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Este é um blog sobre Matemática em geral, com ênfase no período clássico-medieval, também sobre as Artes liberais (Trivium e Quadrivium), so...

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Definição de educação

Santo Agostinho de Philippe
de Champaigne, século XVII

Artigo I - Definição de educação.

<Inclinar-se sobre uma alma imortal,
adivinhar cada instinto para lhe nobreza,
espiar cada arroja, imprimindo-lhe fortaleza> (1).

Que quer dizer a palavra educação?

Etimologicamente, a palavra educação significa, mais ou menos, menos que a palavra criação. Educar, do latim educere, <é quase criar, é como tirar do nada, é, pelo menos, despertar do sono e da letargia as faculdades adormecidas, é dar a vida, o movimento e a ação a uma existência ainda imperfeita> (2). Educar é fazer que alguém se desentranhe de si mesmo; é fazer duma criança um homem, dum homem um cristão, dum cristão um santo, um eleito (3).

Não haverá uma palavra ainda mais expressiva do que aquela?

Sim, e uma palavra bem portuguesa: enobrecer. Dizemos: enobrecer a juventude; enobrecer a alma; enobrecer os sentimentos; enobrecer os pensamentos; enobrecer o caráter, etc. Enobrecer é como que divinizar; é tomar um objeto que está na escuridão e colocá-lo numa região mais bela e mais pura, onde ele domina e brilha. Assim, no alto drapeja a bandeira, domina a cruz, a alma é diamante. <Enobrecer uma criança é tomar uma alma de criança  tão indecisa e indistinta, quase vizinha do nada e guiá-la, por ascensões sucessivas, às regiões luminosas da verdade, às mais altas regiões da virtude> (4).

Como se poderá definir a educação?

A educação é a arte de cultiva, exercitar, desenvolver, fortificar e polir todas as faculdades físicas, intelectuais, morais e religiosas, que constituem na criança a natureza e a dignidade humanas; dar a estas faculdades uma perfeita integridade; elevá-las à plenitude da sua força e da sua ação. E, deste modo, formar o homem, prepará-lo a bem servir a pátria nos diversos cargos sociais, que um dia seja chamado a desempenhar através da jornada da vida; e assim, num alto pensamento, conquistar a vida eterna, enobrecendo a vida presente. Eis a obra e o fim da educação (5).

Por que se define a educação: <a arte de cultivar?>

Porque, efetivamente, a educação procede como um jardineiro inteligente: colocar numa terra boa a planta que lhe confiam; rega-a com água pura e abundante; arranca as ervas daninhas, que estorvariam a sua vegetação; e como se desenvolve; favorece o desabrochar das flores e dos frutos. Portanto, a educação cultiva (6), e cultiva pelos cuidados físicos, pelos ensinamento intelectual, pela disciplina moral, pelos meios sobrenaturais.

Por que se define a educação: <a arte de exercitar?>

Porque a educação não é somente um meio de agir; é ainda o recurso e a obrigação de fazer agir; não é só obra da autoridade, é também obra do respeito; exige do educando a colaboração duma docilidade respeitosa: --- exercita. Propõe então ao educando certos estudos, determinados atos e certo esforços; anima-o com persuasão; dirige-o com sabedoria; numa palavra, fá-lo concorrer eficazmente para a sua própria educação: --- e assim é necessário, porque <jamais se educará uma criança sem o seu esforço ou contra a sua vontade> (7).

Por que se define a educação: <a arte de desenvolver?>

Porque a educação só cultiva, e exercita, age e faz agir, afim de desenvolver. E, na verdade, a educação é o desenvolvimento da natureza em tudo o que tem de bom. Por isso, sabiamente disse Fénelon: <Basta contentarmo-nos com seguir e ajudar a natureza> (8). A educação deve seguir e ajudar a natureza e todos os terrenos; deve segui-la e ajudá-la sem nunca se deter nem afrouxar; apodera-se do homem e acompanha-o até o limite da sua carreira.

Por que se define a educação: a arte de <fortificar?>

Porque desenvolver, sem fortificar, equivaleria praticamente a destruir. A educação que não fortificasse seria, pelo menos, vã e enganosa, sem consistência e sem virtude. O Evangelho indica, aliás, a necessidade deste duplo progresso, falando de Jesus Menino: Puer crescebat et confortabatur (9). O Menino crescia e fortificava-se.

Por que se define a educação: a arte de <polir?>

Porque a educação não é somente para o homem uma necessidade, uma condição de existência; é também uma prenda adorável. Deve suavizar, adornar, embelezar a natureza. Realmente, a educação bem entendida faceta o espírito, pule o caráter e os costumes; até a virtude se torna mais bela. E a polidez foi sempre um dos mais belos caracteres de educação portuguesa. Não se considera, entre nós, bem educado quem não possui a arte de saber viver.

Por que se fez menção, na definição dada, da faculdades <físicas, intelectuais, morais e religiosas?>

Porque a educação, tomada na sua acepção completa, abrange o homem todo, o seu corpo e a sua alma; esforça-se pela realização do ideal traçado pelos antigos, quando falavam duma alma sã num corpo vigoroso: mens sana in corpore sano (10). Esta alma sã é a inteligência bem formada; é a vida moral despojadas dos seus defeitos e enriquecida de virtudes; é a vida sobrenatural assegurada, salvaguardada, aperfeiçoada, querida e defendida... De maneira que a educação, vista em conjunto, compreende cuidados físicos, ensinamento intelectual, uma disciplina moral e formação sobrenatural.

De que se trata, afinal, quando se fala da educação?

1.º Trata-se de formar o homem; o homem com as suas faculdades gerais e as suas qualidades individuais, tal qual o exigem a sociedade e a religião; o homem de razão, de senso e de gosto; o homem de imaginação regrada; o homem de coração; o homem de vontade firme e reta; o homem como foi criado por Deus e regenerado por Jesus Cristo; o homem de fé e de consciência; o homem do seu século e do seu país, no sentido perfeito destas duas palavras.

Vereis só por seus filhos um povo renascer:
O coração e o cérebro quem os pode refundir?
Mas os petizinhos, se quisermos, podem ser
Os homens mais felizes, Portugueses do porvir (11).

2.º Trata-se de formar o eleito e o herdeiro do céu. Joubert, num escrínio de Pensamentos delicados e luminosos, escreveu: <Ao educardes uma criança, pensai na sua velhice>. Mas não é tudo. O pensamento de Joubert deve ser completado, tomando esta forma: < Ao educardes uma criança, pensai na sua eternidade>.

Ó jovens mães, na hora bendita em que vós tendes no regaço o entezinho adorado, e em cuja fronte desenhais sonhos fagueiros, pensai e pensai bem que não é tão somente um preciso objeto que adornais com esmero; fitai os seus olhos; neles lereis deveres mais austeros. Está escrito que a maternidade é um sacerdócio, um apostolado divino de que Deus nos revestiu; que é preciso fazer da criança, primeiro, um homem e, depois, um eleito do céu; que, se assim o não fizerdes, melhor seria nunca terdes um filho.

Este dever é tão imperioso que S. Paulo não hesita em afirmar que a mãe que o esquece é inferior a uma pagã (12).

Referências:

(1) Citado por P. Combes, O livro da educadora, p. 80.

(2) Mgr. Dupanloup, Da Educação, t. I, p. 3-4.

(3) Mgr. Pichenot, Tratado prático da educação maternal, p. 64.

(4) Mgr. Rozier, A arte de ser mãe, p. 29.

(5) Mgr. Dupanloup, Da Educação, t. I, p.2.

(6) S. Paulo chama a alma <o campo de Deus; Dei agricultura estis> (I Cor. III-9).

(7) Mgr. Dupanloup, Da Educação, t. I, p. 177

(8) Da educação das meninas, cap. III

(9) Luc. I, 80, e II 40.

(10) Juvenal.

(11) Jean Aicard, A canção da criança. <O pequeno povo>

(12) Mgr. Rosier, A arte de ser mãe (2.ª ed.) p. 9.

Trecho retirado do Livro Catecismo da Educação - Abade René Bethléem, 1952, Livraria Figuerinhas - Porto.


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