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Este é um blog sobre Matemática em geral, com ênfase no período clássico-medieval, também sobre as Artes liberais (Trivium e Quadrivium), so...

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As quatro causas e as cinco vias — Edward Feser

Tradução feita por Vinicius Dias
Traduzi mais um artigo de Feser. Creio que se trata de um artigo bem básico. Feser tenta mostrar algumas correlações entre as quatro causas de Aristóteles e as cinco vias de santo Tomás, o que é de um recurso pedagógico muito interessante para questões metafísicas que às vezes parecem tão complicadas.

De qualquer forma, escrevi um artigo para introduzir as quatro causas e a noção de ato e potência para quem não sabe nada do assunto, confira aqui: link

Outro comentário a se fazer antes de postar o artigo traduzido propriamente dito é dizer que o artigo de Feser, além de sua utilidade pedagógica, me fez compreender melhor a terceira via. Eu nunca havia entendido a diferença entre ela e o argumento cosmológico de Leibniz. Apesar de bem semelhantes, são argumentos distintos.

Eis a tradução de Feser feita por mim:

***

Mostrar paralelos e correlações pode ser uma coisa filosoficamente iluminadora e pedagogicamente útil. Por exemplo, os estudantes de Aristotelismo-Tomismo (A-T) estão familiarizados com a correlação de que a alma é para o corpo o que a forma é para a matéria como também o ato é para a potência. Então aqui temos uma fórmula pré-pronta de algumas correlações entre alguns conceitos metafísicos mais gerais de Santo Tomás, por um lado, e os argumentos para a existência de Deus pelo outro. É bem sabido que a segunda via de santo Tomás para a existência de Deus está relacionada com a causa eficiente enquanto a quinta via está ligada à causa final. Mas haveria mais paralelos assim para extrairmos? Será que cada uma das quatro causas de Aristóteles possuem alguma relação especial com uma das cinco vias? Talvez sim, e talvez existam outras correlações entre outras noções-chave do quadro geral do A-T para acharmos.

Considere primeiramente o mais geral dos conceitos da metafísica A-T e suas interrelações. Como eu sugeri no Scholastic Metaphysics , o edifício inteiro se baseia na distinção entre ato e potência (ou atualidade e potencialidade), que eu explicitei no capítulo 1 desse livro (após o prolegômeno do capítulo 0, que refuta o cientificismo, etc.). O capítulo 2 então mostra como, da teoria do ato e da potência, nós podemos derivar as noções de causa eficiente e causa final. A causa eficiente envolve a atualização de uma potência. A causa final entra no quadro na medida em que a potência é sempre direcionada em direção a certo resultado ou série de resultados como um fim.

O capítulo 3 continua a mostrar como forma e matéria, que são os principais componentes da substância física, também seguem da teoria de ato e potência. Matéria-prima, que é a causa material da substância física, é pura potencialidade para recepção da forma. A forma substancial, que é a causa formal da substância material, é o que atualiza a matéria-prima. O capítulo 4 mostra então como a distinção entre essência e existência, que (diferente da distinção entre forma e matéria) se aplica às substâncias imateriais tal como às substâncias físicas, o que decorre igualmente da teoria de ato e potência. A essência de uma coisa é, por si mesma, meramente potencial; existência é o que atualiza essa potencialidade da essência para que tenhamos uma substância concreta.

Então, nós temos os seis conceitos fundamentais do A-T: A distinção ato/potência; causa eficiente; causa final; causa formal; causa material; a distinção essência/existência.

Agora considere os argumentos para a existência de Deus de Santo Tomás (que eu discuto e defendo com detalhes no capítulo 3 do meu livros Aquinas). A primeira das cinco vias é o argumento que parte do movimento ou mudança até chegar ao Divino Motor Imóvel. A segunda via é o argumento que afirma que uma série de causas eficientes conduzem a uma divina Causa Incausada. A terceira via parte do fato que as coisas nascem e morrem e então argumenta que há a necessidade de um Ser Necessário. A quarta via argumenta que os graus de perfeições das coisas nos conduzem ao Ser Mais Perfeito. A quinta via argumenta que a existência da causa final nos conduz a uma Inteligência Suprema que direciona todas as coisas aos seus respectivos fins.

Santo Tomás conhecidamente também apresenta, em O ente e a essência, um argumento da existência das coisas nas quais há a distinção entre essência e existência que conduz a uma causa divina que é subsistente por si mesma. É o que é chamado algumas vezes de “prova existencial” e a sua relação com as cinco vias é incerta. No meu Aquinas sugiro que o argumento corresponde à segunda via, mas isso certamente não é óbvio, e nem todo mundo aceita essa sugestão. Como falo mais abaixo, talvez pudéssemos ler as correlações de outra maneira.

Portanto, há (possivelmente) em Santo Tomás ao menos seis diferentes argumentos para a existência de Deus: As cinco vias mais a “prova existencial”.

Talvez você veja aonde isso está nos levando. Há uma interessante correlação entre as seis noções metafísicas fundamentais do A-T, por um lado, e os seis argumentos da existência de Deus no outro? Possivelmente.

Movimento ou mudança, implica, para o A-T, a atualização da potência, então a primeira via naturalmente está correlacionada com a teoria do ato e da potência. A segunda via, como já notado, está obviamente correlacionada com a noção de causa eficiente.

E a terceira via? Bem, a via que chega ao absoluto Ser Necessário parte da coisas que são o oposto disso — isto é, das coisas que são geradas e corrompidas, que nascem e morrem. Note que (ao contrário do que as discussões modernas sobre a terceira via dão a entender) essas coisas não são exatamente as mesmas coisas que “seres contingentes” no entendimento contemporâneo desse termo. Quando os filósofos contemporâneos falam sobre uma coisa “contingente”, o que eles querem dizer é que é uma coisa que a princípio poderia não existir. Anjos estariam nesse sentido de contingência, uma vez que são substâncias imateriais e portanto incorruptíveis, eles não existiriam caso Deus não os criasse. Para Aquinas, ao contrário, anjos são necessários em vez de contingentes, precisamente porque elas são incorruptíveis no sentido de que nada na ordem natural pode destruí-los. O que os diferencia de Deus é que eles ainda precisam ser criados e sustentados na existência por Deus, então eles são necessários apenas em um sentido relativo e não de maneira absoluta. Obviamente, então — e como alguns críticos da terceira via não percebem, o que os leva a entenderem de maneira totalmente errônea o argumento — Santo Tomás não usa a palavra “necessária” no sentido em que os filósofos contemporâneos usam. E partir de coisas como anjos com certeza não é uma boa maneira de iniciar um argumento como a terceira via.

Ele parte das coisas que são materiais e, portanto, corruptíveis de uma maneira que as substâncias materiais não o são. Portanto a terceira via possivelmente se correlaciona com a noção de causa material. Ou seja, assim como a primeira via essencialmente parte da noção de ato e de potência e considera Deus como ato puro atualizador da potência, e a segunda via parte da noção de causa eficiente e considera Deus como a fonte de todo poder causal, a terceira via essencialmente parte da corruptibilidade implicada na noção de causa material e considera Deus como o ser absolutamente incorruptível e por isso necessário no sentido mais forte possível.

A quarta via é reconhecida por ser a via mais platônica das cinco vias. Santo Tomás fala como os seres que tem bondade de uma maneira limitada participam do Bem em si mesmo, o que tem ser de uma maneira limita participa daquilo que é o Ser em si mesmo, e assim por diante, nos lembra a afirmação de Platão que diz que as coisas os são conforme participam das formas. É claro, Santo Tomás era mais aristotélico do que platônico — e assim tem uma concepção de forma mais aristotélica do que platônica — e (como argumentei em Aquinas) o que está em jogo na quarta via é, especificamente, o que os medievais chamavam de transcendentais (ser, bondade, verdade, etc.), e não apenas alguma coisa antiga para qual Platão dizia haver uma forma. Ainda assim há uma especial correlação entre a quarta via e a noção de causa formal.

A quinta via, como já notado, está obviamente correlacionada com a noção de causa final. E a “prova existencial” está obviamente correlacionada com a distinção entre essência e existência. Se a prova existência realmente é (contrariamente ao que eu sugiro em Aquinas) um argumento distinto da segunda via, a base da distinção pode ser essa: Enquanto ambos os argumentos dizem respeito à explicação da existência das coisas e ambos chegam a Deus como a explicação suprema de sua existência, a maneira de abordar é diferente em cada caso. A segunda via aborda a questão pela noção de causa eficiente da existência da coisa; a prova existencial aborda a questão pela noção da composição de essência/existência da coisa.

Se tudo isso estiver correto, então a ideia é que, de cada uma dessas seis noções básicas, possamos chegar a Deus como explicação final. E as correlações seriam, de forma resumida, como se seguem abaixo:

Ato/potência >Primeira via

Causa eficiente>Segunda via

Causa material>Terceira via

Causa formal>Quarta via

Causa final>Quinta via

Essência/existência>Prova existencial

De novo, eu apresento isso apenas como uma reflexão pedagógica. Talvez mais reflexões possam completar o processo e nos dar boas séries de correlações nessa linha. Mas talvez isso nos leve a resultados diferentes, em outras correlações soltas, ou nos leve a ver que só as correlações mais óbvias (a correlação entre a segunda via e a causa eficiente e a quinta via como causa final) são realmente defensáveis.

***
Obrigado por ler o texto.

Eis o original em inglês: link

Texto retirado do link

 

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A distinção mais básica na Matemática - por Instituto Hugo de São Vítor

Há dois tipos de quantidade: discreta e contínua. Entender isso é de suma importância no estudo da matemática. É por não começar daí que muitos estudos escolares acabam, no longo prazo, confundindo a cabeça de muita gente.

No estudo atual, se começa falando de número puros e, no máximo, se dá o exemplo das maçãs ou das peras para se apoiar este estudo em algo concreto. Só que, em dado momento, o professor entrará a falar de tamanhos, das áreas dos planos e sólidos geométricos. E aí poderá se insinuar um pequeno erro.

Só que, como ensinava Aristóteles, um pequeno erro no começo se transforma, passado algum tempo, num problema monstruoso.

O erro inicial é não distinguir bem os dois tipos de quantidade. Pois há dois, e não um só. Vamos lá. Quando falamos que há duas maçãs, estamos falando na verdade de quantidade discreta, isto é, de quantidades separadas; no fim, de duas coisas diferentes que foram contadas.

Porém, ao falarmos que um corpo tem um metro e noventa, passamos a falar de outro tipo de quantidade, totalmente diferente. Estamos falando de quantidade contínua. Se confundirmos, por mau aprendizado, os dois tipos, viveremos para sempre confusos em relação à matemática.

A quantidade contínua se refere à medição de uma coisa. Para medir, precisamos de um padrão de medida, como uma régua, que parte de uma unidade de medida, no caso, 1 cm.

Assim, contamos a quantidade discreta; e medimos a quantidade contínua. São coisas diferentes, que os próprios olhos enxergam como diferentes.

São lições básicas, mas muitas vezes malfeitas. E elas são passíveis de infinito aprofundamento e refinamento. Na realidade, o aprofundamento a respeito da quantidade discreta denomina-se aritmética; o aprofundamento a respeito da quantidade contínua, geometria. As duas artes básicas do Quadrivium.

Nos dois campos, muita coisa se descobriu ao longo dos milênios. Porém, resta que o óbvio permanece sempre o óbvio, e não deve ser desrespeitado. Se partirmos de modo seguro dessas distinções iniciais, poderemos avançar no estudo da matemática, sempre com calma e consistência.

Retirado de Link


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Desse modo, o Mundo é regido pelo Número - por Instituto Hugo de São Vitor

Anônimo, “Deus, o Arquiteto do
Universo” (1220-1230), Bíblia
Moralisée, iluminação em pergaminho,
 34,4 × 26 cm, Österreichische
Nationalbibliothek, Viena, Áustria

O cálculo nos ensina como combinar, das mais diversas formas, os números. Mas não o porquê do número, a sua causa. As raízes dessa questão são profundas.

Por isso, quando ouvimos dizer que Pitágoras de Samos, o grande matemático grego, dizia que o mundo era regido pelo número, podemos estranhar. Alguns até debocham dessa assertiva.

Pitágoras tinha uma razão para pensar assim. E quando os antigos sábios tinham uma razão, isso em geral significa que eles tinham uma boa razão.

A boa razão de Pitágoras era que os números são obtidos por uma abstração maior do que a abstração que retira a forma da matéria. Assim sendo, para ele isso demonstrava que os números são algo mais universal que as formas. E, de fato, as formas, nas coisas da natureza, se deterioram, mas o número, de algum modo, permanece sempre. Dessa ótica, o número parece realmente ser mais perene que a forma, e, por isso, parece regê-la.

 Você até pode rejeitar essa visão pitagórica com outros argumentos. Porém, não pode alegar que ela seja irracional.

O que é inegável é a importância do número. Sem ele, cairíamos na total desordem, no caos mais completo, de tal modo que qualquer vida seria inimaginável. Pois mesmo a imaginação, muitas vezes alcunhada de fantástica, precisa respeitar o número.

Daí que o livro da sabedoria afirme que Deus criou o mundo com número, peso e medida. Daí que sem a compreensão do universo dos números, não se caminhe em direção à sabedoria.

Daí que os antigos tenham estabelecido um currículo básico para o estudo dos números. Seu nome era Quadrivium. A Aritmética era o estudo da quantidade discreta; a Geometria, o estudo da quantidade contínua; a Música, o estudo aplicado da quantidade discreta; a Astronomia, o estudo aplicado da quantidade contínua. Sem dúvida era um currículo completo e acabado, como não vemos mais, por ser um estudo ordenado e coeso.

Estudando-o, aprenderemos certamente muito melhor a natureza do número do que pelo currículo atual, em que se misturam graus básicos com graus avançados de matemática, de modo a confundir mais do que elucidar a mente do aluno.

Texto retirado de Link


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VOCÊ PRECISA DISTO PARA ENTENDER MATEMÁTICA! - por Instituto Hugo de São Vitor

Você só não entende a matemática pelo fato de que não lhe dão nada que entender. E poucos têm coragem de dizer isso.

Pessoas há que são muito hábeis em fazer cálculos; por isso tiram boas notas na escola. Porém, isso de modo algum quer dizer que elas entendam a matemática. Só quer dizer que calculam bem; e calcular é somente uma técnica da matemática.

Assim, a matemática tem-se reduzido ao cálculo. Porém, para os antigos, a matemática era muito mais.

Para entender o quê, precisamos saber que os números são uma abstração de segundo grau. Quantos professores lhe ensinaram isso?

Infelizmente, eles não lhe ensinaram nem mesmo sobre as abstrações de primeiro grau. Então, vamos ter que recuperar também essa lição.

A abstração de primeiro grau abstrai, retira a matéria das coisas. Nunca percebeu que você faz isso? Bem, você faz. Quando usa a palavra “cadeira”, você não está falando de uma cadeira individual. Nunca. Você está falando do conceito de cadeira, que abrange todas as cadeiras que já existiram, existem e virão a existir. E o seu intelecto faz isso naturalmente, dadas certas condições.

Assim, ao ver uma cadeira, seu intelecto abstraiu o conceito de cadeira; mas, uma segunda abstração tira de uma cadeira não só o conceito de cadeira, mas o número um, pois você viu uma cadeira, afinal de contas. Assim, excluindo a matéria da cadeira primeiro, e depois a forma da cadeira, resta algo ainda: o número.

Com esse número, que é o número um, você pode ir em duas direções. A direção que se vai na escola é a do cálculo e da medição.

O Intelecto nota que há a multiplicidade no mundo. E na multiplicidade pode haver cálculo. 1 mais 1 é 2. 375 mais 813 é 1188. E este é apenas um tipo de cálculo possível. E todos eles, ou quase todos, são lógicos. São, em essência, raciocínios.

Mas os antigos viam outras vias, que foram abandonadas por soarem “místicas” demais. Porque há mais abstrações por fazer, que os modernos não ousam.

Hugo de São Vítor falava de passar dos inteligíveis (as formas e os números) para os intelectíveis (a mais alta causa do Ser). Para isso, precisamos meditar na natureza dos números, e para isso servem as quatro artes do Quadrivium.

Retirado do link


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μάθημα: Pensar matematicamente

No afresco de Rafael Sanzio, a Escola de
Atenas, Pitágoras é mostrado escrevendo
em um livro quando um jovem o apresenta
com uma tabuleta mostrando uma
representação esquemática de uma lira
 acima de um desenho do tetráctis sagrado
Para pensar matematicamente, é bom compreender que a Matemática em sua origem tinha um significado muito profundo. Infelizmente até mesmo entre matemáticos esse significado se perdeu, pelo desconhecimento do próprio caráter filosófico da Matemática. Quando consideramos a construção dos números inteiros, isso tem uma ligação com profundas questões ontológicas.

A palavra “Matemática” deriva de μάθημα (máthēma), que, numa acepção superficial, significa lição, ensinamento, mas que, numa acepção mais profunda, comum entre os pitagóricos, significava o ensinamento divino, a sabedoria divina que se desvelava aos nossos olhos. Não é à toa que os pitagóricos usaram o termo θεώρημα (theṓrēma), ou seja, teorema, para designar uma proposição matemática demonstrável. Na transliteração theṓrēma, a barrinha em cima, chamada mácron, diz que a vogal embaixo é longa, deve ser pronunciada por um tempo duas vezes maior do que uma vogal breve, seria algo como theóoreema. θεώρημα (theṓrēma) é aquilo que é contemplado, no sentido de visão das coisas divinas, a contemplação mesma das verdades superiores.

Antigamente, “teorema” em Português era escrito “theorema” e “teatro” era escrito “theatro”. Não é coincidência, a raiz é a mesma. A ideia essencial também é: a contemplação. Uma verdade matemática, portanto, enunciada como teorema, era uma verdade divina a ser contemplada. Assim compreendiam os pitagóricos a Matemática e tudo o que a ela se relacionasse, em particular a Geometria, porquanto descrevesse as formas divinas ou ideias das quais as coisas do mundo participavam, isto é, das quais eram mera projeção mimética.

A Matemática era, portanto, considerada a linguagem pela qual a Divindade nos mostrava as verdades eternas que deveríamos contemplar. Por essa razão, ao pensarmos matematicamente, devemos manter o espírito e a mente em um nível que abarque não somente o raciocínio e a lógica, mas também a intuição, como defendia Poincaré, e, em vez de “ler” as proposições matemáticas como quem lê uma asserção lógica com quantificadores existenciais e universais, dever-se-ia “contemplá-las” enquanto descritoras das belezas do universo. Essa postura expande radicalmente a capacidade de pensar como um matemático.

Por Rodrigo Peñaloza

Texto retirado do link


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As Artes Liberais do Trivium e do Quadrivium

Sete virtudes e sete artes liberais, Francesco Pesellino, 1450

Trecho extraído do livro "O Trivium - As artes liberais da lógica, da gramática e da retórica" da Irmã Miriam Joseph. Editora É Realizações, 2008. Pág 27-36.

As artes liberais denotam os sete ramos do conhecimento que iniciam o jovem numa vida de aprendizagem. O conceito é do período clássico, mas a expressão e a divisão das artes em trivium e quadrivium datam da Idade Média.

O trivium e o quadrivium

O trivium [1] inclui aqueles aspectos das artes liberais pertinentes à mente, e o quadrivium, aqueles aspectos das artes liberais pertinentes à matéria. Lógica, gramática e retórica constituem o trivium; aritmética, música, geometria e astronomia constituem o quadrivium. A lógica é a arte de pensar; a gramática, a arte de inventar símbolos e combiná-los para expressar pensamento; e a retórica, a arte de comunicar pensamento de uma mente a outra, ou de adaptar a linguagem à circunstância. A aritmética, ou teoria do número, e a música, uma aplicação da teoria do número (a medição de quantidades discretas em movimento), são as artes da quantidade descontínua ou número. A geometria, ou teoria do espaço, e a astronomia, uma aplicação da teoria do espaço, são as artes da quantidade contínua ou extensão.

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O trivium: As três artes da linguagem pertinentes à mente

Lógica: arte de pensar
Gramática: arte de inventar e combinar símbolos
Retórica: arte de comunicar

O quadrivium: As quatro artes da quantidade pertinentes à matéria

Quantidade descontínua ou número
Aritmética: teoria do número
Música: aplicação da teoria do número

Quantidade contínua ou extensão
Geometria: teoria do espaço

Astronomia: aplicação da teoria do espaço
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1-1. As sete artes liberais

Essas artes da leitura, da escrita e do cálculo formaram a base tradicional da educação liberal, cada uma constituindo tanto um campo do conhecimento quanto a técnica para adquirir esse conhecimento. O grau de bacharel em artes [2] é conferido àqueles que demonstram a proficiência requerida nessas artes; o grau de mestre em artes, àqueles que demonstram uma proficiência maior que a requerida.

Hoje, como em séculos passados, o domínio das artes liberais é amplamente reconhecido como a melhor preparação para o estudo nas escolas de formação profissional, tais como as de medicina, direito, engenharia ou teologia. Aqueles que primeiro aperfeiçoam suas próprias faculdades através da educação liberal estão, deste modo, mais bem preparados para servir aos outros em sua capacidade profissional.

As sete artes liberais diferem essencialmente das muitas artes ou ofícios utilitários (tais como carpintaria, alvenaria, vendas, impressão, edição, serviços bancários, direito, medicina, ou o cuidado das almas) e das sete belas-artes (arquitetura, música instrumental, escultura, pintura, literatura, teatro e dança), pois tanto as artes utilitárias como as belas-artes são atividades transitivas, enquanto a característica essencial das artes liberais é que elas são atividades imanentes ou intransitivas.

O artista utilitário produz utilidades que atendem às necessidades do homem; o artista de uma das belas-artes, se for de superlativa categoria, produz uma obra que é “algo de belo e uma alegria para sempre” [3] e que tem o poder de elevar o espírito humano. No exercício tanto das artes utilitárias quanto das belas-artes, ainda que a ação comece no agente, ela sai do agente e termina no objeto produzido, tendo normalmente um valor comercial; portanto, o artista é pago pelo trabalho ou obra. No exercício das artes liberais, todavia, a ação começa no agente e termina no agente, que é aperfeiçoado pela ação; consequentemente, o artista liberal, longe de ser pago por seu trabalho árduo – do qual, aliás, é o único a receber todo o benefício –, com frequência paga a um professor para que este lhe dê a instrução e o guiamento necessários na prática das artes liberais.
O caráter intransitivo das artes liberais poderá ser entendido melhor a partir da analogia a seguir.

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ANALOGIA: O caráter intransitivo das artes liberais

O carpinteiro aplaina a madeira.

A rosa floresce.

A ação de um verbo transitivo (como aplaina) começa no agente, mas “cruza” e termina no objeto (a madeira). A ação de um verbo intransitivo (como floresce) começa no agente e termina no agente (a rosa, que se aperfeiçoa por florescer).
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Classes de bens

As três classes de bens – valiosos, úteis e aprazíveis – ilustram o mesmo tipo de distinção que existe entre as artes.

Bens valiosos são aqueles que são desejados não apenas por sua própria causa, mas também porque aumentam o valor intrínseco de quem os possuir. Por exemplo: conhecimento, virtude e saúde são bens valiosos.

Bens úteis são aqueles que são desejados porque permitem que alguém adquira bens valiosos. Por exemplo: alimento, remédio, dinheiro, ferramentas e livros são bens úteis.

Bens aprazíveis são aqueles que são desejados por si mesmos em função da satisfação que dão a quem os possuir. Por exemplo: felicidade, uma reputação honrada, prestígio social, flores e comida saborosa são bens aprazíveis. Eles nada acrescentam ao valor intrínseco do possuidor nem são desejados como meios, ainda que possam estar associados a bens valiosos ou úteis. Por exemplo, o conhecimento, que acrescenta valor, pode ao mesmo tempo ser prazeroso; sorvete, que é um alimento nutritivo e, portanto, promove a saúde, é, ao mesmo tempo, agradável.

As artes utilitárias, ou servis, permitem que alguém seja um servidor – de outra pessoa, do Estado, de uma corporação, de uma profissão – e que ganhe a vida. As artes liberais, em contraste, ensinam a viver; treinam as faculdades e as aperfeiçoam; permitem a uma pessoa elevar-se acima de seu ambiente material para viver uma vida intelectual, uma vida racional e, portanto, uma vida livre para adquirir a verdade. Jesus Cristo disse: “E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará” (João 8,32).

O novo lema do Saint John’s College, em Annapolis, Maryland, expressa o propósito de uma escola de artes liberais através de um interessante jogo com a etimologia da palavra liberal: “Facio liberos ex liberislibris libraque”. “Transformo crianças em homens livres por meio de livros e comparações” [experimentos em laboratório].

Ciência e arte

Cada uma das artes liberais é, a um só tempo, uma ciência e uma arte, no sentido de que em cada campo há algo a conhecer (ciência) e algo a fazer (arte). Uma arte pode ser empregada com sucesso antes que se tenha um conhecimento formal de seus preceitos. Por exemplo: uma criança de três anos pode fazer uso de gramática correta ainda que nada saiba de gramática formal. De maneira análoga, a lógica e a retórica podem ser usadas eficazmente por quem não conheça os preceitos teóricos dessas artes. Todavia, é desejável e satisfatório adquirir um conhecimento claro dos preceitos e saber por que certas formas de expressão ou de pensamento estão certas ou erradas.

O trivium é o órgão, ou instrumento, de toda educação em todos os níveis, porque as artes da lógica, da gramática e da retórica são as artes da comunicação mesma, uma vez que governam os meios de comunicar – a saber: leitura, redação, fala e audição. O pensamento é inerente a essas quatro atividades. A leitura e a audição, por exemplo, apesar de relativamente passivas, envolvem pensamento ativo, pois concordamos ou discordamos daquilo que lemos ou ouvimos.

O trivium é usado essencialmente quando exercitado na leitura e na composição. Foi exercitado sistemática e intensivamente na leitura dos clássicos latinos e na composição de prosa e versos latinos pelos garotos nas grammar schools [4] da Inglaterra e do continente europeu durante o século XVI. Este foi o treinamento que formou os hábitos intelectuais de Shakespeare e de outros autores da Renascença [5]. O resultado de tal treinamento transparece em suas obras [6]. O trivium era básico também no currículo do período clássico, na Idade Média e na pós-Renascença.

Na gramática grega de Dionísio da Trácia (circa 166 a.C.), o mais antigo livro de gramática [7] existente e a base para os textos gramaticais durante pelo menos treze séculos, a gramática é definida de uma maneira tão abrangente que inclui versificação, retórica e crítica literária.

A gramática é um conhecimento experimental dos modos de escrever nas formas geralmente correntes entre poetas e prosadores de uma língua. Está dividida em seis partes: (1) leitura instruída, com a devida atenção à prosódia [versificação]; (2) exposição, de acordo com figuras poéticas [retórica]; (3) apresentação das peculiaridades dialéticas e de alusões; (4) revelação das etimologias; (5) relato cuidadoso das analogias; (6) crítica das obras poéticas, que é a parte mais nobre da arte gramatical.

Uma vez que a comunicação envolve o exercício simultâneo da lógica, da gramática e da retórica, estas artes são as artes fundamentais da educação: ensinar e ser ensinado. Consequentemente, devem ser praticadas simultaneamente pelo professor e pelo aluno. O aluno deve cooperar com o professor; deve ser ativo e não passivo. O professor pode estar presente direta ou indiretamente. Quando alguém estuda através de um livro, o autor é um professor presente indiretamente. A comunicação, de acordo com a etimologia da palavra, resulta em algo que é possuído em comum; é uma unicidade compartilhada. A comunicação tem lugar somente quando duas mentes realmente se encontram. Se o leitor – ou o ouvinte – recebe as mesmas ideias que o escritor – ou o emissor – desejava transmitir, ele as entende (ainda que delas possa discordar); se não recebe ideia alguma, nada entende; se recebe ideias diferentes, entende mal. Os mesmos princípios da lógica, da gramática e da retórica guiam o escritor, o leitor, o emissor e o ouvinte.

A educação liberal

A educação é a mais nobre das artes no sentido de que impõe formas (ideias e ideais) não sobre a matéria, como fazem outras artes (por exemplo, a carpintaria e a escultura), mas sobre a mente. Essas formas não são recebidas passivamente pelo estudante, mas sim através da cooperação ativa. Na verdadeira educação liberal, e segundo Newman [8], a atividade essencial do estudante é relacionar os fatos aprendidos num todo unificado e orgânico, assimilando-os tal como um corpo assimila alimento, ou, ainda, como a rosa assimila nutrientes do solo e daí cresce em tamanho, vitalidade e beleza. Um aprendiz deve usar algo como colchetes mentais, com os quais ligue os fatos entre si de modo a formar um todo significativo. Isso torna o aprendizado mais fácil, mais interessante e muito mais valioso. O acúmulo de fatos é mera informação e não merece ser chamado educação, pois sobrecarrega a mente e a estultifica, em vez de desenvolvê-la, iluminá-la e aperfeiçoá-la. Mesmo quando alguém esquece muitos dos fatos que uma vez aprendeu e relacionou, a sua mente retém o vigor e o aperfeiçoamento que obteve ao neles se exercitar. Porém a mente faz isso somente porque lida com fatos e ideias. Ademais, é muito mais fácil lembrar ideias associadas do que ideias sem conexão.

Cada uma das artes liberais veio a ser entendida não no sentido restrito de uma disciplina em separado, mas mais propriamente no sentido de um grupo de disciplinas relacionadas. O trivium, em si mesmo uma ferramenta ou uma habilidade, ficou associado às suas matérias de estudo mais apropriadas – línguas, oratória, literatura, história e filosofia. O quadrivium compreende não apenas a matemática, mas muitos ramos da ciência. A teoria do número inclui não apenas a aritmética, mas também álgebra, cálculo, teoria das equações e outros ramos da matemática superior. As aplicações da teoria do número incluem não só a música (aqui entendida como princípios musicais, tais como a harmonia, que constituem a arte liberal da música, a qual deve ser distinguida da música instrumental aplicada, que é uma das belas-artes), mas também a física, muito da química e de outras formas de medição científica de quantidades descontínuas. A teoria do espaço inclui geometria analítica e trigonometria. As aplicações da teoria do espaço incluem princípios da arquitetura, da geografia, da agrimensura e da engenharia.

Ler, escrever e contar constituem o cerne não apenas da educação elementar, mas também da educação superior. A competência no uso da linguagem e a competência em lidar com abstrações, particularmente as quantidades matemáticas, são consideradas como os mais confiáveis índices do calibre intelectual de um estudante. Consequentemente, criaram-se testes para medir essas competências, de modo que programas de orientação educacional e vocacional em instituições de ensino superior [9] e nas forças armadas se baseiam nos resultados de tais testes.

As três artes da linguagem proveem disciplina à mente, uma vez que esta encontra expressão na linguagem. As quatro artes da quantidade proveem meios para o estudo da matéria – mais precisamente, extensão –, visto que essa é a característica notável da matéria. (A extensão é uma característica apenas da matéria, enquanto o número é característica tanto da matéria quanto do espírito). A função do trivium é treinar a mente para o estudo da matéria e do espírito, que juntos constituem a substância da realidade. O fruto da educação é a cultura, que Matthew Arnold [10] definiu como “O conhecimento de nós mesmos [mente] e do mundo [matéria]”. Na “doçura e iluminação” da cultura cristã, que acrescenta a inteligência de Deus e a de outros espíritos ao conhecimento do mundo e de nós mesmos, tornamo-nos verdadeiramente aptos a “Ver a vida resolutamente; a vê-la por inteiro” [11].

AS ARTES DA LINGUAGEM

As artes da linguagem e a realidade

As três artes da linguagem podem ser definidas conforme se relacionam com a realidade e entre si. A metafísica ou ontologia [12], a ciência do ser, trata da realidade, da coisa tal como ela existe. A lógica, a gramática e a retórica têm as seguintes relações com a realidade.

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A lógica trata da coisa tal como ela é conhecida.

A gramática trata da coisa tal como ela é simbolizada.

A retórica trata da coisa tal como ela é comunicada.
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1-2. Linguagem e realidade

ILUSTRAÇÃO: Relação entre a metafísica e as artes da linguagem

A descoberta do planeta Plutão, em 1930, ilustra a relação entre a metafísica e as artes da linguagem. O planeta Plutão já era uma entidade real, percorrendo a sua órbita em torno do Sol havia muitos e muitos milênios, por nós desconhecido e, portanto, sem nome. A sua descoberta em 1930 não o criou; porém, ao ser descoberto, tornou-se uma entidade lógica. Quando lhe foi dado o nome Plutão, tornou-se uma entidade gramatical. Quando, por seu nome, o conhecimento dessa entidade foi comunicado a outros através da palavra falada e escrita, o planeta Plutão tornou-se então uma entidade retórica [13].

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A retórica é a arte mestra do trivium [14], pois pressupõe e faz uso da gramática e da lógica; é a arte de comunicar através de símbolos as ideias relativas à realidade.

Comparação de materiais, funções e normas das artes da linguagem

As artes da linguagem conduzem o orador, o escritor, o ouvinte e o leitor ao uso correto e eficaz da linguagem. A fonética e a ortografia, que estão associadas à arte da gramática, são aqui incluídas para demonstrar sua relação com as outras artes da linguagem no que concerne a materiais, funções e normas.

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Fonética: prescreve como combinar sons de modo a formar corretamente as palavras faladas.

Ortografia: prescreve como combinar letras de modo a formar corretamente as palavras escritas.

Gramática: prescreve como combinar palavras de modo a formar corretamente as frases.

Retórica: prescreve como combinar frases em parágrafos e estes numa composição completa, que apresente unidade, coerência e a ênfase desejada, bem como clareza, vigor e beleza.

Lógica: prescreve como combinar conceitos em juízos e estes em silogismos e cadeias de raciocínio de
modo a obter a verdade.
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1-3. As artes da linguagem: seus materiais e funções


Uma vez que a retórica almeja mais a eficácia do que a correção, lida não apenas com o parágrafo e com a composição completa, mas também com a palavra e a frase, pois prescreve que a dicção seja clara e apropriada; que as frases sejam variadas na estrutura e no ritmo. A retórica reconhece vários níveis de discurso, tais como o letrado ou literário (donzela, corcel), o comum (moça, cavalo), o iletrado (mulezinha) [15], o da gíria ou o regionalismo (cabrita, pangaré) e o técnico (Homo sapiens, Equus caballus), cada um com o seu uso apropriado. A adaptação da linguagem às circunstâncias, que é a função mesma da retórica, requer a escolha de certo estilo e dicção própria quando alguém fala a adultos, de outro estilo ao apresentar ideias científicas ao público em geral e de outro ainda quando essas ideias são apresentadas a um grupo de cientistas. Visto que a retórica é a arte mestra do trivium, pode até mesmo dar-se ao luxo de usar gramática ou lógica incorretas para efeito de caracterização de um personagem iletrado ou estúpido em uma narrativa qualquer.

Tanto quanto a retórica é a arte mestra do trivium, a lógica é a arte das artes porque dirige o ato mesmo de raciocinar, o qual dirige todos os outros atos humanos ao seu fim apropriado através dos meios que
determina.

No prefácio à sua Art of Logic, o poeta Milton observa:

O assunto geral das artes gerais é tanto a razão quanto a palavra. Elas são empregadas no aperfeiçoamento do raciocínio em benefício do bem pensar – como na lógica –, no aperfeiçoamento do modo de falar, em benefício do uso correto das palavras – como na gramática –, ou no uso eficaz das palavras – como na retórica. De todas as artes, a primeira e mais geral é a lógica, seguida da gramática e, por último, da retórica, uma vez que pode haver muito uso da razão sem o falar, mas nenhum uso da palavra sem a razão. Demos o segundo lugar à gramática porque o uso correto da palavra pode ser feito sem adornos; mas dificilmente será possível adorná-lo antes que esteja correto [16].

Considerando que as artes da linguagem são normativas, elas são estudos práticos quando em contraste com os teóricos. Um estudo teórico é aquele que busca apenas conhecer – a astronomia, por exemplo. Nós podemos apenas saber algo a respeito dos corpos celestes. Não podemos influenciar seus movimentos.

Um estudo prático, normativo, é aquele que busca regular, ajustar segundo uma norma ou padrão – a ética, por exemplo. A norma da ética é o bem, e seu propósito é ajustar a conduta humana em conformidade com a bondade.

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A correção é a norma da fonética, da ortografia e da gramática.

A eficácia é a norma da retórica.

A verdade é a norma (ou meta) da lógica. O pensar corretamente é o meio normal de chegar à verdade, que é a conformidade do pensamento com as coisas tais como são – com a realidade.
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O próprio intelecto, no que tange às suas operações, é aperfeiçoado pelas cinco virtudes intelectuais, três teóricas e duas práticas. A compreensão é o captar intuitivo dos princípios primeiros. (Por exemplo, em declarações contraditórias, uma deve ser verdadeira e a outra falsa.) A ciência é o conhecimento das causas mais prováveis (física, matemática, economia, etc.). A sabedoria é o conhecimento das causas fundamentais – a metafísica na ordem natural, a teologia na ordem supernatural. A prudência é o raciocínio reto concernente às ações [17]. A arte é o raciocínio reto concernente à produção [18].

Notas:

[1] Trivium significa o cruzamento e a articulação de três ramos ou caminhos e tem a conotação de um “cruzamento de estradas” acessível a todos (Catholic Encyclopedia, vol. 1, s.v., “The seven liberal arts”). Quadrivium significa o cruzamento de quatro ramos ou caminhos.

[2] A despeito da semelhança com a terminologia brasileira, os graus Bachelor of Arts e Master of Arts não encontram aqui equivalência direta e perfeita. Um BA é diploma obtido num College, que já é instituição de ensino de nível superior. O MA lhe é superior e confere o direito de lecionar. No passado, foi equivalente ao doutorado nos EUA; em algumas áreas e universidades, assim permanece. Todavia, hoje parece consolidar-se uma tendência para distinguir o mestrado como intermediário, antes do Ph.D., seguindo a tradição alemã em lugar da inglesa. (N. T.)

[3] “A thing of beauty and a joy forever” – Adaptado de “Endymion”, de John Keats (1795-1821): “A thing of beauty is a joy forever: / Its loveliness increases: it will never / Pass into nothingness”.

[4] Atualmente, equivale a uma escola secundária que só admite alunos por suas habilidades. Já nos EUA, a grammar-school equivale à escola primária. (N. T.)

[5] Marshall McLuhan trata do assunto, com ênfase em Thomas Nashe (1567-1601), na obra O Trivium Clássico. Trad. Hugo Langone. São Paulo, É Realizações, 2012. (N. E.)

[6] Ver T. W. Baldwin, William Shakespeare’s Small Latine and Lesse Greek. Urbana, The University of Illinois Press, 1944. A expressão “small Latine and lesse Greek” vem do poema de Ben Jonson “To the Memory of My Beloved, The Author, Mr. William Shakespeare”. Ben Jonson (1572-1637) era colega e amigo de Shakespeare.

[7] Elementos do esboço de gramática de Dionísio da Trácia ainda são componentes básicos num currículo de artes da linguagem: figuras de linguagem, uso da alusão, etimologia, analogias e análise literária.

[8] John Henry Newman (1801-1890), autor de The Idea of a University Defined e Apologia pro Vita Sua.

[9] A autora se refere aos Colleges, que são instituições de ensino superior, mas ainda não vocacional ou profissional. (N. T.)

[10] Matthew Arnold (1822-1888), poeta, ensaísta e crítico inglês. A expressão “sweetness and light” [doçura e iluminação] vem do seu ensaio “Culture and Anarchy”.

[11] Matthew Arnold, “To a Friend”.

[12] A Metafísica de Aristóteles deu sequência à sua obra em física. Em grego clássico, meta significa “depois” ou “além”. Na Metafísica, Aristóteles definiu os princípios primeiros no entendimento da realidade. A ontologia é um ramo da metafísica e trata da natureza do ser.

[13] A realidade do planeta Plutão, soubesse alguém ou não de sua existência, pertence ao reino da metafísica. É a descoberta humana que dele foi feita que o traz para o reino da lógica, da gramática e da retórica.

[14] Chamar a retórica de “a arte mestra do trivium” é um lembrete quanto à ambivalência associada ao termo. Durante as pesquisas para a terceira edição do American Heritage Dictionary, os editores indagaram de especialistas no vernáculo se a sentença retórica vazia era redundante. Um terço dos especialistas disse que sim, enquanto a maioria ainda aceitava o sentido tradicional do termo. Em sua obra sobre a retórica, Aristóteles dá esta definição: “A retórica pode ser definida como a faculdade de, em qualquer situação, perceber os meios de persuasão disponíveis” (1.2). Todavia, mesmo na sua Retórica, Aristóteles é obrigado a justificar o seu uso. Ele argumenta que o uso de algo bom para um fim mau não nega a boa qualidade da coisa mesma. “E, se é possível objetar que alguém que faça mau uso de tal poder da palavra pode causar grande dano, então esta é uma acusação que poderia ser feita também contra todas as coisas excelentes, exceto a virtude, e, acima de tudo, contra as coisas mais úteis, tais como a força de vontade, a saúde, a riqueza e a capacidade de comando” (1.1) (Aristóteles, The Rhetoric and the Poetics of Aristotle. Trad. W. Rhys [Rhetoric] e Ingram Bywater [Poetics]. Nova York, The Modern Library, 1984).

[15] No original, o nível iletrado de cavalo é exemplificado por hoss, intraduzível para a língua portuguesa. (N. T.)

[16] John Milton, Artis Logicae. Trad. Allan H. Gilbert. The Works of John Milton. Nova York, Columbia University Press, 1935, v. 2, p. 17.

[17] Aristóteles diz: “A ação [práxis] é diferente da produção [poíesis]. A arte é uma capacidade de produzir com raciocínio reto. É produção e não ação. A carência de arte é uma disposição acompanhada de falso raciocínio.” In: Ética a Nicômaco, 1140a.

[18] O Trivium oferece uma precisão no modo de pensar que frequentemente se reflete no uso de categorias. Neste aspecto, a irmã Miriam Joseph segue Aristóteles, cujos escritos dão forma a O Trivium. Categorias é uma das obras de Aristóteles que apresentam a sua teoria da lógica.


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O modelo de Educação Jesuíta

Santo Inácio de Loyola
Fundador do Jesuítas

Analisando os últimos 400 anos em que os jesuítas estiveram engajados na educação, é evidente que eles estiveram na linha de frente, um fato universalmente admitido por amigos e inimigos. Há um livro que relembra uma conferência proferida no final do século XIX pelo presidente de uma prestigiosa universidade não católica chamada The Jesuit and Puritan Systems Compared (Os sistemas jesuítas e puritanos comparados). É um constante e violento ataque à fé católica e aos jesuítas, mas mesmo assim foi admitido pelo antagonista – eis por que, imagina-se, nos séculos XVII e XVIII, os jesuítas eram acusados de bruxaria e magia – que ele não podia argumentar que os jesuítas estavam fazendo algo incrível, que estavam ensinando e educando e liderando, e influenciando a sociedade através de sua educação.

Santo Inácio estava tentando formar uma tropa de choque para o papado, um grupo de homens pequeno, móvel e bem-educado que tinha mobilidade – eles não seriam amarrados nem por deveres paroquiais nem educacionais. Quando o papa precisava deles em algum lugar, eles deveriam ser enviados. Era isso que Santo Inácio tinha em mente ao fundar a Companhia de Jesus. No entanto, sendo um santo, ele propôs e, em seguida, Deus dispôs.

E o que aconteceu muito rapidamente, mesmo na vida de Santo Inácio, foi a sua percepção de que o caminho para defender a fé é através da educação. Há um desenvolvimento orgânico, certamente com os jesuítas e também conosco, da necessidade de nosso envolvimento na educação. Não há mais vocações provenientes dos lugares onde poderíamos esperar no passado, devido às condições religiosas e sociais de hoje. Estamos reconhecendo o fato de que, para cumprirmos os nossos objetivos precisamos, então, nos tornar muito sérios sobre educação e lidar adequadamente com nossas escolas.

No excelente livro The Jesuits and Education, Pe. William J. McGucken, S.J, diz:

Quase contra sua vontade, Santo Inácio e seus seguidores passaram a ver o poder da educação. Isso não seria uma cura para a heresia, mas um preventivo disso. Para salvar o sul da Alemanha para a Igreja, era necessário um gênio como Pedro Canísio, e até mesmo seus heroicos esforços eram impotentes para remediar todos os estragos causados pela heresia e pelos prelados do mundo. Mas uma vez que você tenha o controle da juventude, treine-os em princípios corretos, comunique a eles, ao mesmo tempo, uma educação igual ou superior a qualquer um na Europa, e todo o mundo será salvo para a Igreja (p.9).

Uma vez que Santo Inácio percebe que Deus dispõe a ele para entrar na educação, ele o faz, e então você tem esse grande sistema educacional dos jesuítas, que se desenvolverá até sua desintegração nos últimos tempos.

Antes de entrar realmente nos objetivos da metodologia jesuíta, precisamos primeiro nos familiarizar com a Ratio Studiorum, o manual jesuíta de educação.

Os jesuítas não começaram a estabelecer escolas seculares, isto é, matricular estudantes que não pretendiam entrar em sua ordem como religiosos. Eles chegaram a ver a necessidade de ter tais escolas, no entanto, como um desenvolvimento lógico e natural do seu propósito. Sua grande conquista pode ser medida recordando as condições sociais do tempo que foram culminadas pela destruição, implosão e corrosão do sistema universitário. A maioria das universidades da época eram canteiros de heresia. Um remédio tinha que ser encontrado. Santo Inácio não estava prestes a levar seus jovens e enviá-los a essas universidades para serem treinados. Ele percebeu que tinha que fazer a educação ele mesmo. Este foi um espelho do início do sistema educacional jesuíta.

A meta histórica dos jesuítas era dar ordem, hierarquia, estrutura, unidade e metodologia à educação. Este é o seu grande legado, e aprender com isso é algo extremamente benéfico para nós no campo da educação.

Eles começaram a fundar faculdades. Havia uma faculdade em Goa; São Francisco Xavier começou a colocar pessoas naquela faculdade e treinou jesuítas para começar a ensinar. São Francisco Bórgia fez o mesmo na Espanha. Então, em 1551, Santo Inácio decidiu fundar o Colégio Romano. Uma vez decidido, ele determinou que seria o melhor do mundo, um modelo de todos os modelos. Ele não poupou esforços nem gastos para torná-la a maior de todas as universidades do seu tempo. Essa foi a mentalidade de Santo Inácio, da qual, dependendo do nosso caráter individual, devemos compartilhar.

Havia necessidade de um sistema de educação para um sistema de estudos; portanto, eles se colocaram na tarefa. Eles começaram a reunir vários documentos, alguns antecedentes da Ratio Studiorum: o De Studiis Societatis Jesu, o Ordo Studiorum e a Summa Sapientiae.

Finalmente, em 1581, o quinto Superior Geral, Cláudio Aquaviva, um pouco parecido com o que São Pio X fez para o direito canônico, decidiu pesquisar e combinar todos esses documentos em um manual para que qualquer um pudesse saber o que os jesuítas queriam dizer sobre educação – os papéis do reitor, prefeito e professor; seu modo de operação, etc. Aquaviva foi eleito em 1581; Em 1584, ele começou seu trabalho sobre a Ratio, mas somente 1599 que a Ratio Studiorum completa foi publicada. Os jesuítas não eram sujeitos do estilo “band-aid”; eles não estavam fora para simplesmente remendar as coisas. Eles decidiram fazer as coisas corretamente, não importando quanto tempo levasse e estavam convencidos de que não poderiam proceder de outra maneira, já que esse apostolado considerava a educação das futuras gerações, de seus próprios homens e professores, e a adequada construção de suas escolas. De modo algum negligenciaram o “aqui e agora”, mas tinham uma visão de longo prazo do seu apostolado educacional. Quando, 15 anos depois de ter começado, o Ratio Studiorum saiu, seu uso era obrigatório.

Este documento foi fundamental para dar estrutura aos jesuítas e tornar seu sistema educacional possivelmente o maior da história do mundo. Suas faculdades, universidades e escolas secundárias se espalham pelo mundo.

A Ratio Studioroum é muito inaciana. Não é um tratado teórico sobre educação; é um código prático para estabelecer e conduzir escolas. Estabelece o quadro, apresenta os objetivos educacionais e os arranjos definitivos de aulas, horários e programas, com atenção detalhada aos métodos pedagógicos e, de forma crítica, à formação de professores, que Aquaviva colocou no topo da lista. O coração de qualquer escola são seus professores, e isso deve estar no topo da lista.

Em geral, o que é importante para nós é compartilhar a sabedoria dos companheiros católicos, mesmo aqueles do passado. Por suas razões, o Deus Todo-Poderoso dispôs-nos a viver nestes tempos e, por mais loucos que sejam, devemos nos beneficiar da riqueza do pensamento e da ação de católicos do passado. Não devemos reinventar a roda. A Ratio e o que os jesuítas fizeram é útil para nós. A essência de sua visão é muito bem resumida por pe. Hughes:

Existe a melhor maneira de fazer tudo e não menos importante na educação. De maneira tão positiva, alguns elementos são essenciais em todos os momentos, enquanto outros são acidentais e variam com o tempo, lugar e circunstância. O sistema ideal preservará em sua integridade aquilo que é essencial, e então adaptará os princípios gerais com o ajuste mais próximo ao ambiente particular (Loyola e o Sistema Educacional dos Jesuítas, p.141).

Acho que é muito importante ter em mente que, embora os jesuítas tivessem a Ratio Studiorum, não eram escravos dela. Eles eram amantes dos princípios consagrados na Ratio, não escravos de sua carta. Em outras palavras, conheciam os princípios e prudentemente os aplicavam na situação específica. Neste ponto de nossa história, podemos aprender com os jesuítas, os salesianos, os cristãos, os maristas e tirar o melhor de cada um deles. Certamente, haverá princípios perenes subjacentes em todos os seus sistemas, mas também meios particulares de abordagem, metodologia, estrutura de classes, currículo, etc., que podemos adaptar e usar a nós mesmos.

Objetivos

Por que os jesuítas se envolveram com a educação? Por que nós faremos o mesmo? Essas perguntas são facilmente respondidas respondendo-se à pergunta subjacente a ambas: “Por que qualquer ordem da Igreja Católica existe?” O que Santo Inácio escreve nas instituições:

O fim da sociedade não é apenas cuidar da salvação e perfeição de suas próprias almas com a graça divina, mas com a mesma [divina graça] seriedade para se dedicar à salvação e perfeição de seus próximos. Pois foi especialmente instituído para a defesa e propagação da Fé, e o progresso das almas na vida e na doutrina cristã.

A partir disso, os jesuítas perceberam a necessidade de estabelecer escolas.

A filosofia jesuíta da educação nada mais é do que a filosofia católica da educação intimamente e inextricavelmente ligada a filosofia escolástica e os ensinamentos dogmáticos da Igreja, isto é, razão e religião, São Tomás e o Magistério. Primordial é a compreensão adequada da natureza humana como criada pelo Deus Todo-Poderoso e o destino final do homem.

O homem não é apenas um cidadão deste ou daquele país; ele nasceu para ser um cidadão do céu. Portanto, em toda a verdade, podemos dizer que o propósito da educação é uma preparação para a vida, de maneira mais próxima nesta vida, mas ao final da vida eterna. É por isso que os jesuítas educam e por que educamos. E estamos aqui para aprender os princípios necessários para cumprir esse objetivo. A glória de nossa vocação específica como educadores é apenas isso; temos a oportunidade de formar jovens almas. Isso é algo que os diretores e professores precisam meditar constantemente; deveria ser sua preocupação diária. Estamos intimamente envolvidos na formação de cidadãos para o céu, almas feitas para a Visão Beatífica. E isso nunca pode ser enfatizado demais.

Portanto, não estamos falando de intelectualismo. A educação não é apenas formação intelectual nem instrução; é a formação do homem todo. É interessante notar que as aulas formais de religião na maioria das escolas jesuítas nunca foram dadas mais do que duas horas por semana. Em vez disso, os jesuítas se esforçavam para que a religião permeasse tudo. Eles achavam um tanto estranho ou superficial fazer da religião um curso por si só, ou dedicar muitas, muitas horas a isso, simplesmente porque seus professores eram religiosos. Ao contrário dos jesuítas, não temos apenas padres ou irmãos religiosos ensinando. Devemos nos certificar de que trabalhamos nossas faculdades com o tipo certo de professor, não apenas alguém que saiba matemática ou história, mas um homem católico em estado de graça e lutando pela santidade para que a religião permeie sua classe, seja qual for o assunto. Isso é crítico, porque a religião não é apenas uma classe em um determinado momento; religião é tudo.

Religião é tudo ou religião não é nada!

Estamos cientes de como temos que lutar constantemente contra essa atitude de mediocridade chamada “catolicismo dominical”. O que estamos fazendo com nossos filhos? – Estamos educando-os para que não se tornem um daqueles “católicos dominicais”. Portanto, a religião tem que penetrar. Essa é a majestade da nossa vocação e que glória é essa! Todos nós sabemos o trabalho, tempo e esforço necessários para fazer o que temos que fazer em nossas escolas, mas vale a pena cada minuto. Não pode haver nada mais glorioso do que ser um professor ou ser um diretor, orientar professores, orientar toda a escola.

Os fins

O objetivo final é levar os alunos ao conhecimento e amor de Deus. Essencialmente, a educação é em última instância apostólica. É uma missão apostólica. Nós instilamos nas crianças um conhecimento e amor a Deus Todo-Poderoso, um conhecimento e amor pela santa Fé Católica, um entusiasmo pela Fé Católica, manifestando sua importância: que é o primeiro princípio, que não é apenas algo que eles fazem no domingo, ou algo que eles fazem na aula de religião. É algo que é importante o tempo todo – deve penetrar e permear! A escola, a educação, o método, o currículo, seja o que for: são meios para esse fim, que eles saibam, amem e sirvam a Deus Todo-Poderoso. Estamos aspirando a formar Cristo em todos e cada um desses estudantes. Que papel maior existe?

Os objetivos educacionais aproximados são, primeiro, desenvolver todos os poderes do corpo e da alma. É o homem todo que está sendo formado: seu corpo, sentidos, memória, imaginação, intelecto e vontade. Está desenvolvendo, disciplinando e direcionando todas as capacidades da personalidade humana. Esse é o propósito da educação. Aqui está uma citação notável da Ratio Studiorum:

O desenvolvimento da capacidade intelectual do aluno é a parte mais característica da escola. No entanto, esse desenvolvimento será defeituoso e até perigoso, a menos que seja fortalecido e completado pelo treinamento da vontade e da formação do caráter.

Se você está apenas atirando para o conhecimento intelectual e não está fortalecendo a vontade e formando o caráter ao mesmo tempo, não apenas a educação é defeituosa, mas é capaz de ser “até perigosa”! A educação prepara a natureza para receber e cooperar com a graça de Nosso Senhor. Estamos instruindo o intelecto, treinando a vontade e formando o caráter – em outras palavras, o homem todo – baseado em princípios sérios.

Meio Distintos

Crítico para os jesuítas e para qualquer boa escola é a formação de professores e seu ensino hábil. O professor é o coração do processo educacional. Obviamente, o padre responsável como diretor é aquele que dá a direção. Ele é claramente a cabeça; ele é aquele que definirá o espírito e o tom para a escola. No entanto, os professores são aqueles com as mãos no barro fazendo a formação imediata regular. É por isso que um professor ruim, carente de disciplina ou conhecimento, causa desastres, e o pior é quando extingue o desejo dos alunos de aprender e amar o aprendizado. Seja vigilante! Professores entediantes, professores despreparados, corpos mornos jogados em uma cadeira porque ninguém mais está disponível – esses são a destruição de uma escola, e não apenas a destruição de uma escola, mas a destruição de almas confiadas aos nossos cuidados. Nós não podemos fazer isso! Qualquer conversa sobre o estabelecimento de escolas significa necessariamente que falamos sobre ter professores treinados adequadamente ensinando nossos filhos.

Ensino hábil

Pegue em suas mãos e leia Teacher and Teaching do pe. Richard Tierney, S.J. Ele diz:

A verdadeira educação é geralmente o trabalho de professores habilidosos. Uma vez que a primeira é uma pérola sem preço [a verdadeira educação], o valor deste último dificilmente pode ser superestimado. Ensinar é a arte do interessante, o inspirador (p.27).

Um professor genuíno leva os alunos à ação, intelectual ou física, seja qual for o caso. Ter esses professores é o primeiro meio de assegurar uma boa educação para um estudante. Como diz o famoso ditado: “Muitos ensinam, mas poucos inspiram”. Não se pode exagerar a necessidade de ter bons professores inspiradores. Podemos sofrer várias restrições monetárias que, acreditamos, nos impedem de compensar um professor em proporção ao seu valor, mas eu diria que agora é a hora de fazer todos os sacrifícios possíveis para recompensar nossos professores e atrair pessoas qualificadas.

Não nos esqueçamos da necessidade de treinamento adequado. Devemos monitorar e nutrir os professores que temos. Reciprocamente, eles devem desejar nosso monitoramento e nutrição. Nem nós nem eles podem esquecer que são professores católicos. Avaliação e crítica construtiva devem ser oferecidas de forma contínua durante todo o ano letivo. Até mesmo o melhor professor ainda precisa se desenvolver para melhorar; nós fornecermos os meios para isso é uma parte importante do nosso papel administrativo como um verdadeiro diretor.

Pe. McGucken escreve magistralmente sobre a história e pedagogia da educação jesuíta em The Jesuits and Education. Ele diz que Santo Inácio e a Companhia estavam determinados, uma vez que o trabalho de educação era entendido como a vontade de Deus e foi decidido envolver-se nele, para não poupar esforços nem despesas na formação de seus professores. Eles fariam qualquer coisa para garantir que os professores fossem formados corretamente. Isso é algo em que temos que refletir, que o ensino especializado depende muito do sucesso de uma escola.

Currículo

Uma boa educação será determinada pela qualidade do currículo. Infelizmente, levaria meses para examinar os detalhes do currículo, mas vamos discutir alguns princípios básicos. O primeiro princípio orientador é que o currículo demonstre formação, não apenas informação. O currículo é estruturado para desenvolver os hábitos intelectuais e morais, para formar o caráter. O objetivo de um currículo católico não é meramente ser um acúmulo de informações para entregar ao aluno. Este, no entanto, é o objetivo dos currículos na era moderna, informacional e tecnológica – de que o estudante adquira o máximo de fatos possível, coloque-os dentro de seu cérebro; então ele é um homem inteligente. Não! – Mas devemos ter certeza de não ir ao outro extremo, ou seja, de que a informação factual não é importante. Embora não seja o principal, nem a causa formal, ainda é o material da educação. Precisamos saber fatos e datas, circunstâncias históricas – essas coisas compõem a questão da educação. Elas não são o fim, mas são meios até o fim.

Uma alma não é adequadamente formada pela mera acumulação de informação. A metodologia da educação jesuíta era formar um homem para treiná-lo a pensar. Um dos nossos maiores desafios é treinar um jovem para pensar, analisar. Essa incapacidade de pensar será superada pela formação dos hábitos intelectuais e morais de uma pessoa, ajudando o estudante a penetrar na realidade das coisas, em vez de meramente encher sua mente com resmas de fatos. O ensino com conhecimento e envolvimento irá percorrer um longo caminho nesta batalha.

O segundo princípio em relação ao currículo é que seu estudo seja intensivo e não extensivo. Queremos formar, não simplesmente informar, e a maneira de fazer isso é ser intensivo, estudando em profundidade um número relativamente pequeno de sujeitos, em vez de estudar superficialmente um grande número. É estudar as coisas mais importantes e estudá-las completamente.

Os clássicos

Para o ensino médio, os jesuítas consideravam as disciplinas humanas – literatura, língua e história – a coisa mais importante. A ênfase nesses assuntos, sem excluir absolutamente os outros, naturalmente contribuiu para a formação equilibrada do ser humano, tornando-o um receptáculo adequado para a graça de Deus. As disciplinas humanas oferecem valores permanentes e universais para a formação do homem. Por que os grandes clássicos, as grandes obras e os grandes autores foram estudados? – Simplesmente, eles fornecem o que é necessário para formar uma alma, formar uma personalidade. Pe. Richard Tierney, S.J., alude a isso em seu livro Teachers and Teaching:

O que é que mais contribuiu para imortalizar os grandes clássicos? Certamente não o nome do autor, pois um autor brilha na luz refletida em seu livro. Não em sua dicção, pois a dicção sozinha é como o som de latão e címbalos tilintantes. O que então? Os grandes pensamentos e os nobres feitos que parecem fazer as páginas palpitar a vida. Homero é o herói de Homero… É o fogo que flui na mente muito depois de a música da língua ter morrido no ouvido e a beleza da imagem ter desaparecido da memória. É isso e coisas afins que chamam ao que há de melhor no homem que educa.

A literatura não visa apenas palavras e frases e figuras. Devemos olhar abaixo para o principal instrumento pelo qual devemos realizar o objetivo em vista. Teremos louvor por tudo o que é nobre, desprezo por tudo o que é básico. A Guerra de Tróia será mais do que uma sucessão de batalhas; será uma punição temporal do crime. A fuga de Enéias da cidade em chamas será um exemplo heróico de amor e reverência pelos pais e autoridades. O inferno da Eneida e a piscina de Fédon mostrarão, primeiro que a razão, sem a revelação, exige uma punição futura para o crime; em segundo lugar, que o dogma católico sobre este ponto se encaixa perfeitamente nos ditames da razão e encontra um instinto da natureza. Então, a lição será tornada real por referências ao pensamento atual e outras condições contemporâneas (pp. 4, 6).

Ao utilizar essas obras perenes, os jesuítas formaram a alma por ações nobres e grandes atos; inspirou seus alunos e forneceu uma visão para a mente jovem. Estes são conceitos permanentes na educação e por que é tão necessário basear nossas escolas neles. Por tais estudos, os jesuítas fomentavam em seus alunos a capacidade de pensar pensamentos válidos e expressá-los com eficácia. Para fazer a mesma coisa, devemos também nos concentrar nos clássicos e disciplinas humanas. Nossos currículos devem apresentar um corpo de conhecimento que valha a pena (não apenas qualquer coisa e tudo), estimular no aluno o entusiasmo de pensar e organizar esse conhecimento de uma forma viável e, finalmente, dispor dele para expressar seus pensamentos de forma eficaz escrevendo ou especialmente falando. É por isso que os jesuítas basearam sua educação nesses clássicos. Os jesuítas a chamavam de eloquentia perfecta; conhecer as coisas certas, conhecê-las bem, ser capaz de organizá-las adequadamente e expressá-las da maneira apropriada.

A sucessão dos currículos das ciências humanas para a filosofia e teologia é muito importante. Algumas pessoas objetam que só precisamos aprender o catecismo e ler a vida dos santos. Mais uma vez, isso não é apenas educação. Não podemos restaurar todas as coisas em Cristo com tal ponto de vista. É um ponto de vista que se opõe demasiadamente ao ponto de vista dos utilitaristas que excluem da educação tudo aquilo que não ajudará a ganhar dinheiro! É condenado pelos grandes educadores católicos da história e por qualquer homem com bom senso. Os jovens são deficientes nessa área, essa área vital e fundamental. Pe. Hughes faz um breve resumo, abordando os responsáveis ​​pelas escolas:

Antes de ensinar homens, moldar mestres de homens ou mesmo conceber a primeira ideia de legislar para o mundo intelectual, ele deve primeiro aprender. Há duas lições fundamentais que ele aprende, e elas vão formá-lo: uma é que, entre todas as atividades, o estudo da virtude é supremo. A outra é que, suprema como a virtude é, sem aprendizado secular, a maior virtude fica desarmada, e na melhor das hipóteses é lucrativa para si mesmo (p. 15).

Deus formou a natureza humana para trabalhar de uma maneira específica. Ele dá graças para aperfeiçoar essa natureza, não para trabalhar fora dela. A educação deve formar todo o homem, corpo e alma, natural e sobrenatural.

Pe. Tierney ataca os utilitaristas ao falar de matemática, e nós vivemos hoje em um momento em que é indevidamente exaltado. Ele fala sobre a principal função do estudo da matemática, que é treinar o intelecto para não pular no escuro, mas para andar cautelosamente em terreno firme sob uma luz plena. A matemática não é inspiradora, a matemática não é edificante. Matemática é matemática. Portanto, ter uma escola desenvolvida em torno dela é incrivelmente utilitarista e, em última análise, uma malformação de nossos filhos. Isto voa em face do melhor da história educacional. Os pais costumam dizer: “Se o nosso filho não está estudando matemática avançada, como ele vai para a faculdade, como ele vai se tornar um engenheiro?” A resposta é: se o seu filho é formado adequadamente aos 18 anos e sabe pensar, ele pode ir a qualquer faculdade e abordar os assuntos de sua escolha. Isso pressupõe que nós lhe demos os fundamentos. Se alguém conhece a álgebra e a conhece bem, ele não terá nenhum problema para o cálculo na faculdade. Não há razão para nos preocuparmos em ensinar cálculos e matemática avançada em nossas escolas, a menos que você tenha uma série de escolas especificamente matemáticas; isso, no entanto, seria uma deformação da educação.

Os Jesuítas e o Latim

Uma discussão é necessária sobre os jesuítas e o latim, porque todo o seu sistema escolar era mais ou menos baseado no latim, até mesmo no início do século XX. Uma diretriz da Província Maryland-Nova York da Companhia de Jesus lamenta o estado do latim nos currículos e admite o efeito adverso que isso teve em seu sucesso geral na educação. Diz que um retorno à maneira como os jesuítas sempre ensinaram o latim em suas escolas era absolutamente necessário.

Freqüentemente, argumentos são feitos hoje de que não precisamos mais do latim porque ele não é mais “útil”. No entanto, quanto é a perda do latim e nosso conhecimento desta grande linguagem ligada à perda de cultura e senso de história, para estudos clássicos adequados, para a realização dos objetivos tradicionais, clássicos na educação católica? Pe. Camille de Rochemonteix, um renomado historiador jesuíta, resume:

Então o latim foi celebrado em homenagem. Eles não tentaram formar matemáticos ou médicos, artistas ou agrônomos ou especialistas; antes, orgulhavam-se de saber, escrever e falar latim porque esse conhecimento era indispensável para o estudo da filosofia, a coroa de uma educação clássica; porque era o idioma da Igreja e da ciência; porque era a linguagem do passado em religião, literatura, filosofia e teologia; e porque ninguém pensava que uma educação pudesse ser liberal sem o latim.

Devemos lembrar o objetivo próximo dos jesuítas – tentar transmitir a cultura, fazendo um homem eloqüente ser um receptáculo apto e capaz da graça de Deus. O melhor e mais adequado meio de obter eloqüência na fala, na escrita – cultura – foi, para a mente jesuíta, a compreensão do latim – e quão grande foi o sucesso deles! Eles sinceramente e sem reservas acreditavam nisso, até os últimos tempos. Os jesuítas não negaram o título de “escolas latinas”. Foi o núcleo do currículo. Nove décimos de tudo foi ensinado em latim. Havia algumas escolas em que você não podia falar no vernáculo, mesmo fora da sala de aula. A língua da escola era latina. Eles acreditavam que o latim era o principal veículo e instrumento na formação da mente, e a chave para abrir a porta para a santa Madre Igreja e para a cultura clássica. Eles acreditavam que você não poderia se tornar um homem culto, obter os verdadeiros estudos clássicos e penetrar na mente verdadeira da Igreja, a menos que você realmente soubesse latim e fosse capaz de falar e escrever fluentemente. Este não era um objetivo impossível; Foi feito. Como eles frequentemente diziam, “o grego era para o estudante talentoso, o latim para todos!”

A Ratio Studiorum diz que o propósito do latim era ensinar cultura. Desejava que o latim fosse ensinado porque, sem ele, ninguém pode alcançar essa bela apreciação e se deliciar com as coisas belas, nem se sentir confortável e em casa com elas, o que é a marca da mente culta. A Ratio desejava que o aluno se tornasse um mestre de sua expressão e seu apreço: encontrar sua leitura em livros latinos, expressar seus pensamentos em latim, conversar, planejar, argumentar, sonhar, rezar, viver em latim. O treinamento da mente, formação adequada, foi um subproduto do ensino latino (The Jesuits and Education, pp. 163, 164).

O ensino, a aprendizagem e a compreensão do latim tiveram uma importância singular e o sucesso de suas escolas estava inextricavelmente ligado a ele.

É interessante e importante observar a maneira pela qual eles ensinaram a linguagem sagrada. Vamos dar a palavra ao pe. McGucken:

O objetivo do ensino latino, implicitamente contido na Ratio, era, como se viu, eloquentia – isto é, a capacidade de falar e escrever latim… Os meios adotados para fomentar a eloquência eram o método direto do ensino latino.

O “método direto” consiste em evitar, na medida do possível, o uso do vernáculo como o meio pelo qual o latim é aprendido. Muitas vezes, o método direto é referido como o método natural de aprendizagem de línguas. Temos muita sorte hoje em ter a série Lingua Latina Per Se Illustrata de Hans Orberg. Estas palavras tiradas das cartas de Woodstock (1893) de várias correspondências entre os educadores jesuítas americanos são apropriadas:

Não pode haver dúvidas sobre a possibilidade de os meninos americanos falarem latim; é algo que já foi feito antes, e agora está sendo feito em algumas de nossas faculdades, pelo menos em algumas classes. Alguns de nossos professores, não muitos, objetam que o latim é de fato um bom treinamento para a mente, mas não precisa ser falado. Não é necessário ter muita familiaridade com o ensino para saber que nosso curso de instrução é impossível nas classes mais altas, completamente impossível, se o latim não foi ensinado aos meninos anteriormente como uma língua viva… A inovação de ensinar latim através do o vernáculo foi introduzido pelos portistas realistas.

O método jesuíta tradicional de ensinar latim era, pelo menos até muito recentemente, o método direto. Como pe. McGucken observa:

A tradição do método direto morreu muito lentamente nas escolas americanas. Mesmo em 1910, o Calendário do Comitê de Estudos da Província de Maryland e Nova York recomendava enfaticamente que a conversação em latim fosse “mais cuidadosamente atendida em nossas classes mais baixas, como se observou que uma tendência negligencia cada vez mais a prática tradicional da Sociedade (pp.199.200).

O estudo da linguagem por meio de traduções idiomáticas e ativas não foi imposto. Tal processo era quase desconhecido nas escolas jesuítas antes da supressão da Sociedade. Foi no máximo tolerado na Sociedade. Pode-se dizer que é um grande obstáculo ao domínio total da língua. Isso porque, por esse método, você está aprendendo a traduzir; você não está realmente aprendendo latim.

Segundo os jesuítas, o latim era para todos e necessário para a formação normal. O grego era para o aluno talentoso. Todos falavam e escreviam latim. Com o “método de tradução”, somente os melhores, os mais brilhantes e os mais motivados ficam bons o suficiente para traduzir o latim para começar a lê-lo. O método direto tenta fazer com que todos leiam. Nem todos serão fluentes, mas a maioria dos meninos pode obter certa proficiência em latim. Claro, isso pressupõe que o professor vá trabalhar primeiro e ser muito bom no próprio latim, a fim de obter esse conhecimento – “Você não pode dar o que você não tem”. Esse método evita a situação em que quase todo mundo odeia o latim porque somente os mais talentosos fazem a transição. Para os jesuítas, o latim é o veículo para formar um homem culto, os vir eloquens; e o caminho a percorrer é o “método direto”.

Princípios na sala de aula

Os jesuítas chamam sua metodologia de ensino de “fórmula de domínio”. Ele contém dois passos. A primeira é a auto-atividade – ut excitetur ingenium – em outras palavras, levando o aluno a pensar. Por parte do aluno, a participação ativa na sala de aula é fundamental. Os professores não estão lá apenas para informar, para dar grandes discursos e sermões. Eles estão lá para fazê-los pensar e ajudá-los a aprender – para formar essas almas – e isso significa fazê-las por conta própria. Isso é educação. É como a mãe ajudando seu filhinho a dar seus primeiros passos: você o guia, e sua esperança é que a criança ande sozinha. A mesma verdade é ilustrada por um pai ensinando seu filho a andar de bicicleta: as rodas de treinamento se soltam, o pai corre ao lado e, quando a criança não está olhando, ele tira a mão. A criança pode cair, mas levanta-se…. O domínio do assunto e as aulas bem preparadas são fundamentais nesta área, mas isso torna as aulas interessantes. A melhor maneira de matar tudo é estar lá em cima aborrecendo a aula com recitação monótona ou lições despreparadas e sem imaginação. Nós todos sabemos o que isso faz para nós; Todos nós já tivemos esses professores no passado. É por isso que o ensino é frequentemente chamado de “arte do interessante”.

Em meio a essa atmosfera intelectual estimulante, o segundo passo da fórmula entra em ação, que é o domínio do assunto progressivamente difícil – alcançando o equilíbrio necessário entre compreensão e progressão. Muito de acordo com o senso comum, esta é a metodologia pela qual os professores jesuítas procedem: crianças imbuídas de um verdadeiro desejo de aprender lidando com materiais cada vez mais desafiadores. Isso leva à formação de hábitos não apenas intelectuais, mas também morais. Uma exposição completa é encontrada nos livros jesuítas sobre educação. Aqueles que ensinam acharão que vale a pena ir a esses livros e ver como os jesuítas os expõem. Sem poder abordá-las completamente aqui, deixe-me pelo menos enumerar os componentes importantes para o seu ensino: pré-eleitoral (a preparação adequada antes dos estudos); repetição; trabalho de memória; emulação ou competição – eles estavam sempre promovendo uma competição saudável nos vários domínios. Pe. McGucken em The Jesuits and Education detalha estes.

Atividades extracurriculares

Estudos complementares são atividades extracurriculares. Coisas como peças de teatro eram muito importantes no sistema jesuíta. Tal atividade coloca a coisa na vida real. Tendo já coberto o trabalho na aula de literatura, os estudantes agora deveriam produzir a peça. Com as próprias mãos, a coisa ganha vida; eles agem, vêem seus amigos agirem; eles são parte disso. O interesse que isso gera é incrível. Enquanto a peça está acontecendo, os garotos que não estão em uma cena correm para a parte de trás da tenda para assistir a ação. É algo bonito; é a educação que vem à vida, complementando maravilhosamente a experiência em sala de aula. Os jesuítas eram muito para isso, com departamentos teatrais muitas vezes muito elaborados.

A educação física também tem um papel importante no desenvolvimento de nossa juventude. Isso vem do padre. O livro de Schwickerath, Jesuit Education: Its History and Principles, no qual ele escreve sobre a cultura física e a educação física do aluno:

A cultura física é uma das características mais importantes de um bom sistema de educação: mens sana in corpore sano. Atletismo, esportes ao ar livre e ginástica fazem muito pela saúde física dos alunos. Além disso, exige e, consequentemente, ajuda a desenvolver rapidez de apreensão, firmeza e frescor, autoconfiança, autocontrole, prontidão para subordinar os impulsos individuais a um comando. Isso tudo é valioso para a educação (p. 570).

Em nossos tempos loucos por esportes, devemos permanecer equilibrados, não nos alternando nem para um extremo nem para o outro. A educação física tem claramente seu lugar na educação, mas deve desempenhar seu papel adequado na hierarquia. Como sempre, a virtude está no meio.

Conhecimento Pessoal e Disciplina

Para citar o livro Teacher and Teaching do Pe. Richard Tierney:

Os professores estão mais preocupados com a formação da alma, não apenas com o intelecto, a formação do caráter. Manter relacionamentos próximos é um meio de inspirar os alunos, de formar altos ideais, de ensinar por meio do exemplo, tanto nas ordens espirituais como nas intelectuais… Que parte o professor deve desempenhar na formação do caráter do aluno? Em geral, ele deve inculcar princípios e fomentar a formação do hábito. Isso requer atividade constante e conhecimento elaborado, mas definido. Mero conhecimento de certas fraquezas comuns da natureza humana não é suficiente. Cada menino em particular deve ser conhecido intimamente e treinado individualmente. Caso contrário, há muito espancamento inútil do ar (p. 106).

Este é um resumo de sua abordagem. Precisamos conhecer nossos alunos com conhecimentos mais que superficiais. Um internato é uma bênção para esse fim porque existe a oportunidade de conhecer os alunos em várias circunstâncias, antecipar suas reações, lidar com as várias personalidades e ajudá-los a adquirir a virtude. É mais difícil em um dia escolar, certamente. Você não terá as mesmas oportunidades, mas teremos que nos esforçar para organizá-las. Isso significa organizar atividades extracurriculares, atividades fora da escola; significa organizar as coisas para conhecê-las. Se você não conhece alguém, você não pode afetá-lo ou direcioná-lo adequadamente para uma meta, que é, para nós, encorajar no estudante um grande amor de nosso Senhor Jesus Cristo, como o Papa Pio XI disse, “verdadeiros e perfeitos cristãos”. Nossos alunos são os “livros” que devemos estudar. Se apenas tivermos um conhecimento superficial deles, se não soubermos com quem estamos lidando, estaremos “batendo no ar”.

Para discipliná-los, a supervisão deve ser constante e criteriosa. Pe. Tierney prossegue por três páginas sobre “espionagem”, como isso é humilhante para o cargo de professor e, em última instância, contraproducente. Um exemplo de sua supervisão zelosa, prudente e caritativa era que os escolásticos e mestres eram obrigados a participar de recreação com seus alunos. Se você é fisicamente capaz de fazer isso, então faça: são os jesuítas. A razão subjacente é clara: isso é recreação, tempo livre, não o tempo de aula obrigatório, portanto, uma influência maior pode ser exercida.

A punição corporal foi seriamente desencorajada. A vontade precisa ser vencida e a punição corporal dificulta isso. Eles não disseram que jogaram tudo fora, mas como diriam os educadores católicos, seria uma raridade. Sucessivas gerações de sistemas de educação católica eram apenas os herdeiros da grande sabedoria dos tempos. A chave, o elo perene, é caridade de Cristo – amor em vez de medo.

O segredo da ascendência magisterial, como Inácio de Loyola projetava, deveria ser encontrado na realização intelectual do mestre ou professor, que naturalmente impressionava as mentes jovens; e também em uma afeição paterna, que conquistou corações jovens. Será que algo mais parece necessário à plena ideia de autoridade (Pe. Thomas Hughes, S.J., Loyola e o Sistema Educacional dos Jesuítas, pp. 107, 108)?

Do livro The Jesuits and Education do pe. McGucken, lemos:

Em suma, a disciplina no colégio jesuíta do século XVII era amena. Houve, em nítido contraste com a prática vigente do dia, muito pouco castigo corporal. Os jesuítas acreditavam que a prevenção da desordem era melhor do que os remédios pós-factuais e, em geral, tentavam conquistar seus alunos pelo amor e não pelo medo.

Ao longo de sua história, foi assim que os jesuítas motivaram seus alunos.

Nós não somos jesuítas, nem salesianos, nem dominicanos, etc., mas temos a oportunidade de usar o que se mostrou mais eficaz nas abordagens das ordens da Igreja Católica que se tornaram conhecidas pela educação. Porque herdamos a nobre tarefa da educação, temos o dever de aplicar os princípios perenes da educação. Devemos continuar nos dedicando ao estudo da educação: sua história, métodos, a formação adequada do caráter … Este é nosso dever, nossa glória, nosso próprio caminho para o céu. Confie aos nossos cuidados os futuros cidadãos do reino eterno. E não devemos poupar despesas, nem trabalho, nem esforço ou energia, para colaborar com o Senhor da vinha e realizar plenamente esta colheita celestial!

Tradução e adaptação por um congregado mariano
de The Jesuit Model of Education, Pe. Michael McMahon

Texto retirado do site: Link

Texto original em inglês: Link


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