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Monges copistas e a preservação da Civilização Ocidental

Quatro monges dominicanos em suas mesas, do ciclo de Quarenta
membros ilustres da ordem dominicana, na Chapterhouse, 1342

Tempo de Leitura: 40 min.

Monges copistas – A Civilização Ocidental passou por suas mãos, por Pe. Felipe de Azevedo Ramos, EP

A História é feita por homens providenciais que por sua fidelidade aos desígnios divinos decidem o destino de civilizações inteiras. São disso edificante exemplo os monges copistas.

Não existia computador, nem copiadora, nem sequer a velha máquina de escrever. E ainda não havia imprensa. Não obstante, os medievais foram capazes de transmitir à Civilização Ocidental todo o imenso legado cultural e filosófico das civilizações grega e romana, obras literárias e manuscritos de um mundo que deixara de existir, demolido pelas invasões bárbaras do fim da Idade Antiga. Como conseguiram tal proeza, sem o auxílio das técnicas de impressão inventadas e desenvolvidas séculos mais tarde?

A resposta a essa pergunta, podemos encontrá-la nos mosteiros e abadias da Igreja Católica (única instituição resistente aos ataques das hordas bárbaras), os quais, além de exercerem um enorme papel na formação cultural, moral e religiosa da sociedade, recolheram, entre outros, os escritos de autores gregos e latinos, como Aristóteles e Heródoto, Cícero e Virgílio, Santo Agostinho e Boécio, sem contar os manuscritos do Novo Testamento, multiplicando-os mediante um trabalho paciente, cuidadoso e organizado.

Foi esse o ingente labor de uma plêiade de despretensiosos monges copistas, cujos nomes a História não nos legou. Como sugiram? E qual a importância de seu trabalho para o desenvolvimento da Civilização Ocidental?

Biblioteca e claustro da Abadia de San Millán de Yuso (Espanha)

Um mundo convulsionado

A transição do mundo clássico para a Idade Média deu-se com a queda do Império Romano do Ocidente (476 d.C.) e a intensificação das invasões bárbaras na Europa, originando o caos e a destruição do que restava de civilização.

A conversão de Clóvis e do povo franco, no ano 496, marcou o início de um processo de cristianização que levaria ainda quatro séculos para se completar no Ocidente europeu. Com as adesões das populações ao Cristianismo, aos poucos se foi observando um progresso de toda a sociedade, não só no terreno espiritual, mas em todos os campos da atuação humana, dando origem ao florescimento da Civilização Cristã.

A paz estava, contudo, longe de reinar na Europa, pois hordas de bárbaros continuavam a assolar tudo o que viam pela frente. “Destruíam vidas humanas, monumentos e o equipamento econômico”, tendo como resultado a “queda demográfica, perda de tesouros de arte, ruína das estradas, ateliês, depósitos, sistemas de irrigação, lavouras” [1]. Dessa maciça devastação não foram poupadas sequer as bibliotecas e coleções de textos.

Nessa dramática encruzilhada da História, os claustros dos mosteiros serviram de refúgio ideal para escritos e documentos de grande valor histórico e cultural. Destacaram-se nessa tarefa o mosteiro de Vivarium, os monges beneditinos e os monges irlandeses, como veremos a seguir.

Mosteiro de “Vivarium

A história desse mosteiro começou com Cassiodoro, que ocupava o cargo equivalente ao de primeiro-ministro (magister officiorum) de Teodorico o Grande (454-526), rei dos godos orientais e ostrogodos, regente dos visigodos e governante da Península Itálica. Tendo o domínio dos godos ficado seriamente comprometido, Cassiodoro, aos 65 anos, retirou-se da vida pública. Movido por uma inspiração divina, e sem dúvida pelo exemplo de São Bento de Núrsia, que pouco antes fundara o mosteiro de Monte Cassino, decidiu fundar um mosteiro em terras pertencentes à sua família, nas imediações de Squillace, no sul da Itália.

Vivarium, como foi chamado, está na origem da grande aventura espiritual e intelectual de Cassiodoro, pois ali escreveu ele diversas obras de cunho teológico e filosófico, além de um livro expondo as regras para a transcrição de manuscritos.

Entretanto, sua maior contribuição para a civilização não foram seus escritos, mas o decisivo fomento à cultura e ao ensino naquele conturbado período de transição. Formou uma escola teológica, organizou uma biblioteca, enriquecida com muitos manuscritos gregos trazidos de Constantinopla, e instalou um scriptorium (parte do mosteiro reservada à atividade de copiar textos). Nesse local, os religiosos compilavam e traduziam a Bíblia, os Padres da Igreja e os autores pagãos da Antiguidade, tanto latinos quanto gregos [2].

“São Bento”, detalhe de um afresco da Abadia de Monte Oliveto
Maggiore (Itália) e Abadia do Sacro Speco, Subiaco (Itália)

Segundo a tradição, foi esse o primeiro scriptorium da História, e foi também ali que, pela primeira vez, a atividade científica esteve explicitamente incluída entre as ocupações dos monges [3]. Ademais, o abade de Vivarium, que era um excelente orador, dedicava-se ao magistério e, segundo alguns autores, antecipou em diversos aspectos a grande instituição medieval da universidade, que surgiu cerca de seiscentos anos depois. Não sem motivo, ele é denominado herói e restaurador da ciência no século VI [4]. Seu empenho e insistência foram importantes não só pelas cópias dos textos em si, mas também pelo método de transmissão dos manuscritos e da cultura em geral.

Os textos chegaram a ele, em parte, através dos Padres da Igreja. Tanto os escritos destes, como também os do primitivo monaquismo, distanciaram-se corretamente da produção intelectual do paganismo, estigmatizando-a e dando preferência às Sagradas Escrituras. Era uma atitude destinada a proteger de erros os fiéis nos primeiros séculos da Igreja. Mas alguns autores católicos daquele tempo, entre os quais cabe destacar São Clemente de Alexandria e São Gregório Nazianzeno, acabaram sendo, por ironia, transmissores inconscientes da doutrina de diversos pensadores antigos: para refutar os erros do pensamento pagão, era necessário conhecê-lo. Por isso conservaram em suas bibliotecas as obras desses escritores.

Cassiodoro, por seu lado, selecionava certos textos clássicos para serem copiados. Segundo ele, esses poderiam dotar o estudo bíblico de subsídios científicos, mesmo quando provenientes de autores profanos. Com tal fim, escreveu Institutiones, guia enciclopédico dedicado à conciliação da Bíblia com a herança clássica. Para que a transcrição de certos autores não pusesse em risco a ortodoxia de seus monges, ao invés de simplesmente eliminar algumas obras, o fundador de Vivarium colocava um sinal de atenção nas passagens duvidosas [5].

Deste modo, Cassiodoro, nas últimas décadas de sua vida quase secular, foi um grande sistematizador da cultura no Ocidente, de tradição helênica, romana e cristã, abrindo as portas para essa grandiosa realização intelectual no seio dos mosteiros. Apesar de Vivarium ter durado apenas cerca de vinte anos após a morte de seu fundador, seus manuscritos em geral foram conservados. Segundo estudiosos, teriam eles sido enviados provavelmente para a Biblioteca Lateranense em Roma e diversos mosteiros beneditinos, como o de Bobbio, formado por monges irlandeses. Mas a aventura dos manuscritos no Ocidente estava apenas começando…

Sepulcro de São Columbano, cripta da Abadia de Bobbio (Itália)

São Bento e sua regra

Outro grande marco da história da transmissão manuscrita neste período foi a fundação dos beneditinos por São Bento de Núrsia (480-547).

Ao contrário de Cassiodoro, ingressou jovem na vida religiosa. Por ordem da família, passou certo tempo em Roma para fazer seus estudos, e deu-se conta da enorme corrupção e da decadência moral que reinavam na grande urbe. Alguns anos depois, recebeu uma graça insigne que o fez tomar a firme decisão de dedicar-se à vida eremítica numa austera gruta em Subiaco. Inspirados por seu exemplo, juntaram-se a ele diversos outros varões desejosos de trilhar a mesma via de perfeição. Assim, em pouco tempo foram fundados doze mosteiros nas proximidades de Sacro Speco, com doze monges cada um. Um deles, atualmente chamado Santa Escolástica, ainda se conserva. Em 529, nasceu de suas mãos o célebre Mosteiro de Monte Cassino, referência para a vida monástica e cultural em toda a Europa.

Em seguida, o santo Fundador introduziu o famoso preceito “ora et labora” e a sua célebre Regra. Esta se difundiu por todo o Ocidente cristão a ponto de ser tomada como modelo não só para a vida monástica, mas para toda a sociedade medieval. Não havia nela um mandato específico para o trabalho de copiar manuscritos, como prescrevia Cassiodoro, contudo seus efeitos na transmissão manuscrita foram ainda maiores para os séculos sucessivos que os da efêmera existência de Vivarium [6].

Conforme o capítulo 48 da Regra, os monges deviam dedicar certo tempo à leitura: “A ociosidade é inimiga da alma; por isso em certas horas devem ocupar-se os irmãos com o trabalho manual, e em outras horas com a leitura espiritual”. Mas como se aplicar à leitura sem livros para ler? Foi assim que os princípios de São Bento, implicitamente, favoreceram a tradição manuscrita [7].

A expansão dessa tradição seguiu o sucesso dos beneditinos, não sem dificuldades. Copiar uma obra era um trabalho sem dúvida desgastante e demorado. Basta dizer que eram necessários dois ou três meses para copiar um manuscrito de tamanho médio. Não é raro encontrar nos cólofons [8] descrições das agruras pelas quais passavam os amanuenses, seja pelo desconforto — às vezes escreviam sobre os joelhos —, seja pela ausência de aquecimento e luz adequada no inverno. Nos cólofons ficaram registradas também interessantes manifestações do autêntico espírito medieval: em alguns havia um pedido de orações pelo copista “cujo nome está escrito no Livro da Vida”; em outros, mais inspirados, dedicavam-se poesias ou acrósticos em honra de Jesus e Maria; por fim, havia copistas que lançavam no cólofon um anátema contra quem ousasse furtar aquele tão custoso códice…

A essas dificuldades somava-se a do alto custo dos pergaminhos. Por essa razão, nos séculos VII e VIII, certos textos de menor interesse foram apagados ou raspados para ceder lugar a outros com maior demanda. O copista reescrevia por cima do texto excluído. Este tipo de manuscrito veio a ser denominado de palimpsesto (do grego πάλιν e ψάω, “riscar de novo”). Hoje em dia, sofisticadas técnicas de recuperação permitem descobrir as marcas “apagadas” dos manuscritos, revelando-nos, por vezes, textos inéditos. Desta forma, aqueles monges, sem saber, estavam preservando num mesmo pergaminho dois, ou até mais textos simultaneamente…

O Codex Sangallensis 359, escrito entre 922-925, ainda é
referência para a interpretação da semiologia do Canto Gregoriano

Já no século XI houve um grande avanço na arte de copiar. Entre os beneditinos destaca-se a obra do abade Desidério, que promoveu o grande revigoramento cultural de Monte Cassino [9]. O escritor Woods resume muito bem este renascimento beneditino, dizendo que Desidério “tido como o maior dos abades de Monte Cassino depois do próprio Bento, e que em 1086 veio a tornar-se o Papa Vítor III, supervisionou a transcrição de Horácio e de Sêneca, assim como a do ‘De natura deorum’, de Cícero, e dos Fastos de Ovídio” [10]. Outro monge do mesmo mosteiro e amigo de Vítor III, o Arcebispo Alfano, “manejava com similar fluência as obras dos escritores antigos, e citava frequentemente Apolônio, Aristóteles, Cícero, Platão, Varrão e Virgílio, além de imitar Ovídio e Horácio nos seus versos” [11]. Deve-se mencionar também Santo Anselmo o qual, “enquanto foi abade de Bec, recomendou aos seus alunos a leitura de Virgílio e outros escritores clássicos, embora os aconselhasse a passar por alto trechos moralmente censuráveis” [12].

Foi assim que “os monges de Cassiodoro e de São Bento deram a ‘cópia’ para as primeiras edições de Cícero, Virgílio e outros autores clássicos, produzidos pelas primeiras prensas na Alemanha e Itália” [13]. Mas ainda viriam os monges irlandeses, que deram um particular impulso à transmissão cultural escrita.

Os monges irlandeses

Deus não deixa de suscitar para cada época histórica homens providenciais. Na mesma época em que São Bento deixava este mundo, nascia na Irlanda São Columbano, nosso último protagonista.

Veio ele ao mundo por volta do ano 543 na província de Leinster, Irlanda. Após passar quase 25 anos como monge em seu país, sentiu um chamado de Deus que o incitava a pregar o Evangelho em terras estrangeiras. Com doze companheiros se dirigiu à Gália (atual França) e fundou importantes mosteiros em Annegray, Fontaines e Luxeuil, onde escreveu uma Regra, a Regula monachorum. Sob o impulso deste último mosteiro se originaram cerca de duzentos outros.

Tempos depois, por haver reprovado o concubinato do Rei Teodorico, Columbano foi obrigado a deixar a Gália, condenado ao exílio na Irlanda.

Codex Aureus de Estocolmo (Inglaterra, séc. VIII), e
Evangelhos de Rawlinson (Irlanda, séc. VIII) – Freer &
Sacler Gallery, Smithsonian Institution, Washington

Mas, por um fator inexplicável, o navio encalhou a pouca distância da praia e o capitão, vendo nisto um sinal do Céu, renunciou a prosseguir e, com receio de ser amaldiçoado por Deus, reconduziu os religiosos para a terra firme. O santo irlandês, porém, em vez de voltar para Luxeuil, decidiu começar uma nova obra de evangelização. Dirigiu-se para a Alemanha, passando em seguida pela Suíça, onde deixou um discípulo chamado Gallus, que ali fundou a importante abadia de São Galo. Chegou por fim à Lombardia, Itália, onde fundou o célebre Mosteiro de Bobbio, fonte da energia espiritual e intelectual daquele tempo, a ponto de ser cognominado de o Monte Cassino da Itália setentrional.

São Columbano e seus monges irlandeses foram considerados um dos grandes instrumentos para a salvação da civilização. Esta é a opinião de Thomas Cahill, expressa no livro How the Irish Saved Civilization [14] (“Como os irlandeses salvaram a civilização”). Essa obra passou dois anos na lista de best-sellers do jornal New York Times, chegando a alcançar a segunda colocação, e foi traduzida para diversas línguas, atingindo uma tiragem de 1,25 milhão de cópias. A sua tese, considerada polêmica por alguns críticos, é basicamente que os irlandeses, mais especificamente os monges, de fato salvaram a civilização das ruínas decorrentes da barbárie. São Patrício (389-461?) deu o primeiro passo, incentivando os estudos e a instrução dos monges, e também dos leigos. São Columbano complementou o seu trabalho de promoção da cultura. Sua obra tomou grandes proporções ao formar mais uma frente de monges copistas no começo da Alta Idade Média.

Mas os monges de Columbano possuíam certas peculiaridades. Segundo Cahill, eram eles bastante obstinados e copiavam toda e qualquer obra que lhes caísse nas mãos [15]. Não é por menos que a Abadia de Bobbio chegou a possuir a maior biblioteca do Ocidente. Um catálogo do século IX nos atesta sua extraordinária riqueza: possuía já naquela época uma coleção de 600 a 700 títulos, tanto de autores sacros quanto de clássicos, entre estes: Terêncio, Lucrécio, Virgílio, Horácio, Pérsio, Juvenal, Marcial, Ovídio, Valério, Flaco, Claudiano, Ausônio, Cícero, Sêneca e Plínio [16].

Além disso, deve-se à Abadia de Bobbio cópias de alguns dos mais antigos manuscritos latinos ainda hoje conservados. Tais relíquias nos demonstram não somente o valor literário, mas também artístico dos códices produzidos pelos monges irlandeses e seus discípulos. Nas ornamentações, destacam-se as detalhadas e floreadas iniciais e um estilo de caligrafia típico que influenciou diversos mosteiros. As ilustrações eram verdadeiros tesouros: podiam ser coloridas com ouro e lápis-lazúli, entre vários outros recursos.

A tradição musical também foi objeto de suas atividades. Saltérios, antifonários, sequenciários, graduais e todo tipo de códices litúrgicos — breviários, lecionários, martirológios, missais, etc. — atestam a grande formação cultural dos monges [17]. No acima mencionado mosteiro de São Galo surgiu um sistema de notação de neumas para o canto gregoriano que permitia preservar de forma escrita a tradição melódica, influenciando grande parte da Europa Central e Oriental [18]. Tal sistema, preservado pelo Codex Sangallensis 359, escrito entre 922-925, ainda é referência para a interpretação da semiologia do Canto Gregoriano.

Exemplo de sabedoria, perseverança e ascese

Diante desse quadro, O’Connor afirma categoricamente a respeito dos monges copistas: “Sem os seus esforços inteligentes e infatigáveis, a literatura grega e latina teria desaparecido tão completamente quanto a literatura da Babilônia e da Fenícia” [19]. Do empenho benfazejo de tão poucos indivíduos, verdadeiros heróis anônimos, dependeu o destino cultural do Ocidente.

“Dante e Virgílio”, por Henri de Triqueti – Museu das Belas Artes de Boston (EUA)

Gradualmente, sobretudo com a criação das universidades no século XII, a tradição manuscrita transcendeu o scriptorium dos mosteiros para todas as classes da sociedade: clero secular, freiras, notários, escribas profissionais, professores, estudantes, etc. [20]. Mas nesse tempo a transmissão dos textos já estava salvaguardada. A Europa, soerguida, havia ultrapassado os duros momentos de transição do mundo clássico para o medieval.

Os monges, portanto, além de nos transmitirem os textos, o que de si já é algo extraordinário, deram-nos exemplo de sabedoria, perseverança e ascese, ao legar para os séculos seguintes a tradição cultural cristã e a clássica. Não se pode calcular com precisão a enormidade das consequências desse diligente empreendimento. Nem dizer o que seria da cultura ocidental hoje, se esses monges, por exemplo, tivessem sido exterminados pelas hordas bárbaras ou simplesmente esmorecessem naquele momento crucial. O certo é que o destino da Civilização Ocidental passou por suas mãos.


Notas:

[1] LE GOFF, Jacques. La Civilisation de l’Occident médiéval. Paris: Arthaud, 1967, p.59.

[2] Cf. JONES, Leslie W. The Influence of Cassiodorus on Mediaeval Culture. In: Speculum. N. 4, v.XX (Oct., 1945); p.433-442, aqui p.434; CASSON, Lionel. Libraries in the Ancient World. New Haven: Yale University, 2001, p.144.

[3] Cf. FRANZ, Adolph. M. Aurelius Cassiodorus Senator: ein Beitrag zur Geschichte der theologischen Literatur. Breslau: Aderholz, 1872, p.42.

[4] Cf. GODET, Pierre Julien. Cassiodore. In: VACANT, Alfred, MANGENOT, Eugène, AMANN, Emile. Dictionnaire de Théologie Catholique. Paris: Letouzey et Ané, 1901, v.II, c.1833.

[5] Cf. LERNER, Frederick Andrew. The Story of Libraries: From the Invention of Writing to the Computer Age. New York: Continuum, 2001, p.39.

[6] Cf. REYNOLDS, Leighton Durham, WILSON, Nigel Guy. Scribes and Scholars: A Guide to the Transmission of Greek and Latin Literature. Oxford: Clarendon, 1974, p.74.

[7] Cf. Idem, ibidem.

[8] Arremate de um manuscrito, contendo o título da obra, nome do autor, etc.

[9] Cf. NEWTON, Francis. The Desiderian Scriptorium at Monte Cassino: The “Chronicle” and Some Surviving Manuscripts. In: Dumbarton Oaks Papers. 1976, v.XXX, p.35-54. Ver também obra relacionada de NEWTON, Francis. The Scriptorium and Library at Monte Cassino, 1058 – 1105. Cambridge: Cambridge University, 1999.

[10] WOODS Jr., Thomas E. Como a Igreja Católica construiu a civilização Ocidental. São Paulo: Quadrante, 2008, p.40-41.

[11] Idem, ibidem.

[12] Idem, ibidem.

[13] PUTNAM, George Haven. Books and Their Makers During the Middle Ages; A Study of the Conditions of the Production and Distribution of Literature from the Fall of the Roman Empire to the Close of the Seventeenth Century. New York: Hillary House, 1962, p.26.

[14] Primeira edição em Nova York: Nan A. Talese/Doubleday, 1995.

[15] Cf. CAHILL, Thomas. How the Irish Saved Civilization: The Untold Story of Ireland’s Heroic Role from the Fall of Rome to the Rise of Medieval Europe. Thorndike: G.K. Hall, 1998, p.12.

[16] Cf. LAISTNER, M. L. W. Thought and Letters in Western Europe, A.D. 500 to 900. Ithaca: Cornell University, 1957, p.235. Ver também: RICHTER, Michael. Bobbio in the Early Middle Ages: The Abiding Legacy of Columbanus. Dublin: Four Courts, 2008, p.78.

[17] Cf. SCAPPATICCI, Leandra. Codici e liturgia a Bobbio: testi, musica e scrittura: secoli X ex.-XII. Città del Vaticano: Libreria editrice vaticana, 2008, p.28.

[18] Cf. BELL, Nicolas. Music in Medieval Manuscripts. Toronto: University of Toronto, 2001, p.12-13.

[19] O’CONNOR, John B. Monasticism and Civilization. New York: P. J. Kenedy, 1921, p.114.

[20] Cf. BISCHOFF, Bernhard. Paläographie des römischen Altertums und des abendländischen Mittelalters. Berlin: Schmidt, 2004, p.65.

***

Texto retirado do LINK.


CASSIODORO E AS INSTITUTIONES: O TRABALHO DOS COPISTAS, por Jean Lauand [*]

Costuma-se datar o início da Idade Média em 476, ano em que perece o Império Romano no Ocidente. Em seu lugar surgem os reinos bárbaros, configurando aquela dualidade (Hegel) - dualidade bárbaro/romano, mas também pagão/cristão -, de fato essencial para a constituição da nova época.

Pensando mais na história cultural, Pieper propõe o ano 529, como marco inicial da Idade Média e de seu pensamento: a Escolástica. Com efeito, 529 é um ano emblemático: nele, por um lado, São Bento funda Monte Cassino; e, por outro, o Imperador fecha a Academia pagã de Atenas: a cultura, a partir de então, estará marcada pela religião e restrita aos mosteiros. Os (poucos) estudos se voltarão principalmente para a compreensão da Bíblia e não haverá mais lugar para uma cultura simplesmente pagã.

Certamente, a Escolástica tem um seu fundador, pouco antes do ano 529, em Boécio (morto em 525). Só com seu trabalho de tradutor e comentarista - com que estabelece a ponte entre a cultura antiga e a Idade Média -, Boécio já teria garantido um lugar de relevo na História da Educação e justificado o título de fundador da Escolástica, "primeiro escolástico" (Grabmann). Pois, não por acaso, "Escolástica" se relaciona com "escola", "escolar" (e scholar), e o ensino da Idade Média muito deve a esse educador.

Mas, há ainda uma outra contribuição inovadora de Boécio que incide sobre outro elemento também essencial na constituição da escolástica como método: um estilo de pensamento teológico. Os opúsculos teológicos de Boécio - dos quais o principal é o De Trinitate - são as "primícias do método escolástico" e, por isso, é Boécio considerado "um precursor de S. Tomás" (Stewart e Rand). Já o título desse seu livro ("Como a Trindade é um único Deus e não três deuses") expressa o propósito radical de esclarecer racionalmente a verdade de fé [1] .

Boécio lanças as bases de quase tudo o que vai ocorrer na Educação medieval. Não pôde prever, porém - ele morre pouco antes da fundação de Monte Cassino -, um único fato essencial: que o mosteiro (e não a corte) seria "o lugar" da cultura e do estudo.

Para isto seria necessário esperar a ordem beneditina e, depois, o mosteiro de Vivarium, fundado por Cassiodoro.

Cassiodoro (c. 485-580) foi colega de Boécio na corte do reino ostrogodo (o rei Teodorico queria "romanizar" a cultura e nomeava romanos como ministros).

Como faz notar Pieper (Scholastik), a grande contribuição de Cassiodoro foi a de perceber que esse componente fundamental para a educação, a skholé - as condições (exteriores e interiores) de tranqüilidade e abertura da alma para o estudo -, só podia dar-se, na época, no mosteiro.

Em 555, aproveitando-se de condições especialmente favoráveis, Cassiodoro funda o mosteiro de Vivarium, que marca o início dos mosteiros como centros de estudo e do trabalho dos copistas. Em seu livro Instituições, o próprio Cassiodoro descreve seu mosteiro e incentiva - no texto cuja tradução apresentamos (cap. 30) - o trabalho dos copistas.

No Cap. 29, "Sobre a localização do Mosteiro de Vivarium e do Castellense", Cassiodoro fala do quão adequado é o lugar (perto de Squillace, Calábria) e do empenho e cuidados que teve ao construir Vivarium.

Na verdade, a posição do mosteiro de Vivarium é adequada para prestar ajuda a muitos peregrinos e necessitados, pois tendes hortos irrigados e tendes perto as correntes piscosas do rio Pellena [2] , que não é perigoso pela dimensão de suas águas nem desprezível por pequenez. Regulado com engenho, ele corre por onde julgueis necessário e é suficiente para vossos hortos e moinhos. Ele está aqui quando desejeis e, depois de atender a vossos desejos, afasta-se em seu curso. Assim, ele devota-se a este serviço: não vos atemoriza e não vos pode faltar quando o procurais.

O rio Pellena

Cassiodoro pensa no conforto dos monges, que vão se dedicar a trabalhos de importância cultural, e pensa até no bem dos peixes dos viveiros.

O caminho de Vivarium para Monte Castelo

Tendes abaixo o mar, que oferece variadas pescas e, se quiserdes, podeis lançar a pesca nos viveiros. Pois lá fizemos, com a ajuda do Senhor, receptáculos agradáveis nos quais os muitos peixes – embora encerrados - nadam à vontade. De tal modo são as grutas escavadas nos montes, que os peixes não se sentem aprisionados: livremente tomam alimento e se escondem em suas cavernas habituais.

Os viveiros vistos do Monte Castelo

Também dispomos de adequados locais de banho, que mandamos construir para os doentes, onde corre uma água de fonte limpíssima e é muito agradável para beber e para lavar-se.

Como visitantes e hóspedes podem perturbar o recolhimento de Vivarium, Cassiodoro instala em Monte Castelo uma opção mais austera para praticar a ascese.

Mas estas coisas, como sabeis, são deleites nas coisas presentes e não a esperança futura dos fiéis: esta é para sempre, enquanto essas outras coisas são passageiras.

Instalados em Vivarium, dediquemo-nos, antes, aos desejos que nos fazem reinar com Cristo.

3. Pois se, como é digno de crer, a vida do cenóbio vos instrui competentemente no mosteiro de Vivarium, com o auxílio da graça de Deus, e se com a alma purificada se aspira a algo mais sublime, tendes as suavidades secretas do monte Castelo, onde, tal como anacoretas, podeis viver felizmente com a ajuda do Senhor. Pois são lugares afastados e desérticos na medida em que estão encerrados por antigas muralhas. Por isso, será adequado para vós – uma vez exercitados e provadíssimos – escolher esse habitáculo, se antes a ascenção foi preparada no coração. Pois, sabeis pelas leituras que podeis desejar (ou tolerar) um desses dois modos de vida. É muito importante que - observada a probidade de vossa conduta – quem não é capaz de ensinar a outros com palavras, instrua-os com a santidade dos costumes.

No capítulo 30 das Instituições, cuja tradução apresentamos a seguir, Cassiodoro expõe o que oferece e o que espera dos copistas. Cassiodoro sabe da extrema importância que esse trabalho tem para a preservação da cultura e para a Igreja. E também para a formação do monge.

***

Cassiodoro (c. 485-580) Instituições - Cap. 30. Sobre os copistas e a recordação da ortografia, trad.: Jean Lauand

1. Quanto a mim, eu vos manifesto minha predileção: entre as tarefas que podeis realizar com esforço corporal, a dedicação dos copistas, se escrevem sem erros, é - e talvez não injustamente - o que mais me agrada. Pois, relendo as Escrituras divinas, instruem de modo salutar sua mente e copiando espalham por toda parte os preceitos do Senhor.

Que belo propósito, que louvável aplicação é o pregar aos homens com a mão, abrir línguas com os dedos, dar em silêncio salvação aos mortais e - com a cana e a tinta - lutar contra as ilícitas insinuações do diabo.

Pois Satanás recebe tantas feridas quantas são as palavras do Senhor que o copista transcreve. Ele, permanecendo em seu lugar, percorre diversas províncias com a disseminação de suas obras. Seu trabalho é lido em lugares santos. Os povos ouvem e podem renunciar à sua vontade perversa e servir o Senhor com mente pura. Com seu trabalho, ele age, mesmo estando ausente.

Não sou capaz de dizer que não podem receber uma mudança de vida por causa de tanto bem que fazem, se se sabe que fazem esse trabalho não por ambição, mas por um reto empenho.

O homem multiplica as palavras celestes e – dito de modo metafórico (se é que posso me expressar assim) – escreve com três dedos o que fala do poder da santa Trindade.

Ó que espetáculo glorioso para aqueles que o consideram bem! A cana corre escrevendo palavras celestes para que possa ser destruída a astúcia do diabo que se valeu da cana para golpear a cabeça do Senhor em Sua paixão.

É o caso também de louvar àqueles que de algum modo imitam o Senhor que, falando em modo figurado, com os Seus onipotentes dedos, escreveu a Sua obra. Muitas coisas podem se dizer desta tão ilustre arte, mas basta chamá-los de livreiros [librarios], que se consagram à libra [balança] da justiça do Senhor.

2. Mas para que os copistas não misturem tanto bem com palavras viciadas por modificação de letras ou um revisor não erudito não saiba corrigir os erros, é necessário ler os ortógrafos antigos, isto é, Vélio Longo, Cúrcio Valeriano, Papiriano, Adamâncio Mártir sobre o V e o B e, deste mesmo autor, sobre as primeiras, médias e últimas sílabas e sobre a tríplice colocação da letra B no nome. Leia-se também Eutiques sobre a aspiração e Foca sobre a diferença dos gêneros. Destes autores, eu recolhi, quantos pude, com cuidadosa solicitude.

E para que ninguém ficasse perturbado pela obscuridade desses códices – pois em sua maior parte confundem pela mistura das antigas declinações – cuidei, com especial empenho, que tivésseis uma seleção de suas regras no livro que compus, Sobre a Ortografia: uma vez suprimida a dúvida, o ânimo pode se lançar mais livre pelo caminho da correção.

Sabemos também que Diomedes e Teoctisto escreveram sobre essa arte; se se encontrarem esses livros, recolhei seus resumos. Talvez possais achar outros por meio dos quais se amplie vossa instrução. Mas estes que foram mencionados se forem relidos com assíduo empenho removerão em vós toda treva da ignorância e será conhecidíssimo o que se ignorava.

3. Acrescentamos a esses autores, artistas doutos na cobertura de livros para que a beleza das letras sagradas se vestisse por cima com ornato: imitando talvez de algum modo aquele exemplo da parábola do Senhor, que cobriu com vestes nupciais àqueles que julgava que deviam ser convidados ao banquete celestial em Sua glória.

Se não me engano, expressamos adequadamente as diversas formas de elaboração gravadas em um códice, para que o estudioso possa escolher a forma de cobertura que prefira.

4. Preparamos também, para as vigílias noturnas, lanternas artificiais, que mantêm luminosas chamas, que alimentam por si mesmas o fogo. Conservam abundantemente a grandíssima claridade de sua ubérrima luz uma vez terminada a ação humana e nelas não falta a gordura do óleo ainda que se queime continuamente com chamas ardentes.

5. Também não permitimos de modo algum que ignorásseis a medida das horas, que, como se sabe, foi descoberta para grande utilidade do gênero humano.

Por isso, assegurei-me de que vos colocassem um relógio que marca as horas pela luz de sol, e outro de água que indique continuamente a medida das horas do dia e da noite, pois, como se sabe, freqüentemente há muitos dias em que falta a luz do sol. De modo admirável a água faz na terra o que não pode conseguir o atenuado vigor flamígero do sol. De tal modo a técnica dos homens faz com que ande em harmonia o que a natureza separou; e na confiabilidade de ambas as coisas há tanta verdade que podes considerar que são estabelecidas por anjos.

Estas coisas foram dispostas assim para que os soldados de Cristo, admoestados por sinais certíssimos, sejam chamados a exercer a obra divina como que convocados por clamor de trombetas.


Notas:

[*] Prof. Titular FEUSP, jeanlaua@usp.br.

[1] Certamente isto não é algo de novo. Agostinho e outros tinham escrito textos com o mesmo intuito. Aliás, Agostinho havia afirmado a necessidade de cooperação entre fé e razão, com a célebre sentença do Sermão 43: intellige ut credas, crede ut intelligas, "entende a fim de que creias", "crê a fim de que entendas". Para Boécio, o lema era: fidem, si poteris, rationemque cojunge, "conjuga a fé e a razão"!, conselho com que encerra uma carta ao Papa João I. À primeira vista, nada de novo. A novidade, porém, está em que esse propósito tenha sido assumido explicitamente, programaticamente: aquilo que antes podia ser unicamente uma atitude fática tornava-se agora um princípio. Nova é também a radicalidade do projeto. No seu De Trinitate, encontram-se várias concepções platônicas e neo-platônicas; as dez categorias, os gêneros, as espécies e diversos outros conceitos de Aristóteles; todo tipo de análises filosóficas e de linguagem. Mas não há nem sequer uma única citação ou referência à Bíblia, e isto num tratado teológico sobre a Santíssima Trindade!

[2] Hoje, Alessi.

***

Texto disponível em LINK.


Leia mais em Uma breve história do livro

Leia mais em Boécio e Cassiodoro

Leia mais em Institutiones, um livro que preservou a Educação Clássica

Leia mais em Sobre as artes e as disciplinas das letras liberais, por Cassiodoro


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Para aprender bem Matemática


Tempo de leitura: 18 min.

Apresento a vocês o Guia de Estudo de Matemática do Professor Deividi Pansera [instagram]. Disponível no LINK.

Matemática e Realidade

GUIA DE ESTUDOS escrito por Deividi Pansera, 2020


Prólogo

1. Matemática e Realidade

Bem-vindo ao seu guia de estudos matemática e realidade. Este guia é um compilado de indicações de livros de matemática e, correlacionado com ela, de filosofia. O objetivo deste guia, completamente embasado na minha experiência pessoal e na estrutura da alma humana, é fazer com que você potencialize a sua capacidade de cognição e apreensão de conceitos, de raciocínio, de emissão de juízos etc.

Obviamente, isso só ocorrerá se você, ao mesmo tempo, levar uma vida intelectual séria, estudar matemática com profundidade e estudar outros assuntos, especialmente a filosofia.

1.1. Apologia da Matemática

Matemática é essencial para a vida intelectual e estrutura do pensamento. Todo intelectual sério, até bem pouco tempo, sabia do que se tratava Os Elementos de Euclides e, mais ainda, sabia demonstrar teoremas nele presentes. Segundo uma tradição, na Academia de Platão existia uma inscrição que proibia a entrada de pessoas que não sabiam Geometria. Ademais, ao longo da República, alguns argumentos em favor do aprendizado da matemática são dados. Aristóteles, no Órganon, em Primeiros Analíticos, utiliza a demonstração da irracionalidade de $\sqrt{2}$ como um exemplo de um argumento Reductio ad Absurdum. Aliás, todo o pensamento filosófico grego está, de uma forma ou de outra, entrelaçado com o pensamento matemático e vice-versa.

Diversos foram os filósofos que estudaram, e alguns até desenvolveram, matemática. Platão, Aristóteles, Boécio, Hugo de São Vitor, Roberto Grosseteste, Thomas Bradwardine, Santo Alberto Magno, Santo Tomás de Aquino, Duns Scotus, Francisco Suárez, João de São Tomás, Descartes, Leibniz, Frege, Edmund Husserl, Alfred Whitehead, Henri Poincaré, Charles Peirce, Pascal, Hilary Putnam, Alfred Tarski, Bernard Lonergan, James Franklin etc. A matemática, devidamente estudada e compreendida, além de ser, muitas vezes, um elemento de validação de sistemas filosóficos (por exemplo, Kant e as geometrias não-euclidianas), potencializa o intelecto para as abstrações e, consequentemente, para a absorção de conceitos e universais, desenvolve o raciocínio e a capacidade argumentativa. Isto é, é uma disciplina basilar na vida intelectual e compreensão da realidade. Tão basilar que as quatro disciplinas que compõem o Quadrivium - Aritmética, Geometria, Música e Astronomia -, precedidas pelas disciplinas do Trivium e consideradas fundamentos para o estudo da Filosofia e da Teologia, são, essencialmente, o estudo dos números (aritmética), números no espaço (geometria), números no tempo (música) e números no espaço e tempo (astronomia). O problema moderno, que deixa turvo o intelecto para a importância da matemática, penso eu, é compreender a matemática apenas a partir de sua utilidade, o que é evidente nos nossos tempos. Não podemos deixar a beleza e a importância da matemática se perderem no meio do útil e, assim, do ponto de vista humano, torná-la inútil. Resgatar a cultura também significa resgatar a matemática como disciplina basilar na estrutura do pensamento. Significa entendê-la como uma das maiores conquistas da inteligência humana.

1.2. Da Necessidade de se Estudar Outras Áreas

O estudo da matemática apenas do ponto de vista técnico e utilitarista, como dito anteriormente, a torna completamente inútil do ponto de vista humano e, paradoxalmente, cria no estudante uma tendência muito elevada a erros de raciocínio lógico e argumentativo a respeito da realidade, outras disciplinas de humanidade e, inclusive, sua própria experiência pessoal. Com efeito, pois o sujeito fica preso em construções simbólicas que estão, para ele, fechadas em si mesmas e, assim, são apenas isso, símbolos desprovidos de significados. Subjacente à essa visão, embora o sujeito não perceba, está pressuposta uma filosofia da matemática nominalista. E assim, por exemplo, que se forma a mentalidade cientificista moderna, uma verdadeira ofensa à razão e cheia de erros ginasianos. É devido à essa má filosofia da matemática vigente, embora não professada, e a igualmente má educação matemática dos nossos tempos. Se estudada devidamente, porém, o estudo da matemática estrutura o próprio pensamento e, como consequência, potencializa o poder da razão. Quando o estudo da matemática é acompanhado do estudo de outras disciplinas, especialmente das de humanidades, a capacidade dedutiva, inclusive na busca pela verdade, é potencializada. Um bom curso de lógica clássica e geometria euclidiana, para exemplificar, acompanhando de um estudo das artes, da filosofia e da antropologia, já livraria o estudante da sedução dos sofistas de hoje. Ao estudar a prova da infinidade do conjunto dos números primos, feita por Euclides há muitos séculos, o estudante já começaria a identificar pressupostos em argumentos filosóficos, políticos, sociais etc. e, assim, não ser enganado por sofismas e erros argumentativos, que muitas vezes são de chorar.

1.3. Sobre a Beleza e a Matemática

G. H. Hardy, um dos grandes matemáticos do século passado, em seu livro A Mathematician’s Apology, escreveu que “os padrões criados por um matemático, como os do pintor ou do poeta, devem ser bonitos; as idéias, como as cores ou as palavras, devem se entrelaçar de maneira harmoniosa. A beleza é o primeiro critério: não há lugar no mundo para a matemática feia.”

Veja bem, a beleza como critério. Na física, a beleza matemática também é critério. Paul Dirac, o físico que uniu as matrizes de Heisenberg com as ondas de Schröedinger, afirmou que “os físicos teóricos aceitam a necessidade da beleza matemática como um ato de fé... Por exemplo, a principal razão pela qual a teoria da relatividade é tão universalmente aceita é a sua beleza matemática.” Matemáticos relatam experiências estéticas genuínas, às vezes os levando às lágrimas, com o seu objeto de estudo. Eu, por exemplo, já cheguei a lacrimar diante do que eu conhecia. Por que isso? O critério não deveria ser a verdade?

Depois de estudar os transcendentais do Ser, eu pude compreender perfeitamente o que acontece e encontrar uma explicação para Beleza na matemática e, inclusive, para entendê-la como critério. Como a Beleza, a Bondade e a Verdade são três aspectos do Ser, ao contemplarmos a Beleza, estamos contemplando a Verdade e também a Bondade. Quando enxergamos beleza na matemática, o fazemos por estarmos contemplando a verdade. Sim, a verdade, que, na matemática, tem a característica de se manifestar de maneira apodítica. E assim que eu compreendi Aristóteles quando disse que “erram os que afirmam que as ciências matemáticas nada dizem sobre a Beleza e a Bondade” e afirmou que ela - a matemática - fala desses transcendentais em supremo grau.

Os objetos matemáticos são imutáveis e eternos. Eles não sofrem com a queda. Neles, Verdade, Bondade e Beleza são uma coisa só. Assim, ao enxergarmos a Beleza na matemática, estamos pura e simplesmente contemplando a Verdade. Hardy está certo. Quando a matemática é feia, não há verdade.

É por isso que se você estudar matemática corretamente, além de treinar o seu intelecto, você estará contemplando a Verdade e, quem sabe, lacrimando aqui e acolá.

1.4. Matemática e Humildade

Obrigado por apontar meu erro. Essa foi a frase dita por Edward Nelson, um matemático americano, que percorreu o mundo da internet.

Contextualizando, no final de setembro de 2011, uma notícia abalou o submundo dos fundamentos da matemática. Nelson alegou que ele havia provado - veja bem!, DEMONSTRADO - a inconsistência da aritmética. A inconsistência da aritmética. Isso mesmo. Esqueça Bóson de Higgs. Esqueça Teoria das Cordas. Esqueça multiversos. Memore inconsistência da aritmética. Isso seria um estrondo, um desastre, um desmoronamento intelectual em nosso tempo. Seria. Não foi. Não é. Um outro matemático, Terence Tao, encontrou um erro na demonstração do Edward Nelson. Tao apontou o erro e, depois de uma discussão, Nelson enxergou, e reconheceu, que estava errado e escreveu: “You are quite right, and my original response was wrong. Thank you for spotting my error.

Isso pode parecer insignificante, mas não é. Veja, o coração da matemática está nas demonstrações. O que um matemático faz é provar teoremas, buscar argumentos para justificar uma proposição de tal forma que o êxtase surge com a beleza do resultado final, completamente necessário. E mais ainda, nessa busca de encadeamentos, extremamente ordenados, de raciocínios, o matemático deposita algo seu, íntimo, que transparece em um estilo. Portanto, quando um erro demonstrativo é apontado, ele perfura a superfície do matemático e atinge o seu interior. Logo, dizer “obrigado por apontar meu erro” é um ato de humildade.

São exemplos como o do Nelson que me fazem pensar a matemática como uma disciplina da humildade da razão, um antídoto para a soberba, pois os erros cometidos nas demonstrações não podem ser racionalizados, não podem ser contra-argumentados. Obriga-me a aceitar a fraqueza do meu pensar. Anteriormente, recomendei o estudo da matemática pelos seus efeitos no intelecto. Dessa vez, recomendo o seu estudo para o crescimento da virtude da humildade, indispensável a uma verdadeira vida intelectual.

A matemática é a disciplina da humildade.


Como estudar matemática?

2. Conceitos

Na etapa inicial do estudo da matemática, a primeira coisa necessária é a clareza dos conceitos. E essa claridade acontece com definições bem formuladas. Livres de dubiedades.

Assim, aqui, você precisa apreender os conceitos da disciplina, o que, às vezes, exigirá pré-requisitos. Por exemplo, na seguinte definição de função contínua, o que podemos extrair de pré-requisito?

Definição 1. Uma função $f : X \to Y$ entre dois espaços topológicos $X$ e $Y$ é dita contínua se, para qualquer conjunto aberto $V \subseteq Y$ , a imagem inversa

$$f^{−1}(V) = \{x \in  X : f(x) \in V \}$$

é um conjunto aberto de $X$.

Veja bem, para compreender essa definição e o conceito de função contínua, você precisa saber o que é um espaço topológico e um conjunto aberto nele. E também entender o que é a imagem inversa.

É essencial que você faça essa análise conceitual a cada definição e conceito novo encontrado.

Depois, faça os exercícios sugeridos. Pois é com os exercícios que os conceitos serão apreendidos e propriedades deles serão derivadas.

Em seguida, a cada definição, tente definir com as suas palavras. Tanto a própria definição quanto os conceitos necessários para que você entenda a definição que está em jogo.


3. Demonstrações

Diz-se que Abraham Lincoln levava uma cópia dos Elementos de Euclides consigo a todo lugar. Tarde da noite, à luz de lamparinas, botava-se a estudar. "Você nunca poderá ser um advogado se não entender o que significa demonstração”, dizia ele.

O coração da matemática está nas demonstrações. Mas, afinal, o que é uma demonstração? Ora, de maneira breve, é uma inferência dedutiva a partir de um conjunto de hipóteses. O resultado obtido é uma conclusão necessária. Assim, se as hipóteses são verdadeiras, a conclusão também o será.

Com elas, aprende-se a fazer um raciocínio dedutivo e a provar o que se afirma. Em suma, aprende-se a raciocinar e argumentar; eleva o espírito que, com o pensamento, chega em verdades necessárias.

3.1. Estrutura Geral

A estrutura geral de uma demonstração foi desenvolvida por Aristóteles no Órganon e, depois, sumarizada e aperfeiçoada com Euclides. Consiste, essencialmente, em três partes:

• A Enunciação;

• A Prova;

• A Conclusão.

E essas três partes, por claridade, podem ser abertas em outras seis.

Protasis

Nessa primeira fase, dá-se a enunciação, em termos gerais, da proposição que queremos provar. Quanto mais claros os conceitos envolvidos e mais unívocos os termos, melhor.

Ecthesis

Especificação dos dados particulares com letras pelas quais a demonstração, a prova, será desenvolvida.

Diorismos

Declaração das condições de possibilidade do que deve ser provado ou feito em termos dos dados particulares, que, às vezes, é seguida por uma discussão dos limites da prova.

Kataskeve

Construção de elementos adicionais necessários para a demonstração.

Apodeixis

A prova, que extrai a verdade do enunciado por meio da variedade de dados fornecidos ou construídos, com o auxílio de proposições, hipóteses e definições anteriores.

Symperasma

Conclusão afirmando que a declaração original satisfaz as condições da prova.


Essa metodologia, conforme já mencionado, está, em certo sentido, na base do verdadeiro pensamento filosófico (a gênese está em Platão e Aristóteles, que se inspiraram nas deduções matemáticas dos seus tempos e foram aperfeiçoadas e sintetizadas por Euclides). Ela possui semelhanças diretas com a metodologia dos escolásticos, que, sem dúvidas, representa o auge do pensamento filosófico humano.

Ademais, a variedade de teorias matemáticas, em que todas trabalham com conceitos, permitem um campo argumentativo realmente vasto. Imagine, então, o que o estudo da matemática pode fazer com a sua capacidade de compreensão de conceitos, capacidade argumentativa e dedutiva. Em suma, com o seu intelecto.

3.2. A Atenção

Na etapa do estudo das demonstrações, a atenção deve estar concentrada no sentido de não deixar escapar nenhum detalhe da demonstração. Não deixe passar uma implicação sem entender o porquê dela. Abra a explicação, se necessário. Por exemplo, se, estudando teoria dos números, digamos, você se depara com a seguinte frase no meio de uma demonstração:

Como $p \mid ab$, segue que $p \mid a$.

Por que $p \nmid  b$? Qual é a relação entre $p$ e $b$ para que isso aconteça?

Ademais, da mesma forma que você vai tentar definir os conceitos com as suas palavras, enuncie os lemas, proposições, teoremas etc. com as suas palavras também.


4. Considerações Finais

Não podemos ler matemática de maneira passiva. A matemática exige uma leitura ativa. No sentido que Mortimer Adler coloca no seu livro Como Ler Livros. E, mais ainda, dos quatro níveis de leitura descritos por Adler, a leitura da matemática deve ser sempre analítica.

Isso se dá com a reserva de um horário diário, sentado e com um caderno ao lado. Como dito anteriormente, a cada definição, tente definir com as suas palavras. Tanto a própria definição quanto os conceitos necessários para que você entenda a definição que está em jogo. Nas demonstrações, abra os resultados ocultos e não deixe passar uma linha sem entendimento.

Ademais, além das listas de matemática, coloquei listas de estudos de alguns tópicos específicos de filosofia que estão conectados com a matemática.

A Lista de Livros de Matemática que o Deividi Pansera citou é esta: Livros para aprender bem Matemática.

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Leia mais em Como ler livros de Matemática.


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Carlos Magno e a expansão da Educação Clássica

Imperador Carlos Magno
- Albrecht Dürer, 1512

30 min de leitura.

Carlos Magno e os Pilares da Civilização Ocidental por Thiago Brum Teixeira.

Ao longo da história da humanidade surgem de tempos em tempos luzes e inspirações que fecundam a cultura e a promove a patamares mais altos. Dentre os maiores desenvolvimentos culturais que impactaram de forma positiva e decisiva o curso dos acontecimentos da civilização ocidental até os dias de hoje, figuram com destaque especial o judaísmo, a filosofia grega, o direito romano e o cristianismo. Carlos Magno, considerado o Pai da Europa, tem papel fundamental na conservação desses pilares da Civilização Ocidental.

A Grécia da antiguidade, local de passagem de viajantes e encontros de culturas, recebeu por herança influências de diversos povos, como hebreus, árabes, egípcios, mesopotâmios e hindus e, foi terreno fértil para o florescimento de uma cultura das mais ricas que já se teve notícia, constituída esta por uma profunda mitologia, um refinamento nas artes, uma substancial literatura e, sobretudo, sua filosofia que abrange nada menos que as mais altas conquistas da razão humana.

No período conhecido como Grécia clássica (entre 500 a.C. e 328 a.C.), aconteceu esta fusão cultural, catalisada e sintetizada por ilustres como Platão e Aristóteles, sob influências de sábios como Pitágoras e Sócrates. Vale lembrar que este período, apesar de profícuo, já anunciava a decadência da cultura grega. O império de Alexandre o Grande conquistou grandes extensões territoriais e difundiu o helenismo, que já não era só a mais fina flor da filosofia grega, o materialismo se difundiu com seus antagonismos no confronto entre estoicos e epicuristas. O império de Alexandre só durou durante sua vida, mas numa perspectiva histórica mais distanciada foi muito mais que um conquistador  ambicioso, foi um eficiente polinizador da cultura grega.

Paralelamente à constituição e difusão da filosofia da Grécia, já vinha em desenvolvimento milenar, entre o povo hebreu, a religião judaica, que era o conjunto de ensinamentos e revelações de uma sucessão impressionante de profetas, dentre estes: Abraão, Isaac, Jacó, José, Moisés, Josué, Sansão, Samuel, Davi, Salomão, Elias, Isaías e Daniel só para mencionar alguns principais dentre tantos nomes de destaque entre os judeus. E foi no seio de uma família judia da casa de Davi que surgiria, então, o cristianismo. De Joaquim e Ana, Maria, de sua prima Izabel e Zacarias, veio João Batista, de Maria e José, veio o Emanuel messias, Deus entre nós, anunciado nas sagradas escrituras: Jesus de Nazaré.

Com a ascensão do Império romano, este desenvolve meios de organização política e militar nunca dantes conhecidas, que possibilitaram a conquista e administração de um extenso e longo domínio. As culturas judaica e grega abrigadas sob o estandarte romano presenciaram o advento do cristianismo, com a presença e ensinos do Divino Mestre Jesus e sua posterior transmissão por apóstolos e santos. A longa duração do império romano permitiu a lenta interpenetração e difusão destas ricas e robustas elaborações culturais: o judaísmo, o cristianismo, o direito romano e a filosofia grega.

Após a dissolução do império romano, houve um tempo que o cristianismo e toda cultura da antiguidade estavam fragmentados em pequenas ilhas de resistências em mosteiros e reinados e, ameaçavam ser página virada na história da humanidade. Nesta época sombria para os cristãos, a expansão do império islâmico tomou todo o oriente, norte da África, península ibérica e pretendia dominar todo continente europeu, já enfraquecido pelas terríveis invasões germânicas.

Neste ínterim houve um rei que teve o mérito de unir com maestria as culturas judaico-cristã e greco-romana e se fazer soberano sobre árabes e bárbaros. Impôs seu domínio e a paz entre os seus com sua espada e se consagrou na história como o pai da Europa.

Carlos Magno foi um rei franco que conquistou um amplo império na região onde hoje são os países da França, Alemanha, Holanda, Bélgica, Suíça, Áustria, Hungria, as repúblicas Tcheca, Eslovaca e partes da Itália e Espanha.

Ele constituiu um enorme exército para a época, desenvolveu novas táticas militares, como a unidade militar da cavalaria. Tinha uma guarda pessoal com os doze melhores cavaleiros e espadachins, seus doze pares de França, assim chamados por serem à semelhança de Carlos Magno e entre si em excelência militar e virtude. Para empunhar uma espada não bastava a força e habilidade, mas, sobretudo a virtude e uma série de preceitos morais que o cavaleiro deveria ser digno. Muitas histórias e lendas foram escritas e contadas das aventuras destes bravos cavaleiros e constituem uma extensa literatura chamada por matéria de França.

Carlos Magno premiava seus cavaleiros por seus méritos com terras e títulos hereditários, criou os títulos de nobreza de duque, marquês, conde e visconde e a base da sociedade feudal fundamentada na confiança entre os homens e na obediência ao monarca, a vassalagem. A palavra feudal vem daí, de fé, de confiança entre soberanos e vassalos.

A partir desses princípios estabeleceu um eficiente sistema administrativo, dividindo as regiões em condados governados por condes e seus assistentes e substitutos, os viscondes (vice-conde). O cargo de missi dominici (enviado do senhor) tinha atribuição de fiscalizar a atuação dos condes em determinada região, na aplicação das leis e cobrança de impostos. O título de marquês era reservado aos governantes e protetores das marcas, regiões mais inóspitas e de fronteiras do reino. O duque governava um ducado que era uma região maior e mais independente. Assim como um condado estava para uma diocese, um ducado estava para uma arquidiocese. Numa comparação apenas ilustrativa, mas um tanto anacrônica, um condado seria como uma cidade e um ducado um estado, porém nas devidas proporções da época, um ducado chegava a ter uma população de aproximadamente 300 mil pessoas, o que seria equivalente hoje a uma pequena cidade brasileira.

O reinado não tinha uma capital fixa, ela se fixava no local onde a corte do palácio estava. A corte palatina era o centro administrativo e era integrada por pessoas de confiança do rei. O principal cargo nessa corte era o de conde palatino, um conselheiro, ministro e administrador do palácio, castelos e terras sob domínio direto do rei.

Foi de Carlos Magno as primeiras leis escritas da idade média, chamadas “Capitulares” por serem organizadas em capítulos. As leis eram estabelecidas de acordo com a necessidade e não na tentativa de prever e controlar situações futuras, como é a tendência moderna. Dentre as 65 “Capitulares” se destacam a criação de juízes, de recursos ao tribunal do palácio, o fortalecimento do uso de testemunhas como provas e a estruturação da educação com base na unificação da cultura grega com a cristã.

Carlos Magno reuniu em sua corte os maiores intelectuais da época que promoveram o que ficou conhecido como Renascimento Carolíngio, dentre eles: o mestre de latim Pedro de Pisa; o diácono Paulo; o grande gramático e poeta Paulino de Aquiléia; o bispo Isidoro de Sevilha, escritor das Etimologias, uma riquíssima enciclopédia de diversos conhecimentos adquiridos pelos gregos e romanos até então; e o homem mais culto de sua época, o monge britânico Alcuíno de Yorque.

O monge era como um braço direito de Carlos Magno na corte, uma espécie de ministro da educação do reinado, que por pedido do rei, organizou as Sete Artes Liberais da antiguidade no Trivium e no Quadrivium e contribuiu para edificar em sua época uma Academia, segundo ele, superior à de Atenas, pois além da ciência das sete artes da Academia de Platão, estava enriquecida com os ensinamentos cristãos, os Sete Dons do Espírito Santo, em analogia às sete artes.

Compõe o Trivium as três disciplinas da linguagem ligadas à natureza humana que compreendem ler, escrever, falar e pensar bem: a Gramática, que abarcava também as artes literárias; a Retórica, que incluía o valor da virtude na oratória; e a Dialética (Lógica), que compreendia o rigor e a coerência do raciocínio e sua expressão. O Quadrivium consiste nas disciplinas ligadas ao mundo natural: a Aritmética, a ciência do número e suas propriedades simbólicas; a Geometria, o estudo do número no espaço; a Música, o estudo do número no tempo; e a Astronomia, aplicação do número no espaço e no tempo. Esta englobava ainda a Cosmologia e a Astrologia. Para rei e Alcuíno, o conhecimento destas sete artes era fundamental para o melhor entendimento dos ensinamentos sagrados, sendo a ciência material uma base para edificação espiritual.

Alcuíno de Yorque trabalhou na formação da liderança religiosa e política da época através da alfabetização, do ensino das sete artes e das sagradas escrituras. Criou a minúscula carolíngia. Na época os escritos eram todos em maiúsculas e sem espaçamento, o que dificultava muito a leitura. O trabalho de mandar reescrever as grandes obras diferenciando maiúsculas e minúsculas e dando espaçamento entre as palavras foram simples e geniais contribuições que permitiram a popularização da leitura.

No natal do ano 800, Carlos Magno foi coroado pelo Papa Leão III imperador do Sacro Império Romano Germânico. A partir da data de sua coroação ele instituiu um novo calendário e estabeleceu como referência para o início da contagem do tempo o nascimento de Jesus. Até então cada reino tinha sua própria contagem dos anos a partir do nascimento de seu rei ou outro marco importante do reinado. Foi Carlos Magno que unificou o calendário, colocando em sua base a referência cristã que perdura até os dias de hoje.

Carlos Magno integrou, consolidou e difundiu as mais altas realizações culturais, morais e espirituais de seu tempo, criando a identidade de seu império, que posteriormente seria a própria identidade da Europa, da Idade Média e da própria civilização ocidental, que estaria destinada à expansão, ao domínio e à absorção de outras culturas.


Bibliografia

HOLLAND, Tom. Milênio: a construção da Cristandade e o medo da chegada do ano 1000 na Europa.

LE GOFF, Jacques. A civilização do ocidente medieval.

RIVAS, R. Alcuíno de York: Obras Morales. Introdução, tradução e notas.

WOODS Jr., Thomas E. Como a Igreja Católica construiu a civilização Ocidental

Fonte: LINK

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Carlos Magno e as Artes Liberais por Isabela Abes Casaca

Afinal, como o Renascimento Carolíngio contribuiu para evolução da intelectualidade medieval? Qual dos intelectuais do reinado de Carlos Magno foi o grande responsável pela consolidação do ensino das Artes Liberais? Quais eram os graus e os conteúdos estudados durante a aprendizagem?

Como já explicitado no texto Carlos Magno e os Pilares da Civilização Ocidental [texto acima], o Imperador do Sacro Império Romano-Germânico reuniu em sua corte os maiores intelectuais da época, dentre eles: o mestre de latim Pedro de Pisa; o diácono Paulo; o grande gramático e poeta Paulino de Aquiléia; o bispo Isidoro de Sevilha, escritor das Etimologias, uma riquíssima enciclopédia de diversos conhecimentos adquiridos pelos gregos e romanos até então; e o homem mais culto de sua época, o monge britânico Alcuíno de York.

Desta união de inteligências, ascendeu no horizonte histórico o que hoje conhecemos como Renascimento Carolíngio, que preservou e expandiu a Cultura Clássica juntamente com o Cristianismo, em um tempo de invasões bárbaras destruidoras. O rei sabiamente percebeu que, para fortalecer e unificar seu Império precisaria valorizar a educação e a instrução. Quem capitaneou essa ação foi o monge Alcuíno, sendo quase um espécie de ministro da educação do reinado.

Dentre as muitas inovações desse período, podemos iniciar mencionando a Minúscula Carolíngia, uma caligrafia desenvolvida visando estabelecer um padrão caligráfico europeu. Antes dessa simples medida, era muito complicado estudar os textos antigos. Com esse advento, cresceu a uniformidade, clareza e legibilidade da caligrafia, assim o alfabeto latino foi compreendido com mais facilidade. As letras passaram a ser melhor desenhadas e as palavras separadas umas das outras.

O primeiro exemplo datado dessa nova forma de escrita, é o Evangeliário de Godescalco, escrito entre 781 e 783, por um escriba franco, a pedido de Carlos Magno. Esse mesmo manuscrito é também um dos primeiros exemplos da Iluminura Carolíngia, uma forma de arte igualmente nascida no reinado de Carlos Magno, caracterizada por um naturalismo decorativo com a fusão de influências cristãs primitivas, bizantinas e insulares, fazendo uso de uma sugestão de tridimensionalidade nas figuras através de técnicas de sombreado.

Carlos Magno fez da escrita um meio de propagação do conhecimento, valorizando também a poesia e o canto. Incentivava o estudo de alguns autores da Idade Antiga, dentre eles Platão, que tornou-se muito conhecido. A questão da instrução era tão importante para o imperador, que ele recomendou aos monges primazia pelo seu aperfeiçoamento intelectual, a fim de ensinarem a doutrina cristã com consistência e expertise.

Porém, a maior realização acontecida sob a tutela do rei, juntamente com o monge beneditino Alcuíno, foi o reavivamento do saber clássico acrescido da doutrina cristã, através do ensino das Artes Liberais.

Inicialmente se aprendia o Trivium: Gramática, Retórica e Dialética/Lógica; na sequencia o Quadrivium: Aritmética, Geometria, Astrologia/Astronomia e Música. Adquirido o domínio dessas sete esferas do conhecimento, ganhava-se o título de Mestre em Artes Liberais. Então, estava-se preparado para aprender as Artes Liberais Superiores: Teologia, Medicina e Direito. Concluído o estudo superior, ganhava-se o título de Doutor.

O designo precípuo e maior dessas Artes é a busca pela Verdade Superior; auxiliando no caminho de liberação humana. Fazendo triunfar as virtudes dos homem, elevando seu espírito e promovendo a transcendência de sua consciência. O estudo das Artes Liberais é um fim em si mesmo. Por amor a ciência, elas são ensinadas, estudadas e aprendidas. Ampliando-se o conhecimento. Por esse motivo, são chamadas de “Liberais”, pois não há uma obrigatoriedade, o homem as estuda pelo arbítrio de seu próprio querer, procurando sua libertação e engrandecimento espiritual.

Esclarecido isso, percebemos que o notório rei está estritamente ligado as Artes Liberais, sendo um dos grandes responsáveis por essa expressão da Alta Cultura chegar ao nosso tempo.

Fonte: LINK

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Alcuíno de Yorque e a Escola Palatina por Thiago Brum Teixeira

O Rei Carlos Magno reuniu em sua corte os mais diversos sábios, artistas e intelectuais, que promoveram uma renovação cultural conhecida como Renascimento Carolíngio, responsável por consolidar no mundo ocidental o cristianismo, integrado e apoiado pela filosofia grega. Dentre estes o mais destacado foi Alcuíno de Yorque, reconhecido como um dos homens mais cultos do ocidente cristão do século VIII. Alcuíno, Alcuin ou Albinus Flaccus, como assinava suas obras (todas escritas em latim), nasceu entre os anos 730 e 735 d.C., na Bretanha, hoje território da Inglaterra, foi monge em York, capital do reino da Nortúmbria, onde recebeu instrução do mestre e abade Alberto, que foi discípulo de Egberto e este por sua vez de Beda, o Venerável.

Numa época não existia computador, nem prensa móvel de Gutenberg, nem mesmo máquina de escrever, o papel era artigo de luxo, a tinta tinha que ser meticulosamente preparada e as letras com pena e tinteiro eram caprichosamente desenhadas sob o papel. Escrever um livro era um imenso trabalho e era preciso copiá-lo diversas vezes para preservá-lo ao longo do tempo. Tanto para ter cópias de segurança quanto colocá-lo em papel e encadernações em melhores estados. Tudo isso era necessário para que o conhecimento sobrevivesse às intempéries, à umidade, ao mofo, aos incêndios, saques de inimigos e chegasse até o século XV (700 anos depois de Alcuíno) quando a prensa de tipos móveis foi inventada.

No mundo ocidental eram os monges beneditinos que se dedicavam a preservação e cópia dos textos, principalmente na antiga Inglaterra. Foi neste ambiente que Alcuíno viveu. A regra beneditina valorizava o estudo e a cultura, o cristianismo celta com influências irlandesas era mais flexível, também era comum o ensino do canto gregoriano e a valorização do latim na liturgia e nos costumes. Nestes mosteiros foram construídas as mais importantes bibliotecas, abrigavam os mais notáveis professores e o que podemos chamar de as escolas da época, estavam entre os maiores centros intelectuais da época.

Em 781, Alcuíno foi convidado por Carlos Magno para ser diretor da Escola Palatina (o mesmo que escola do palácio), em Aquisgrán, e chega a corte no ano de 782 com uns 50 anos de idade. A escola palatina funcionava desde os tempos do rei Carlos Martel, avô de Carlos Magno, mas foi com Alcuíno que a conduziu a seu pleno desenvolvimento, quando este serviu de ponte entre o tesouro guardado nos mosteiros beneditinos e o reinado de Carlos Magno.

Como diretor da Escola Palatina implementou o Trivium e o Quadrivium, organizando  a ciência e artes da antiguidade no que veio a ser os alicerces da instrução medieval e da renascença posterior. As disciplinas do Trivium e Quadrivium já existiam desde a antiguidade, presentes principalmente nas obras de Platão, Aristóteles e dos filósofos e matemáticos pitagóricos. Porém foram difundidas na cultura latina por autores como Quintiliano, Agostinho, Boécio, Cassiodoro, Isidoro e Beda. A partir de Alcuíno as Sete Artes Liberais são difundidas no Reino Franco e deste para todo o mundo ocidental.

Importante entender que Alcuíno não inovou e sim, selecionou, organizou e transmitiu fielmente o que de melhor encontrou na cultura antiga e “pagã” (não cristã). Alcuíno considerava tudo que era bom e verdadeiro inspirado por Deus, e sendo, as artes liberais inspiradas por Deus elas deviam ser estudadas pelos cristãos, mesmo sendo um conhecimento considerado pagão.

Para Alcuíno, o objetivo maior da educação era o conhecimento e a sabedoria, em que o estudante devia ser conduzido por degraus de ensinamentos, sendo os primeiros sete degraus da sabedoria, as Sete Artes Liberais do Trivium e Quadrivium. Alcuíno compara as setes artes às sete colunas do templo de Salomão e, afirma que a sabedoria é fortalecida pelas Sete Artes Liberais, constituindo estas o currículo da Escola Palatina, onde eram admitidas crianças que já sabiam ler, escrever e realizar as quatro operações. O programa de estudos que durava entre 7 e 9 anos, sendo equivalentes ao atual 6º ano do ensino fundamental ao 3º ano do ensino médio, constituí durante a idade média aos estudos preparatórios para os estudos superiores de Teologia, Direito e Medicina.

O ensino da época se fundamentava na lectio (lição; leitura), na disputatio (diálogo; perguntas e respostas) e no diálogo socrático. A lectio era a exposição didática de um assunto seguido de comentário às opiniões dos autores clássicos, autoridades no assunto. A disputatio era um livre diálogo entre mestre e discípulo composto de perguntas e respostas sobre determinado assunto, ora podendo o mestre fazer as perguntas e o discípulo respondê-las, ora o discípulo fazer as perguntas e o mestre respondê-las. Também podia ter proposições controvertidas como num debate, onde se apresentam argumentos prós e contras, buscando a melhor solução. O diálogo socrático é quando o professor através de perguntas conduzia o aluno à solução de problemas, a definições, ao exame e esclarecimentos.

Para Alcuíno o ensino devia ser divertido e por isso ensinava também por meio de jogos, enigmas, anedotas e adivinhas. Na Escola Palatina cada um tinha um apelido, pelo qual se comunicavam por meio de cartas, Alcuíno era o poeta Horácio e Carlos Magno o Rei Davi. Pelos diálogos e cartas da época é possível perceber o clima descontraído e lúdico da corte, sem em nenhum momento ser desrespeitoso ou grosseiro, pelo contrário, imperava o cavalheirismo, a cortesia e a admiração entre os pares.

Também era de grande importância educacional o canto coral, a música e a recitação de poesias. A pedagogia de Alcuíno se inicia no som, em seu tratado de gramática ele escreve que é pelo som que se inicia a arte da Gramática, pois a linguagem escrita vem da linguagem falada. A cultura medieval está fundamentada na oralidade, mesmo os poemas, leis e textos escritos, eles eram escritos de forma “oralizada”, ou seja, com objetivo não que fosse lidos, mas que fossem ouvidos. Quando se fala, por exemplo, que as leis da época eram publicadas, quer dizer que eram lidas em praça pública. Da mesma forma os trovadores, bardos e menestréis narravam os acontecimentos heroicos em versos e rimas. A voz era então o fundamento da literatura que se  transformou quando passamos a ler com os olhos, sem soletrar e sem ouvir.

A Escola Palatina era a escola modelo, sua didática e seu currículo eram copiados por todo o reinado. O rei recomendava a construção de escolas em paróquias, catedrais, monastérios e palácios. Geralmente a alfabetização se dava na família ou nas paróquias, para continuidade dos estudos as crianças eram mandadas a mosteiros sob os cuidados dos monges, a escolas catedrais ou mesmo à própria Escola Palatina, que, apesar de, inicialmente servir à instrução dos nobres da corte, também recebia pessoas do povo, selecionadas por interesse, vocação e mérito. Não é incomum encontrar na biografia de cavaleiros, nobres e sacerdotes da época, uma descendência de pessoas das mais simples do povo, como artesãos e até mendigos. Durante o reinado de Carlos Magno as escolas que mais se desenvolveram foram a Escola Palatina e as abrigadas em monastérios. Porém foram a partir do desenvolvimento das escolas catedrais, dirigidas por bispos e que ficavam dentro das cidades, que nasceram as universidades 4 séculos depois.

O rei e o monge valorizam muito a instrução dos sacerdotes e como eles iriam instruir as crianças e jovens, bem como os povos conquistados e incorporados ao reino. Deixaram isso escrito em leis e cartas e trabalharam juntos em prol da unidade cultural, legal e religiosa do reinado e a construção de uma identidade cultural dentre diversos povos diferentes em línguas, história e costumes.

Alcuíno escreveu uma extensa obra de mais de 40 trabalhos e tratados e 320 cartas da qual chegou até nós pela tradução de Migne pertencente a sua Patrologia Latina. Além das cartas sua obra pode ser dividida em obras didáticas, obras teológicas, obras poéticas. Escreveu tratados didáticos de cada uma das artes liberais, que respondiam as necessidades da Escola Palatina. Também era poeta, e deixou uma coletânea de poesias, sendo sua principal obra uma poesia épica que narra a história do reino da Nortúmbria em 1657 versos.

As obras teológicas são as mais numerosas, escreveu a cerca do ensino e da interpretação de partes da bíblia, escreveu diversas obras de ensinamentos para uma conduta moral e virtuosa, se dedicou a refutação de heresias e a defesa da fidelidade da doutrina cristã, redigiu inúmeras obras litúrgicas que tiveram importante impacto na organização e unificação dos cerimoniais religiosos no reinado e ainda escreveu biografias da vida de “santos” e figuras que deixaram como legado uma conduta moral exemplar.

Em 796 quando em idade mais avançada Alcuíno se retirou da vida pública e Carlos Magno o nomeou abade de San Martin, em Tours, dos mais importantes monastérios do reino Franco, onde Alcuíno se dedicou a impulsionar o trabalho da scriptorium monástica, que é a aquisição, conservação e cópias de manuscritos constituindo uma importante biblioteca em Tours.

Alcuíno instruía os copistas no uso e desenvolvimento da minúscula carolíngia e da iluminura. A minúscula carolíngia era um tipo de letra que se destacava por sua beleza, clareza e facilidade de leitura. O latim era escrito apenas com letras maiúsculas, sem espaçamentos, parágrafos e pontuação, o que dificultava o entendimento e o aprendizado de leitura. A partir da minúscula carolíngia se desenvolveu a letra minúscula, os espaçamentos entre as palavras, parágrafos e pontuação, como a criação do ponto de interrogação, por exemplo. O que facilitou muito o aprendizado da leitura, que até então era para poucos sacerdotes que tinham acesso e que, a partir de então, foi difundido entre os nobres, governantes, líderes religiosos e daqueles que demonstravam interesse e vocação.

A iluminura era a ilustração dos livros com belas imagens em um estilo clássico e a ornamentação das letras, com desenhos, arabescos, miniaturas e estilos de grafismos. A palavra iluminura vem de iluminar por conta das cores vibrantes e luminosas que eram utilizadas, principalmente a decoração com ouro e prata, chamada de douração. Também eram utilizadas predominantemente as cores azul, vermelho e amarelo, por conta da disponibilidade dos pigmentos.

Alcuíno viveu até 19 de março de 804 e foi sepultado em San Martin de Tours como abade. Não ocupou altos cargos na igreja e permaneceu como diácono por toda vida. Porém aconselhou patriarcas, reis, arcebispos, abades e monges durante sua vida, teve muitos discípulos, os quais foram os mais renomados professores e escritores da geração seguinte.  Foi religioso, erudito, poeta, pedagogo, político e conselheiro. Foi amigo e braço direito de Carlos Magno na área cultural, religiosa e educacional. Junto com o rei construíram a identidade do reino franco que veio a ser as bases da própria identidade europeia e ocidental.


Bibliografia

[1] ALCUINO DE  YORK. De Grammatica. in: ALCUIN, Opera Omnia, 2 vols. Paris, 1851. (Migne, Patrologia Latina, C, CI).

[2] FRENK, Margit. Entre la voz y el silencio. Centro de Estudos Cervantinos, 1997. (citação: Paul Valéry. Oeuvres. Pleiade: Paris, 1957.)

[3] OLIVEIRA, Priscila Sibim de. Alcuíno e a educação de governantes: Final do Século VIII e Início do Século IX. 2008. 120 f. Dissertação (Mestrado)-Universidade Estadual de Maringá. Orientadora: (Dra.: Terezinha Oliveira). Maringá, 2008.

[4] RIVAS, R. Alcuíno de York: Obras morales. Introdução, tradução e notas. Espanha:(EUNSA), 2004.

[5] ROSZAK, Piotr. La práctica exegética de Alcuino de York. Facies Domini: Revista alicantina de estudios teológicos, n. 3, p. 503-514, 2011.

Fonte: LINK.

Leia mais em: Alcuíno de York: difusor do Trivium e Quadrivum

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