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Este é um blog sobre Matemática em geral, com ênfase no período clássico-medieval, também sobre as Artes liberais (Trivium e Quadrivium), so...

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Educação (Paideia) na Antiguidade Cristã

Três Santos Hierarcas da Igreja:
São Basílio, o Grande,
São João Crisóstomo e
São Gregório, o Teólogo

CRISTIANISMO E PAIDÉIA

Desde a obra famosa de Werner Jaeger, o termo paidéia sugere de imediato o conceito de ideal formativo do homem, descoberto e formulado pelos gregos. A paidéia seria, então, o ideal de educação do homem completo, bem desenvolvido física e espiritualmente, isto é, amadurecido com o auxílio da arte e a colaboração dos adultos experientes no pleno exercício das suas potencialidades físicas, intelectuais e morais. Acontece, entretanto, que esse ideal formativo, formulado de modo clássico e com valor perene, por se assentar na realidade e no conceito de personalidade humana, revestiu na prática certos aspectos muito discutíveis e dignos de censura. Assim, por exemplo, a clara percepção da existência do poder intelectual e do papel da lei na vida física, social e moral foi sombreada pelos raptos imaginativos que engendravam quimeras, como as figuras mitológicas dos deuses que se apresentavam como seres reais, e ela não foi apenas entenebrecida, como também conspurcada, pelos vícios que degradaram o povo que soube espargir pelo mundo ideias tão luminosas. Por isso, quando o Cristianismo surgiu, houve de início um choque entre os representantes da paidéia clássica e os mensageiros da Boa Nova anunciada por Nosso Senhor Jesus Cristo. Os discípulos do Verbo Salvador receberam do Mestre divino a mesma noção da eminente dignidade do ser humano e, ainda mais, com uma idéia muito superior dessa dignidade, quando tomaram consciência de que o homem não é só imagem de Deus pela sua inteligência e pela sua liberdade, como por ter sido elevado ao plano da vida sobrenatural mediante a posse da graça divina que lhe foi outorgada com a criação, perdida pelo pecado e recuperada por meio do sacrifício redentor de Cristo. Por conseguinte, havia uma identidade de concepção greco-cristã quanto ao valor da personalidade humana, mas com vantagem para os cristãos, que tiveram acesso, pela Revelação, ao conhecimento do valor superior do homem, enquanto ser participante da vida divina. Ora, essa concepção do homem criado íntegro, decaído e redimido, mas que deve lutar para se conservar no estado de graça que lhe abre as portas para o reino que não é deste mundo, vinha impor novas condições para a educação do ser humano, sobre ser a nova paidéia inteiramente refratária aos desvarios da fantasia, que se permitia construir o mundo lúcido e fabuloso dos mitos sem consistência real, e aos vícios que corrompiam e enfeavam os homens já enfraquecidos pelo pecado original. Daí, segundo a concepção educacional cristã, a necessidade da ascese, o perpétuo combate espiritual, enquanto dura a existência, a necessidade da penitência, da metanoia, a contínua conversão da pessoa no rumo do Senhor Deus, o abandono do velho fermento do pecado, do homem velho, num contínuo esforço de renovação espiritual. Por isso, os cristãos podiam assumir valores naturais da paidéia grega, mas não podiam admitir os extravios do seu espírito e da sua mentalidade. Em virtude deste último aspecto do espírito grego, muitos pensadores cristãos julgaram, de início, inconciliável a paidéia grega com a doutrina cristã condenando os pagãos ou gentios idólatras e imorais e recusando o que tomavam como pretensa sabedoria deste mundo oposta à sabedoria de Deus, revelada através dos Profetas e dos Apóstolos. Ora, foi exatamente o alto feito educacional de Clemente de Alexandria, nas pegadas do mártir São Justino, ter concorrido para harmonizar a paidéia grega com o espírito cristão, a filosofia pagã com o Evangelho, procurando demonstrar que a filosofia não é "pagã" por natureza, mas uma decorrência da natureza, mas uma decorrência da natureza intelectual do ser humano do ser humano e, por conseguinte, uma dádiva de Deus ao homem, como as artes e as ciências, dons subjetivos, mas dons como os bens externos representados pela variedade e pela beleza das criaturas, como o mar, as montanhas, as flores e as estrelas. Com essa convicção, Clemente de Alexandria aprofunda a idéia de São Justino quanto ao Logos que se fez homem e é o princípio de toda sabedoria, e procura demonstrar que a plenitude da razão e da vida espiritual só se encontra na vida cristã.

[...]

A PAIDÉIA GREGA E A VIDA CRISTÃ

O ínclito helenista Festugière O. P. escreveu páginas notáveis a respeito da paidéia grega e da vida cristã, tomando por base a cidade de Antioquia no século IV e as figuras cimeiras do retórico Libânio e do maior orador cristão do Oriente, São João Crisóstomo. Este, como teremos ocasião de estudar detidamente num capítulo especial, nutria a convicção de que os jovens deviam recolher-se sem pestanejar a um mosteiro, para se dedicarem à religião e ao estudo da santa doutrina, livres dos perigos da sociedade mundana. São João Crisóstomo demonstrava com isso um excessivo e feroz rigorismo, tal como São Jerônimo, ódio por tudo que fosse humano, desconhecimento das verdadeiras condições da vida religiosa e uma ausência de tato espiritual, diz Festugière, que nos aflige e aborrece [19]. Nessa época cultivou-se um erro, que durou muito tempo: o de poderem os pais constranger os filhos a seguir a vida religiosa num mosteiro, embora estes não tivessem a mínima inclinação para este gênero de vida.

O que se sabe a respeito da educação clássica em Antioquia no século IV vale igualmente para outros grande centros escolares do Oriente. A essência da educação antiga consistia da leitura assídua dos famosos autores gregos, os clássicos, de Homero a Demóstenes. O método seguido era o de ler os grande textos e decorá-los, a fim de recitar trechos poéticos ou em prosa diante do mestre, do pedagogo ou para si mesmo. Depois vinha as composições escritas, e as declamações feitas em classe perante mestres e colegas e, às vezes, diante dos pais e dos amigos. Evidentemente, só os meninos e jovens de famílias dotadas de recursos recebiam esses tipo de formação em gramática e retórica, uma vez que os pobres aprendiam um ofício manual que passavam de artesão a artesão numa tradição imemorial.

Festugière traça com mestria o quadro das oposições de vantagens e perigos da paidéia grega. Inegavelmente, a paidéia propunha ao homem um tipo de vida decente que a pessoa bem educada devia levar. As regras de conduta iam da epieiqueia, modéstia e conveniência, e da filantropia, generosidade (ajuda às pessoas em desgraça), até a civilidade pueril e honesta. Esse código de boas maneiras assemelhava-se ao do honnête homme do século XVII ou do gentleman inglês, e Libânio denominava-o maneira grega de viver, ellênikón esti, de tal modo que iniciar-se na cultura grega significava estudar os autores da Grécia e adotar o estilo de vida helênico, Ellênikos Bios, sem os seus vícios tradicionais. Quando se compara a moral grega com a cristã verifica-se que há uma diferença radical entre ambas, mas que podem congraçar-se numa obra de plena realização humana. A moral grega baseia-se na noção de prépon, ou seja, um homem para ser homem, e portanto para viver como ser racional, tem o dever para consigo mesmo de ser belo aos próprios olhos e aos olhos dos outros, isto é, deve procurar alcançar um alto nível de vida moral que constituí a beleza por excelência.

A moral cristã baseia-se na noção de pecado, de ofensa ou falta contra Deus e que por Ele é punida, de modo que o temor de Deus, o temor do seu juízo e da sua punição, constitui a mola primordial dessa moral. Ora, podem conciliar-se perfeitamente os dois ideais, de forma objetivo natural e humano enaltecido pelos gregos seja coroado pela meta sobrenatural e pelo critério evangélico da moral cristã.

Festugière aponta, finalmente, duas classes de perigos da paidéia grega: a indecência de algumas lendas mitológicas e certa aliança dos ierá e dos lógoi, da religião pagã com o estudo das letras, relação que não era necessária mas se fazia na prática habitualmente. Ora, os próprios pagãos perceberam, denunciaram e condenaram a indecência de muitas lendas mitológicas tanto que, desde a Stoa, pelo menos, existiam interpretações físicas ou morais desses mitos que lhes retiravam o veneno. Aliás, observa Festugière, se havia algum perigo em certos mitos gregos, não era nos livros que ele se achava mas na sua representação no teatro sob a forma de pantomimas. Além disso, adotava-se nas escolas o uso de antologias, em que se omitiam as passagens escabrosas. O recurso às antologias já fora recomendado por Platão, que nas Leis afirma ser de boa prática educacional levar os jovens à leitura de longos trechos seletos e à sua recitação de memória quando se pretende que tais jovens se tornem bons e sábios à custa de experiência e de erudição. Diz ainda Platão que existem nos livros dos poetas muita coisa para louvar e muito para censurar [20]. 

Uma vez que no século IV não existiam colégios para a educação da juventude, e já que também a autoridade paterna decaíra por completo em muitos lares, havia cristãos que condenavam de uma vez os templos, os espetáculos e os livros pagãos, repudiando desse modo a cultura pro- fana. Assim pensaram os monges do Oriente, máxime em Antioquia, e moralistas rigorosos, como São João Crisóstomo, que haviam recebido educação monástica e que, preocupados com a salvação eterna das pessoas, achavam que elas deviam ser preservadas das tentações das cidades e dos perigos dos espetáculos. Por isso, tratavam de arrancar os jovens aos encantos da paidéia e só lhes recomendavam a leitura da Bíblia, a recitação dos salmos e a existência recolhida dos mosteiros. Apesar desse exagero, a obra de São João Crisóstomo contém muitos e valiosos ensinamentos a respeito da educação dos filhos.


Referências:

[19] Festugière O. P., Antioche Païenne et Chrétienne, p. 212.

[20] Platon, Lois, 1. 7, 811 a - 811 b, vol. III, pp. 44-45.

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Texto retirado de História da Educação na Antigüidade Cristã de Ruy Afonso da Costa Nunes de 1978 e republicado em 2018 pelas Edições Kírion.


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Introdução geral ao Quadrivium (Matemáticas)

Sobre a imagem: O tetraktys dos pitagóricos ampliado pelo lambda do Timeu. Platão manteve três números escondidos e revelou apenas sete: $1, 2, 3, 4, 8, 9$ e $27$, em relação aos planetas. Seixos ou khálix (forma grega para “cal’’: resíduos de minerais ou metais após a calcinação) era a norma grega para a matemática.

Introdução Geral

O Quadrivium foi inicialmente formulado e ensinado por Pitágoras como o Tetraktys [1], por volta de 500 a.C., em uma comunidade em que todos eram iguais, até materialmente e moralmente, e na qual as mulheres possuíam um status equivalente ao dos homens. Foi a primeira estrutura de ensino europeia a aprimorar a educação enfocando em sete temas essenciais, depois conhecidos como as sete artes liberais.

Educação vem do latim educere [2], que significa "conduzir para fora" [3], apontando para a doutrina central que Sócrates, sob a pena de Platão, elucidou tão claramente — o conhecimento é parte inerente e intrínseca da estrutura de nossa alma. O Trivium da linguagem está estruturado sobre os valores fundamentais e objetivos da Verdade, da Beleza e da Bondade [4]. Seus três temas são: a Gramática, que assegura a boa estrutura da linguagem; a Lógica, para encontrar a verdade; e a Retórica, para o belo uso da linguagem ao expressar a verdade. O Quadrivium surge do mais reverenciado de todos os assuntos disponíveis à mente humana: o número. A primeira dessas disciplinas é a Aritmética. A segunda é a Geometria ou a ordem do espaço como número no espaço. A terceira é a Harmonia, que, para Platão, significava o número no tempo. A quarta é a Astronomia ou o número no espaço e no tempo. Todos esses estudos oferecem uma escada segura e confiável para alcançar os valores simultâneos da Verdade, da Beleza e da Bondade. Por sua vez, isso leva ao valor essencial e harmonioso da Totalidade.

A alma humana, que Sócrates provou ser imortal no Fédon, vem de uma posição de completo conhecimento antes de nascer no corpo. Recordar [5] — o ponto principal da educação — significa trazer novamente ao coração algo que ficou esquecido. O objetivo de estudar essas disciplinas era ascender de volta à Unidade através de uma simplificação, baseada na compreensão adquirida pela prática em cada área do Quadrivium [6]. A finalidade residia em encontrar sua fonte (tradicionalmente, este era o único propósito da busca do conhecimento).

Em sua discussão sobre os ideais da educação, Sócrates revela seu modelo de continuidade da consciência. Era como uma "linha" traçada verticalmente, atingindo desde os primórdios do conhecimento consciente em avaliações até o clímax da consciência como noesis, que é o entendimento unificado. Para além disso, está o indescritível e o inefável. Há, significativamente, quatro fases (outro quadrivium ou tetraktys) dadas pela divisão de Sócrates da "linha ontológica". A primeira divisão encontra-se entre o mundo sensorial e o mundo inteligível, que são fundamentais, assim como entre mente e matéria. A seguir, cada um deles é dividido. Esse é o lugar onde as avaliações podem ser distinguidas das opiniões — mesmo as opiniões corretas, porém ainda baseadas na experiência sensorial. Acima da primeira linha divisória, entramos no mundo inteligível da Mente e encontramo-nos no reino que "comporta a verdade" do Quadrivium. Este é agora o conhecimento objetivo. A última e mais elevada divisão do inteligível é o Nous ou Conhecimento Puro propriamente dito, em que conhecedor, conhecido e conhecimento se tornam Um. Essa é a finalidade e a fonte de todo o conhecimento. Assim, com tempo e sabedoria testados, o Quadrivium oferece ao buscador sincero a oportunidade de recuperar a própria compreensão interna da natureza integral do universo e de si mesmo como parte inseparável desse universo.

A aritmética possui três níveis: o materialmente numerado, o número dos matemáticos (indefinido) e o número ideal ou arquetípico completo no dez. A geometria desdobra-se em quatro estágios: o ponto não dimensional, que se move para se tomar uma linha; a linha move-se para se tornar um plano; e, finalmente, o plano alcança a solidez como o tetraedro. A harmonia, que é igualmente a natureza da alma, possui quatro "escalas", como a música: a pentatônica [7], a diatônica [8], a cromática [9] e a shruti [10]. A palavra cosmos foi criada por Pitágoras e significa "ordem" e "ornamento". Esta última era a forma com que os gregos descreviam o céu que podemos ver como um "ornamento" dos princípios puros, o número dos planetas visíveis relacionado aos princípios da harmonia proporcional. O estudo da "perfeição" do céu servia como uma forma de aperfeiçoar os movimentos da própria alma.

Dentre os estudantes do Quadrivium estão: Cassiodonus, Filolau (de Crotona), Timeu, Arquitas (de Tarento), Platão, Aristóteles, Eudemus, Euclides, Cícero, Fílon, o Judeu (de Alexandria), Nicômaco, Clemente de Alexandria, Orígenes, Plotino, Jâmblico, Macróbio, Capella (a versão mais divertida disponível), Dionísio Areopagita, Beda (o Venerável), Alcuíno, Al-Khwarizmi, Al-Kindi, Eurigena, Gerbert d’Aurillac (Papa Silvestre II), os Irmãos da Pureza, Fulbert, Ibn Sina (Avicena), Hugo de São Vitor, Bernardo Silvestre, Bernardo de Claraval, Hildegard von Bingen, Alanus ab Insulis (Alain de Lilles), Joaquim de Fiore, Ibn Arabi, Robert Grosseteste (o grande cientista inglês), Roger Bacon, Tomás de Aquino, Dante e Kepler.

Terminemos com uma citação dos pitagóricos, dos Versos Dourados: "E saberás que a lei [...] estabeleceu a natureza interna de todas as coisas de modo idêntico"; e com outra de Jâmblico: "Não foi por tua causa que o mundo (cosmos) foi gerado, mas foste tu que nasceste para o bem dele".

Keith Critchlow

Notas:

[1] Representação pitagórica em forma de triângulo, denominado "triângulo perfeito". Para os pitagóricos, os números mantinham uma relação direta com a matéria, considerando, por exemplo, o número $1$ como um ponto, o $2$ como uma reta, o $3$ como uma superfície, e o $4$ como um sólido. Assumindo que $1 + 2 + 3 + 4 = 10$, o número $10$ era visto como uma espécie de conjunto de $4$ elementos, o alicerce das coisas do mundo. Assim, de acordo com os pitagóricos, o $10$ corresponderia a um tetraktys. (N. T.)

[2] Verbo composto, formado pelo prefixo ex (fora) e pelo verbo ducere (conduzir, levar). (N. T.)

[3] Do inglês lead out, o verbo, aqui, não se aplica a um movimento físico de direcionamento, mas à ação de preparar um indivíduo para o mundo. (N. T.)

[4] Ver Irmã Miriam Joseph, O Trivium — As Artes Liberais da Lógica, da Gramática e da Retórica. São Paulo, É Realizações, 2014.

[5] Do latim, verbo composto pelo prefixo re (novamente) e pela palavra cordis (coração). (N. T.)

[6] É importante lembrar que. para os antigos romanos e gregos, o coração não era a sede dos sentimentos, como hoje pensamos, mas a localização física da mente, do pensamento. Além disso, a mente não estava situada na cabeça ou no cérebro, mas dentro do peito. Por isso, voltar a passar pelo coração significava a mesma coisa que voltar à mente ou retomar ao pensamento No original em inglês deste texto, o autor utilizou o verbo remember (lembrar, relembrar, recordar), associando-o literalmente à reunião de membros separados ou dispersos novamente em uma totalidade Por essa razão, segue-se a afirmação sobre a subida de volta à Unidade. (N. T.)

[7] Conjunto de todas as escalas formadas por cinco notas ou, em outras palavras, uma escala com cinco notas musicais por oitava. Escalas pentatônicas são muito comuns e podem ser encontradas em todo o mundo. As mais usadas são as pentatônicas menores e as maiores, que podem ser ouvidas em estilos musicais como o blues, o rock e a música popular. Muitos músicos chamam-na simplesmente penta. (N. T.)

[8] Escala de oito notas, com cinco intervalos de tons e dois intervalos de semitons (menor intervalo utilizado nessa escala) entre as notas. Esse padrão se repete a cada oitava nota, numa sequência tonal de qualquer escala É típica da música ocidental e concerne à fundação da tradição musical europeia. As escalas modernas maior e menor são diatônicas, assim como todos os sete modos tonais utilizados atualmente. (N. T)

[9] Escala que contém doze notas com intervalos de semitons entre elas. (N. T.)

[10] Termo sânscrito utilizado em diversos contextos ao longo da história da música indiana. Literalmente, significa "aquilo que é ouvido" e representa o menor intervalo de altura do som que o ouvido pode detectar. (N. T.)

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Trecho extraído da introdução do livro O Quadrivium: as quatro artes liberais clássicas da aritmética, da geometria, da música e da cosmologia. John Martineau (org.). É Realizações, 2014. 


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Progresso e Tradição em Pedagogia

Avô contando uma história - Albert Anker (1884)

Por P. Leonel Franca

Entre extremos igualmente funestos nem sempre é fácil encontrar o equilíbrio sensato de justo meio. Há amigos da tradição que a comprometem, confundindo-a com a invariabilidade das coisas mortas. Há bajuladores do progresso que não compreendem o benefício das renovações salutares sem o radicalismo das revoluções destruidoras. Como preservar o fiel da balança dos extremos destas oscilações perigosas?

Quer-me parecer que um justo conceito do progresso é a primeira condição para formar a justeza moderada do critério. Da marcha evolutiva da humanidade não raro se apresenta uma noção inteiramente falsa. O homem, ao que se diz, avança na história pelas sendas de um progresso indefinido; o diagrama deste movimento poderia representar-se por uma linha ininterruptamente ascensional. O que para trás ficou não tem mais que um valor histórico; hoje representa um peso morto que devemos alijar; que o presente se desvencilhe do passado; a condição do progresso é a ruptura com a tradição.

Visão precipitada e insuficiente das coisas. Nas ciências há dois domínios nitidamente distintos: o das ciências da natureza -- e consequentemente da técnica -- e o das ciências do homem nos seus valores mais altos e específicos. No campo da observação dos fenômenos naturais o progresso é função quase exclusiva do tempo que multiplica os observadores e as observações. Os que foram grandes outrora, conservam hoje o direito à nossa admiração e reconhecimento pelos serviços prestados à causa científica. Mas já nos não sentamos à sua escola; não vamos estudar astronomia em KEPLER nem química em LAVOISIER; foram, já não são mestres .

Há, porém, outro domínio muito diverso das ciências positivas e suas aplicações técnicas: é o das ciências do espírito. Aqui, o progresso não é a função principal do tempo; do valor de uma obra decide em primeira linha o gênio do seu autor, a profundeza dos seus conhecimentos da vida interior das almas, a capacidade de discernir, sob a superfície das aparências que passam e mudam, a natureza humana no que ela tem de essencial, eterno e imutável. Por isso, na religião, na filosofia, no direito, nas artes, na pedagogia, a tradição não tem só o valor de história do que já se foi, mas ainda o de ensino perenemente vivo do que deve ser. Os mestres nestas disciplinas do homem não se sucedem, eliminando-se; superpõem-se, completando-se. PLATÃO e ARISTÓTELES continuam a ensinar-nos filosofia ao lado de S. AGOSTINHO e de S. TOMÁS; BERGSON [1] e HUSSERL [2] não suprimem KANT ou LEIBNIZ, HOMERO e VIRGÍLIO sobrevivem ao lado de DANTE e de CAMÕES. Nos monumentos de Atenas e de Corinto, como nas obras de BERNINI ou de MICHELANGELO, vamos ainda educar o nosso sentimento estético. Porque lemos BOURGET ou DOSTOIÉVSKI, não deixamos de aprender os refolhos do coração humano em GOETHE ou SHAKESPEARE. Todos estes foram e são mestres, ainda que separados por intervalos de séculos e milênios.

Em todo este imenso domínio em que entra no que tem de mais profundo a pedagogia, a tradição não só continua como mestra viva que quer e deve ser escutada, mas é ainda a cláusula necessária do verdadeiro progresso. Triste e mesquinha concepção esta que faz da ruptura com o passado a condição de vida para o presente e de salvação para o porvir. Neste corte de fio que nos liga às gerações de ontem, querem ver um enriquecimento onde na realidade não há mais que uma dilapidação temerária que nos empobrece. O que é a sociedade no espaço, é a tradição no tempo. A comunhão com os contemporâneos amplia-nos o campo visual, opulentando a nossa experiência própria que é de um só, com a experiência dos que vivem ao nosso lado e são muitos. Sem esta solidariedade no trabalho, seria a esterilidade do isolamento. A tradição vem alargar no tempo os benefícios desta sociedade das inteligências. Já não são somente as vozes contemporâneas, são as vozes de todos os séculos que nos vêm trazer a experiência de sua sabedoria.

Este contato benfazejo com os gênios de outras eras imuniza-nos ainda contra um perigo que não é quimérico: a ditadura da moda, a tirania da geração atual. Como todos os outros, o nosso século tem as suas paixões desorientadoras, sente a fascinação de influências efêmeras e naturalmente reveste-as com o rótulo sedutor de "progresso moderno", "de conquistas da ciência". Corrigir-lhes os desvios, temperar-lhe os excessos, ampliando no tempo o campo de observação, é uma verdadeira benemerência científica. O isolamento de cada geração das que a precederam é que é a verdadeira morte do progresso, a condenação a um recomeço indefinido. Não assistimos, porventura, nestas últimas gerações, ao nascimento, vida efêmera e morte precoce de tantos sistemas pedagógicos que se apresentavam em nome dos fatos e dos resultados definitivos das ciências positivas?

Muito larga e mais compreensiva é a pedagogia cató­lica. Sem renunciar a nenhuma inovação que se imponha em nome de um progresso real, ela não rompe os contatos com o passado. A sua experiência é mais ampla: a segurança dos seus fundamentos mais consolidada pela prova dos séculos.

Esta atitude sensata, preconizara-a, já há quase um século, um dos nossos grandes mestres: 

"Se importa não imobilizar ou prender a educação na rotina, se, pelo contrário, é necessário estudá-la sempre para melhorá-la, fortificá-la, torná-la mais e mais eficaz e fecunda, convém outrossim, nos acautelemos contra as inovações temerárias que vão quebrar a obra dos séculos, calcar aos pés as experiências do passado e lançar, neste grande trabalho da educação, as perturbações mais tempestuosas. O que a sabedoria das idades consagrou, o que a natureza das coisas -- regra suprema -- exige e impõe, convém respeitar profundamente, combinando-o sem o destruir, com o que podem exigir as necessidades novas, a marcha dos tempos, os progressos do espírito humano e as transformações sociais". (DUPANLOUP [4], De la haute éducation intellectuelle, t. III, p. 566.)

Eis uma visão mais compreensiva e justa da historia, colaboradora indispensável de todo progresso estável e duradouro. Fora daí, revoluções destruidoras, renovação perpétua de tentativas efêmeras .

Um grande pedagogo contemporâneo apontou na "transplantação da ideia de progresso contínuo, do domínio da técnica para o da atividade especificamente humana, a causa principal da tragédia de nossa cultura contemporânea. (FR. DE HOVRE [5], Le Catholicisme, ses pédagogues, sa pedagogie. Bruxelas, 1930, p. 403.).

Na lealdade de um esforço reconstrutor tentaremos conciliar as justas exigências da tradição e do progresso, ampliando incessantemente os tesouros do passado com as novas riquezas do presente. É a nobre, pacífica e fecunda missão da pedagogia católica.

Rio, julho de 1932.

Notas:

[1] N. da E.: Henri Bergson (Paris, 18 de outubro de 1859 - Paris, 4 de janeiro de 1941) foi um filósofo e diplomata francês, laureado com o Nobel de Literatura de 1927.

[2] N. da E.: Edmund Gustav Albrecht Husserl (8 de abril de 1859 - Friburgo em Brisgóvia, 27 de abril de 1938) foi um matemático e filósofo alemão que estabeleceu a escola da fenomenologia.

[3] N. da E.: Gian Lorenzo Bernini (Nápoles, 7 de dezembro de 1598 - Roma, 28 de novembro de 1680) foi um eminente artista do barroco italiano, trabalhando principalmente na cidade de Roma. Como arquiteto e escultor é autor de obras de arte presentes até os dias atuais em Roma e no Vaticano, como a Praça de São Pedro, a Capela Chigi, O Êxtase de Santa Teresa, Habacuc e o Anjo, etc.

[4] N. da E.: Mons. Félix Antoine Philibert Dupanloup (3 de janeiro de 1802 - 11 de outubro de 1878) foi um eclesiástico francês. Ele estava entre os líderes do catolicismo liberal na França.

[5] N. da E.: Frans de Hovre (1884-1958) foi um educador belga.

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Trecho retirado do livro A Formação da PersonalidadeP. Leonel Franca. Edições Hugo de São Vitor, 2019.


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O que é educação clássica - por Rafael Falcón

Hugo de São Vítor
escrevendo o Didascalicon

A solução para a educação é buscar os pedagogos certificados não por alguma pós-graduação, mas pela qualidade dos homens que seus ensinamentos produziram.

Por Rafael Falcón

A educação moderna perverteu-se a tal ponto que se tornou praticamente impossível confiar nas escolas comuns. Quem, em sã consciência, pode desejar seus filhos aprendendo que a identificação do sexo depende do “gênero” que cada um escolha; que jogar lixo na rua é mais ou menos tão grave quanto matar uma pessoa; que a família é um antro de preconceitos nazistas e o comunismo, uma utopia sonhada por floristas inocentes – e não, como é de fato, um ensaio ideológico do diabo?

A solução, evidentemente, está em fazer o que funcionou durante mais de mil anos, antes de as escolas se tornarem laboratórios para reformadores irresponsáveis: buscar os pedagogos certificados não por alguma pós-graduação, mas pela qualidade dos homens que seus ensinamentos produziram. Nomes como Platão, Cícero, Santo Agostinho, Dante Alighieri e tantos outros deveram sua educação a uma mesma tradição pedagógica, que chamamos “clássica”.

Para filiar-se à tradição clássica é preciso cumprir três exigências: uma diz respeito às disciplinas e autores obrigatórios ou recomendáveis, e pode chamar-se curricular; a segunda reside no método de ensino e na concepção geral de educação, e é, portanto, pedagógica; a terceira é de natureza espiritual, e se manifesta no amor entre quem ensina e quem aprende, regulado por um modelo de perfeição que, tradicionalmente, recebe o nome de sabedoria ou filosofia. Das três exigências, a última é a mais importante: com tempo e dedicação, ela conduz à posse das outras – as quais, por sua vez, se isoladas da terceira, vão também ruindo e dando lugar a coisas muito diversas. Isso porque a exigência espiritual é, como sugere seu nome, a alma da educação clássica, sem a qual o corpo se desintegra e corrompe.

O requisito curricular se traduz, basicamente, na presença de três disciplinas, que juntas compõem o Trivium, fundamento da educação clássica. São elas a grammatica (formação linguística e literária), a rhetorica (preparação para o exercício civil da palavra) e a dialectica (treinamento nas sutilezas do pensamento discursivo). No entanto, o que os antigos consideravam a base parece muito avançado para nós, modernos. Não creio que a maioria de nossos doutores – não digo em Engenharia ou Medicina, mas em Letras – possua sequer o domínio da primeira disciplina do Trivium, aquela que, em tese, corresponde à sua especialidade. De fato, basta consultar algumas dissertações acadêmicas para assombrar-se com o pedantismo tosco de seu estilo – isso quando não encontramos nelas, entre macaquices sintáticas e papagaiadas técnicas, erros grosseiros de português.

Cumpre notar que as disciplinas do Trivium não consistem num “conteúdo” definido, pois são artes. Seu propósito não é fazer da criança um especialista; é desenvolver as faculdades básicas do espírito, dentre as quais a primeira é o domínio da interpretação de textos e da expressão linguística, sem o qual nada mais é possível. O ensino tradicional do latim, que resistiu até o século passado nos currículos escolares, era resquício dessa concepção, pois não tinha como objetivo apenas ensinar uma língua, mas também desenvolver as potências intelectuais da antiga grammatica. São justamente essas noções curriculares e pedagógicas que venho tentando restaurar nos meus cursos.

Acima de tudo, porém, eis o essencial: que, em cada etapa do processo, o objetivo maior esteja sempre presente. O que não leva à sabedoria, por prestigioso que pareça, é inútil; o que é inútil é perda de tempo. Qualquer disciplina, nas mãos de um educador imprudente, pode converter-se em idolatria de tecnicismos, e as artes do Trivium não estão protegidas dessa possibilidade. Só o amor pela sabedoria é verdadeiro amor, e só nele pode fundar-se a autêntica educação clássica.

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Rafael Falcón é professor independente e coordenador editorial da Editora Concreta. Leciona na plataforma de educação a distância do seu próprio website (www.rafaelfalcon.com.br) ou como convidado em institutos e empresas.

Este texto foi retirado do link ou deste link.



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Lista de livros sobre a Educação verdadeira - parte 2

Jan Davidsz de Heem 
Still Life with Books 1625-30
Em um texto passado (disponível nesse link), eu trouxe a parte 1 de uma lista com alguns livros em língua portuguesa sobre educação. Agora trago uma parte 2. O critério daquela lista foi e continua sendo o mesmo: livros sobre educação que não contivessem influências ideológicas e que estivessem preocupados em explanar sobre uma verdadeira educação. Novamente muitos desses livros foram publicados pela primeira vez ou republicados recentemente no Brasil. Obviamente esta parte 2 complementa e amplia a lista anterior. Pode ser que saia uma parte 3 posteriormente.


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Como Ler Livros - O guia clássico para a leitura inteligenteMortimer Adler e Charles Van Doren. Editora É Realizações, 2010.

Sinopse: Neste clássico, Mortimer Adler nos ensina a praticar a leitura em diferentes níveis – elementar, inspecional, analítica e sintópica – e nos ajuda a adequar nossa expectativa e forma de leitura ao tipo de livro que pretendemos ler. Não se lê um romance da mesma forma que se lê ciência. Não se lê ciência da mesma forma que se lê história. Mais que um livro de técnicas de leitura, trata-se de um verdadeiro tratado de filosofia da educação.





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O Trivium - As artes liberais da lógica, da gramática e da retórica. Irmã Miriam Joseph. Editora É Realizações, 2014

Sinopse: O Trivium, da Irmã Miriam Joseph, resgata a abordagem integrada dos componentes da ciência da linguagem praticada na Idade Média e conduz o leitor por uma esclarecedora exposição da lógica, da gramática e da retórica. Mais importante do que o domínio destes assuntos, este livro pretende fornecer as ferramentas necessárias para o aperfeiçoamento da inteligência.






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Quadrivium - As quatro artes liberais clássicas da aritmética, da geometria, da música e da cosmologia. Org. John MartineauEditora É Realizações, 2014.

Sinopse: Um almanaque ilustrado de curiosidades sobre a presença da matemática no mundo à nossa volta. Trata da simbologia dos números, das proporções na natureza, na arte e na arquitetura; mostra a relação entre música e matemática e nos ajuda a compreender o funcionamento do nosso sistema solar.






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Coleção 7 Artes liberais: O Guia da Educação Clássica. Vários AutoresEdições Hugo de São Vitor, 2020-2023.

Sinopse: A Coleção 7 Artes Liberais: o Guia da Educação Clássica. Não é mais um livro, mas uma coleção completa. Não é só um livro que fala sobre Trivium e/ou Quadrivium, mas sim os livros necessários para o estudo pleno, os quais seguem a doutrina clássica sobre o assunto.

E isso faz toda a diferença, pois no mercado vemos muitos livros úteis, mas que falam só de forma teórica ou histórica das Artes Liberais. Agora você terá o material apropriado para realmente aprender e se exercitar nelas; um material que leva em conta o tempo necessário, o rigor dos estudos, bem como os resultados pretendidos.

Pensamos esta Coleção com o fim de que você possa obter todo o material e a orientação necessários para, finalmente, adquirir a formação de base, aquela que prepara e conduz aos estudos superiores e à vida refletida.

Trivium e Quadrivium:

Trivium e Quadrivium é o primeiro volume da Coleção 7 Artes Liberais e trata da doutrina geral das Artes Liberais.

O livro abre com uma introdução que discorre sobre a origem e a função da Coleção. Em seguida vêm as cartas ao aluno escritas pelo Prof. Clístenes Hafner Fernandes, as quais tratam dos diversos aspectos da pedagogia das Artes; na segunda parte do livro, as sete Artes são apresentadas uma a uma em detalhe, preparando o aluno para os livros específicos.

Além desse conteúdo, este primeiro volume traz no apêndice 5 obras clássicas sobre as Artes Liberais traduzidas pelo Prof. Clístenes; são opúsculos dos seguintes autores: Hugo de São Vítor, Rabano Mauro, Santo Alcuíno de Iorque, São Boaventura e Flávio Magno Aurélio Cassiodoro.

Gramática:

No primeiro livro sobre a Gramática, os temas são literatura e gramática do português. Estas disciplinas vêm para suprir o material e para conferir uma ordenação mais fina ao pensamento do estudante que está iniciando sua jornada intelectual pelas Artes Liberais.

Sabe-se bem que existe um déficit nos estudos literários, bem como no de gramática básica do português, no Brasil. Projetamos este volume com vistas a sanar estes problemas, antes de o aluno começar a avançar para águas mais profundas.

Este livro constitui-se num introito. A boa assimilação do seu conteúdo fará toda a diferença no prosseguimento dos estudos.

O terceiro e quarto livro da Coleção são os mais densos; eles reúnem uma gama de estudos que demandará muito tempo e esforço do aluno para dominá-la.

Estamos diante da mais grandiosa e influente obra didática que já existiu.

As Institutições Gramaticais de Manuel Álvares foram expressamente recomendadas na Ratio Studiorum para o ensino de latim em todos os colégios jesuítas. A obra recebeu nada mais, nada menos do que 530 edições em vinte e dois países, sendo a mais comentada e mais referida gramática latina de todos os tempos. Depois de ter caído no esquecimento de brasileiros e portugueses desde os tempos do Marquês do Pombal, chegou a hora de revermos o mais completo e eficaz curso de gramática já publicado na história.

A gramática de Álvares é dividida em três livros. Cada um trata de uma das partes da gramática: a etimologia, a sintaxe e a prosódia. Depois de 270 anos de exílio, a monumental obra de Manuel Álvares está de volta para terror dos pombalinos, e para nossa alegria. Em dois volumes majestosos de quase 900 páginas cada.

Arrematando os estudos de gramaticais, o aluno aprenderá a respeito da crítica dos poetas, uma disciplina que não tem o mesmo significado atualmente, mas é um aprofundamento em todos os aspectos de um texto literário.

Retórica:

No quinto livro da Coleção, apresentamos a doutrina retórica do grande Cipriano Soares, mestre jesuíta e um clássico da disciplina, em uma edição bilíngue.

O livro inicia com um tratado sobre a arte poética como ligação entre a gramática e a retórica, que mostra como as duas artes têm íntima conexão, revelando a transição de uma para outra a fim de que o aluno não fique boiando.

Segue-se a doutrina segura de Cipriano Soares comentada à luz de Aristóteles, Cícero e Quintiliano, os quais foram os autores que estruturaram a retórica no formato que se tornou célebre e aceito durante 2000 anos no Ocidente.

O sexto livro é uma antologia de discurso clássicos, que dá ênfase aos nomes de Demóstenes, Cícero e do Pe. Antônio Vieira, isto é, um grego, um romano e um cristão, perfazendo assim as culturas formativas da nossa civilização.

A seleta de discursos tem como finalidade ser matéria para assinalar e ilustrar os preceitos estudados no livro anterior. Finalizando o volume, há a parte que trata da arte da composição de discursos retóricos, com regras adaptadas ao mundo atual, sem, porém, perder de vista os cânones sempre aceitos.

Dialética:

Os livros sétimo e oitavo da Coleção são dedicados ao estudo da teoria da dialética. Isto se dará principalmente através do famoso tratado de Pedro da Fonseca, o Aristóteles português, que estará na íntegra em edição bilíngue, em latim e português. Caso o aluno ainda tenha problemas em alguma passagem mais difícil, os volumes contarão com aportes explicativos dos autores clássicos na matéria.

Exercitam-se os conceitos aprendidos, mediante a leitura ativa de diálogos de Platão. De maneira guiada, o aluno se imaginará no lugar dos personagens da trama, como se estivesse participando da discussão.

Assim, ele poderá aproximar-se do espírito dialético, que busca a verdade entre as contradições, onde quer que ela possa ser encontrada. Após essa experiência, ele fará o mesmo com as questões disputadas de Santo Tomás de Aquino e Duns Scotus — o que exigirá mais esforço, tanto imaginativo, quanto analítico.

Ao findar este volume, o aluno terá completado o curso do Trivium.

Quadrivium:

Eis os volumes do Quadrivium, o conjunto de disciplinas que tratam dos números aplicados às coisas.

A Aritmética sempre foi considerada a disciplina introdutória do Quadrivium, pois lida com os números enquanto tais. Para embasar este volume, adotamos o livro de Tomás Vicente Tosca, mestre da disciplina do Sec. XVIII, o qual, porém, segue de perto os clássicos do assunto. Aprofundam o texto principal passagens de Cassiodoro, Boécio, Santo Alcuíno de Iorque e Nicômaco de Gerasa. O volume único divide-se em três partes temáticas: a doutrina dos números enquanto quantidades puras, seguida pela exposição de suas qualidades simbólicas (aspecto esquecido ou desprezado, sem razão, nos dias de hoje), terminando com problemas matemáticos confeccionados para desenvolver agudez mental e maior intimidade com o cálculo.

No volume de Geometria o expoente maior, não pode haver qualquer dúvida, é Euclides, cujas lições nos serão trazidas ainda pelo mestre Tomás Vicente Tosca, o qual dará guiamento para que o aluno entenda bem do que se está tratando. Trar-se-ão, contudo, as definições iniciais que constam do livro original de Euclides, as quais fundamentam tudo que se segue, em três línguas, Grego, Latim e Português.

Na segunda parte do livro, o aluno estudará a teoria simbólica das figuras geométricas, com todas as ramificações cosmológicas que possuem e ênfase especial nos sólidos platônicos.

O assunto do décimo primeiro livro é a música. A espinha dorsal é a obra de José Bernardo Alzedo, teórico e compositor de primeira monta. Junto dele, trazem-se passagens de obras clássicas de Boécio, Santo Isidoro de Sevilha e Santo Agostinho de Hipona. Expõe-se, assim, a teoria musical de amplo espectro, isto é, que leva em conta não só a música instrumental, mas também as músicas, ou harmonias, que se encontram na alma e no mundo — esta última, a famosa música das esferas.

O volume de Astronomia está dividido em três partes: primeiramente, trata do aspecto material e visível do céu, a mecânica celeste; a parte intermediária visa a suprir a lacuna com referência aos conceitos da cosmologia e da física clássicas que ainda possam ser aproveitados; por fim, o aluno estudará o simbolismo do céu, que para os antigos era uma súmula do conhecimento, de onde se poderiam colher analogias para ilustrar argumentos, e até para se aproximar da verdade pela via da imaginação.

A primeira parte será aprendida por meio de um tratado que parte da descrição que Camões fez dos Céus para ensinar a antiga visão cosmológica, tratado chamado a Astronomia de Os Lusíadas. A segunda parte será apresentada principalmente por meio do Tratado clássico de Plotino, a segunda Enéada. A terceira parte se embasará de novo em Tomás Vicente Tosca.

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O Trivium Clássico - O lugar de Thomas Nashe no ensino de seu tempo. Marshall McLuhanEditora É Realizações, 2012.

Sinopse: Marshall McLuhan se mostra neste livro um historiador da cultura clássica e o arquiteto de um projeto educacional para as gerações futuras. Trata das disciplinas do trivium (gramática, lógica e retórica) em recortes temporais que vão até S. Agostinho, de S. Agostinho a Abelardo e, depois, de Abelardo a Erasmo. Por fim, dedica uma seção a Thomas Nashe, romancista e dramaturgo britânico contemporâneo de Shakespeare.





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Trivium de Santo Agostinho. Edições Kírion, 2021 e Edições Hugo de São Vitor, 2016 (texto latino)

Sinopse: Na primeira fase de sua vida, Santo Agostinho foi professor de gramática em Tagaste, e de retórica em Cartago, Roma e Milão; e foi Santo Ambrósio, mestre de retórica mais velho e experiente, a principal influência sobre o futuro bispo de Hipona. Portando em si, como excelente humanista, toda a cultura romana, a conversão do jovem retor africano no grande Padre Latino representou a assimilação do saber antigo pelo cristianismo, e a fundação da Idade Média européia.





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A Vida Intelectual: Seu espírito, suas condições, seus métodos. A.-D. Sertillanges. Editora É Realizações, 2010 e Edições Kírion, 2019.

Sinopse: A Vida Intelectual, do padre A.-D. Sertillanges, redigida originalmente em 1920, ainda se mantém atual para os leitores do novo milênio. Para aqueles que desejam não apenas um manual prático que permita esboçar orientações de como entrar na vida dos estudos, o livro vai além e também oferece um exemplo de vida bem-sucedida no mundo intelectual – a do próprio padre Sertillanges, que por meio de dicas preciosas permite e disponibiliza, para qualquer pessoa que tenha abertura e coragem necessárias, uma nova forma de viver que abrange gradualmente a dimensão intelectual e todos os percalços que essa vida traz consigo. Para aqueles que desejam não apenas um manual prático que permita esboçar orientações de como entrar na vida dos estudos, o livro vai além e também oferece um exemplo de vida bem-sucedida no mundo intelectual – a do próprio padre Sertillanges, que por meio de dicas preciosas permite e disponibiliza, para qualquer pessoa que tenha abertura e coragem necessárias, uma nova forma de viver que abrange gradualmente a dimensão intelectual e todos os percalços que essa vida traz consigo. Assim, o espírito de uma vida intelectual está no fato de que se ela transcende a vida prática, deve ser no sentido de propiciar um maior entendimento dela. Suas condições são os valores éticos, como a honestidade intelectual e a sinceridade. Seu método consiste nos exemplos que percorrem toda a escrita do padre Sertillanges. Este livro é dedicado a todos aqueles que desejam uma vida plena – em todas as suas potencialidades, e não há nada mais atual que esse desejo.

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De Magistro, Santo Agostinho e Santo Tomás de Aquino, Edições Kírion, 2017.

Sinopse: Esta edição bilíngue reúne dois livros de mesmo título: o De magistro de Santo Agostinho e a questão 11 do De veritate, o De magistro de Santo Tomás de Aquino. Separados por quase um milênio, esses dois textos carregam, compactamente, todo o problema do ensino no nível dos princípios, mirando o ponto central da atividade do magistério: é possível que um homem ensine outro? O De magistro de Agostinho é a transcrição de um diálogo com seu filho Adeodato, então com 15 anos, que veio a falecer no ano seguinte. O de Santo Tomás, por sua vez, é uma questão disputada, procedimento característico da escolástica Embora curtos, ambos merecem leitura repetida e constante meditação, a fim de que possamos captar as idéias de pedagogia e de verdade subjacentes a ambos, e descobrir, na profundidade e no alcance que têm em cada detalhe, tesouros de valor inestimável.


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As Sete Artes Liberais: Um Estudo sobre a Cultura Medieval. Paul Abelson. Edições Kírion, 2019

Sinopse: Este é um exame detalhado do material didático usado nas escolas medievais, com o intuito de compreender os objetivos, os limites e os traços característicos do ensino de cada uma das sete artes liberais. O autor parte do princípio de que a educação liberal da Idade Média foi um desdobramento do sistema grego e romano, alterado em vista dos ideais cristãos até atingir a forma estável que perdurou por séculos. Ele acaba por revelar, assim, a relação entre a concepção pedagógica e a riqueza da cosmovisão medieval. Serve ao estudioso como introdução à história e à concepção das artes liberais e como excelente base para mapear um estudo aprofundado de cada uma delas.




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Sobre O Modo de Aprender. Gilberto de Tournai. Edições Kírion, 2019.

Sinopse: Gilberto de Tournai nasceu no início do século XIII, que foi, sob muitos aspectos, o apogeu da civilização medieval, no qual traçou-se o destino intelectual da Europa. Foi frade franciscano, grande pregador e diretor espiritual, amigo e conselheiro do Rei São Luís IX e sucessor de São Boaventura como mestre regente dos franciscanos na Universidade de Paris. O tratado “Sobre o modo de aprender” é um retrato perfeito da educação medieval. Ele é a terceira parte de uma obra mais ampla, o “Rudimentum doctrinae”, a primeira tentativa sólida de compor uma enciclopédia pedagógica que abarcasse, sistematicamente, toda a teoria da educação. Fiel à tradição filosófica que vigorava na escola franciscana e aos ensinamentos dos mestres monásticos do século XII, como Hugo e Ricardo de São Vítor, frei Gilberto descreveu técnicas de estudo e traçou um plano de trabalho inteiramente voltados para o seu elevado ideal de aperfeiçoamento espiritual e impregnados do anseio de alcançar, através do estudo, a meta final de união com o próprio Deus.

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Meditar e aprender. Hugo de São Vítor. Edição bilíngue Latim-Português. Tradução: Roger Campanhari. Edições Kírion, 2024

Sinopse: Hugo de São Vítor foi certamente um dos homens mais célebres de seu tempo por suas virtudes e por sua ciência, o mais renomado de todos os vitorinos. Nascido na Saxônia em 1096, foi professor e diretor da escola do Mosteiro de São Vítor, além de prior deste mesmo mosteiro e bispo. Baseada na tradição cristã e nas Escrituras, toda a sua pedagogia visava formar os estudantes para alcançarem a contemplação, o último grau da Sabedoria — com a qual “tem-se um antegosto nesta vida do que será a recompensa futura” —, uma formação integral que proporcionasse a união com Deus.

Nos dois escritos aqui reunidos, o pequeno tratado Sobre o modo de aprender e meditar e o Opúsculo áureo sobre a arte de meditar, o mestre de São Vítor tratou propriamente da meditação. Se o princípio do conhecimento reside na leitura, que estimula o pensamento, a sua consumação está na meditação, na atenta e assídua recondução do pensamento com vistas a esclarecer o que é obscuro e penetrar o que está oculto. Hugo explica os diferentes gêneros de meditação e que frutos se podem tirar deles, e expõe, com uma descrição precisa e exemplos muito concretos, como devem operar nossas faculdades e como devemos proceder nesse labor, de tal modo que, “avançando sem desanimar, alcemos, no tempo devido, aquilo que vem depois”.

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A Instrução Dos Principiantes. Hugo de São Vítor. Edições Kírion, 2021.

Sinopse: Na Instrução dos principiantes, Hugo apresenta o treinamento em que eram conduzidos, sob a guia do mestre de noviços, os recém-chegados à escola, cujo objetivo era aprender “o bom termo e a medida adequada em todas as palavras e ações”, isto é, a disciplina: como se comportar e governar o corpo — no caminhar, nos gestos, na fala, no tratamento dos outros e nos modos à mesa. Esse aprendizado de autodomínio corporal era anterior ao estudo das letras descrito no Didascalicon, pois, segundo o mestre, “os movimentos desordenados do corpo refletem a corrupção e a dissolução da mente”, e, para ingressar no caminho da sabedoria, é preciso antes imprimir na mente, pela disciplina do corpo, a forma da virtude.



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Institutiones. Introdução às Letras Divinas e Seculares. Cassiodoro. Edições Kírion, 2018.

Sinopse: Com a queda do Império Romano, a transmissão de todo o saber antigo à Idade Média teve de ser operada por meio da laboriosa cópia dos manuscritos conservados nos mosteiros e nas igrejas e da elaboração de manuais e coletâneas. Ao lado de Marciano Capela, Boécio e Isidoro de Sevilha, Cassiodoro foi um dos próceres da cultura cristã. Conselheiro dos reis ostrogodos, fundou em 555 o mosteiro do Vivarium, embrião dos centros culturais medievais. Ali desenvolveu métodos e estabeleceu preceitos para a produção de códices fidedignos, agrupando em sua biblioteca tudo o que pôde colher do tesouro literário greco-romano. Foi Cassiodoro quem imprimiu à vida monástica do Ocidente o culto apaixonado dos livros.

Suas Institutiones, uma introdução ao estudo das letras, possuíam o objetivo primeiro de instruir os monges do Vivarium, mas acabaram como uma das obras mais influentes e difundidas na Idade Média. No primeiro livro, a Introdução às letras divinas, o pedagogo disserta sobre os textos da Sagrada Escritura, sobre seu estudo e seus comentadores; no segundo, Introdução às letras seculares, trata das sete artes liberais, fixadas mais tarde como o trivium e o quadrivium, a base mesma da educação oferecida nas escolas monásticas e catedrais e, posteriormente, em todas as universidades medievais.

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Proposta Paideia. Mortimer J. Adler. Edições Kírion, 2021.

Sinopse: A proposta Paidéia o projeto de Mortimer Adler para uma reforma radical do ensino público dos Estados Unidos. O filósofo partia do princípio de que uma sociedade democrática deve fornecer oportunidades educacionais iguais, não apenas proporcionando a mesma quantidade de ensino básico — isto é, o mesmo número de anos na escola —, mas também deve garantir a todos, sem exceção, uma educação da mesma qualidade. O programa Paidéia pretende estabelecer um plano de estudos que seja geral, e não especializado; liberal, e não vocacional; humanista, e não técnico. Apenas desse modo é possível atingir o significado das palavras paidéia e humanitas, ou seja, a erudição geral que todo ser humano deve possuir. Dividindo o ensino e o aprendizado em três modalidades — a instrução didática, expositiva; o treinamento, que se dá pela repetição; e o seminário, uma discussão à moda socrática —, o programa abrange o ensino de língua e literatura, matemática e ciências naturais, história e estudos sociais, educação física e artes manuais, e uma introdução geral ao mundo do trabalho; enfim, uma escolarização básica capaz de preparar toda criança para ser um eleitor instruído da democracia, ganhar a vida e viver bem. Publicado em 1982, o manifesto explicava e defendia a proposta, que depois foi completada, nos dois anos subseqüentes, pela discussão de suas questões práticas e dos problemas de sua implementação, e por ensaios complementares dos membros do Grupo Paidéia — além do próprio Adler, Charles van Doren, James O’Toole, Jacques Barzun e muitos outros — esclarecendo pontos específicos do programa. Este volume o leitor tem nas mãos traz, juntos, os três livros que delinearam a teora pedagógica de Mortimer Adler.

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As ferramentas perdidas da aprendizagemDorothy L. Sayers. Edições Kírion, 2023.

Sinopse“Vivemos por aí soltando frases sobre a importância da educação — soltando frases e, quando muito, uma graninha ou outra; adiamos a idade de saída da escola, planejamos a construção de instalações maiores, em melhores condições; os professores se acabam feito escravos, com toda a diligência do mundo, por horas e horas de trabalho extra, até que a responsabilidade se torna um fardo insuportável, um pesadelo; e mesmo assim, creio eu, todo esse esforço é jogado no lixo, porque nós perdemos as ferramentas da aprendizagem; e, na ausência delas, só o que podemos fabricar é uma versão estragada e em frangalhos daquilo que um dia foi a educação.” — Dorothy Sayers

“O diagnóstico de Dorothy Sayers é demolidor — e, como é evidente, aplica-se de modo preciso à situação da educação no Brasil: repetimos frases sobre a importância da educação, gastamos dinheiro, sobrecarregamos os professores, sem percebermos que deixamos de lado o mais importante: o ensino das ferramentas de aprendizagem. Aquilo a que chamamos ‘educação’ não passa de escolarização — uma educação imperfeita, e muitas vezes uma verdadeira deseducação.” — Gustavo Bertoche, na introdução

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Carlos Magno e a restauração da educaçãoJames Bass Mullinger. Edições Kírion, 2022.

Sinopse: Pode-se afirmar com tranqüilidade que a história do imperador Carlos Magno, cujo gênio penetrante soube reconhecer num jovem clérigo inglês, Alcuíno de York, a promessa de uma ajuda eficaz para um gigantesco renascimento cultural, se confunde com a própria história da Europa, e que a história de suas escolas não difere da própria história da nossa civilização.

O período histórico que este livro retrata é aquele em que se encontra a verdadeira fronteira entre a história antiga e a moderna, e que encerra a chave de compreensão para aquelas tradições que, desde então, prevaleceram na educação ocidental, e que não podem, ainda hoje, ser menosprezadas ou consideradas ultrapassadas.



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A Inveja dos Anjos — as Escolas Catedrais e os Ideais Sociais na Europa Medieval (950 – 1200)C. Stephen Jaeger. Edições Kírion, 2019.

Sinopse: Antes do surgimento das universidades, a máxima das escolas catedrais do século XI era formar os alunos nas “letras e costumes”, ou seja, aperfeiçoar neles não só o conhecimento teórico, mas sobretudo a postura, os modos e a eloquência. Muitos foram os jovens que ingressaram nessas escolas para de lá ressurgirem como grandes bispos, conselheiros reais, santos e beatos. Com frequência referiam-se a esses centros de ensino como “uma segunda Atenas”, “uma segunda Roma”; os mestres eram chamados de “nosso Platão”, “nosso Sócrates”, “um segundo Cícero”. Seu princípio fundamental era que a verdade se expressa na personalidade humana, em sua conduta, em seu porte, e sua pedagogia se baseava na irradiação, a partir da presença física do mestre, de uma virtude transformadora. Tão maravilhosa é essa força que os próprios anjos poderiam invejar dos homens esse magnífico dom. Neste livro, Jaeger explora esse intrigante capítulo da história da educação e inaugura uma nova visão sobre a vida intelectual e social dos séculos XI e XII na Europa. “visitaremos aqui as escolas catedrais do século XI. Nós as tomaremos desde o ponto de vista dos seus objetivos, valores e ideais. Essas instituições foram humanistas em diversos sentidos da palavra: miravam o desenvolvimento do indivíduo como um todo, sua integração à sociedade, seu papel na política e na administração; buscavam humanizar o indivíduo, e por meio do ser humano individual, a sociedade. Baseadas em modelos clássicos, cultivavam a poesia, a oratória e a conduta”.

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A falácia socioconstrutivista: Por que os alunos brasileiros deixaram de aprender a ler e escreverKátia Simone Benedetti. Edições Kírion, 2020.

Sinopse: Os dois grandes flagelos da educação brasileira, seja pública ou privada, são a indisciplina e a incapacidade de leitura e escrita dos alunos, que chegam aos anos finais do ensino fundamental sem as noções mais básicas do processo de alfabetização. Isso é resultado da maneira como foram alfabetizados, e de como o ensino da língua foi abordado pelos currículos do ensino fundamental. São seqüelas decorrentes da metodologia global socioconstrutivista e da abordagem sociointeracionista do ensino de língua portuguesa, ambas inteiramente contrárias à natureza neurobiológica do aprendizado da escrita e da compreensão leitora. Nesta obra, procuro trazer para a educação o que as ciências do cérebro, em especial a psicologia cognitiva e as neurociências da aprendizagem, têm descoberto sobre a natureza do aprendizado da leitura e da escrita, e esclarecer por que os alunos acabam chegando à universidade sem saber ler e escrever.

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Sobre alguns autores:

Flávio Aurélio Cassiodoro nasceu em 490 d.C. em Squillace, na Itália. Figura importante no fim do Império Romano, substituiu Boécio como conselheiro do rei ostrogodo Teodorico, o Grande. Em 555 fundou o mosteiro do Vivarium, embrião dos centros culturais medievais. Ali desenvolveu métodos e estabeleceu preceitos para a produção de códices fidedignos, agrupando em sua biblioteca tudo o que pôde colher do tesouro literário greco-romano, permitindo que todo o saber antigo passasse em herança à Idade Média por meio da laboriosa cópia dos manuscritos conservados nos mosteiros e nas igrejas. Foi ele quem imprimiu à vida monástica do Ocidente a marca do estudo das letras, sagradas e profanas. Faleceu em 591 d.C.

A.-D. Sertillanges, Filósofo, teólogo e padre dominicano, foi um dos maiores expoentes do neotomismo na primeira metade do século XX, exercendo grande influência sobre Étienne Gilson e Jacques Maritain. Também estudou Aristóteles e Blaise Pascal. Foi membro da Académie des Sciences Morales et Politiques e grande amigo de Henri Bergson.

Irmã Miriam Joseph

Interessada desde muito nova pelas letras e pela arte da comunicação, graduou-se em Jornalismo, mestrou-se em Inglês pela Universidade de Notre Dame e doutorou-se em Inglês e Literatura Comparada, com uma tese sobre William Shakespeare, pela Universidade de Columbia. Também estudou na Universidade de Chicago, sob os auspícios de Mortimer Adler. Pertenceu à Congregação das Irmãs da Santa Cruz e escreveu inúmeros artigos sobre Shakespeare e o trivium.

Santo Agostinho, Religioso e teólogo cristão. Doutor da Igreja, sistematizou a doutrina cristã com enfoque neoplatônico.

"O último dos antigos" e o "primeiro dos modernos", santo Agostinho foi o primeiro filósofo a refletir sobre o sentido da história, mas tornou-se acima de tudo o arquiteto do projeto intelectual da Igreja. Católica.

Aurélio Agostinho, em latim Aurelius Augustinus, nasceu em Tagaste, atualmente Suk Ahras, na Argélia, em 13 de novembro de 354, filho de Patrício, homem pagão e de posses, que no final da vida se converteu, e da cristã Mônica, mais tarde canonizada. Agostinho estudou retórica em Cartago, onde aos 17 anos passou a viver com uma concubina, da qual teve um filho, Adeodato. A leitura do Hortensius, de Cícero, despertou-o para a filosofia. Aderiu, nessa época, ao maniqueísmo, doutrina de que logo se afastou. Em 384 começou a ensinar retórica em Milão, onde conheceu Santo Ambrósio, bispo da cidade.

Cada vez mais interessado pelo cristianismo, Agostinho viveu longo conflito interior, voltou-se para o estudo dos filósofos neoplatônicos, renunciou aos prazeres físicos e em 387 foi batizado por Santo Ambrósio, junto com o filho Adeodato. Tomado pelo ideal da ascese, decidiu fundar um mosteiro em Tagasta, onde nascera. Nessa época perdeu a mãe e, pouco depois, o filho. Ordenado padre em Hipona (391), pequeno porto do Mediterrâneo, também na atual Argélia, em 395 tornou-se bispo-coadjutor de Hipona, passando a titular com a morte do bispo diocesano Valério. Não tardou para que fundasse uma comunidade ascética nas dependências da catedral.

Em sua vida e em sua obra, Santo Agostinho testemunha acontecimentos decisivos da história universal, com o fim do Império Romano e da antiguidade clássica. O poderoso estado que durante meio milênio dominara a Europa estava a esfacelar-se em lutas internas e sob o ataque dos bárbaros. Em 410 santo Agostinho viu a invasão de Roma pelos visigodos e, pouco antes de morrer, presenciou o cerco de Hipona pelo rei dos vândalos, Genserico. Nesse clima, em que os cismas e as heresias eram das poucas coisas a prosperar, ele estudou, ensinou e escreveu suas obras.

Pensamento. As obras mais importantes de Santo Agostinho são De Trinitate (Da Trindade), sistematização da teologia e filosofia cristãs, divulgada de 400 a 416 em 15 volumes; De civitate Dei (Da cidade de Deus), divulgada de 413 a 426, em que são discutidas as questões do bem e do mal, da vida espiritual e material, e a teologia da história; Confessiones (Confissões), sua autobiografia, divulgada por volta de 400; e muitos trabalhos de polêmica (contra as heresias de seu tempo), de catequese e de uso didático, além dos sermões e cartas, em que interpreta minuciosamente passagens das Escrituras.

No pensamento de Santo Agostinho, o ponto de partida é a defesa dos dogmas (pontos de fé indiscutíveis) do cristianismo, principalmente na luta contra os pagãos, com as armas intelectuais disponíveis que provêm da filosofia helenístico-romana, em especial dos neoplatônicos como Plotino. Para pregar o novo Evangelho, é indispensável conhecer a fundo as Escrituras, que só podem ser bem interpretadas através da fé, pois apenas esta sabe ver ali a revelação de verdades divinas. Compreender para crer e crer para compreender, tal é a regra a seguir.

Baseado em Plotino, Santo Agostinho acha que o homem é uma alma que faz uso de um corpo. Até naquele conhecimento que se adquire pelos sentidos, a alma se mantém em atividade e ultrapassa o corpo. Os sentidos só mostram o imediato e particular, enquanto a alma chega ao universal e ao que é de pura compreensão, como os enunciados matemáticos. Mas se não é através dos sentidos, por qual via a alma consegue alcançar as verdades eternas? Será através do sujeito particular e contingente, ou seja, o homem que muda, adoece e morre?

Tudo indica que, se o homem mutável, destrutível, é capaz de atingir verdades eternas, sua razão deve ter algo que vai além dela mesma, não se origina no homem nem no mundo externo, mas em Deus. Portanto, Deus faz parte do pensamento e o supera o tempo todo. Desse modo só pode ser achado e conhecido no fundo de cada um, no percurso que se faz de fora para dentro e das coisas inferiores para as coisas superiores. Ele não pode ser dito ou definido: é o que é, em todos os tempos e em qualquer lugar (é clara, nessa concepção, a influência de Platão, que Santo Agostinho assume em vários pontos de sua obra).

Outra contribuição decisiva é sua doutrina sobre a Santíssima Trindade. Para Agostinho a unidade das três pessoas é perfeita: não se podem separar, nem uma se subordina à outra, como defenderam Orígenes e Tertuliano, mas a natureza divina seria anterior ao aparecimento das três pessoas; estas se apresentam como os três modos de se revelar o mistério de Deus. A alma, para Santo Agostinho, se confunde com o pensamento, e sua expressão, sua manifestação é o conhecimento: por meio deste a alma -- ou o pensamento -- se ama a si mesma. Assim, o homem recompõe nele próprio o mistério da Trindade e se vê feito à imagem e semelhança de Deus: se ele ama e se conhece dessa maneira, ele conhece e ama a Deus, conseqüentemente mais interior ao ser humano do que este mesmo.

O famoso cogito de Descartes ("Penso, logo existo"), em que a evidência do eu resiste a toda dúvida, é genialmente antecipado por santo Agostinho em seu "Se me engano, sou; quem não é não pode enganar-se". Ele valoriza, pois, a pessoa humana individual até quando erra (o que, neste aspecto, não a torna diferente da que acerta). Talvez por isso dê o mesmo peso à parte humana e à parte divina no que diz respeito à encarnação do Cristo.

A salvação do homem, na teologia agostiniana, é algo completamente imerecido e que depende tão só da graça de Deus; graça que, no entanto, se manifesta aos homens por meio dos sacramentos da Igreja visível, católica. Importantes para a salvação, esses sacramentos compreendem todos os símbolos sagrados, como o exorcismo e o incenso, embora a eucaristia e o batismo sejam os principais para ele.

Da mesma forma que concebe a natureza divina, Santo Agostinho concebe a criação, idéia pouco tratada pelos gregos e característica dos cristãos. As coisas se originaram em Deus, que a partir do nada as criou. Pois o que muda e se move, o que é relativo e passa ou desaparece requer o imutável e o absoluto, essência do próprio Deus, que criou as coisas segundo modelos eternos como ele mesmo. Assim, o que o platonismo chamava de lugar do céu passa a ser, no pensamento agostiniano, a presença de Deus. Tudo o que existe no mundo foi criado ao mesmo tempo, em estado de germe e de semente. Como estes existem desde o início, a história do mundo evolui continuamente, mas nada de novo se cria. Entre os seres da criação existe uma hierarquia, em que o homem ocupa o segundo lugar, depois dos anjos.

Santo Agostinho afirma-se incapaz de solucionar a questão da origem da alma e, embora tão influenciado por Platão, não acha a matéria por si mesma condenável, assim como não encara como castigo a união da alma com o corpo. Não seria este, como se disse tanto, a prisão da alma: o que faz do homem prisioneiro da matéria é o pecado, do qual deve libertar-se pela vida moral, pelas virtudes cristãs. O pecado leva o corpo a dominar a alma; a religião, porém, é o contrário do pecado, é a dominação do corpo pela alma, que se orienta livremente para Deus, assistida pela graça.

Uma das mais belas concepções de Santo Agostinho é a da cidade de Deus. Amando-se uns aos outros no amor a Deus, os cristãos, embora vivam nas cidades temporais, constituem os habitantes da eterna cidade de Deus. Na aparência, ela se confunde com as outras, como o povo cristão com os outros povos, mas o sentido da história e sua razão de ser é a construção da cidade de Deus, em toda parte e todo tempo. A obra de santo Agostinho, em si mesma imensa, de extraordinária riqueza, antecipa, além disso, o cartesianismo e a filosofia da existência; funda a filosofia da história e domina todo o pensamento ocidental até o século XIII, quando dá lugar ao tomismo e à influência aristotélica. Voltando à cena com os teólogos protestantes (Lutero e, sobretudo, Calvino), hoje é um dos alicerces da teologia dialética. Santo Agostinho morreu em Hipona, em 28 de agosto de 430. E nessa data, 28 de agosto, é festejado como doutor da Igreja.

(retirado de http://www.veritatis.com.br/patristica/biografias/8477-biografia-de-santo-agostinho) [link atual: https://www.veritatis.com.br/biografia-de-santo-agostinho/]

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