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Quem matou o Latim nas escolas? - Três Vias Estudos Clássicos

1. Normalmente quando se fala sobre os responsáveis pelo fim do latim nas escolas não se dá nome aos bois. Estamos fazendo essa pesquisa de saber quem foram os 'notáveis' que tiraram o Latim das escolas e suas razões. Começamos hoje com Aliomar Baleeiro, consagrado nome entre estudiosos do direito tributário.

É fato que durante muitos séculos o Latim foi ensinado em escolas na antiguidade, na idade média e moderna. Aqui no Brasil essa tradição chegou com os padres jesuítas e suas primeiras escolas. Com a criação dos cursos institucionalizados o latim se manteve na grade curricular como disciplina obrigatória e requisito para admissão em cursos superiores (como Direito e Medicina). Contudo, em 12 de novembro de 1948 o então presidente Dutra apresentou projeto de Lei de Diretrizes da Educação (MSC 605/1948) em que colocava o Latim como disciplina optativa. A tramitação durou anos e em debates acadêmicos intermináveis. O projeto foi transformado em PL2222/1957 e finalmente aprovado em 1961 como a Lei 4024/1961 passando a entrar em vigor em 1962. Durante as discussões tivemos o discurso de Aliomar Baleeiro, advogado, jornalista, escritor (que durante o período do governo militar foi ministro do STF). Ele foi um dos defensores do fim do latim nas escolas. E seu argumento é que as faculdades deveriam investir mais em ciências naturais e não em formação clássica.

2. Continuando nossa série de postagens, em que estamos dando os nomes aos bois, para mostrar quem foram os responsáveis pelo fim do estudo do latim nas escolas brasileiras. Na postagem anterior falamos de Aliomar Baleeiro, influente jurista e político. Novamente um bacharel em direito, Olívio Montenegro, que foi jornalista, advogado, promotor de justiça. Na citação da imagem ele diz que não seria mais necessário o estudo do latim, já que existiam obras clássicas traduzidas para as línguas modernas. Em 29 de maio de 1960, em sua coluna no jornal Diário de Pernambuco, ele disse que condenava esse relevo que se dava ao latim e que seria melhor dar ênfase em línguas modernas. No mesmo texto Montenegro defendia que a matemática aprofundada deveria ser deixada para a universidade, devendo os jovens se dedicar apenas às contas básicas. A base para esse argumento dele é dizer que Beethoven era um gênio da música e não sabia sequer a conta de somar.

Infelizmente nessa época, década de 50 e 60, pessoas influentes na sociedade (políticos, professores médicos, advogados, engenheiros etc.) compartilhavam dessas ideias vindas do final do século XIX com Comte. Muito embora parcela dos núcleos universitários ainda mantivessem o valor do latim (especialmente os cursos de direito).

3. Estamos publicando uma série de notas em nosso Instagram @tres.vias em que procuramos nomear os responsáveis pelo fim do Latim nas escolas e o grande dano que isso causou. Não são poucas pessoas que atacavam o latim naquela época (tanto pessoas da direita quanto da esquerda no espectro político)

Em 1963, quando o Latim já não era mais obrigatório nas escolas secundárias há um ano, Darcy Ribeiro, então chefe da casa civil do governo do Presidente João Goulart, e reitor da UNB, proferiu uma palestra em que falou sobre a educação do Brasil. Segundo Darcy Ribeiro o atraso no Brasil se deve ao estudo latim. A fala comoveu os estudantes no local e especialmente um professor de latim que ali estava presente, Samuel Malheiros.

Como visto nos posts anteriores, homens conhecidos da política eram contrários ao estudo do latim por um sentimento utilitarista ou um equivocado anticlericalismo, vindo de pensadores estrangeiros.

Ribeiro se tornou Senador em 1991 e foi um dos lideres da nova Lei de Diretrizes e bases da educação, que está em vigor atualmente no Brasil.

4. Em nossa série do Instagram @tres.vias estamos mostrando personalidades que foram contra o ensino do latim. Esse é o quarto post sobre o tema.

Aqui temos Mauricio de Medeiros, que foi membro da Academia Brasileira de Letras. Em 1963 ele tomou conhecimento do discurso de Darcy Ribeiro sobre o Latim (vide post anterior aqui no Três Vias Instagram), e mesmo sendo um homem que se considerava oposto a ideologia marxista de Darcy Ribeiro, ele concordou quanto a ideia de que o Latim não deveria ser estudado nas escolas. Como ele disse "em matéria ideológica estamos em lados opostos. Mas foi com agradável surpresa que tomei conhecimento de suas ideias sobre o ensino do Latim. Nisso estamos de acordo, "em gênero, número e caso".

É a direita aliada com a esquerda para o propósito utilitarista de apagar a pouca educação clássica que restava nas escolas. Poucas foram as vozes que defenderam o Latim, mas vozes tímidas e que não emitiram som suficiente para serem ouvidas.

5. Estamos publicando uma série de notas em nosso Instagram @tres.vias em que procuramos nomear os responsáveis pelo fim do Latim nas escolas e o grande dano que isso causou. Não são poucas pessoas que atacavam o latim naquela época (tanto pessoas da direita quanto da esquerda no espectro político).

Vimos que nomes conhecidos da política eram contra o Latim, tais como Aliomar Baleeiro, Darcy Ribeiro (veja as postagens anteriores aqui no Instagram do Três Vias).

O Deputado Federal Campos Vergal chama a atenção pelo discurso caloroso que promoveu na Câmara dos Deputados. Ele mesmo fora professor de Latim por seis anos e não apoiava o estudo dela. Sua fala na Câmara foi uma forte influência para ser aprovado o projeto da Lei de Diretrizes e bases da educação que tornou facultativo o latim nas escolas. Não satisfeito com a facultatividade da disciplina ele deseja propor o fim de fato do latim nas escolas. Segundo o nobre deputado "o idioma está morto e enterrado, inteiramente inútil. Serve apenas para tomar o tempo e prejudicar milhares de jovens"

Campos Vergal pertencia ao PSP, Partido Social Progressista, de Ademar de Barros, adotando as ideias sociais democratas (tipo um PSDB de hoje em dia).

6. Quem defendeu o latim nas escolas?

Estamos com a série de postagens no Instagram @tres.vias sobre quem matou o latim nas escolas. Mas também vamos mostrar aqueles que defenderam.

Em 1949, em entrevista, o escritor e crítico literário Otto Maria Carpeaux informou sua influência positiva por ter estudado o Latim quando criança. Não foi por acaso que ao chegar ao Brasil ele não demonstrou dificuldade em aprender o Português.

A Alemanha atualmente é um dos países que valoriza o estudo do latim em suas escolas. A língua latina é o terceiro idioma estrangeiro mais estudado nas escolas alemãs, atrás do inglês e do francês.

Otto Maria Carpeaux foi herdeiro de um legado que soube explorar em suas obras magníficas.

7. Estamos publicando uma série de notas em nosso Instagram @tres.vias em que procuramos nomear os responsáveis pelo fim do Latim nas escolas e o grande dano que isso causou. Não são poucas pessoas que atacavam o latim naquela época (tanto pessoas da direita quanto da esquerda no espectro político).

O desprezo pelo estudo do Latim chegou ao topo eclesiástico da Igreja Católica na mesma época em que as escolas secundárias do Brasil abandonavam o latim. O Dom Helder Câmara, um dos padres organizadores do Concilio Vaticano II era um profundo opositor do Latim e sua aplicação como língua oficial da Igreja. Ele foi um dos lideres do Concilio Vaticano II que mudou a Igreja Católica em vários modos.

A frase de Dom Hélder Câmara na imagem foi feita em 1965, quando os principais documentos já haviam sido aprovados. O latim mantinha-se como a língua oficial das missas, porém havendo a possibilidade de serem traduzidas na língua de cada povo se autorizadas pela Igreja. Então, a regra seria que as missas continuariam sendo em latim e a exceção dada pelo concílio era para casos especiais. O que aconteceu foi que a maioria dos clérigos conciliares votaram a favor de serem feitas missas em língua comum e o latim passou a ser praticamente ignorado nas missas, mesmo sendo a língua oficial como afirmado no próprio Concílio Vaticano II.

Não apenas satisfeitos com a tradução para o Português das missas, os Bispos do Brasil se reuniram em 1965 para votar a possibilidade de se inserir na missa no Brasil violão, batuques etc., vindos da música popular brasileira. Retirando a música sacra em latim da cena das músicas.

De modo que, imaginem o pensamento das pessoas na época: "se nem a Igreja valoriza o Latim em seus ritos, por que deveríamos nos preocupar com essa língua morta?"

A mudança da missa para as línguas de cada país foi um duro golpe no latim.

8. Estamos publicando uma série de notas em nosso Instagram @tres.vias em que procuramos nomear os responsáveis pelo fim do Latim nas escolas e o grande dano que isso causou. Não são poucas pessoas que atacavam o latim naquela época (tanto pessoas da direita quanto da esquerda no espectro político).

Um caso curioso. A Lei de Diretrizes e bases da educação estava sendo aprovada pelo congresso em 1962. O professor de latim e renomado escritor Ernesto Faria parece não ter aguentado a pressão da época. Ele que havia sido referência internacional como um grande latinista e escrito uma das gramáticas mais bem avaliadas sobre o tema. Conforme informa o jornal da época, ele tinha participado de uma reunião em que criticava a lei que iria por fim ao latim nas escolas se sentindo mal veio a falecer. Há uma suposição de que ele havia se sentido tão ultrajado com a aprovação da lei que teria tirado a própria vida com remédios em altas dozes. Mas como a imprensa na época não noticiava suicídios decidiram publicar essa pequena nota de falecimento em um canto do jornal.

Fato é que o professor Ernesto de Faria morreu no mesmo ano que o Latim no Brasil. Ele que tinha apenas 55 anos, professor na Universidade Federal do Rio de Janeiro, com quase 20 livros sobre o latim. Era respeitado intencionalmente como uma das poucas pessoas fluentes em latim e fundador da Sociedade Brasileira de Estudos Latinos.

O Brasil perdia um grande professor de latim e perdia sua educação no mesmo ano de 1962.

9. Em 1966 o Cardeal Antonio Bacci alertava sobre o problema de que as escolas no Ocidente estavam abandonando o Latim. O Cardeal era um importante membro do clero e estudioso do Latim e defensor de sua manutenção nas missas. Era meio que um antagonista de Dom Helder Câmara, que era contra o Latim.

Mas durante o Concílio Vaticano II a maioria dos Bispos votaram para que a missa mantivesse em latim, com uma ressalva de que em casos excepcionais poderiam ser traduzidas. O que ocorreu foi que os Bispos de cada país pegaram a exceção e a tornaram em regra. É por isso que no documento do Concílio Vaticano II diz que a língua da missa é o latim e em caso especial em língua do país.

O Cardeal Antonio Bacci foi professor de Latim e naquela época havia um grande número de Padres que sabiam latim na ponta da língua. Hoje é há pouco número de sacerdotes que sabem de fato o latim, e que agora não conseguem ler as fontes dos Padres da Igreja e precisam ler traduções da Patrística e da Escolástica (algumas delas distorcidas dos originais).

Fonte: 123456789


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