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A Educação no Brasil - por Ruy de Ayres Bello

A Primeira Missa no Brasil,
quadro de Victor Meirelles (1860)

1. A EDUCAÇÃO NO BRASIL-COLÔNIA

A história da educação no Brasil começa com o ato de D. João III determinando a vinda dos padres jesuítas para a catequese dos primitivos habitantes do país. Os primeiros jesuítas chegaram ao Brasil com o governador Tomé de Sousa, em 1549, tendo como superior o padre Manuel da Nóbrega. Foram eles os padres Leonardo Nunes, Antônio. Pires, João Aspicuelta Navarro e os noviços Vicente Rodrigues e Diogo Jácome. Em 1550 vieram os padres Afonso Brás, Francisco Pires, Salvador Rodrigues e Manuel Paiva. Com esses novos elementos, pôde o padre Nóbrega fundar a primeira escola jesuíta do Brasil, um orfanato, localizado na Bahia e que se denominou de “Colégio dos Meninos de Jesus”. A este se seguiu, em 1553, o “Colégio dos Meninos de Jesus de S. Vicente”.

Numerosos estabelecimentos da mesma natureza foram, em breve, criados nos centros mais populosos da colônia.

Primitivamente, as condições materiais desses estabelecimentos eram as mais rudimentares (1). A matéria de ensino constava de catecismo, leitura escrita e cálculo. Material didático não existia. As lições eram preparadas em retalhos de papel que se distribuíam entre os alunos.

Como os índios não mandavam espontaneamente os seus “curumis” para a escola, os padres eram obrigados a caminhar grandes distância para recrutar alunos por entre as aldeias indígenas.

A finalidade da Companhia de Jesus não era, porém, o ensino primário, sim o secundário. Por essa razão, o “Colégio dos meninos de Jesus”, da Bahia, foi, em 1556, elevado a colégio secundário, de acordo com o plano pedagógico da Companhia, passando a denominar-se “Colégio de Jesus”. Dentro em breve, o mesmo aconteceu a todos os outros colégios jesuítas.

Pedagogos realistas, adotavam os jesuítas práticas educativas de acordo com a mentalidade dos índios e as realidades ambientes. Assim, foi que utilizaram. a música, o teatro, as festas pomposas e barulhentas, tão do gosto dos indígenas (2), como meios pedagógicos.

Apesar das necessidades encontradas, o trabalho educativo dos jesuítas produziu os melhores resultados. Segundo Afrânio Peixoto, decorridos vinte anos da vinda dos jesuítas, já havia nos seus colégios de S. Paulo, Rio, Bahia e Pernambuco “lentes que lêem gramática, lógica, latim e até uma hora de poesia do 2º livro da “Eneida”. Escrevendo para seus superiores do reino, podia Anchieta informar que os seus discípulos brasileiros sabiam melhor o vernáculo e o latim, de que muitos portugueses (3).

À proporção que a Colônia se desenvolvia, a obra da educação que, durante dois séculos ficou quase que exclusivamente a cargo dos jesuítas, “o elemento moral da colónia”, no testemunho autorizado de João Ribeiro (4), se foi intensificando e irradiando. Muitos colégios se fundaram, cada vez mais aperfeiçoados, com melhores instalações, o currículo mais vasto e aprofundado.

Toda essa obra educacional foi lançada por terra quando, em 1759, o Marquês de Pombal determinou a expulsão dos jesuítas, justificando o seu ato iníquo com alegações caluniosas contra os padres de Companhia e suas atividades catequéticas pedagógicas. Foram extintas todas as escolas e as missões de catequese deixaram de existir.

Para substituir o ensino jesuíta, foi instituído o ensino público, mantido graças a um imposto especial, o chamado “subsídio literário”. Mas as novas escolas, sem a autoridade moral dos padres da Companhia, logo se mostraram inteiramente ineficazes. Tamanha era a indisciplina, devida à incapacidade dos mestres improvisados, que houve necessidade várias vezes, de se apelar para a polícia, com o fim de se manter a ordem nas escolas. A decadência do ensino chegou a tal ponto que, segundo Pedro Calmon, em 1777, só existiam em toda a Bahia dois professores, havendo províncias, como Santa Catarina, em que não existia uma só escola pública. Em 1828, vemos os deputados à primeira Constituinte do Império, que deveriam estar bastante informados sobre o assunto, denunciando descalabros de nossa educação do fim da era colonial: Sousa França clama contra o “ensino sem escolas e sem mestres”; Carneiro Campos lamenta a “situação de miséria” dos poucos professores existentes; Duarte Silva protesta contra o fato de não existir uma só cadeira pública em Santa Catarina. E assim por diante.

A única exceção nesse estado de coisas era constituída pelos seminários católicos, que, desde os tempos coloniais, exerceram uma enorme influência na vida intelectual do Brasil. Na época da Independência, já existiam os seguintes seminários: Nossa Senhora da Lapa, São José, São Joaquim, no Rio; Nossa Senhora da Lapa, em Campos; de Itu, em Santana; Nossa Senhora da Glória, em São Paulo; o Seminário Episcopal e o dos Órfãos, na Bahia; o de Olinda, em Pernambuco, e o de Pará, na capital dessa província. A influência desses educandários na vida social e intelectual do Brasil foi muito grande. Do Seminário de Olinda, por exemplo, disse Oliveira Lima que “transformou as condições do ensino e, com estas, as condições intelectuais do Brasil” (5) e Capistrano de Abreu afirma que esse seminário exerceu uma “extraordinária influência na mentalidade pátria” (6). 

Com a vinda da família real, em 1808, verificou-se um certo interesse do governo em relação ao ensino superior, instituindo-se na Corte, a Escola Médico-Cirúrgica, O Liceu de Artes e a Academia de Marinha. Foi, também, criada a Biblioteca real. Entretanto, em relação ao ensino primário, e secundário, não se registrou qualquer iniciativa do governo.

2. A EDUCAÇÃO NO BRASIL, DURANTE O PRIMEIRO REINADO

Depois da Independência, verificou-se uma certa preocupação com os problemas educacionais de nossa. gente. Tanto que o primeiro projeto de Constituição, em 1823, estabelecia que deveria haver escolas primárias em cada termo, ginásios em cada comarca e universidades nos mais apropriados locais. A experiência veio mostrar quanto isso era a inexequível, pois ainda hoje, muito mais de um século decorrido, aquela grandiosa aspiração está longe de ser realizada.

A Constituição outorgada pelo imperador era mais modesta em matéria de educação, apenas. estabelecendo a gratuidade da instrução primária e atribuindo a qualquer cidadão o direito de abrir escola, sem qualquer exigência quanto à idoneidade profissional.

Nesse tempo, para suprir a falta de professores, foi adotado o sistema do ensino mútuo, de Lancaster, que consiste em dividir os alunos em classe de dez, ou decúria, ficando cada classe sob a responsabilidade de um aluno dos mais capazes. Mas esse sistema que, naquele tempo, era uma panacéia universal, não produziu os resultados esperados.

A 15 de novembro de 1827 foi promulgada a nossa, primeira lei orgânica do ensino, que entre outras coisas, estabelecia o seguinte: “Em todas as cidades, vilas e lugares mais populosos haverá escolas de primeiras letras que forem necessárias”... “Os professores ensinarão a ler, escrever, as quatro operações da aritmética, prática de quebrados, decimais e proporções, as noções mais gerais de geometria prática, a gramática da, língua nacional, os princípios da moral cristã e da doutrina católico, apostólica, romana, proporcionadas à compreensão dos meninos, preferindo para o ensino de leitura a Constituição do Império e a História do Brasil"... “Os que pretenderem ser providos nas cadeiras, serão examinados publicamente perante o presidente da Província, em conselho, e estes provarão os que forem julgados mais dignos e darão parte ao governo para sua nomeação legal”... “Só serão admitidos à posição e examinados os cidadãos brasileiros que estiverem no gozo de seus direitos civis e políticos, sem nota de culpa na regularidade da conduta.”... “Haverá escolas de meninas nas cidades, vilas e lugares mais populosos em que os presidentes das províncias, em conselho, julgarem conveniente este estabelecimento.”... Na província em que estiver à Corte, pertence ao Ministro do Império o que nas outras se incumbe aos presidentes”.

É claro que a maioria desses dispositivos ficaram só no papel, por serem impraticáveis, sobretudo por não haver professores que pudessem satisfazer as condições estatuídas pela lei, pois os mestres existentes eram apenas capazes de ensinar a ler, escrever e contar, sendo em geral, ignorantes das outras matérias do currículo.

Ainda no primeiro reinado, deve ser assinalada, como acontecimento dos mais notáveis na história da educação brasileira, a instituição dos “primeiros cursos jurídicos, criados pelo decreto de 11 de agosto de 1827, um em S. Paulo e outro em Olinda. Dois anos antes, havia sido criado um curso dessa natureza, na capital do Império, mas que não chegou à funcionar, sendo, depois substituído pelos de S. Paulo e Olinda.

Constavam esses cursos de 9 cadeiras, sendo de 5 anos a sua duração. Como condição para a matrícula, exigia-se à idade de 15 anos, no mínimo e a aprovação nos exames de língua francesa e latina, retórica, filosofia racional e moral, e geometria (7).

3. A EDUCAÇÃO BRASILEIRA NO SEGUNDO REINADO

Durante a Regência, foi, pelo ato adicional de 1834, transferida às províncias a administração do ensino primário, ficando com o poder central o ensino médio, em geral, e o superior, na Corte. Essa medida não trouxe nenhuma vantagem. Ao contrário, estando as províncias em condições ainda mais desfavoráveis de que o poder central, em face do problema da educação, este ainda mais se agravou com à descentralização administrativa. Em 1867 o conselheiro Liberato Barroso assim se refere aos resultados da descentralização: “as idéias descentralizadoras deram origem a esta disposição da qual até hoje o país não conheceu vantagem alguma. As Assembléias provinciais não têm cuidado dos importantes interesses da instrução pública: o ensino oficial oferece ainda hoje este espetáculo de anomalia e desordem que assusta os espíritos, porque nele se contemplam o descalabro e a ruína moral do país”.

Ainda durante a Regência deve ser registrada a primeira experiência do ensino normal, no Brasil. Em 1835, foi instalada no Rio uma escola destinada à formação dos professores. O corpo docente se resumia no próprio diretor, ao qual a lei atribuía função de ministrar todos os ensinamentos do curso, que eram: leitura e escrita, quatro operações de aritmética, quebrados, decimais e proporções; noções gerais de geometria prática; gramática da língua nacional; elementos de geografia e princípios de moral cristã. Os candidatos à matrícula deveriam ser cidadãos brasileiros, alfabetizados, maiores de 18 anos, tendo “boa morigeração”. Em 1846 o presidente da Província, Pedreira de Couto Ferraz suprimia a escola por falta de frequência. (8) Em 1859, foi restaurada a Escola Normal, do Rio de Janeiro, já então em bases mais sólidas e com mais favoráveis condições de eficiência. As cadeiras que constituíam a nova escola, cuja provisão deveria ser feita mediante concurso, eram as seguintes: 1 — língua nacional, caligrafia, doutrina cristã e pedagogia, 2 — aritmética, inclusive metrologia, álgebra até equação do 2º grau, noções gerais de geometria teórica e prática; 3 — elementos de geografia e história, principalmente do Brasil.

Um ano depois, foi fundada outra escola normal na Bahia, a qual foi reorganizada em 1862. Em 1864, foi fundada a de Pernambuco, seguindo-se no mesmo ano a da Paraíba; em 1869, a do Rio Grande do Sul e a do Espirito Santo; em 1871 a do Pará; em 1873, a do Amazonas; em 1874 as do Rio eram de do Norte e Paraná e em 1875 a de São Paulo.

Também no período regencial foi oficializado o ensino secundário, com a criação do Colégio Pedro II. Depois da expulsão dos jesuítas, o ensino secundário ficara reduzido às aulas avulsas criadas pela reforma do Marquês de Pombal e alguns raros institutos mantidos pelas províncias, entre estes o Liceu Provincial de Pernambuco, criado em. 1825 atual Colégio Estadual de Pernambuco. Em 2 de dezembro de 1837, o) governo regencial converteu em colégio secundário o seminário de S. Joaquim, dando-lhe a denominação de Colégio Pedro II. O currículo desse colégio constava de línguas latina, grega e francesa, retórica, botânica, química, física, álgebra, geometria e astronomia, não incluindo, porém a língua portuguesa... Em 1837 foi expedido o regulamento do colégio (9). 

Em 1854 foi reformada a instrução pública na Corte, sendo estabelecidas condições para o exercício do magistério particular, passou a ser fiscalizado pelo governo, Foram também cominadas penalidades para os pais que não mandassem os filhos à escola. Outras reformas foram, ainda feitas, mas sem maior importância.

Em 1879, verificou-se outra reforma do ensino, a reforma Leôncio de Carvalho, que visava, sobretudo, a conceder uma maior liberdade à iniciativa particular, no domínio da educação, para que, por esse meio, se incrementasse a abertura de escolas, que viessem remediar a situação de verdadeiro descalabro do ensino, naquela época, quando as estatísticas revelavam não ser superior a 2% da população do país o número de crianças matriculadas nas escolas.

No artigo 1.º, rezava o decreto de reforma: "É completamente livre o ensino primário e secundário no município da Corte, e o ensino superior em todo o império, salvo a inspeção necessária para garantir as condições de moralidade e higiene". Além disso, estabelecia o decreto a obrigatoriedade do ensino primário, para toda criança entre 7 e 14 anos; regulava o currículo da escola primária do 1.º e 2.º graus, de 6 e 2 anos, respectivamente; determinava que o governo subvencionaria o ensino particular e criaria escolas normais na Corte e nas províncias, como também, escolas profissionais; organizava o plano de estudos das escolas normais; criava normas para os exames vestibulares ao curso superior, estabelecendo que das comissões julgadoras deveria, sempre que possível, participar um membro do magistério oficial, sendo esses exames fiscalizados pelo governo; criava seis lugares de inspetores de alunos, como auxiliares do inspetor geral do ensino primário e secundário, na Corte; reorganizava o Conselho Diretor da Instrução Pública; dispensava a freqüência nas escolas oficiais, podendo os alunos comparecer, apenas para os exames; por fim, estabelecia o decreto aludido que, qualquer escola de iniciativa privada de grau superior, que, durante sete anos tivesse pelo menos 40 alunos concluintes, poderia ser considerada Faculdade Livre, equiparada para todos os feitos às oficiais.

Foi essa reforma que deu ensejo aos famosos pareceres sobre a instrução pública, de autoria de Rui Barbosa, pareceres de centenas de páginas, em que se abordam com inteira proficiência os mais diversos problemas de educação, desde a organização do ensino, à Metodologia, à Psicologia Educacional, à Biologia, à Sociologia da educação etc. Pode muito bem esse documento ser considerado, não só em ordem de antiguidade, como pela sua excepcional importância, como um dos mais completos tratados de Pedagogia geral que já se escreveram no Brasil

4. A EDUCAÇÃO BRASILEIRA NO REGIME REPUBLICANO

A primeira Constituição republicana apenas tratou de educação para definir atribuições, nisso se conformando com o dispositivo do Ato Adicional, que atribuía às províncias a manutenção do ensino primário e superior, ficando a cargo do governo central apenas o ensino secundário nacional e o ensino superior na, capital do país. Além disso, estabeleceu a Constituição a laicidade do ensino Oficial, dispositivo que, indevidamente interpretado, baniu da escola brasileira qualquer influência religiosa, tornando-a assim incapaz de atingir sua finalidade, principalmente em relação à formação da consciência e dos caracteres.

No regime republicano, inúmeras reformas tem sofrido o ensino oficial no Brasil, principalmente o ensino secundário, a cargo do governo federal. Dentre essas, citaremos as mais importantes.

Em 1890, vários decretos do governo provisório estabeleceram, entre outras medidas, a liberdade de freqüência e a faculdade dos exames cumulativos, resultando disso a maior prodigalidade na distribuição dos diplomas do curso superior, na capital do país. Em 1911, a lei Rivadávia Correia desoficializou o ensino, reservando-se o governo apenas “uma função fiscalizadora e orientadora. Foi criado o Conselho Superior do Ensino para fiscalizar e orientar o funcionamento das escolas. Outras reformas se sucederam, mas sem alterar substancialmente a situação: Apenas a lei Maximiliano, de 1915, modificou os dispositivos da lei anterior, referente ao exercício do magistério, estabelecendo exigências relativas à idoneidade profissional dos professores, coisa de que não cogitava a lei antiga. Além disso, foi estabelecido o regime de concurso para o provimento das cadeiras das escolas oficiais e fixadas condições para o reconhecimento do ensino particular. Essa lei trouxe ainda uma inovação: a dos exames preparatórios parcelados, permitindo-se que o curso secundário fosse feito em parcelas, por matérias escolhidas cada ano pelo estudante, independente da frequência escolar. Na lei Maximiliano havia um dispositivo que merece ser ressaltado, porque deu origens à instituição do regime universitário no Brasil. Nesse dispositivo se estabelecia que, quando julgasse oportuno, poderia O governo federal reunir em Universidade as Faculdades de Medicina e de Direito e à Escola Politécnica, mantidas pelo poder público na Capital Federal.

Em 1920 foi criada a Universidade do Rio de Janeiro, depois, Universidade do Brasil.

Em 1945, a reforma Rocha Vaz, entre outras medidas, instituiu o Departamento Nacional do Ensino.

Depois da revolução de 1930, veio a reforma Francisco de Campos que reorganizou quase completamente o curso secundário. Modificou-se o currículo, com a inclusão de novas matérias, criou-se o curso complementar, intermediário entre o ginasial e o superior, alterou-se o sistema de exames etc. Além disso, foi regularizado o exercício do magistério secundário, com o registro obrigatório dos professores, mediante certas. condições, e se reformou o Conselho Nacional do Ensino, que passou à denominar-se Conselho Nacional de Educação. 

Pelo decreto de 30 de abril de 1931, foi abolida a laicidade compulsória de ensino, permitindo-se, em caráter facultativo, o ensino religioso nas escolas, com o que se atendeu aos reclamos da consciência nacional, traduzidos num movimento de opinião que empolgou o país inteiro, e se abriram novas perspectivas para a educação do Brasil. Nesse mesmo ano, foi promulgada a lei orgânica das universidades brasileiras.

A última reforma do curso secundário, que estabeleceu o regime atual, foi devida ao Ministro Gustavo Capanema. Essa reforma não alterou substancialmente a organização do ensino estabelecida na lei Francisco de Campos.

Em 1937 foi instituída a primeira Faculdade de Filosofia, no Brasil, com sede no Rio de Janeiro, de iniciativa do governo federal.

RESUMO

A EDUCAÇÃO NO BRASIL-COLÔNIA. — Começou com à vinda dos jesuítas em 1549, os quais, fundaram, em 1550, o “Colégio dos meninos de Jesus”, na Bahia, ao qual se seguiram o de São Vicente e muitos outros. Essas escolas eram primárias passando, depois, a secundárias. Com a expulsão dos jesuítas, em 1759, a educação brasileira ficou completamente ao abandono, sendo os seminários católicos as quase únicas escolas existentes. Com a vinda da família real em 1808, tomaram-se algumas medidas em prol do ensino superior.

A EDUCAÇÃO BRASILEIRA NO PRIMEIRO REINO. — Em 1827, foi promulgada a primeira lei orgânica do ensino, e nesse mesmo ano era instalados os primeiros cursos jurídicos, um em São Paulo, outro em Olinda.

NO SEGUNDO REINADO. — Durante a Regência, foi descentralizado o ensino primário, medida que não trouxe nenhum benefício. Em 1835, foi feita a primeira experiência de ensino normal. Em 1837, foi oficializado o ensino secundário, com a criação do Colégio Pedro II. Em 1859, foi criada, definitivamente a primeira escola normal, no Rio, seguindo-se a da Bahia, a de Pernambuco, a da Paraíba, a do Rio Grande do Sul e várias outras.

NO REGIME REPUBLICANO. — O ensino primário continuou descentralizado, a cargo dos Estados. O ensino secundário e superior tem sofrido repetidas reformas, como as de Rivadávia Correia (1911) desoficializando o ensino e criando o Conselho Superior de Ensino; a de Maximiliano (1915), que permitiu os preparatórios parcelados, e permitiu a instituição de uma universidade. Em 1920, criou-se a Universidade do Rio de Janeiro, depois do Brasil. Em 1931, veio a reforma Francisco de Campos, que estabeleceu o curso secundário atual, apenas com as modificações da lei Capanema. Em 1931, foi revogada a laicidade obrigatória do ensino e em 1937, foi criada a primeira Faculdade de Filosofia.


Bibliografia

Almeida, Pires de, — “L'instructión publique au Brésil”. Rio de Janeiro, 1949.

Barbosa, Rui, — “Pareceres sôbre a reforma do ensino secundário e superior". Obras completas, vols, IX e X.

Calógeras, Pandiá. — “Formação histórica do Brasil”. Companhia Editora Nacional, 1935.

    — “Os jesuítas e o ensino”. Imprensa Nacional, Rio, 1911.

Calmon, Pedro. — “História social do Brasil”. Companhia Editora Nacional, 1937.

Filho, Lourenço. — “A pedagogia de Rui Barbosa”, Edições Melhoramentos 1956.

Leite, Serafim, S. J. — “História da Companhia de Jesus no Brasil”. Lisboa, 1938.

Moacir, Primitivo. — “A instrução primária e secundária no município da Corte, na Regência e maioridade”. Imprensa Nacional, Rio, 1924.

Morais, José Mariz de. — “Nóbrega o primeiro jesuíta do Brasil”, Imprensa Nacional, Rio, 1940.

Norton, Luís. — “A Corte de Portugal no Brasil”, Companhia Editora Nacional, 1938.

Peixoto, Afrânio. — “Noções de História da Educação”. Companhia Editora Nacional, 1933.

Prado, Paulo, — “Retrato do Brasil. F. Briguet & Cia. Rio, 1931.

Santos, Teobaldo de Miranda. — “Noções de História da Educação”. Companhia Editora Nacional, 1945.

Viana, Oliveira. — “Evolução do Povo Brasileiro”, Companhia Editora Nacional 1933.


Notas:

(1) Numa carta a Santo Inácio, assim descreve Anchieta uma dessas escolas: “Aqui estamos às vezes mais de vinte dos nossos, numa barraquinha de caniço e barro, coberta de palha, longa de catorze pés, larga de dez. É isto a escola, a enfermaria, dormitório, refeitório, cozinha e dispensa. Quando a fumaça da cozinha incomoda professores e alunos, a lição prossegue ao ar livre, porque é preferível sofrer o incômodo do frio, lá fora, do que o fumo aqui dentro”.

(2) Os nossos índios eram, como diz José Mariz de Morais, (“Nóbrega, o primeiro jesuíta do Brasil”, Imprensa Nacional, Rio, 1940) "Festeiros inveterados e doidos por música".

(3) João Ribeiro, “História do Brasil”, 11ª. edição, Livraria Francisco Alves, Rio.

(4) Vide Afrânio Peixoto, “Noções de História da Educação” Companhia Editora Nacional, São Paulo, 1933.

(5) “A revolução de Pernambuco em 1817”.

(6) Apud Clóvis Beviláqua, “História da Faculdade de Direito do Recife”.

(7) Era o seguinte o currículo desses primeiros cursos jurídicos: 1º Ano, — Primeira Cadeira: — Direito Natural, análise da Constituição do Império, Direito das Gentes e Diplomacia; 2º Ano — Primeira Cadeiras — Continuação das matérias do ano anterior; Segunda Cadeira: — Direito Público eclesiástico; 3º Ano — Primeira Cadeira: — Direito Pátrio Civil; Segunda Cadeira: — Direito Pátrio Criminal, com teoria do processo criminal; 4º Ano — Primeira Cadeira: — Continuação do Direito Pátrio Civil; Segunda Cadeira: — Direito Mercantil e Marítimo; 5º Ano — Primeira Cadeira: — Economia Política; Segunda Cadeira: — Teoria e prática do processo adotadas pelas leis do Império.

(8) Justificando o seu ato, alegava Couto Ferraz que a Escola havia falhado quase completamente, apenas tendo formado, nos seus 10 anos de funcionamento, 4 ou 5 professores, não conseguindo criar nos alunos “os hábitos de mediania, de retiro e de ordem, que são necessários para o seu viver medíocre, nas freguesias do Interior, não lhes dando educação prática, isto é, educação adequada à vida que devem seguir”. Argumentos valiosos, mas que se prevalecessem hoje, justificariam o fechamento de muita Escola Normal da atualidade...

(9) Desse regulamento constava o seguinte: Atribuições dos professores: "ensinar aos seus alunos as letras e ciências, na parte que lhes couber, como, também, quando se oferecer ocasião, lembrar-lhes seus deveres para com Deus, para com seus pais, pátria e governo; entregar cada sábado ao vice-reitor um mapa sobre o procedimento e trabalho dos alunos; entrarem nas aulas vestidos decentemente, nas horas prescritas, imediatamente antes da entrada dos alunos; é-lhes proibido aceitar dos alunos retribuição ou presente de qualquer natureza que seja”. Condições de matrícula: idade pelo menos de 8 anos e de 12 quando muito; saber ler, escrever e as quatro operações da aritmética; atestado de bom comportamento e de vacina. Disciplina: privação de recreio, de passeio, de saída, trabalho extraordinários, prisão, privação de férias, vestir roupas às avessas, expulsão.

***

Trecho retirado de Pequena História da Educação, Ruy de Ayres Bello, Editora do Brasil, 1969.


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Lista de livros sobre a Educação verdadeira - parte 3

Still Life with Books and Candle -
Henri Matisse - 1890


Esta já a parte 3 dessa Lista que está sendo a mais lida deste blog. A lista 1 (disponível aqui: parte 1) e lista 2 (disponível aqui: parte 2) começaram com uma simples lista com alguns livros em língua portuguesa sobre educação. Agora trago uma parte 3. O critério daquela lista foi e continua sendo o mesmo: livros sobre educação que não contivessem influências ideológicas e que estivessem preocupados em explanar sobre uma verdadeira educação. Novamente muitos desses livros foram publicados pela primeira vez ou republicados recentemente no Brasil. Obviamente esta lista complementa e amplia as listas anteriores.

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História da Pedagogia - Vol. 1: Da Antigüidade à Patrística. Louis Riboulet. Editora Liceu, 2020 e Editora Paulo de Azevedo, 1951.

Sinopse: Entre os povos não civilizados, a educação se apresenta sob a mais simples das suas formas: não há escolas propriamente ditas, nem programa de estudos; imitação servil é o único método empregado.

A formação da juventude é instintiva, rotineira e limitada somente às coisas que têm por objeto a satisfação das precisões materiais: alimentação, vestuário, abrigo. Sob a direção dos pais, o menino se inicia, pouco a pouco, nas várias ocupações da tribo: Cuidados da casa, fabricação de utensílios, tecelagem de vários panos, pesca e caça, manejo de armas, guarda dos rebanhos, trabalhos agrícolas.

Não obstante, este modo de proceder implica uma espécie de educação intelectual e até o cultivo de certas qualidades morais. É possível, portanto, depreender desta formação rudimentar alguns traços da educação como nós a concebemos, isto é, ocupando-se ao mesmo tempo do corpo, da inteligência e da alma, em geral.

— A Antigüidade

Os Padres da Igreja, eminentes em santidade como em doutrina, tiveram por missão explicar as verdades da religião, defendê-las contra os ataques de pagãos e hereges e lançar os fundamentos da doutrina católica. Não se desinteressaram dos estudos estranhos à religião. Foram amigos e ardentes propagadores das letras, ciências e artes, e todos se distinguiram por alta cultura clássica.

Do ponto de vista da educação, os Padres se aplicaram principalmente a conciliar a ciência profana com a doutrina moral e religiosa dos cristãos. Tendo eles próprios haurido, nas escolas romanas, a brilhante educação que lhes dava tanta influência, na Igreja, julgavam o estudo dos clássicos indispensável. Por outro lado, os chefes da Igreja nunca proibiram estudar os autores gregos e romanos nem os ensinar.

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História da Pedagogia - Vol. 2: Do Período Monástico ao Renascimento. Louis Riboulet. Editora Liceu, 2020 e Editora Paulo de Azevedo, 1951.

Sinopse: Terminou o quinto século em calamidades de toda ordem. Nuvens de bárbaros caíram sobre a Europa; saqueando, incendiando as cidades, não deixando atrás de si senão sangue e ruínas. As obras-primas da antigüidade teriam perecido, as escolas teriam desaparecido se a Igreja não as tivesse salvado e protegido.

“O espírito humano, pode-se dizer sem exagero, batido pela tempestade, refugiou-se nas igrejas e nos mosteiros; abraçou suplicante os altares para viver em seu abrigo e a seu serviço até que melhores tempos lhe permitissem reaparecer no mundo e respirar ao ar livre”.

(Guizot, História da civilização na França, I. p. 137).

O nome de monástico, dado ao período que se estende do sexto ao duodécimo século está, portanto, amplamente justificado.

— Período Monástico

Uma admiração excessiva da Antigüidade leva os humanistas neopagãos ao desprezo da Idade Média. Consideram época de barbárie todos os séculos que os separam da Antigüidade e dão sentido pejorativo ao termo Idade Média. A escolástica, de que não conhecem senão os abusos e as obras da decadência, é objeto principal dos seus ludíbrios. Petrarca ridiculariza os doutores em silogismo “inchados de nada, trabalhando no vácuo e exercitando-se em futilidades”. Ramus passa parte da vida a rebater as antigas doutrinas.

Segundo Montaigne, é Baroco e Baralipton que tornam as bases da filosofia tão enlameadas e enfumaçadas. Rabelais não compreende melhor as obras da grande época escolástica; admira-se, no meio das luzes de seu tempo, de encontrar ainda gente “que não pode ou não quer tirar os olhos desse nevoeiro gótico e cimeriano".

— O Renascimento

***


História da Pedagogia - Vol. 3: Do século XVII ao século XIX. Louis Riboulet. Editora Liceu, 2020 e Editora Paulo de Azevedo, 1951.

Sinopse: No século XVII, muitos países foram perturbados por divisões e questões muito nocivas aos interesses da educação. Na Inglaterra, terrível guerra civil fez cair no mais completo descrédito a maior parte das escolas. O ensino tornou-se o recurso supremo daqueles que haviam malogrado em tudo. O diretor se desembaraçava do trabalho confiando-o aos mestres subalternos.

Barbeiros e açougueiros fizeram fortuna mantendo escolas. O desgosto pelo estudo tornou-se tal que os filhos dos gentis-homens se gloriavam de nada

saber. “Juro, dizia um nobre, que antes de fazer de meu filho um mestre-escola, o enforcaria. Fazer ressoar a buzina, entender de caçadas, levar bem o falcão e adestrá-lo, eis o que assenta bem a filho de gentil-homem. Quanto ao saber que se busca nos livros, deve-se deixar aos vadios”.

— O século XVII

Não é fácil formar juízo definitivo sobre o século XIX. Os fatos são por demais complexos e estão muito próximos de nós; seus resultados não são suficientemente conhecidos. Certos sentimentos estão muito vivos ainda, nas almas, para permitirem apreciações imparciais. Todas as nações têm aberto escolas numerosas. A sociedade civil, a Igreja Católica com suas legiões de sacerdotes e suas admiráveis Congregações docentes, as várias seitas cristãs, se têm dedicado a estas obras com um devotamento sem limites. Nunca se compreendera melhor a obrigação de difundir a luz, de dar a todas as classes da sociedade instrução sólida e variada.

Esta evolução das obras escolares se nota sobretudo na Europa e nos países sujeitos à influência das nações civilizadas. A América do Norte se tem distinguido de modo particular e, a certos respeitos, tem até excedido o antigo continente.

***


História da Pedagogia - Vol. 4: O século XIX. Louis Riboulet. Editora Liceu, 2020 e Editora Paulo de Azevedo, 1951.

Sinopse: O programa da Idade Média compreendia as Sete Artes Liberais. No século XVI se organizou o ensino das humanidades e, em seguida, alguns educadores de tendências naturalistas o julgaram pouco conforme às realidades da vida.

No século XVIII, a Alemanha abriu as primeiras escolas reais. Maria Teresa, influenciada pelo Emílio, diminuiu, nos colégios, a parte consagrada ao classicismo. Na França, os Enciclopedistas e os pedagogos da Revolução, especialmente Diderot, Lakanal, Dauneu, Condorcet, pedem a substituição das humanidades por estudos científicos. No século XIX, o ensino moderno penetrou em todo os países civilizados.

Seria injusto contestar a necessidade desse ensino. Mas o que não se admite é que tenha o mesmo valor educativo que as humanidades clássicas. Estas têm a seu favor os mais magníficos resultados. Devemos a esses métodos, dizia Voltaire, “os nomes mais célebres do nosso país”, em particular os grandes escritores, a maior parte dos inventores e dos sábios mais ilustres dos três últimos séculos. Em nossos dias, um exame desinteressado tem verificado que os alunos que têm as melhores classificações para admissão às escolas superiores, com impressionante maioria, foram os que tinham cursado antes as humanidades clássicas.

Acrescentemos que os partidários do ensino moderno pareciam não ter em vista senão vantagens econômicas e materiais. Tem-se até pretendido que certos adversários dos estudos clássicos agiam sob a influência de duas paixões: a da igualdade, que não toleraria nem mesmo a aristocracia da inteligência; e a da irreligião, que acha meio de prejudicar a Igreja abolindo o ensino do latim.

Esta luta do cientificismo contra o ensino tradicional não tem dado bons resultados.

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O Amor às letras e o desejo de Deus: Iniciação aos autores monásticos da Idade Média. Jean Leclercq. Paulus, 2012.

Sinopse: Este é um livro de iniciação aos autores monásticos da Idade Média dirigido a estudantes. Publicado pela primeira vez em 1957, impôs-se como um clássico não só pela solidez das informações e acuidade das percepções, mas também pela autenticidade da atitude intelectual que traduz: rigor científico e interesse por um saber aberto sobre as questões essenciais da existência humana. Dividida em  três partes, a obra é composta por uma série de lições dadas a jovens monges do Instituto de Estudos Monásticos do mosteiro de Santo Anselmo, em Roma, durante o inverno de 1956-1957.



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A Educação Superior e o Resgate Intelectual. O Relatório de Yale de 1828Universidade de Yale, Giovanna Louise (Tradutora). Vide Editorial, 2016.

Sinopse: Em 1828 foi pedido ao corpo docente da Universidade de Yale que avaliasse a necessidade de se insistir nos estudos clássicos e de línguas antigas como parte do programa acadêmico da instituição, dados os avanços industriais dos novos tempos e suas novas demandas.

Após expor o currículo adotado até então naquela instituição, justificados seus princípios e defendidos seus objetivos, o corpo docente conclui que seria uma tragédia anunciada substituir o ensino clássico por uma espécie de ensino profissionalizante.

É indiscutível a perspicácia de tal análise e a importância que este documento de Yale tem principalmente hoje em dia, visto que se vive em meio justamente à tragédia acadêmica anunciada em 1828.

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A conexão de Leipzig. A destruição sistemática da educação americana. Paolo Lionni. Vide Editorial, 2020.

Sinopse: Nos últimos anos do século XIX, teve início uma grande transformação na educação americana.

Depois da Primeira Guerra Mundial, o povo americano notaria cada vez mais uma grande mudança nos rumos da educação dada a seus filhos. Nas décadas seguintes, as mesmas escolas que haviam nutrido o sonho americano seriam assoladas pelo crime e pelas drogas, e os colégios passariam a formar alunos semi-analfabetos que mal sabiam aritmética básica.

Este livro descreve essa metamorfose, que teve início numa universidade alemã com o trabalho do psicólogo Wilhelm Wundt e culminou na atuação do educador americano John Dewey.


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A Escola sem Deus. Monsenhor de Ségur. Editora Santa Cruz 2022. Edições Livre, 2018.

Sinopse: Louis Gaston Adrien de Ségur, sacerdote e escritor francês, nascido e falecido em Paris (15/04/1820 – 9/06/1881). Descendente de uma família nobre, era filho do marquês Eugène de Ségur e da célebre condessa de Ségur, conhecida escritora de livros infantis. Zeloso nos estudos, logo que se formou em Direito foi enviado como adido à Embaixada Francesa em Roma, junto à Santa Sé. Ao retornar a Paris, ingressou no Seminário de Santo Sulpício, sendo ordenado sacerdote em dezembro de 1847. Dedicou-se principalmente à evangelização das crianças e dos pobres, assim como dos soldados prisioneiros de guerra. Foi muito estimado pelo Papa Pio IX, por muitas autoridades eclesiásticas e diplomáticas, e até mesmo por Napoleão III.

Em 1856, Mons. de Ségur teve um grave problema na visão que o levou à cegueira e o obrigou a renunciar às suas funções. Chegou a ser nomeado bispo, mas não recebeu a ordenação episcopal, impedido por sua condição. Com a cegueira, passou a ditar livros explicando - e defendendo com fervor - a doutrina católica em linguagem popular. Escreveu mais de 70 livros, e até o momento de sua morte, em 1881, suas obras somavam mais de 700 mil cópias vendidas apenas na França e na Bélgica, sem contar as edições em italiano, espanhol, alemão, inglês e até mesmo na língua hindu.

O livro A escola sem Deus foi escrito em 1872. Nessa obra, Mons. de Ségur fala da importância da educação católica, defendendo que o ensino deve ser cristão, e não laico. Ou seja, as escolas, principalmente no nível de instrução básica, necessariamente precisam ser católicas, considerando que, entre outros fatores, as crianças passam grande parte de suas vidas dentro das escolas, e assim os professores teriam que auxiliar os pais e os sacerdotes na formação cristã das crianças. Entre outras coisas, diz Mons. de Ségur: “... Na prática, não tratar da religião na escola é tornar impossível a instrução religiosa das crianças!”

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A boa e a má educação: exemplos internacionais. Inger Enkvist. Edições Kírion, 2020.

Sinopse: Este livro tem o propósito de explicar em que consiste a boa qualidade educacional. Para isso, estudaremos vários sistemas escolares, tanto os que dão bons resultados como os que dão maus, trazendo dados da França, Finlândia, Estados Unidos, Suécia, Japão, China e Espanha. Por meio desse percurso comparativo, e com o auxílio de uma porção de relatos e de estudos acadêmicos de disciplinas variadas, tentaremos mostrar por que o modelo educacional em vigor em muitos países ocidentais não funciona.

Para entender o que aconteceu com a educação do Ocidente nos últimos anos é essencial estudar os conteúdos e métodos de todo um conglomerado de pedagogias que poderíamos chamar de “libertárias” ou “progressistas”, e que, na falta de nome melhor, chamaremos sinteticamente de “nova pedagogia”. 

A tônica deste livro, porém, não é a crítica generalizada desse conjunto, mas destacar, para todo leitor livre de preconceitos, que tipo de práticas são mais recomendáveis — e como, curiosamente, muitas delas coincidem com o que foi a educação tradicional do Ocidente.

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Educação: Guia para perplexosInger Enkvist. Edições Kírion, 2019.

Sinopse: Com este guia, a pedagoga sueca Inger Enkvist ajuda pais, professores e alunos a compreender as causas dos fenômenos estranhos que temos visto em nossas escolas, como a queda vertiginosa de sua qualidade, o desrespeito pelos professores e a substituição do ensino tradicional por práticas suspeitas. Com coragem e elegância, ela expõe as contradições intrínsecas do igualitarismo, do multiculturalismo e do construtivismo, e apresenta os resultados concretos a que levaram as idéias de autonomia, de tolerância, inclusão e outras.

“Um aspecto essencial do presente livro é a denúncia do tabu que impede mencionar a relação entre a crise da educação no Ocidente e o igualitarismo permissivo que desprezou o aprendizado como idéia estruturante da educação, ou, em outras palavras, a combinação do igualitarismo com a nova pedagogia. [...] A crise da educação se deve a uma visão igualitarista, tecnológica e economicista da mesma, que não valoriza suficientemente o conhecimento em si nem o aluno em si, mas a igualdade entre os alunos e o bom funcionamento da economia”.

“Os professores estão sendo utilizados para fins políticos e sociais, e percebem vagamente que estão sendo manipulados pelas autoridades políticas. Na educação tradicional eram vistos como profissionais com a clara missão de elevar o nível educacional de seus concidadãos. Eram modelos, respeitados pelos alunos e por seus pais. Os estruturalistas e os pós-estruturalistas vêem os professores como uma mera função. Poucas vezes se leva em conta sua opinião profissional sobre como se deveria organizar a educação, e são obrigados a obedecer às instruções dos políticos”.

Sobre a autora: Inger Enkvist (1947–) é professora de literatura espanhola na Universidade de Lund, na Suécia. Já publicou estudos sobre Miguel de Unamuno, José Ortega y Gasset, Mario Vargas Llosa e outros, além de vários livros sobre educação, em sueco e em espanhol. Nestas obras, critica as bases ideológicas da nova pedagogia, demonstra seus maus resultados e suas conseqüências malignas para a cultura ocidental como um todo, e apela para a recuperação de elementos da pedagogia tradicional, como o valor do conhecimento, da dedicação do aluno e da autoridade do professor competente.

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Maquiavel Pedagogo ou o ministério da reforma psicológica. Pascal Bernardin. Editora: Ecclesiae, 2013.

Sinopse: Quais são as razões da profunda crise na escola? É possível encontrar uma espécie de vírus no gene de nossa sociedade e de nosso sistema educativo? Podemos concluir que é urgente uma redefinição do papel da escola e de suas prioridades?

Inúmeros pais e educadores, testemunham, estupefatos, a revolução em curso. Interrogam-se sobre as profundas mutações que de forma acelerada vêm ocorrendo em nosso sistema educativo. Porém, nenhum governo, seja de direita ou de esquerda, vem à público esclarecer os fundamentos ideológicos dessas constantes reformas no ensino e tampouco se preocupam em apresentar, de forma clara, as coerências e os objetivos dos métodos adotados.

Mas, ainda que tudo nos pareça muito obscuro, podemos encontrar todas as respostas na filosofia da revolução pedagógica que se expõe, em termos explícitos, nas publicações dos organismos internacionais como a Unesco, a OCDE, o Conselho da Europa, a Comissão de Bruxelas e tantas outras. Apoiando-se sobre textos oficiais desses organismos, Pascal Bernardin mostra detalhadamente que o objetivo prioritário da escola atual não é mais possibilitar aos alunos uma formação intelectual e muito menos fazê-los adquirir conhecimentos elementares.

O que se pretende com a redefinição do papel da escola é torná-la nada mais do que o instrumento de uma revolução cultural e ética destinada a modificar os valores, as atitudes e os comportamentos das pessoas em escala mundial. As técnicas de manipulação psicológica, que não se distinguem muito das técnicas de lavagem cerebral, estão sendo utilizadas de forma maciça. Naturalmente, os alunos são as primeiras vítimas.

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O código da educação: Uma história verdadeiraAntônio Donato Paulo Rosa. Editora Pie Pellicane, 2022.

Sinopse: No primeiro milênio da era cristã o cristianismo estava em vertiginosa ascensão. Santo Agostinho descrevia assim seu assombro diante da irreversível cristianização do mundo:

"Pelas cidades e bairros, e até pelos campos, deseja-se o afastamento do mal e a conversão ao único e verdadeiro Deus. São inumeráveis os que deixam as riquezas e as honras do mundo, desejosos de consagrar a sua vida ao Deus supremo. Todas estas coisas são agora acolhidas de tal modo que, se antes era impensável argumentar a seu favor, agora o é colocar-se contra elas. Ninguém já se admira de tantos milhares de jovens renunciarem ao matrimônio e abraçarem a vida cristã. As igrejas estão se multiplicando com fertilidade e abundância, até mesmo entre os povos bárbaros" (S. Agostinho: De Vera Religione, 4).

Mas, no segundo milênio, o Papa João XXIII descrevia e outro modo o mundo moderno:

"Estamos em um mundo de fisionomia profundamente mudada, em meio a uma procura quase exclusiva de bens materiais, no esquecimento, ou no enfraquecimento, dos princípios da ordem espiritual, que caracterizaram a penetração da civilização cristã através dos séculos" (SS. João XXIII: Alocução de 14 de novembro de 1960).

As origens deste fenômeno remontam aos anos entre 1300 e 1600. A sociedade transformou-se radicalmente. A natureza dos acontecimentos dificultou o entendimento do que acontecia. A partir daí, estas transformações incoporaram-se à educação. A educação reproduz a sociedade existente, formando os homens para a sociedade existente ou, como ocorreu com o cristianismo, para formar uma nova. Se não se entende claramente a transformação ocorrida na sociedade e como ela se incorpora e se reproduz na escola, os erros do início somente serão percebidos em suas consequências quando já não houver mais lembrança do que realmente ocorreu.

O Código da Educação narra como a escola se adequou à nova configuração social e como se perdeu a noção do que seria a educação cristã e sua relação para com a estrutura social.

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A Educação na Antiguidade: Uma introdução ao amor da sabedoriaAntônio Donato Paulo Rosa. Editora Pie Pellicane, 2024.

Sinopse: Que pensamos nós sobre a natureza? 

A natureza certamente é repleta de mistérios. Mas isto significa que pretende dizer-nos algo?  E teríamos nós sido feitos precisamente para compreender esta mensagem? 

A visão que hoje fazemos do mundo nos sugere que a natureza surgiu por forças agindo ao acaso e que os homens, graças a muito progresso, estão alcançando pleno domínio sobrea natureza. Esta visão contrasta com a de um povo que, muito antes de Cristo, observou a natureza e descobriu que ela parece querer comunicar-nos algo, e que os homens mal alcançaram, diante dela, a primeira infância. 

Este livro quer apresentar a epopéia deste povo. Quer mostrar como seus achados foram tão facilmente acolhidos pelo Cristianismo. E também como, mais tarde, foram tão facilmente esquecidos. 

Houve uma época em que um povo buscou apaixonadamente a sabedoria. Uma multidão de cidadãos vendia tudo o que tinha para  viver contemplando a natureza. Eles  haviam percebido que a natureza era muito coerente, parecia ter um segredo e querer mostrá-lo para os homens. Especialmente para os homens.  A própria natureza parecia tê-los feito para isto. Estas pessoas buscavam entender o segredo da natureza mas não para construir uma máquina ou fazer dinheiro. 

Pouco a pouco perceberam que toda a natureza  tinha uma só ordem, que esta era ordenada por um único princípio e dentro desta grande ordem, cada coisa parecia dirigir-se a um fim. Todas as formigas constroem um formigueiro. Todas as abelhas constroem uma colméia. E o fim de cada coisa está em harmonia com a ordem maior de toda a natureza. Todas as coisas parecem saber qual é o seu fim e como este fim se sincroniza com os fins das demais coisas. 

Em toda esta ordem, porém, o homem parecia ser uma exceção. Talvez a única exceção. Justamente o homem. Os seres humanos não parecem agir como se estivessem se direcionando a algum fim. Ao contrário da formiga e da abelha, o homem nunca parece estar satisfeito com o que faz. Nem sequer parece supor que possa existir algo específico que devesse fazer para encaixar-se na ordem natural. Era um mistério como, em meio à ordem natural, pudesse haver um ente, que parecia ser o mais perfeito e a obra-prima da natureza, e era justamente este o que parecia não saber o que fazer. Como se explicaria isto? Estava aí um mistério dentro da natureza. Tudo tão bem sincronizado, mas o homem, justamente o homem, fora daquela grande sincronia. 

O que provavelmente deveria estar acontecendo é que tal finalidade deveria ser algo tão elevado que somente poderia ser alcançada com plena consciência da inteligência e plena liberdade da vontade. Portanto, para que o homem pudesse cumprir o objetivo que a natureza devia ter-lhe traçado, teria primeiro que compreender, pela luz da inteligência, sua própria natureza e o modo como ela se insere na ordem natural, e depois aceitar ambas estas coisas livre e conscientemente.

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Aprendendo Inteligência: Manual de instruções do cérebro para estudantes em geral 1Pierluigi Piazzi. Editora Aleph, 2015.

Sinopse

Durante muito tempo, acreditou-se que a inteligência fosse uma característica inata. O fator genético era considerado bem mais influente do que o fator ambiental. Porém, devido aos avanços da neurociência, ficou demonstrado que inteligência, talento e vocação são características que podem ser adquiridas com facilidade e um pouco de esforço. Neste livro, dedicado aos estudantes de todos os níveis, o Pierluigi Piazzi (conhecido carinhosamente pelos seus alunos como Prof. Pier) ensina a usar a inteligência para se tornar uma pessoa mais inteligente.



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Estimulando Inteligência: Manual de instruções do cérebro de seu filho 2Pierluigi Piazzi. Editora Aleph, 2015.

Sinopse:

As mais recentes descobertas das neurociências mostram que a inteligência pode ser aprendida, e que esse fato não se dá durante as aulas, mas sim no momento do estudo individual, extraescolar. Desde as primeiras semanas de vida, cabe aos pais dar carinho e fornecer estímulos para o despertar da inteligência de suas crianças. Essa interação entre pais e filhos representa um fator determinante para um maior desenvolvimento intelectual. Por isso, o papel da família torna-se crucial, e este livro busca orientar os pais nessa jornada. Estimulando Inteligência mostra como criar um ambiente doméstico e escolar que estimule o aumento do nível de inteligência das crianças, dos jovens e até dos adultos.


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Ensinando Inteligência: Manual de instruções do cérebro de seu aluno 3Pierluigi Piazzi. Editora Aleph, 2015.

Sinopse:

Ao longo da vida profissional, quantas vezes um professor não se depara com um ótimo aluno, mas péssimo estudante? O sistema escolar muitas vezes tende a valorizar aquele que decora conteúdo para tirar uma boa nota, e não necessariamente aquele que aprende de verdade. Ensinando inteligência, livro baseado em mais de cinquenta anos de experiência em sala de aula de Pierluigi Piazzi, apresenta a seus colegas de profissão as inovadoras técnicas das neurociências para estimular de forma eficiente o cérebro de seus alunos, transformando-os, finalmente, em estudantes.



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A idéia de uma universidadeSão John Henry Newman. Ecclesiae, 2020.

Sinopse: Em 1852, o Cardeal Newman foi convidado a proferir uma série de discursos em Dublin, na Irlanda, a respeito da essência do ensino universitário. Dar-se-ia aí a fundação de uma Universidade Católica, da qual ele foi o reitor de 1854 a 1858, supervisionando os projetos e a própria construção do campus. Mais tarde, esses discursos, unidos a palestras e ensaios ocasionais dirigidos aos membros dessa mesma universidade, viriam a ser unidos pelo autor neste livro, A idéia de uma universidade.

“A visão de uma universidade nestes discursos é a seguinte: trata-se de um lugar de ensino do conhecimento universal. Isso implica que seu objetivo é, por um lado, intelectual, não moral; e, por outro, que ele gira em torno da difusão e ampliação do conhecimento, e não de sua promoção. Se seu objetivo for a descoberta científica e filosófica, não vejo por que uma universidade ter alunos; se for a prática religiosa, não vejo como ela pode ser a sede da literatura e da ciência. Assim é uma universidade em sua essência, independentemente de sua relação com a Igreja.

Na prática, porém, ela não tem como cumprir devidamente seu objetivo, conforme descrito acima, sem a assistência da Igreja; ou, para usar o termo teológico, a Igreja é necessária para sua integridade. Tais são os princípios centrais dos discursos que se seguem, embora seja absurdo esperar que eu tenha abordado um campo de pensamento tão vasto e importante com a plenitude e a precisão necessárias”.

Sobre o autor: John Henry Newman nasceu em 1801, em Londres. Estudou no Trinity College (1816) e no Oriel College (1822), ambos na Universidade de Oxford, onde mais tarde viria a lecionar. Adepto do celibato, foi ordenado sacerdote na Igreja Anglicana em 1825. Foi um dos líderes do “Movimento de Oxford” (1833), que, por meio de panfletos, defendia a continuidade entre a doutrina dos apóstolos e o anglicanismo, mas pregava uma regeneração dos costumes e da própria igreja na Inglaterra. Seu interesse genuíno pela história do cristianismo e pelo desenvolvimento da doutrina cristã o levou, contudo, ao estudo dos Santos Padres e da fé católica, à qual ele se converteu em 1845.

Aos 8 de outubro desse ano, tendo deixado seu posto de tutor e professor em Oxford, Newman confessou-se e foi recebido na Igreja de Cristo. Passou a ser ignorado, evitado, a ser alvo de maledicência, deixou de ser convidado para os círculos que freqüentava... Parte no ano seguinte para Roma, onde é ordenado sacerdote católico, em 1847. Ao voltar para a Inglaterra, levou consigo a força e o testemunho da fé verdadeira: estabeleceu em Birmingham o primeiro oratório de São Felipe Néri do mundo anglófono, e começou a escrever àqueles que antes liderara no Movimento de Oxford, encorajando-os a levarem a cabo sua busca pela verdadeira Igreja e a se converterem.

Em 1852, foi convidado a dar uma série de palestras em Dublin, na Irlanda, a respeito da essência do ensino universitário. Dar-se-ia aí a fundação de uma Universidade Católica, da qual ele foi o reitor de 1854 a 1858, supervisionando os projetos e a própria construção do campus. Essas palestras, unidas a discursos e ensaios posteriores, viriam a compor este livro, The idea of a university. Nas duas décadas seguintes, viu-se envolvido numa série de controvérsias e de desconfianças por parte da própria Igreja, às quais respondeu com uma demonstração magna de sinceridade e entrega: escreveu a história de sua vida, a Apologia pro vita sua (1865), que calou os críticos e restaurou sua reputação, tanto entre católicos quanto entre anglicanos. Foi convidado a participar do Concílio Vaticano I como consultor teológico, mas declinou em vista de publicar, nessa mesma época, sua Grammar of assent, uma profunda investigação filosófica sobre como a pessoa humana atinge suas convicções. Em 1879, Leão XIII o nomeou Cardeal na Igreja Católica. Apesar disso, Newman não quis ser sagrado bispo, contrariando o costume, e continuou em Birmingham, no seu amado oratório, onde permaneceu escrevendo e orientando espiritualmente os fiéis. Por ocasião de sua morte, em 1890, cerca de 15 mil pessoas acompanharam o cortejo. O Cardeal Newman foi beatificado pelo Papa Bento XVI em 2010, e canonizado pelo Papa Francisco aos 13 de outubro de 2019.

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A Educação dos Filhos. Antonio Royo Marín, Editora Katechesis, 2023.

Sinopse: Chegamos a um dos temas mais culminantes da santificação do leigo por meio da família cristã. A educação cristã dos filhos é de importância tão capital e decisiva no seio do lar e em toda a sociedade humana que, sem ela, seria totalmente impossível não só a santificação dos pais, que deixariam de cumprir um de seus mais graves deveres, senão também a de seus filhos e, por consequência, a da sociedade humana em geral, já que essa sociedade não é, em definitivo, senão o resultado do agrupamento orgânico de todos os seus membros componentes.

Como já indicamos em outra parte, sem a educação cristã dos filhos, a vinda ao mundo destes, mais que um feliz acontecimento e uma benção de Deus, haveria que considerá-la como uma verdadeira desgraça e o começo de sua desventura eterna: «Melhor seria para esse homem não ter nascido», disse o próprio Cristo sobre o traidor Judas (cf. Mc 14,21). Por isso a Igreja, nossa mãe, perfeitamente consciente dessa gravíssima obrigação dos pais, declara reiteradamente que «a geração e a educação da prole é o fim primário do matrimônio» (cn. 1013, I.º). Não basta, pois, para cumprir o fim primário, a mera geração dos filhos: é preciso, ademais, educá-los cristãmente para lhes assegurar a sua felicidade temporal e eterna, como filhos de Deus que são.

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O verme roedor ou o paganismo na educaçãoMons. J. Gaume. Editora Katechesis, 2021.

Sinopse

Que fará um médico na presença de um infeliz, vítima de fatal doença que ameaça a cada momento precipitá-lo no túmulo? Se não for cego ou criminoso, lançará logo mão não dos paliativos, ou dos remédios usuais, mas sim dos recursos extremos da arte para operar uma crise salutar. Se preciso for empregará o ferro e o fogo, sem atender às resistências e gritos do doente.




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Da vanglória e da educação dos filhos. São João Crisóstomo. Editora Katechesis, 2017.

Sinopse:

"Se desde a primeira infância carecem as crianças de mestres, que será delas? Se alguns, educados e instruídos desde o ventre materno até a velhice, não conseguem triunfar, que males serão capazes de cometer os que nunca foram educados? O certo é que todas as pessoas se esforçam para que seus filhos se instruam nas artes, nas letras e na eloqüência, mas a ninguém ocorre pensar em como exercitar sua alma. Portanto, não cesso de vos exortar, rogando-vos e suplicando-vos que, antes de qualquer coisa, eduqueis bem os vossos filhos. Se tendes consideração por vossos filhos, aqui o haveis de mostrar."


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Corrija seu filho - A formação do homemMonsenhor Álvaro Negromonte. Editora Calvariae Editorial, 2019.

Sinopse: Para os que procuram mais o próprio sossego que o progresso moral dos filhos, castigar é mais cômodo: umas palmadas no pequenino que jogou a merenda no chão, uns bofetões no rapazola que respondeu com arrogância, chineladas na menina que entornou tinta no vestido novo, um mês sem passeio para quem não teve média na prova parcial, trancar as crianças no quarto dos fundos porque perturbaram o silêncio de que precisa o pai, e outras medidas policiais do mesmo teor dão “soluções” imediatas, que contentam o adulto desprevenido, mas nada adiantam à educação, e, pelo contrário a prejudicam.

Não julguemos, porém, sejam essas umas fórmulas mágicas que resolvam tudo, rapidamente e que, quando não resolverem, o caso é irremediável. Não há fórmulas mágicas em educação. As soluções rápidas são pedidas em geral pelos que “não têm tempo a perder com os filhos”, e por isso perdem os filhos.

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A educação da sexualidade: Um guia para pais e educadoresMonsenhor Álvaro Negromonte. Editora Calvariae Editorial, 2019.

Sinopse: Ora, é dever dos educadores preparar os homens para viverem no seu tempo, e não nos tempos idos. O que lhes incumbe é preparar os homens para resistirem aos perigos da sua época, e poderem praticar a virtude, quaisquer que sejam as dificuldades. 

É natural que os educandos de hoje, tomem tão errada orientação na vida, como a que até hoje têm tomado. É natural que nunca se acostumem a encarar como coisas respeitáveis e dignas essas que lhes foram ensinadas sem nenhum respeito nem dignidade. 

Eis porque só sabem falar ou ouvir desses assuntos com risinhos inconvenientes e maliciosos, pondo maldade em todas as coisas. Eis porque o corpo é para eles um instrumento de prazer e não um templo do Espírito Santo.

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A educação dos filhos - A missão dos pais e educadoresMonsenhor Álvaro Negromonte. Editora Calvariae Editorial, 2019.

Sinopse: Para muitos a grande preocupação é o bem-estar dos filhos: a saúde, os estudos, a condição econômica. Os próprios estudos são orientados num sentido utilitário, com uma finalidade prática, a mais imediata possível. As profissões são escolhidas em vista das possibilidades econômicas. Daí a primazia das carreiras técnicas, e o desprestígio dos estudos clássicos ou filosóficos, desprezados por nada “adiantarem” na vida...

As atenções com a saúde superam a formação moral. Se o menino adoece, tomam-se logo todas as medidas, à custa dos maiores sacrifícios. Mas se ele tem uma tendência ao vício, pouco se cuida: “é da idade, passa com o tempo”, “o pai também foi assim”, “hoje ninguém repara mais certas tolices”... Considera-se “vencedor” o jovem que conseguiu uma rendosa colocação. Ainda melhor, se for um emprego público, bem remunerado e sem trabalho. A satisfação dos pais rivaliza então com a inveja dos que não “venceram” na vida com tanta rapidez e eficiência! Para chegar a esses resultados, às vezes são bons todos os processos. Não os censurem, que a explicação vem cabal e definitiva: o mundo hoje é assim; o que ontem era imoral, hoje não é; o que hoje ainda é proibido, talvez amanhã seja obrigatório; a vida tem dessas coisas... Por outras palavras: não há valores morais definitivos!

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Sobre o autor: Monsenhor Álvaro Negromonte nasceu em 26 de outubro de 1901, no Engenho Gameleira, em Timbaúba. Entrou no Seminário de Olinda aos treze anos de idade e ordenou-se sacerdote em 08 de junho de 1924. Foi designado logo após diretor do Colégio Diocesano e capelão do Colégio Santa Cristina, em Nazaré da Mata. Em 1927, transferiu-se para Minas Gerais, onde passou a exercer a capelania do hospital de Ituna, para depois fixar-se em Belo Horizonte. E foi na capital mineira que o padre Álvaro iniciou realmente sua brilhante carreira sacerdotal. Foi secretário do Arcebispado, capelão do Hospital Carlos Chagas, professor de catequética no seminário de Belo Horizonte, fundador e reitor do Instituo Católico de Cultura. Vice-presidente da Sociedade Pestalozzi e vice-diretor Arquidiocesano do Ensino Religioso. Seu primeiro livro, “O Caminho da Vida”, ao qual se seguiu Pedagogia do Catecismo, de 1936, que sintetiza os princípios pedagógicos de renovação catequética. De Minas, onde seu nome se propagara com brilho, como educador dos mais ilustres, foi para o Rio de Janeiro, centro irradiador por excelência, onde foi designado, em 1945, orientador educacional do Serviço de Assistência a Menores do Ministério da Justiça, cargo que exerceu com brilhantismo. Já no Rio, publica os livros: “Educação Sexual, Noivos e Esposos” e “O que fazer de seu filho”, onde já encara de frente, com prudência mas sadia e indispensável objetividade já louvada por Tristão de Athayde, os complexos e difíceis problemas da educação sexual e do matrimônio no primeiro livro e os da educação dos filhos no último. Em 1950, foi diretor do ensino religioso na Arquidiocese do Rio e nesse mesmo ano representou o Brasil no Congresso Internacional de Catequética realizado em Roma. Em 1956, foi Monsenhor (camareiro) de S.S. o Papa Pio XII.

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Progresso e Tradição em Pedagogia

Avô contando uma história - Albert Anker (1884)

Por P. Leonel Franca

Entre extremos igualmente funestos nem sempre é fácil encontrar o equilíbrio sensato de justo meio. Há amigos da tradição que a comprometem, confundindo-a com a invariabilidade das coisas mortas. Há bajuladores do progresso que não compreendem o benefício das renovações salutares sem o radicalismo das revoluções destruidoras. Como preservar o fiel da balança dos extremos destas oscilações perigosas?

Quer-me parecer que um justo conceito do progresso é a primeira condição para formar a justeza moderada do critério. Da marcha evolutiva da humanidade não raro se apresenta uma noção inteiramente falsa. O homem, ao que se diz, avança na história pelas sendas de um progresso indefinido; o diagrama deste movimento poderia representar-se por uma linha ininterruptamente ascensional. O que para trás ficou não tem mais que um valor histórico; hoje representa um peso morto que devemos alijar; que o presente se desvencilhe do passado; a condição do progresso é a ruptura com a tradição.

Visão precipitada e insuficiente das coisas. Nas ciências há dois domínios nitidamente distintos: o das ciências da natureza -- e consequentemente da técnica -- e o das ciências do homem nos seus valores mais altos e específicos. No campo da observação dos fenômenos naturais o progresso é função quase exclusiva do tempo que multiplica os observadores e as observações. Os que foram grandes outrora, conservam hoje o direito à nossa admiração e reconhecimento pelos serviços prestados à causa científica. Mas já nos não sentamos à sua escola; não vamos estudar astronomia em KEPLER nem química em LAVOISIER; foram, já não são mestres .

Há, porém, outro domínio muito diverso das ciências positivas e suas aplicações técnicas: é o das ciências do espírito. Aqui, o progresso não é a função principal do tempo; do valor de uma obra decide em primeira linha o gênio do seu autor, a profundeza dos seus conhecimentos da vida interior das almas, a capacidade de discernir, sob a superfície das aparências que passam e mudam, a natureza humana no que ela tem de essencial, eterno e imutável. Por isso, na religião, na filosofia, no direito, nas artes, na pedagogia, a tradição não tem só o valor de história do que já se foi, mas ainda o de ensino perenemente vivo do que deve ser. Os mestres nestas disciplinas do homem não se sucedem, eliminando-se; superpõem-se, completando-se. PLATÃO e ARISTÓTELES continuam a ensinar-nos filosofia ao lado de S. AGOSTINHO e de S. TOMÁS; BERGSON [1] e HUSSERL [2] não suprimem KANT ou LEIBNIZ, HOMERO e VIRGÍLIO sobrevivem ao lado de DANTE e de CAMÕES. Nos monumentos de Atenas e de Corinto, como nas obras de BERNINI ou de MICHELANGELO, vamos ainda educar o nosso sentimento estético. Porque lemos BOURGET ou DOSTOIÉVSKI, não deixamos de aprender os refolhos do coração humano em GOETHE ou SHAKESPEARE. Todos estes foram e são mestres, ainda que separados por intervalos de séculos e milênios.

Em todo este imenso domínio em que entra no que tem de mais profundo a pedagogia, a tradição não só continua como mestra viva que quer e deve ser escutada, mas é ainda a cláusula necessária do verdadeiro progresso. Triste e mesquinha concepção esta que faz da ruptura com o passado a condição de vida para o presente e de salvação para o porvir. Neste corte de fio que nos liga às gerações de ontem, querem ver um enriquecimento onde na realidade não há mais que uma dilapidação temerária que nos empobrece. O que é a sociedade no espaço, é a tradição no tempo. A comunhão com os contemporâneos amplia-nos o campo visual, opulentando a nossa experiência própria que é de um só, com a experiência dos que vivem ao nosso lado e são muitos. Sem esta solidariedade no trabalho, seria a esterilidade do isolamento. A tradição vem alargar no tempo os benefícios desta sociedade das inteligências. Já não são somente as vozes contemporâneas, são as vozes de todos os séculos que nos vêm trazer a experiência de sua sabedoria.

Este contato benfazejo com os gênios de outras eras imuniza-nos ainda contra um perigo que não é quimérico: a ditadura da moda, a tirania da geração atual. Como todos os outros, o nosso século tem as suas paixões desorientadoras, sente a fascinação de influências efêmeras e naturalmente reveste-as com o rótulo sedutor de "progresso moderno", "de conquistas da ciência". Corrigir-lhes os desvios, temperar-lhe os excessos, ampliando no tempo o campo de observação, é uma verdadeira benemerência científica. O isolamento de cada geração das que a precederam é que é a verdadeira morte do progresso, a condenação a um recomeço indefinido. Não assistimos, porventura, nestas últimas gerações, ao nascimento, vida efêmera e morte precoce de tantos sistemas pedagógicos que se apresentavam em nome dos fatos e dos resultados definitivos das ciências positivas?

Muito larga e mais compreensiva é a pedagogia cató­lica. Sem renunciar a nenhuma inovação que se imponha em nome de um progresso real, ela não rompe os contatos com o passado. A sua experiência é mais ampla: a segurança dos seus fundamentos mais consolidada pela prova dos séculos.

Esta atitude sensata, preconizara-a, já há quase um século, um dos nossos grandes mestres: 

"Se importa não imobilizar ou prender a educação na rotina, se, pelo contrário, é necessário estudá-la sempre para melhorá-la, fortificá-la, torná-la mais e mais eficaz e fecunda, convém outrossim, nos acautelemos contra as inovações temerárias que vão quebrar a obra dos séculos, calcar aos pés as experiências do passado e lançar, neste grande trabalho da educação, as perturbações mais tempestuosas. O que a sabedoria das idades consagrou, o que a natureza das coisas -- regra suprema -- exige e impõe, convém respeitar profundamente, combinando-o sem o destruir, com o que podem exigir as necessidades novas, a marcha dos tempos, os progressos do espírito humano e as transformações sociais". (DUPANLOUP [4], De la haute éducation intellectuelle, t. III, p. 566.)

Eis uma visão mais compreensiva e justa da historia, colaboradora indispensável de todo progresso estável e duradouro. Fora daí, revoluções destruidoras, renovação perpétua de tentativas efêmeras .

Um grande pedagogo contemporâneo apontou na "transplantação da ideia de progresso contínuo, do domínio da técnica para o da atividade especificamente humana, a causa principal da tragédia de nossa cultura contemporânea. (FR. DE HOVRE [5], Le Catholicisme, ses pédagogues, sa pedagogie. Bruxelas, 1930, p. 403.).

Na lealdade de um esforço reconstrutor tentaremos conciliar as justas exigências da tradição e do progresso, ampliando incessantemente os tesouros do passado com as novas riquezas do presente. É a nobre, pacífica e fecunda missão da pedagogia católica.

Rio, julho de 1932.

Notas:

[1] N. da E.: Henri Bergson (Paris, 18 de outubro de 1859 - Paris, 4 de janeiro de 1941) foi um filósofo e diplomata francês, laureado com o Nobel de Literatura de 1927.

[2] N. da E.: Edmund Gustav Albrecht Husserl (8 de abril de 1859 - Friburgo em Brisgóvia, 27 de abril de 1938) foi um matemático e filósofo alemão que estabeleceu a escola da fenomenologia.

[3] N. da E.: Gian Lorenzo Bernini (Nápoles, 7 de dezembro de 1598 - Roma, 28 de novembro de 1680) foi um eminente artista do barroco italiano, trabalhando principalmente na cidade de Roma. Como arquiteto e escultor é autor de obras de arte presentes até os dias atuais em Roma e no Vaticano, como a Praça de São Pedro, a Capela Chigi, O Êxtase de Santa Teresa, Habacuc e o Anjo, etc.

[4] N. da E.: Mons. Félix Antoine Philibert Dupanloup (3 de janeiro de 1802 - 11 de outubro de 1878) foi um eclesiástico francês. Ele estava entre os líderes do catolicismo liberal na França.

[5] N. da E.: Frans de Hovre (1884-1958) foi um educador belga.

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Trecho retirado do livro A Formação da PersonalidadeP. Leonel Franca. Edições Hugo de São Vitor, 2019.


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