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Sobre as escolas laicas

Aula de Matemática, Seção Masculina do Grupo Escolar Orozimbo Maia, 1939.
FONTE: Arquivo da EEPG Orozimbo Maia, Campinas.

Tempo de leitura: 18 minutos.

Apresentamos trechos do prefácio do livreto Escolas Laicas do Pe. Félix Sardà y Salvany, publicado pelo Instituto Gratia, 2020.

Por Rafael Brodbeck

PREFÁCIO

O mal denunciado pelo Pe. Félix Sardà y Salvany neste seu opúsculo é, infelizmente, ainda mais presente em nossos tempos tão sombrios, do que era nos seus, ainda um pouco mais luminosos. O que talvez mude seja a clareza das intenções do inimigo, que não escondia, naquela época, sua intenção ao instalar escolas ditas laicas como contraponto à fortíssima e qualificada educação católica de então. Chegando ao menos próximo do objetivo de subtrair até a educação de nossas crianças do império de Cristo Rei, os secularistas, minando as escolas católicas, infiltrando-as com a perversidade do Modernismo que nem a elas poupou, com raríssimas e honrosas exceções, a máquina do laicismo não necessita hoje explicitar o que pretende com essa sua engenharia.

Sardà y Salvany foi um profeta. Catalão de Sabadell, cidade e município da província de Barcelona, o sacerdote, nascido em 1841 no seio de uma família econômica e socialmente bem estabelecida, que se constituiu por seus próprios esforços - sem olvidar, é verdade, o auxílio da graça de Deus - o sacerdote, além dos cursos de Filosofia e Teologia, estudou também o Direito, e foi professor das cadeiras teológicas e humanísticas no seminário. Carlista de formação, recusou apoio ao pretendente dessa corrente monárquica porque, segundo ele, afasta- se da integralidade da doutrina dita "tradicionalismo político". Para Sardà y Salvany, o duque de Madrid e conde de Alcarria, Carlos de Borbón, pretendente carlista ao trono da Espanha sob o nome de Carlos VII, era demasiado conciliador com o Liberalismo.

Isso nos diz muito da fibra e da personalidade de nosso autor. Tendo já denunciado o liberalismo filosófico e político em seu afamado El liberalismo es pecado [publicado no Brasil, pela Editora Santa Cruz, 2017], não poupou munição contra a instituição que promovia esse erro nefasto, a Maçonaria. Escreveu dezenas de livros e pequenas obras em defesa dos pontos de doutrina católica mais atacados pelos maçons e pelos liberais. Denunciou a infiltração dos inimigos na Igreja. Demonstrou como na esfera política, separando-se o Estado da verdadeira religião, havia erros graves com prejuízo inestimável ao povo, à verdade e aos direitos de Deus e da Igreja. Campeão incansável de Cristo, defendeu o Magistério da Igreja, sobretudo o Syllabus, do Beato Pio IX, organizou o apostolado da boa imprensa, e tratou de atacar os erros dos espíritas, dos protestantes, dos naturalistas, e dos sociais-comunistas. Por seu labor apostólico, foi elogiado pela Sagrada Congregação do Índice, órgão da Santa Sé dedicado à revisão de publicações impressas para orientar e proteger a grei do Senhor.

-- "No basta quejarse, no; no se remedian con lamentos los grandes males de la patria. Tómese parte en esta lucha gigantesca en que anda hoy dividido el mundo y cuyo palenque principal es la prensa". era a mensagem intrépida de Sardà y Salvany. Esse ensinamento permeava a sua vida e o impulsionava no apostolado. A missão para ele era, claro, ganhar os corações para Cristo, mas isso passava pelo rechaço direto, claro e sem rodeios aos erros de sua época, que teimam em perseverar e aumentar na pós-modernidade.

O que movia o autor era a luta sem quartel contra o secularismo enquanto ideia e contra a secularização enquanto processo, que culminavam na descristianização social. Por isso, ideia que deveria defender a todo instante a ordem tradicional, tal qual desenvolvida a partir dos princípios sociais e políticos ensinados pela Igreja, contra a ordem liberal que se estabelecia - e que hoje parece consolidada, quer sob governos socialistas, quer sob governos com uma visão parcial da economia de mercado e promotores de um capitalismo distorcido, exagerado e fundado em uma bondade inexistente do homem decaído pela mancha original. E o fundamento dessa disposição de Sardà y Salvany para a batalha encontrava-se em sua vida espiritual, da qual extraía das bases de sua intolerância do pecado e do erro, que se transformavam em um valor essencial de sua vida intelectual e de seu apostolado concreto de conquista de almas e de remoção de todos os perigos que ameaçavam o Reinado de Cristo na sociedade e nas nações e, com isso, subjugariam, ainda que em nome da humanidade, o próprio homem, convertendo-o em escravo. A educação verdadeiramente libertadora não estava nas escolas laicas, e sim no encontro de Deus com o homem, na graça doada por misericordiosa soberania do Criador à sua criatura amada, mas corrompida.

[...]

A obra sobre os colégios, ora apresentada, está nessa mesma linha. A escola laica, para o autor, em uma definição acertada, não é uma instituição neutra. Não existe neutralidade em matéria religiosa. A ausência na escola da pregação de Deus equivale a pregar contra Ele. Sem cair em conceituações próprias de uma cultura puritana, que não consegue distinguir os diversos tons de cinza, reduzindo tudo a preto ou branco, o fato é que o indiferentismo religioso já é uma tomada de uma posição. Defender não privilegiar a religião verdadeira já é aceitar uma defesa, tácita que seja, das religiões falsas ou das concepções falsas de religião.

Essa escola laica é abominável porque é uma escola sem Deus, uma escola ímpia e imoral, uma escola que não responde ao fim principal da educação, que não é a simples transmissão de conhecimento, nem socialização de "saberes", à moda de Paulo Freire, e nem treinamento utilitarista para o mercado. Se a educação, como ensinava Hugo de São Vitor, é para o homem santificar-se, e que, no dizer de São Bernardo de Claraval, a instrução sem a intenção de servir a Deus e ao próximo é mera vaidade, então a escola laica serve para destruir não apenas a Igreja, como a sociedade, pois faz ruir seu fundamento.

O favorecimento do anticristianismo na sociedade é a meta das escolas laicas, que pretende a emancipação dos cidadãos frente ao que chamam obscurantismo religioso -- qualquer semelhança com os postulados maçônicos não é coincidência.

Exemplos históricos e concretos não nos faltam, por certo. Em diversas cidades, no Brasil mesmo, sobretudo a partir dos estertores do Império e no alvorecer da república, brotaram iniciativas educacionais laicistas, a maioria delas, quando não todas, financiada, patrocinada ou louvada pela Maçonaria, para se opor às escolas católicas. Os pedagogos, quaisquer que sejam suas linhas, sabem que a educação, além de fornecer os rudimentos de certas ciências às massas, forma as elites que, em seus campos próprios, jurídicos, políticos, empresariais, científicos, tendem a governar ou liderar os povos. Para o bem ou para o mal, alguém liderará; a Igreja e a sociedade sadia almejam que tais líderes inspirem os demais a partir do cultivo das virtudes.

Pretendiam, seus fautores, por isso, ao criar essas escolas laicas, formar uma nova elite que fosse livre daquilo que entendiam por superstições religiosas, amarras eclesiásticas, para que a ação revolucionária se acelerasse. É bem verdade que mesmo quando exclusivamente religiosas eram as escolas, ainda assim secularistas e anticristãos em seus bancos estudaram e a fé nelas pregada não foi óbice aos seus intentos de demolição da tradição e da civilização.

A Revolução, que, conforme ensinado por Plínio Corrêa de Oliveira, Juan Vallet de Goytisolo, Juan Donoso Cortés, José Pedro Galvão de Sousa e Francisco Elías de Tejada, entre outros intelectuais, não é uma simples soma de revoltas contra determinados regimes políticos, mas um processo contínuo contrário à ordem, que almeja subvertê-la e substituí-la por uma doutrina política e social centrada no homem e em sua elevação, expulsando, progressivamente, a Igreja, o Cristo e Deus dos corações e das sociedades.

Sabendo que, com maior ou menor eficácia, na escola católica pode-se ao menos frear certos ímpetos revolucionários, bem como criar, quando assim dispõem as circunstâncias e a Providência, bons quadros contrarrevolucionários, além de fomentar uma nata católica composta de autênticos líderes e intelectuais de escola à serviço da fé e da Cristandade, exsurgem-se os inimigos da Cruz em fundar sua contraparte, a escola laicista. Sem qualquer referência a Deus, ou, quando pronunciam Seu Nome, acomodando seu conceito a uma visão relativista e imanente, as escolas laicistas pretendem ser as rivais das católicas não apenas por uma competição mercadológica. O embate é doutrinário e finalístico! Querem as escolas laicas a formação de uma geração de líderes que pouco caso fazem da fé, que influenciem os governos, as artes, as ciências, as leis, os comportamentos, em direção a uma sociedade em que não mais reine Aquele que é, por Seu direito, o Senhor de todas as coisas.

Tanto é assim que em muitos municípios brasileiros as primeiras escolas laicistas foram erguidas tendo por destinatários exclusivos os filhos das classes mais abastadas. Sabiam os secularistas que os tradicionais colégios católicos poderiam perpetuar futuros líderes com uma visão cristã de sociedade. Para lutar contra isso, miraram no mesmo alvo e buscaram seu recrutamento entre aquelas famílias ricas que já pendiam para o indiferentismo religioso e para o desprezo da fé cristã, mas que continuavam mandando seus filhos aos colégios católicos por falta de opção, e neles poderia haver mais espaço para uma eventual, mas nem sempre provável, conversão.

A escola laica trabalha para que seus alunos sejam exatamente o contrário do ideal de estudante católico: um ímpio, um relativista, um "iluminado", um tecnicista, e que inspire negativamente os demais nesses contravalores. A meta do laicismo é o mundo sem Deus. O meio da escola laica é a elite dirigente que apresse a fundação de tal ordem de coisas.

A conquista de corações e mentes é o fito do laicismo educacional, como instrumento para que os condutores do porvir ponham suas esperanças em outras coisas que não Cristo Jesus. O campo de batalha é a alma dos alunos, muitos ainda sem as luzes necessárias para o correto entendimento das coisas, pelo que tão perverso mecanismo converte-se em causa de profundo escândalo ao fazer perder os pequeninos, conforme a advertência do Salvador (cf. Mt. 18,6).

No fundo, ao denunciar a escola laica e, por isso, laicista, é necessário perceber de que se trata de uma visão equivocada de educação, permeada de ideologia, seja ela qual for, e sempre terrivelmente venenosa, contra a qual devemos lutar. A modernidade e a pós-modernidade insistem, conforme acima vimos, que a educação ou deve ser o relaxamento dos costumes, sem nenhum tipo de conteúdo, em um entendimento exageradamente livre e distorcido da autonomia do homem, aos moldes da falsa pedagogia apregoada pela esquerda política, ou, como contraposição, buscam um ensino eminentemente tecnicista, tecnocrático, a serviço apenas do mercado de trabalho, em uma outra falsa pedagogia, desta vez, louvada por certos ambientes de direita, totalmente utilitarista.

A educação católica, belamente descrita pelos vitorinos, não é uma coisa nem outra. Não queremos formar para o mercado nem para os partidos políticos. Queremos formar para o céu! Não queremos alunos que se transformem em peças de engrenagem na economia e nem alienados sem conteúdo que repetem baboseiras ao sabor do grupo socialista dominante. Queremos transformar homens em santos!

De todo modo, estamos em um tempo em que, ressalvadas as heróicas instituições resistentes e as novas iniciativas nesse campo, a educação católica respira por aparelhos. A educação laica, particular ou estatal, é a regra. Chega a ser regra até mesmo em escolas dirigidas por grupos católicos - e que fingem ser religiosas apenas pela intenção, nos seus inícios, de ser católica e por meia dúzia de classes de ensino religioso diluído em romantismo, falso ecumenismo e pregação de simples valores humanos sem referências teológicas e espirituais claras. Assim que, nos tempos atuais, ainda que o defendido por Sardà y Salvany e sua advertência contra o laicismo devam manter-se presentes como princípio, nem todas as famílias terão reais opções na escolha da matrícula de seus filhos em uma escola ou na adoção da educação domiciliar. Salvos os princípios, firmes os preceitos, e rechaçando aqueles ambientes em que o indiferentismo é militante e o anticristianismo é flagrante, é no caso concreto de uma sociedade anticristã, que devemos travar a luta por Cristo Rei ao mesmo tempo em que educamos nossos filhos, aumentando ainda mais a vigilância sobre o sistema educacional, e fortalecendo os anticorpos de nossas crianças, robustecendo sua educação, acompanhando de perto o que é passado pelos mestres, complementando, desfazendo erros, e prevenindo. Cada família, diante dos casos, terá sua escolha concreta e não serei eu a ditar as regras práticas e a licitude das eleições prudenciais de cada uma.

O fato, contudo, é que a educação é um campo de batalha pela conquista da sociedade. E isso bem percebeu nosso autor catalão, intrépido padre que honrou a sua sotaina [batina] ao pregar, em nome de Cristo, pela defesa da verdade e pela aniquilação do erro. Tenhamos coragem! Sabemos que Cristo venceu o mundo!

Piratini, 2 de dezembro de 2019 
Dr. Rafael Vitola Brodbeck
Delegado de Polícia

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