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Papa Silvestre II - O Papa Matemático

O Ábaco de Gerberto

Tempo de leitura: 12 min.

Abaixo segue a transcrição do vídeo Cromos Medievais - 5 - Papa Silvestre II - O Papa Matemático.

Dois engenheiros [portugueses], Bernardo Motta e Gonçalo Andrade tentam harmonizar os conhecimentos científicos da sua formação básica com a sua Fé Católica. O resultado é uma série de episódios onde apresentam a interação entre estas duas visões do mundo de uma forma integrada.

Será possível olhar para a Fé de forma Racional? Quais os princípios metafísicos da Ciência? Pode um Cientista, ser Católico? São estas e muitas outras questões que vamos analisar nos episódios deste podcast!

Nesta nova rúbrica de mini-episódios dos "Cromos" Medievais, vamos olhar para a vida de vários sábios da Idade Média. Com trabalho em Ciência, Matemática, Filosofia, História ou Teologia, muitas destas personalidades tiveram um papel fundamental no estabelecimento das bases metafísicas da Ciência, permitindo o seu amadurecimento em épocas posteriores.

O vídeo está disponível neste LINK.

Gonçalo Andrade: Sejam muito bem-vindos a mais um episódio do Café Ciência e Fé. Estamos de volta, mais uma vez, com rubrica dos "Cromos" Medievais. Hoje vamos falar de Silvestre II, o Papa matemático. Silvestre II foi um papa, cujo cognome é um pouco usual para um papa. Ele ficou conhecido como o Papa Matemático. Mas quem é este Silvestre II e de onde é que ele surge e como é que ele chegou a papa? É isso que vamos ver no episódio de hoje. 

Bernardo Motta: O Papa Silvestre II nasceu em França com o nome Gerberto de Aurillac no ano 946 e morre no ano 1003. E para o tema que nos traz e para a explicação de porque que ele é conhecido como Papa matemático, importa saber que o seu percurso de estudo foi feito em Barcelona e foi feito nomeadamente num num meio literário e acadêmico que estava mergulhado nos debates e nos temas de matemática, de astronomia e que ainda refletia a influência árabe. Nós já temos comentado nos outros "Cromos" anteriores a importância dos sábios árabes para alguns dos temas da ótica e da astronomia, em particular. Gerberto de Aurillac vai receber a sua educação, vai crescer e vai ganhar os seus conhecimentos neste meio. Por isso, quando o destino leva a ser o Sumo Pontífice, ele traz consigo estas competências nestes meios, nestes temas astronômicos e científicos. Gonçalo, quais são as contribuições científica pelas quais este Papa Silvestre II ficou para a história? 

Gonçalo: Ele teve várias. O fato dele ter sido Papa acabou por contribuir para divulgar muitas destas causas que lhe eram queridas. Uma das coisas que ele contribuiu bastante foi, por exemplo, a adoção da numeração árabe. Os nossos ouvintes certamente estarão familiarizados com esta questão. Mas como sabem a numeração que era utilizada no Império Romano era a numeração romana [I, II, III, IV, etc.], que é muito menos prática de utilizar do que aquela que nós temos hoje com os 10 números o $0, 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9$ que facilita bastante o trabalho com números. Portanto, este Papa Silvestre II foi um dos principais e um dos grandes impulsionadores da utilização desta numeração árabe que, de fato, é bastante mais prática que a (numeração) romana no dia-a-dia nas contas no geral. 

Também adotou e contribuiu para a adoção de uma série de ferramentas entre as quais o ábaco árabe. Nessa altura foi assim, como a introdução do computador pessoal, portátil. Talvez não dava para consultar as redes sociais no ábaco, mas - imagina - ajudava bastante quando era necessário a fazer contas 

Bernardo: Imagine-se no comércio. Qualquer atividade comercial não podia viver sem um instrumento de cálculo

Gonçalo: [Ele] também contribuiu para reintroduzir a esfera armilar na Europa que infelizmente tinha caído em desuso desde o final da época Romana, mas ele contribuiu para voltar a reintroduzir este importante instrumento na Europa. Além disso, escreveu também várias obras sobre os temas que nós já falamos várias vezes nestes episódios dos "Cromos" e da ciência medieval que são principalmente os temas do quadrivium, em particular, aritmética, geometria, astronomia e a música Portanto, ele escreveu bastante, escreveu várias obras sobre estes temas. No fundo, além de ser papa, acabou por ser um acadêmico muito importante nas cortes em que esteve antes de ser papa e, que quando se tornou Papa, lutou pela introdução de muitas destas inovações ou instrumentos que caíram em desuso e que eram bastante bons. Tentou reintroduzi-los na vida intelectual europeia. 

Bernardo: Podemos imaginar, Gonçalo, o impacto que estas novidades trouxeram para o dia-a-dia em todo o continente ou em todos os territórios que prestavam obediência ao Papa e que eram católicos. Isto foram decisões absolutamente civilizacionais ao introduzir, quer numeração árabe, quer o ábaco, quer a esfera armilar. Já para não falar de lhe ser atribuído (não há muita certeza disso), mas de lhe ser atribuído a invenção ou a introdução, pelo menos, de um relógio mecânico, quase no final do milênio. Portanto, estamos a falar de um Papa que tinha um conhecimento científico naturalmente muito acima da média, muito avançado. E como tu dizias que pelo cargo que ocupou, pode dar um efeito muito profundo aos seus conhecimentos científicos. 

Eu acho que também teria piada para os nossos ouvintes em partilhar aqui alguns detalhes da sua biografia, porque, às vezes, isto ajuda-nos a perceber que nem sempre, raramente em História as causas e as explicações são simples: costumam ser um bocado rebuscadas. E, por vezes, nós vemos quando se discute quem é que preservou o saber dos gregos; como é que esse saber foi preservado e tipicamente extremam-se muitas posições. Há quem diga: "se não fosse os árabes não havia o saber dos gregos, numa época que na Idade Média era tudo trevas e ignorância" que é uma visão errada e extremista. Por outro lado, podemos cair numa situação de dizer: "os árabes não foram realmente relevantes, porque foi tudo feito na cristandade".

A história deste Gerberto de Aurillac, do Papa Silvestre II, é interessante, porque no fundo, quando ele ainda é um um jovem estudante e está a estudar manuscritos na Catalunha (estou aqui a ler da sua biografia) que provavelmente estaremos a falar perto do mosteiro de Santa Maria de Ripoll e que esse esses mosteiros, vários deles continham manuscritos que teriam vindo de Córdova. Córdova que foi a cidade importante da península ibérica da Espanha, ocupada pelos árabes, um dos centros intelectuais da Europa à época da ocupação árabe. Seria da biblioteca de al-Hakam II em Córdova que teriam vindo manuscritos, milhares de manuscritos de temas científicos que seriam traduções de obras gregas que teriam vindo para Catalunha. Foi precisamente ao estudar nestes Mosteiros da Catalunha que o nosso Gerberto de Aurillac teve contato com todos estes temas de matemática e de astronomia. E claramente, tendo vocação para eles, ficou absolutamente fascinado com este manancial de informação. Quando chegou ao pontificado não deixou de exercer a sua autoridade e o seu poder de divulgar estes conhecimentos que são, sobretudo, muito úteis para o dia-a-dia que mudaram, de forma radical, a história da Europa. Nós não conseguimos imaginar uma Europa sem o dígito $0$ (zero) ou sem numeração árabe.

Gonçalo: Em particular a nós, toca-nos bastante, porque esta reintrodução da esfera armilar que hoje faz parte da nossa bandeira [de Portugal]. Este um instrumento importantíssimo na navegação, para a parte das descobertas e para orientação, que teve repercussões (reparem que aqui estamos ainda próximo do ano 1000). Esta reintrodução destes instrumentos teve impactos séculos mais tarde, portanto, são coisas que se propagam no tempo.

Bernardo: Podemos dizer de forma muito categórica: no virar do primeiro milênio para o segundo (uma altura que muitas vezes é tratada de forma ignorante, como a Idade das Trevas), temos aqui um papa que se pode dizer humanista, muito antes das tendências humanistas do Renascimento, porque era um papa que leu os clássicos gregos e romanos, estudou por Boécio (já fizemos um episódio sobre este: Cromos medieval - Boécio, recomendamos que vão ouvir a importância de Boécio, um dos últimos sábios do Império Romano, no virar do fim do Império Romano). [Boécio] era um homem que este Papa Silvestre II estudou. [Papa Silvestre II estou] quase todos os temas que se podem pensar e, que na altura que eram estudados, não eram conhecidos. Escreveu várias obras acerca dos temas do quadrivium, portanto, aritmética, geometria, astronomia e música e do trivium também, da gramática, da lógica e da retórica. Estas são as sete Artes Liberais que eram utilizadas para o ensino universitário e acadêmico. Portanto, temos aqui um um papa de primeiríssimo nível acadêmico no virar do primeiro para segundo milênio. 

Gonçalo: Temos dizer que este papa era de fato um "Cromo" [*]. 

Bernardo: Sim, este sim era um duplo "Cromo": um "Cromo" da nossa "caderneta" de sábios medievais, mas também era um "Cromo". Ficamos por aqui e esperemos que tenham gostado de conhecer este Papa Silvestre II e até ao próximo "Cromo" Medieval. 

Gonçalo: Voltamos em breve com com mais "Cromos" e novos temas até à próxima obrigado Bernardo.

Esta foi mais uma edição dos nossos "Cromos" Medievais, desta vez com o Papa Silvestre II, o Papa Matemático. Espero que tenham gostado deste mini-episódio. Se gostaram do que aqui falamos e estes temas vos interessam, não se esqueçam de subscrever por gosto e partilhar. Tudo isto são formas de nos ajudarem a continuar este podcast: Canal Café Ciência e Fé.


Livros e textos consultados pelos autores:

Artigo sobre o Papa Silvestre II da New Catholic Encyclopedia:

https://www.newadvent.org/cathen/14371a.htm

James Hannam - God's Philosopher: How the Medieval World Laid the Foundations of Modern Science.

S. João Paulo II - Fides et Ratio.

***

[*] Para eles, "Cromos" são sábios do período medieval que tiveram contribuições em várias áreas do conhecimento. Todos os protagonistas da série são "cromos medievais" no sentido em que fazem parte da nossa "caderneta" de sábios medievais. Mas como Papa Silvestre II era especialmente inteligente, era também um "cromo" nesse sentido, ou seja, grande cabeça, portanto um duplo "Cromo" que será mencionado posteriormente. 

Leia mais em: A incrível história do papa matemático.


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