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Educação = Escola?

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Texto retirado de MARROU, Henri-Irénée. História da Educação na Antigüidade. 4ª Impressão, São Paulo, Editora Pedagógica Universitária Ltda. e Editora da Universidade de São Paulo, 1973. (Esta obra foi reeditada pelas Edições Kírion, Campinas em 2017).

ESCOLA E EDUCAÇÃO

Não deixa de ser verdade que, em comparação com nossas idéias modernas, o ensino do mestre de primeiras letras não é verdadeiramente apreciado. Salientarei o fato, que interessa à exata apreciação da vida e da política escolar antigas: a escola não desempenha ainda na educação o papel preponderante que assumirá a partir da Idade Média no Ocidente.

O mestre de primeiras letras é encarregado de um setor especializado da instrução, provê tecnicamente a inteligência da criança, mas não é ele quem educa. O essencial da educação é a formação moral, a do caráter, do estilo de vida. O “mestre” está encarregado apenas de ensinar a ler, o que é muito menos importante.

A associação, que nos parece hoje natural, da instrução primária e da formação moral é, entre nós, uma herança da Idade Média, ou melhor: da escola monástica, onde a um mesmo personagem coube promover a síntese de dois papéis bem distintos: o de instrutor e o de pai espiritual. Na Antiguidade, o mestre de primeiras letras é alguém muito apagado para que a família pense em confiar-lhe, como o faz tão freqüentemente hoje, a responsabilidade da educação.

Se alguém, que não os pais, recebe esta missão, é decerto o pedagogo: um simples escravo, sem dúvida, mas que pelo menos pertence à casa e que, através do contato quotidiano, pelo exemplo se possível, em todo caso através dos preceitos e de uma vigilância atenta, contribui para a educação, e sobretudo para a educação moral, incomparavelmente superior às aulas puramente técnicas do “gramatista”.

Mede-se sem esforço toda a importância desta constatação: ela estabelece grande diferença entre os problemas modernos e seus equivalentes antigos; para nós o problema central da educação é o da escola. Nada de análogo entre os antigos. Atente-se num dos inumeráveis tratados que a época helenística e romana consagrou “à educação das crianças”, o que nos foi transmitido sob o nome de Plutarco (14): fica-se admirado do pouco caso que aí se faz das questões propriamente escolares: elogio da cultura geral secundária como preparação à filosofia [43], elogio dos livros, “instrumentos da educação [44]”, alusões ao ginásio [45] ou ao valor da memória [46]: tudo o mais, ressalvada uma exposição em que o autor não pôde abster-se de comunicar-nos suas teorias literárias [47], está consagrado apenas à definição da atmosfera moral da educação: esta se interessa menos pela instrução propriamente dita que pela formação do caráter, e para isso, não é com a escola que se conta; reencontraremos estes fatos a propósito do problema da educação religiosa, tal como será proposto pelo cristianismo.


Notas:

[43] PLUTARCO, Sobre a Educação das Crianças, 7 CD. 

[44] Idem, 8 B.

[45] Idem, 11 CD. 

[46] Idem, 9 DE.

[47] Idem, 6 C-7 C.


Nota Complementar

(14) Sobre o De liberis educandis de Plutarco, cf. F. GLAESER, De Pseudo-Plutarchi livro περ παίδων ἀγωγῆς, Dissertationes philologicae Vindobonenses, XII (Viena, Leipzig, 1918), 1. O caráter apócrifo deste tratado, que ninguém contesta mais desde WYTTENBACH (1820), não me parece tão bem demonstrado.

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