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Este é um blog sobre Matemática em geral, com ênfase no período clássico-medieval, também sobre as Artes liberais (Trivium e Quadrivium), so...

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Escola x Universidade - Instituto Hugo de São Vítor

Atual Abadia de Cluny

Escola x Universidade – Parte I

Temos universidades no Brasil? A resposta, por incrível que pareça, é não.

A academia de Platão é um exemplo de universidade. Não podemos nos confundir quanto a isso. Há uma enorme diferença entre a educação escolar e a educação universitária.

O que temos hoje em dia no Brasil são “escolas para adultos”, escolas de formação profissional. Essa educação, porém, não cumpre o propósito típico de uma universidade. Na academia de Platão, por exemplo, o aluno para poder estudar deveria ter o conhecimento de geometria, ou seja, a pessoa teria que ter passado por um conhecimento de tipo escolar. Pressupõe-se que, para ser um geômetra, o aluno já tenha sido alfabetizado, que conheça todos os grandes poetas, saiba cantar num coro, tenha participado da encenação de uma tragédia etc. Todos esses conhecimentos são adquiridos na esfera da educação escolar.

No recinto da escola, o professor que ensina determinada disciplina dispõe de um gama de preceitos que serão ensinados para que os alunos cheguem a um fim específico. O professor de matemática começa ensinando os números, a adição, a subtração, a multiplicação, divisão, logaritmo e assim por diante. Tudo isso se dá no âmbito da escola. O professor de escola normalmente está ensinando os mesmos conteúdos todos os anos e é isso que a educação escolar é e precisa ser.

No campo da universidade acontece a mesma coisa que na escola hoje em dia. Não temos mais a figura da cátedra, pois essa foi substituída pelo departamento. O que vemos nada mais é que uma “escola para adultos”, pois apenas se repete ensinamentos técnicos ano após ano.

Na universidade, portanto, não ensinamos as mesmas matérias, os mesmos conteúdos o tempo todo e o professor não repete - ou não deveria repetir - seus ensinamentos todo o semestre a cada ano. A universidade deveria ser um ambiente de ensino diferente do da escola. O problema hoje, por conseguinte, não está nas faculdades comportando-se como escola, mas está em não haver universidades genuínas.

Escola x Universidade – Parte II

O que é o ensino universitário?

O ensino universitário é como o ensino “superior” do mundo grego. A título de exemplo, a filosofia era considerada um ensino de tipo superior. Não sem fundamento até nos dias de hoje nos EUA há o título de PhD (doctor philosophiae), pois esse é o conhecimento de cunho tipicamente universitário.

O professor universitário pesquisa e publica. O que este professor, no entanto, ensina? Seria, pois, os resultados de sua pesquisa? Não!

Frequentemente um professor universitário da área do direito que ministra a disciplina de processo civil, por exemplo, irá ensinar todo o semestre a mesma coisa e repetidas vezes; mas sua pesquisa não está ligada à disciplina que ele leciona. Uma coisa é lecionar todo o ano a mesma matéria sobre o código civil, porque isto caracteriza uma tarefa de cunho escolar, porém quando este mestre está pesquisando e publicando, isto caracteriza uma atividade de cunho universitário.

Ademais, poderíamos ter uma “escola de direito” que ensine os alunos a conhecer os códigos, o ordenamento jurídico etc. A universidade, contudo, irá tratar (ou deveria tratar) dos fundamentos primeiros, das consequências últimas do direito, da justiça, das instituições etc. Isso é deveras um trabalho universitário, o qual se constitui para investigar todas essas áreas.

Hegel, por exemplo, não teria conseguido escrever sobre quase todos os assuntos se ele tivesse que ficar dando aula da mesma coisa todos os anos. Num semestre ele dava aula de filosofia do direito, no outro de estética, no outro de fenomenologia do espírito etc., e assim ele ia aplicando suas pesquisas a diferentes áreas do conhecimento, pois é isso que faz um professor universitário. Cada cadeira ministrada tornava-se um livro e assim sucessivamente.

O que acontece em nossas universidades hoje é que se confundem escola e universidade. Junto às universidades havia, antigamente, uma escola anexa para auxiliar os alunos com dificuldades em acompanhar os estudos universitários. Santo Inácio, quando estudou na universidade de Paris, morou no Colégio Santa Bárbara e tomou aulas de reforço de latim para que pudesse compreender os estudos superiores.

Escola x Universidade – Parte III

Qual é o fim da universidade?

A universidade é o lugar de busca do conhecimento universal, ou seja, um conhecimento que é aplicável a todas as coisas. Assim é uma universidade em sua essência. Hoje em dia nós temos pesquisas nas universidades; no entanto, também há nelas atividades que mais têm a ver com a atividade escolar do que com a universitária. Por causa disso, nem tudo que ocorre nas universidades nos dias de hoje pode ser chamado de atividade universitária.

A universidade é uma comunidade de doutores, e quando alguém quer tornar-se doutor, recorre a pessoas que já alcançaram esse título para que possa imitá-los e ser avaliado por eles. Enquanto houver disciplinas a serem cursadas no mestrado ou doutorado, estaremos vilipendiando aquilo que chamamos de pós-graduação. Enquanto precisarmos frequentar aulas, não teremos condições nenhuma de sermos mestres ou doutores, pois assistir a aula é uma atividade escolar. Ou seja, não há diferença entre matricular-se numa escola aos 7 anos ou num curso de doutorado, exceto quanto à complexidade dos assuntos.

Na academia de Platão fica bastante claro a divisão entre uma educação de tipo escolar e a educação de tipo universitário. Em inglês, por exemplo, temos palavras diferentes para falar da aula na escola e da aula na faculdade. A aula na escola nós chamamos “class”, enquanto uma aula na universidade é chamada de “lecture”, ou seja, na universidade se fazem leituras.

Só podemos entender o que deve ser a universidade se entendermos que o conceito de universidade vem de “universal”, ou seja, a universidade é algo que diz respeito ao que é comum a todas as coisas. Embora esse pensamento tenha sido crucial para a concepção de universidade na Idade Média, foi notavelmente pouco influente na determinação de como as universidades deveras se desenvolveram. Esse pensamento esteve presente no ensino e aprendizagem dominicanos; mas as universidades no fim da Idade Média e início do Renascimento, bem como seus currículos, foram moldados por uma variedade de influências que mudaram muito o terreno universitário.

Fonte: Parte IParte II e Parte III.


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