre a leitura dos escritos profanos quanto sobre a dos divinos”.

***

A Formação da Personalidade. Padre Leonel Franca. Agir Editora, 1938. Edições Hugo de São Vitor, 2019 e Edições Kírion, 2019

Sinopse: Composta por diversos escritos pedagógicos e morais de Leonel Franca e lançada originalmente em 1938, esta obra nos desafia a arregaçar as mangas, pegar no arado e mover os sulcos empedrados e desnutridos de nossa alma!

Em suma, uma obra que molda caráter!

Trecho inicial do capítulo I Formação:

"Quem diz formação diz esforço para adquirir ou comunicar uma forma. E forma tem, aqui, não o seu significado óbvio e corrente de feitio, figura, aparência externa das coisas, forma; mas o sentido mais profundo e filosófico de perfeição, atuação de uma potencialidade anterior. Formar-se é, no sentido amplo, adquirir novas qualidades, acordar perfeições que dormiam nas possibilidades da nossa natureza.

Nessa acepção formação é quase sinônimo de cultura, e a análise de uma destas noções esclarece a outra. A palavra cultura, aplicada ao homem, é metafórica e deriva da analogia com os campos, aos quais se aplicam primeiro e ainda se aplica em sentido próprio. Cultivai --- Agricultura. Tomai uma terra no seu estado nativo; cardos e espinhos, ervilhaca e tiririca; plantas úteis e ervas venenosas --- tudo em desordem e confusão --- é uma terra brava --- selvagem. Passai-lhe o arado, arroteai-a, enriquecei-lhe com adubos apropriados a fecundidade natural e tereis jardins, pomares e plantações: é uma terra cultivada. Transportai a analogia para nossa vida superior.

Também aqui, no domínio do espírito --- uma grande possibilidade da natureza, a psicologia humana com toda a riqueza de suas virtualidades latentes; a inteligência, o sentimento, a atividade. Também aqui deixai todas estas virtualidades em seu estado bruto, nativo --- tereis o homem selvagem --- o bárbaro, o inculto. Aplicai-lhes o esforço, o trabalho que fecunda a natureza e desenvolveis as suas forças originais, tereis o homem culto ou cultivado".

Como pode-se ver, haverá um você antes e um você depois deste livro; realmente é algo precioso.

***

Encíclica Divini Illius Magistri: Sobre a Educação Cristã. Pio XI. Várias editoras. Santa Sé, 1929. Disponível pelo link.

Sinopse: A encíclica trata da educação cristã da juventude, e foi escrita em resposta ao surgimento (principalmente no século XIX e início do século XX) das “novas teorias pedagógicas”, que erroneamente propunham métodos e meios, não só para facilitar, mas também para criar uma nova educação de “infalível eficácia”, que pudesse preparar as novas gerações para a suspirada felicidade terrena.

Diante desse cenário, o Papa propôs os seguintes questionamentos:

- Qual o papel da família, da Igreja e do Estado na educação?

- O que pensar da educação pública gratuita, das escolas mistas, da educação sexual?

- Os católicos ainda são obrigados a mandarem seus filhos estudarem em escola católicas?

- É lícito ter professores não católicos nas escolas católicas?

- Os pais devem proteger os filhos dos meios de comunicação de massa?

Estas questões foram respondidas por Pio XI neste documento que define um programa completo de recristianização da sociedade, defendendo as prerrogativas da família e a supremacia da Igreja contra um Estado laico, que cada vez mais busca arrancar os jovens das famílias para educá-los na ideologia revolucionária. Apesar de ter sido publicada em 1929, as falsas doutrinas educacionais de então pouco mudaram, fazendo desta encíclica um antídoto seguro, eficaz e atual contra os erros do nosso tempo.

***

Filosofia da Educação segundo Santo Tomás de Aquino. Mary Meyer e Edward Fitzpatrick. Editora Odeon, 1935 e Editora Rumo à Santidade, 2023.

Sinopse: A educação no Brasil tem passado por diversas transformações nos últimos anos. Tanto o fomento às escolas em tempo integral quanto o novo currículo do Ensino Médio sinalizam mudanças profundas na formação de nossas crianças e adolescentes. Este cenário, muitas vezes incerto, convida pais e professores, preocupados em transmitir valores perenes, a se prepararem cada vez melhor para o mister de ensinar e a contraporem as ideologias antinaturais que se ocultam de múltiplas maneiras, em especial nos materiais didáticos.

Podem recorrer os educadores com segurança à obra “De magistro” de Santo Tomás de Aquino que, apesar dos seus séculos de existência, não foi até hoje superada em questões de filosofia da educação por quaisquer outras teorias, inclusive de inspiração evolucionista. Portanto, o presente livro se harmoniza, sem percalços, às necessidades de nosso contexto, como se verifica nos comentários elaborados pelos autores.

***

Filosofia da Educação. Dom Antônio Maria Alves de Siqueira. Editora Vozes, 1948 e Calvariae Editorial, 2021

Sinopse: De fato, educar é transmitir espiritualmente a própria personalidade, em todo o seu complemento, não somente no que respeita aos conhecimentos especulativos, senão também e maximamente no que interessa ao procedimento moral e princípios de ação. Como transmitir o que se não possui? Aprender, portanto, antes de ensinar. "Há de ser péssimo mestre o que nunca aprendeu a ser discípulo. Miserum est enim eum fore magistrum qui nunquam se novit esse discipulum". Formar-se a si próprio, antes de formar os outros.

"Nada poderá substituir a séria reflexão sobre as operações da própria alma; este é o estudo que leva ao conhecimento exato dos homens".

"É erro profundo, ensina Spalding, crer que princípios, regras e métodos constituem o principal em matéria de educação. O professor vale o que vale o homem".

E, portanto, "teacher, educate thyself".

***

A Educação Segundo a Filosofia PereneAntônio Donato Paulo Rosa. Disponível pelo link.

Sinopse: Vamos esboçar um plano a ser seguido, dividido em dez capítulos:

No primeiro capítulo, do qual estas linhas já fazem parte, fazemos uma introdução e um apanhado de notas biográficas sobre a vida e a obra de S. Tomás de Aquino.

No segundo capítulo, com base no Comentário ao Livro X da Ética, mostraremos como o fim do homem é a felicidade e como esta felicidade, não considerando os dados da Revelação, reside na contemplação; mostraremos, em seguida, a concepção de educação que daí se origina.

No terceiro capítulo, examinaremos os pressupostos históricos desta concepção de educação cuja finalidade última é a contemplação.

No quarto capítulo, examinaremos os pressupostos psicológicos que fundamentam esta forma de educação.

No quinto e sexto capítulos trataremos a respeito dos requisitos pedagógicos imediatos para a contemplação.

No sétimo capítulo trataremos dos requisitos pedagógicos remotos para a contemplação.

No oitavo capítulo abordaremos os pressupostos metafísicos desta concepção de educação.

No nono capítulo passaremos aos pressupostos políticos da educação para a contemplação.

Finalmente, no décimo capítulo, a que denominaremos de Perspectiva Teológica, fugiremos à metodologia que terá sido seguida em todo este trabalho e apontaremos sumariamente que modificações trariam ao quadro precedente da educação os textos teológicos de S. Tomás de Aquino. De fato, o pensamento completo de S. Tomás de Aquino só poderia ser exposto levando-se em conta seus trabalhos considerados teológicos, não apenas naquilo que eles contém de filosófico, mas também naquilo que contém de propriamente teológico. Tal como no pensamento filosófico, o pensamento teológico de S. Tomás de Aquino contém muito do que há de melhor em todos os teólogos que o precederam; uma exposição completa do assunto, porém, ultrapassaria os objetivos do presente trabalho, de modo que nos restringiremos a apontar diretivas gerais com o fim de uma melhor compreensão dos limites do presente trabalho.

***

A idéia de verdade e a educaçãoRuy Afonso da Costa Nunes. EPU, 1978 e Edições Kírion, 2019.

Sinopse: Ruy Afonso da Costa Nunes nos apresenta neste livro um estudo a respeito das concepções de verdade de vários autores da Antigüidade, da Idade Moderna e Contemporânea, guiando-nos de maneira clara e didática numa visão geral sobre o tema, enriquecida pela quantidade e pela precisão de suas pesquisas, sem poupar a crítica e a ironia para com alguns filósofos. Em seguida, correlaciona a verdade e a educação, mostrando a importância dessa idéia e suas decorrências na prática cotidiana do ensino.

“A qualidade fundamental de quem filosofa é a fidelidade ao real, sob pena do recalcitrante se tornar vítima de alucina­ções intelectuais e de veros absurdos. Por isso, quando um pensador timbra em não reafirmar uma tese porque ela já foi exposta ou defendida por outrem, arrisca-se a defender freqüentemente uma tolice monumental só pelo prazer de estar a dizer algo de novo e, portanto, de ser original. Foi só devido a essa mania de originalidade que certos autores ousaram contestar a noção clássica de verdade que na prática, na convivência com outras pessoas e nos próprios estudos pessoais, eles conti­nuam implicitamente a admitir”.

***

Pequena História da Educação. Ruy de Ayres Bello. Editora do Brasil, 1945 e Edições Liceu, 2020

Sinopse: “É a educação um fato social tão antigo quanto o próprio homem, devendo ter sido praticada desde que apareceu na Terra a primeira família humana. Coincide, assim, o início da História da Educação com o da História da Humanidade. Desse modo, para remontarmos às origens históricas da atividade educativa, teremos de estudá-la a partir de sua forma mais simples, por assim dizer, embrionária, tal como teria sido praticada entre os povos primitivos.”

— A educação primitiva

“Sócrates não foi, rigorosamente, um educador. Não foi um profissional do ensino, como os sofistas, nem chegou a fundar uma escola, como fizeram, em geral, os outros filósofos gregos. Tampouco, pretendeu formular uma doutrina educativa ou um sistema pedagógico. Entretanto, se tomarmos a palavra educador no seu sentido mais amplo, para qualificar o homem que intencionalmente consagra a sua atividade ao bem espiritual de seus semelhantes, mesmo que não exerça de maneira sistemática e formal a atividade docente, ninguém mais do que o grande filósofo merece esse título, pois toda a sua vida foi consagrada a esse ideal.”

— A educação na Grécia

“A história da educação no Brasil começa com o ato de D. João III determinando a vinda dos padres jesuítas para a catequese dos primitivos habitantes do país. Os primeiros jesuítas chegaram ao Brasil com o governador Tomé de Sousa, em 1549, tendo como superior o padre Manuel da Nóbrega. Foram eles os padres Leonardo Nunes, Antônio Pires, João Aspicuelta Navarro e os noviços Vicente Rodrigues e Diogo Jácome. Em 1550 vieram os padres Afonso Brás, Francisco Pires, Salvador Rodrigues e Manuel Paiva. Com esses novos elementos, pôde o padre Nóbrega fundar a primeira escola jesuíta do Brasil, um orfanato, localizado na Bahia e que se denominou de Colégio dos Meninos de Jesus. A este se seguiu, em 1553, o Colégio dos Meninos de Jesus de São Vicente.”

***

Filosofia PedagógicaRuy de Ayres Bello. Editora Globo, 1946 e Edições Liceu, 2021

Sinopse: A Ciência é um conhecimento certo pelas causas. Cognitivo certa per causa, diziam os antigos. Também a Filosofia é um conhecimento certo pelas causas, e nisto participa da mesma natureza da Ciência. Mas, enquanto a Ciência só procura atingir a causas próximas dos fatos que estuda, a Filosofia tem como objeto as causas universais, isto é, causas primeiras desses fatos. Por isso é que se define a Filosofia como "o conhecimento natural que considera as causas primeiras ou as razões mais elevadas de todas as coisas."

Vê-se, assim, que a Filosofia, tendo o mesmo objeto material da Ciência, o mundo, o homem e Deus, o considera de um ponto de vista formalmente diverso. Exemplificando: a alma humana é objeto material, tanto da Psicologia Experimental como da Psicologia Racional, que é uma parte da Filosofia. Mas, enquanto o objeto formal da Psicologia Experimental são, apenas, os fenômenos psíquicos e suas causas imediatas, a Psicologia Racional investiga as causas primeiras desses fenômenos, as suas razões mais altas, chegando, assim, à própria essência da alma. Outra exemplo: os corpos físicos são o objeto assim da Física, como da Filosofia, mas, enquanto a Física se limitará ao estudo das propriedades dos corpos e das leis que regem os fenômenos que neles se manifestam, ligando os fatos sensíveis pelas suas dependências e causalidades, a Filosofia procura descobrir, através desses fenômenos, a própria essência dos corpos, com o que atingirá a razão mais alta dos fenômenos observados. 

É que a Ciência só pode ir do visível ao visível, enquanto a Filosofia parte do visível para o invisível, pois que o seu objeto formal próprio se situa além do mundo dos fenômenos e da experiência sensível. Noutras palavras: a Ciência se limita ao domínio do que pode ser observado pelos sentidos, ao passo que a Filosofia se orienta para o conhecimento dos princípios que, por sua natureza mesma, escapam à percepção dos sentidos. 

***

A Crise da Educação OcidentalChristopher Dawson. Editora É Realizações, 2020.

Sinopse: Em A Crise da Educação Ocidental, Christopher Dawson analisa os ideais pedagógicos da história do Ocidente, delineando as origens dos problemas enfrentados pelos sistemas educacionais modernos. Ele defende que o abandono do antigo ideal humanista teve como resultado a educação de caráter utilitário que temos atualmente, no qual o aluno deve aprender apenas o que é útil à sociedade e ao mercado de trabalho. Segundo Dawson, o papel da educação foi decisivo no desenvolvimento da cultura do Ocidente, quando as artes liberais, que remontam às tradições greco-latinas, tiveram grande destaque na época do surgimento da universidade. Porém, na era moderna, especialmente no Iluminismo, ocorreu o abandono completo da cultura clássica para se estabelecer o ensino técnico-científico. Para Dawson é necessário restabelecer uma visão mais abrangente da educação, retornando às raízes culturais que formaram a cultura ocidental.

***

O Problema da Educação Brasileira. Cláudio Titericz. Editora ISA, 2022.

Sinopse: "Verifiquei que o ensino atual, centralizado e voltado exclusivamente para a economia, o qual muitos ainda pensam tratar-se de educação, considera os estudantes como seres humanos incompletos que têm uma finalidade muito diferente daquela dos gregos, dos cristãos ou da escola clássica. E uma pergunta me veio ao finalizar este estudo: será que temos uma saída para resgatar este ser humano e elevá-lo ao patamar que sua dignidade merece? este livro traz uma síntese de como responder esta questão, além de pretender introduzir o leitor no mundo da educação".




***

O Método Educativo de Dom Bosco. Mario Casotti. Editora IVE, 2022.

Sinopse: Não estamos diante uma pedagogia otimista ingênua, mas fundada em um realismo antropológico e teológico que considera o homem em sua integralidade horizontal e vertical; horizontal porque leva em conta todos os aspectos do ser natural: sensibilidade, inteligência, vontade, afetos etc. Vertical porque esse mesmo homem também tem uma dimensão que olha para cima, para o sobrenatural: uma pedagogia que integra fé e razão unidas pelo amor.

Esperamos que este livro possa ser um fermento de renovação para a pedagogia no Brasil; uma alternativa às teorias pedagógicas materialistas e imanentistas hoje imperantes em nosso sistema educacional. Em particular, fazemos votos para que o presente livro seja útil a todos aqueles interessados em conhecer as práticas e os princípios de uma autêntica pedagogia católica.

***

A Pedagogia de Santo Tomás de AquinoMario Casotti. Editora IVE, 2022.

Sinopse: O que há de mais vazio e superficial nas recentíssimas teorias pedagógicas, aquele contínuo encher a boca de palavras vãs e imprecisas, aquela conversa sem sentido de autoeducação, de liberdade, de “criação”, aquele ingênuo otimismo naturalista, que faz do aluno e da criança um semideus , encontrava já em Santo Tomás o crítico mais categórico e radical que se poderia desejar.

A pedagogia de Santo Tomás não foi estudada por nós com uma intenção arqueológica, diríamos, como para descobrir e exibir um monumento digno de um passado glorioso, mas para mostrar os numerosos e atualíssimos problemas que um pensamento eternamente jovem, próprio da juventude imortal da verdade, levanta quando é reconsiderado em relação às novas necessidades do espírito moderno.


***

Desconstruindo Paulo FreireThomas Giulliano (Org.). Editora ‏História Expressa, 2020.

Sinopse: Há três anos era lançado o “Desconstruindo Paulo Freire”. Após esse tempo, considerei necessário acrescentar novos textos nessa discussão teórica em torno do pedagogo mais conhecido de nosso país. Sintetizo essa necessidade como uma inquietação intelectual de querer materializar em um livro as novas pesquisas que realizei acerca da pedagogia de Paulo Freire. Na época em que pela primeira vez me deparei com os escritos de Paulo Freire, ainda não tinha o entendimento de sua repercussão. Ao longo desses anos de estudos, entendi que muitos que o criticam estão certos, mesmo desconhecendo o porquê. Gradativamente, percebi, leitura a leitura, que Paulo Freire é a personificação de que o nosso contemporâneo vive uma realidade paralela dos sentidos. Também descobri que as análises acerca da pedagogia freireana descoladas de uma massa amestrada ocupam a condição de demanda intelectualmente reprimida. Pertence a Paulo Freire o título de mentira selecionada que entrou para os anais permanentes das verdades tupiniquins. Em nosso estado de barbárie social, passou a ser tratado como a síntese de uma pluralidade, homem que congrega um conjunto de virtudes singulares, sinônimo de objeto inimputável, intelectual travestido de paladino das massas. Apesar de Paulo Freire ser um autor entediante, ao longo dos últimos meses, entendi que seria insuficiente deixar à disposição dos leitores apenas a versão de estréia do “Desconstruindo Paulo Freire”. Esta nova edição mantém as versões de todos os seus textos inaugurais. Esse método é motivado pela crença historiográfica de que eles são evidências de um tempo com história e representação próprias. Uma vez que o passado existe enquanto realidade temporal, não me agrada mutilar qualquer fonte histórica em busca de uma pretensa evolução investigativa. Prefiro escrever um novo texto a ter que alterar o material passado, independentemente de o escrito ter mais doses de erros ou acertos, pois, pensem comigo, tanto uma retratação quanto um aperfeiçoamento geram um novo texto. Percebam que caso eu mudasse o artigo “O patrono do pau oco”, ou qualquer outro escrito, perderíamos um texto original. Teríamos novos textos, melhores ou piores, mas não seriam os mesmos. Seus períodos de composição passariam a ser suplantados em busca de melhorias que comportam alguns limites. Palavras seriam substituídas, complementos teóricos desenvolvidos. Não considero isso justo com o que realizei editorialmente. Prefiro preservar até as páginas que explicitam a minha inquietude em desconstruir o patrono da educação de meu país logo em minha estreia editorial. Com esse entendimento, os esforços para a composição dos textos originais foram preservados. Como diz o historiador francês Paul Veyne: “O cão que é atropelado neste dia não é aquele que foi atropelado na véspera”. No fim das contas, tentei aprimorar os questionamentos sobre o método de Paulo Freire e a sua forma de conscientizar o aluno. Acredito que consegui.

***

O Método Pedagógico Dos Jesuítas: O Ratio StudiorumPadre Leonel Franca. Agir Editora, 1952, Edições Hugo de São Vitor, 2019 e Edições Kírion, 2019.

Sinopse: “No desenvolvimento da educação moderna o Ratio Studiorum ou Plano de Estudos da Companhia de Jesus desempenha um papel cuja importância não é permitido desconhecer ou menosprezar. Historicamente, foi por esse Código de ensino que se pautou a orga­nização e a atividade dos numerosos colégios que a Companhia de Jesus fundou e dirigiu durante cerca de dois séculos, em toda a Terra”.

Neste livro, o padre jesuíta Leonel Franca oferece-nos uma longa introdução ao Plano de Estudos da Companhia, expondo suas fontes e o processo de sua elaboração — pautado sempre na experiência concreta — e explica a sua metodologia de modo a nos revelar o valor permanente da educação jesuíta, voltada para seu elevado ideal. Apresenta-nos, em seguida, sua tradução do texto integral do Ratio Studiorum.

“Estudar um sistema pedagó­gico que tem em seu abono a prova decisiva de uma experiência mul­tissecular não é porventura empreender um trabalho com a segurança dos resultados mais positivos, com a certeza de deparar muitos destes elementos da pedagogia perene que mergulha as suas raízes nas pro­fundezas da própria natureza humana? Quantos problemas agitados pelos educadores modernos encontrariam, talvez, num princípio ou numa sugestão do Ratio, a inspiração bem-vinda de uma solução feliz?”.

***

Sobre alguns autores:

Henri-Irénée Marrou (1904–1977) foi um historiador da Antigüidade de currículo extenso e riquíssimo. Sua obra, além de seus títulos principais, se compõe de inúmeros ensaios, monografias, edições críticas e importantes colaborações a outras obras e revistas, como a Esprit de Mounier. Especialista na antigüidade tardia e no cristianismo primitivo, tratou também da filosofia e da teologia da história. Em 1937 defendeu sua tese doutoral Santo Agostinho e o fim da cultura antiga. Antes de se tornar, em 1945, catedrático de história do cristianismo na Sorbonne — onde permaneceu até 1975 —, lecionou nas Universidades do Cairo, de Nancy, Montpellier e Lyon. Foi um dos primeiros colaboradores da coleção de obras patrísticas Sources Chrétiennes, além de ter editado a Patristica Sorbonensia, coleção de trabalhos acadêmicos sobre os Padres da Igreja publicada pela Seuil. Músico amador, publicou artigos de musicologia sob o pseudônimo Henri Davenson.

Ruy Afonso da Costa Nunes nasceu em Sorocaba no dia 13 de maio de 1928. Bacharel e licenciado em filosofia, Doutor em educação e Livre-docente de filosofia e ciências da educação da Faculdade de Educação da USP, foi também catedrático de filosofia do Instituto de Educação Dr. Júlio Prestes de Albuquerque, professor fundador da antiga Faculdade de Ciências e Letras de Sorocaba, atual UNISO, e membro da Academia Sorocabana de Letras. Além dos quatro volumes de sua História da Educação — na Antigüidade Cristã (1978), na Idade Média (1979), no Renascimento (1980), e no Século XVII (1981) — publicou A formação intelectual segundo Gilberto de Tournai (1970), Gênese, significado e ensino da filosofia no século XII (1974) e A idéia de verdade e a educação (1978). Faleceu aos 11 de setembro de 2006, com 78 anos de idade, deixando uma imensa e rara biblioteca de aproximadamente 30.000 volumes.

Hugo de São Vitor (1096-1141) nasceu na Saxônia, território que hoje é a Alemanha, mas à época fazia parte do então Sacro Império Romano Germânico. Quando jovem, impelido pela vocação sacerdotal e aconselhado pelo tio, que era bispo, mudou-se para Paris e ingressou no Mosteiro de São Vítor, fundado por Guilherme de Champeaux, ex-professor de Teologia da escola anexa à Catedral de Notre Dame. Posteriormente, foi professor no mesmo mosteiro, assumiu sua direção e organizou a estrutura de sua escola de Teologia. Homem de talento, brilhante inteligência, notáveis santidade e vocação para a docência, instituiu uma prática pedagógica que conduzia à contemplação através da boa leitura, do diligente estudo e da meditação, e cuja finalidade era a santintificação e a perfeita preparação para o magistério.

Sua obra é extensa e uma das mais importantes de toda a história da educação, e compõe-se de tratados como o Didascalicon, sobre a leitura (provavelmente seu primeiro escrito), o Tratado dos Três Dias, muitos opúsculos – dentre os quais o conhecido Opúsculo sobre o modo de aprender e de meditar –, comentários a livros bíblicos e a primeira Suma Teológica de toda a tradição cristã, Os Mistérios da Fé Cristã (ou, De Sacramentis Fidei Christianæ).

Pe. Leonel Edgard da Silveira Franca, S.J. (1893–1948) nasceu em São Gabriel, no Rio Grande do Sul. Fez os primeiros estudos no Colégio Anchieta, em Nova Friburgo, no Rio de Janeiro, onde viria mais tarde a lecionar. Ingressou na Companhia de Jesus em 1908, e em 1910 iniciou o curso de letras próprio da formação dos jesuítas. Foi para Roma em 1912 para cursar o triênio de filosofia, na Universidade Gregoriana, e voltou para o Rio em 1915 exercer o magistério no Colégio Santo Inácio. Como um prolongamento de suas aulas desta época, publicou seu primeiro e famoso livro Noções de história da filosofia. Tornou a Roma em 1920 para cursar os quatro anos de teologia, sendo ordenado sacerdote em 1923, mesmo ano em que publicou A Igreja, a Reforma e a Civilização. Em 1924 doutorou-se em filosofia e teologia, e no ano seguinte completou a formação jesuítica em Oya, na Espanha. Estabeleceu-se definitivamente no Rio de Janeiro em 1927, onde publicou vários de seus livros, como A crise do mundo moderno e A psicologia da fé. Em 1931 foi um dos fundadores do Conselho Nacional de Educação. Em 1939 foi encarregado de criar a primeira universidade católica do Brasil, a PUC-Rio, da qual foi o Reitor até sua morte.

Christopher Dawson. Compreendendo uma coleção de ensaios e escritos que percorrem quatro décadas de uma brilhante carreira intelectual, Dinâmicas da História do Mundo se apresenta como uma obra que engloba o melhor de um dos maiores filósofos da história do século XX, o galês Christopher Dawson.

Embora seja praticamente desconhecido do público brasileiro, esse historiador, nascido no final do século XIX, foi um dos intelectuais mais completos de sua época, pois conseguia transitar com rara facilidade e sólida competência por entre quase todos os domínios das ciências humanas, abraçando os campos da sociologia, da antropologia, da filosofia e da teologia. Reconhecido por muitos, tanto nos Estados Unidos quanto na Grã-Bretanha, como uma das maiores autoridades na área de história da cultura ocidental, durante todo o seu período de gestação e consolidação na Idade Média e no Renascimento, Christopher Dawson deixará o leitor brasileiro surpreso com a profundidade com que desenvolve suas análises históricas, as quais nos revelam os mais preciosos tesouros das culturas, das civilizações e do papel do homem em suas constituições.

O pensamento histórico desse grande intelectual, como o próprio título da obra indica, se assenta em uma concepção singularmente dinâmica dos processos históricos, os quais estão em ininterrupto diálogo com forças espirituais e materiais, as quais por sua vez, ao se encontrarem temporal e espacialmente no homem, manifestam a própria história. Escritos ao longo de décadas extremamente difíceis e turbulentas para a Europa – entre 1920 e 1950 –, os ensaios de Dawson ainda possuem uma enorme atualidade para todos aqueles que se preocupam em salvaguardar as conquistas mais valiosas de nossa civilização contra os ataques das forças totalitárias que usam a impessoalidade das massas para usurpar a liberdade do indivíduo humano. Embora tenha sido convidado pela Universidade de Edimburgo, em 1946, para proferir as prestigiadas Palestras Gifford, além de ter assumido, em 1958, uma cátedra como professor de estudos católicos romanos em Harvard, Christopher Dawson sempre viveu fora do circuito acadêmico, participando como articulista, idealizador e editor de uma série de revistas e periódicos de cultura, os quais tinham o intuito de revitalizar o vigor espiritual da civilização ocidental, afastando-a dos perigos e das seduções das ideologias totalizadoras da modernidade.

Dawson escreveu mais de vinte livros e muitas dezenas de artigos e ensaios para revistas especializadas em história, sociologia, cultura e religião. Em Dinâmicas da História do Mundo o leitor encontrará, em escritos selecionados e organicamente articulados, uma trajetória completa da obra e do pensamento de Dawson, o qual nos apresenta uma visão espiritual abrangente e profunda sobre o homem e suas realizações culturais mais significativas. O leitor brasileiro terá a oportunidade única de vislumbrar o legado absolutamente valioso que a civilização, da qual ele faz parte, nos deixou (Maurício G. Righi).

***


Curta nossa página no Facebook Summa Mathematicae. Nossa página no Instagram.



Total de visualizações de página