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Educação Matemática da criança (de seis a nove anos)

Um monge ensinando leitura. Miniatura do séc. XV

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Tempo de leitura: 50 minutos. 

Apresentamos o capítulo 6 relativo à Educação Matemática da criança do livro A mente bem treinada: um guia para educação clássica em casaAutoras: Jessie Wise e Susan Wise Bauer. Tradução: Alexei Gonçalves de Oliveira. Editora Liber, 2019.


6. A alegria dos números: Matemática


Não entre aqui quem ignore a Matemática.
- Platão
(inscrição sobre a entrada da Academia)

Disciplina: Matemática elementar

Tempo exigido: 30 a 60 minutos diários

Os quatro anos da Matemática elementar - da primeira à quarta grade - assentam a fundação para o pensamento abstrato de alto nível que será exigido mais tarde durante o estudo da Álgebra, da Trigonometria e do Cálculo. E o espírito do estágio Gramatical é, precisamente, o assentamento de fundações.

A tarefa de assentar uma fundação matemática deve ser levada a sério. A Matemática básica - habilidades de adição e subtração, multiplicação e divisão, o conhecimento das formas e padrões geométricos básicos, a habilidade de pensar problemas através de palavras, uma firme compreensão das relações entre números - é tão vital para o domínio da Matemática de alto nível quanto o entendimento da pontuação e da estrutura de frases para o da linguagem em alto nível. (A palavra da moda para isto é "numeracia": não somente um entendimento da Aritmética básica, mas também um entendimento sobre "como os números funcionam", um "bom senso numérico").

De fato, Matemática é uma linguagem porque usa símbolos e frases para representar realidades abstratas. Para muitas crianças, é uma língua estrangeira, porque não crescem ouvindo-a em toda parte a sua volta. O educador clássico pode mudar essa situação ao desenvolver a "alfabetização" Matemática: ajudando jovens estudantes a dominar as operações matemáticas básicas, a memorizar fatos matemáticos e, também, a entender os conceitos subjacentes tanto às operações quanto aos fatos.

Essa tarefa pode parecer intimidante para muitos pais que não se consideram aptos em Matemática. Não se preocupe; você poderá aprender junto com seu estudante. Comece lendo cuidadosamente as seções a seguir, em que você se familiarizará com os mais importantes aspectos do ensino da Matemática elementar.

Matemática Procedural e Conceitual

Assim que você iniciar o exame de seu currículo de Matemática, você esbarrará na expressão "Matemática conceitua!". O que é Matemática Conceitual (e por que você deveria se importar com isso)?

A Matemática Conceitual é uma espécie de taquigrafia para o ensino de Matemática que explica claramente porque as operações funcionam de determinada maneira. É frequentemente contrastada com a "Matemática procedural", que ensina os estudantes a resolver problemas oferecendo-lhes séries de passos a desempenhar. A Matemática procedural aborda um problema elementar tal como uma subtração simples de dois dígitos:

ensinando os estudantes a "pedir emprestado": uma vez que você não pode subtrair $9$ de $2$, risque o $7$ ao lado do $2$, transformando-o em um $6$ e "empreste" o $1$ ao $2$. Isso transforma $2$ em $12$ e $12 - 9$ é igual $3$, enquanto $6 - 6$ é igual a $0$.


Esta série de passos é conhecida como "algoritmo": um processo estabelecido que você segue para responder a um problema.

A Matemática Conceitual explica porque o algoritmo funciona. Para começar, esses números são apenas maneiras taquigráficas de escrever

$$70 + 2 \ \ \ \ \textrm{e} \ \ \ \ 60 + 9$$

Em vez de ensinar a emprestar $1$ do $7$ para fazer $12$, o estudante, em vez disso, aprende que o número $70$ é composto de unidades que são "combinadas " ou "compostas " em sete conjuntos de $10$:

$$10+10+10+10+10+10+10+2$$

e que um desses conjuntos precisa ser "decomposto" em unidades e combinado às $2$ unidades para formar um $12$. Assim, o problema de subtração pode ser, de fato, escrito da seguinte forma:


Este é o tipo de problema que pode ser demonstrado usando manuseáveis tais como palitos de dentes ou lápis unidos em grupos de $10$ que possam ser separados, veja a seção " Como as crianças pensam", logo a seguir. (As palavras "compostas" e "decompostas" foram sugeridas por Liping Ma em seu clássico trabalho sobre Matemática conceitual, Knowing and Teaching Elementary Mathematics; veja a seção de Recursos no final deste capítulo).

No nível mais elementar, a diferença entre cada método pode não parecer muito grande. Mas o entendimento de que um número maior é um "composto" de grupos menores unidos para formar um maior será crucial para uma adequada compreensão de operações mais complicadas, tais como as divisões longas. Os estudantes que se limitam a aprender os procedimentos ver-se-ão, nos níveis mais altos, aplicando algoritmos sem entender por que os passos funcionam. (Nas palavras de um manual para professores de Matemática: "Muitos estudantes nos Estados Unidos desistiram de descobrir algum dia porque as coisas funcionam em Matemática. Satisfazem-se quando obtêm uma resposta correta apenas seguindo um procedimento, independentemente de qualquer compreensão conceitual") [1].

A Matemática Procedural é importante; jovens estudantes devem aprender os algoritmos. Mas a literacia matemática envolve o aprendizado tanto dos procedimentos quanto das razões pelas quais eles funcionam.

Abordagem em Espiral e Abordagem de Maestria

Os programas de Matemática tendem a adotar uma entre duas abordagens básicas: espiral ou maestria. A abordagem em espiral presume que os estudantes aprendem melhor quando praticam uma habilidade em nível básico e, em seguida, afastam-se dela para aprender outras habilidades, retornando mais tarde à habilidade inicial para praticá-la em nível ligeiramente mais aprofundado. Múltiplas habilidades são ensinadas a cada ano e revisadas no ano seguinte; não se espera que o estudante domine inteiramente conceitos e operações até que ele tenha "espiralado" de volta a ela novamente e ainda outra vez.

A abordagem de maestria ensina um menor número de tópicos por ano mas concentra-se por mais tempo em cada um deles. Os programas de maestria também abrangem conceitos em maior profundidade, alimentando a expectativa de que o estudante desenvolva um entendimento mais profundo antes de avançar para o próximo conceito; esse conhecimento servirá, então, como fundamento para o conceito seguinte, mas não será explicitamente revisto por um período muito maior de tempo.

Como as crianças pensam

Pouco importando qual programa ou abordagem você decida usar (veja mais adiante}, o uso de manuseáveis para ilustrar conceitos é vital.

Quando você ensinou seu estudante a escrever, o primeiro passo foi adotar um modelo concreto - uma palavra ou frase escrita - em frente à criança para que ela a copiasse. Somente quando ela dominava o modelo concreto você retirava o modelo e pedia que ela escrevesse a partir de um ditado. Somente após copiar um modelo escrito ela se tornava capaz de formar um quadro mental da frase falada.

Este primeiro passo é necessário porque as crianças pequenas tendem a pensar em termos concretos. Elas não fazem operações matemáticas de cabeça; se você pedir a um estudante em nível de primeira grade que some 3 e 2, ele olhará em volta procurando por colheres, dedos, maçãs ou moedas para contar de modo a achar a resposta. Do mesmo modo que você pediu ao escritor iniciante que copiasse um modelo visível, você pedirá ao matemático iniciante que faça cálculos aritméticos usando "manuseáveis" - objetos que ele pode ver, tocar e mover.

Empresas especializadas no ensino de Matemática vendem caixas de manuseáveis (veja a seção de Recursos ao final deste capítulo) mas você também pode usar feijões, moedas, blocos ou pastilhas de chocolate. Palitos de dentes funcionam bem quando você precisa deslocar valores - você pode mover uma pilha de dez palitos da coluna das unidades para a das dezenas e, assim, ilustrar a adição de números de 2 dígitos, ou pode dividir as pilhas para ilustrar o conceito de "pedir emprestado". A cada vez que você ensinar uma nova habilidade matemática, faça a criança montar os problemas com a ajuda de objetos reais até que o conceito faça sentido para ela.

VOCÊ: Ponha estes três feijões em uma pilha. Ponha estes dois feijões em outra pilha. Agora junte as duas. Isto é adição. Com quantos feijões você ficou?

CRIANÇA: (Conta cuidadosamente os feijões). Cinco.

Ou...

VOCÊ: Vamos somar trinta e seis e vinte e sete. Para o trinta e seis, nós temos três pilhas de dez palitinhos - trinta - mais seis palitinhos adicionais para as unidades. Para o vinte e sete, temos duas pilhas de dez mais sete unidades. Com quantas pilhas de dez palitos nós estamos agora?

CRIANÇA: (Conta as pilhas) . Cinco.

VOCÊ: Quantos palitos há na soma dessas cinco pilhas?

CRIANÇA: Cinquenta.

VOCÊ: Quantas unidades - isto é, palitinhos soltos - nós temos ?

CRIANÇA: (Agrupa os seis palitos soltos com os outros sete). Treze.

VOCÊ: Nós podemos escrever o número treze na coluna das unidades? Não, porque não vai caber. Onde pomos esses palitinhos que estão sobrando ?

(A criança vê que ela pode reunir dez do treze palitos em mais uma pilha e uni-la às demais cinco pilhas que ela já tem. Agora, ela tem seis grupos de 10 e três palitos soltos - sessenta e três no total. Ela acabou de aprender a fazer contas de emprestar).

Até mesmo crianças mais velhas podem beneficiar-se do uso de manuseáveis quando estiverem aprendendo uma nova habilidade; as frações, por exemplo, podem exigir a divisão de uma torta de maçã antes que comecem a fazer sentido.

Quando o conceito estiver dominado em um nível concreto, será hora de avançar para a Aritmética mental, em que a criança pode imaginar os itens em sua mente em vez de lidar com maçãs, moedas, feijões ou palitos de dentes reais à sua frente [2]. A Aritmética mental requer pensamento abstrato porque os numerais agora representam objetos concretos: 3 mais 2 representam 3 feijões e 2 feijões; o número 27 representa duas pilhas de 10 mais 7 palitos avulsos. Mas não force a criança a dispensar os manuseáveis até que esteja pronta. As mentes de cada criança amadurecem em ritmos diferentes; se você exige de uma criança que faça contas de somar apenas com numerais (sem objetos) antes que esteja pronta, o resultado será a frustração com a Matemática.

Crianças entre 5 e 7 anos de idade normalmente precisam de objetos concretos; crianças entre 8 e 10 anos começam a transição para o modo de "imagem mental" (mas ainda precisam de manuseáveis para a introdução de novos conceitos) . Caso você pergunte a uma criança de cinco anos quantas pessoas há em sua família, ela se voltará e contará todas as pessoas presentes. Faça a mesma pergunta a uma criança de oito anos e ela invocará a imagem de cada pessoa em sua mente para contar as imagens: "Eu, Mamãe, Papai, Jeremias. Somos quatro".

O verdadeiro pensamento abstrato - a habilidade de usar símbolos como $5 + 7$ ou $27 \times 2$ sem usar ou visualizar objetos concretos - é o terceiro estágio do desenvolvimento mental. O pensamento abstrato surge por volta dos nove ou dez anos de idade, coincidindo com o estágio Lógico. O estágio Lógico é a hora de ensinar "habilidades de pensamento crítico de alta ordem".

O objetivo da Matemática elementar inicial é fazer a criança progredir desde a manipulação de objetos reais até à capacidade de visualizar mentalmente esses objetos. Você realizará esse objetivo através de muita prática com objetos reais. Num momento posterior (terceira ou quarta grades) do ensino da Matemática elementar, você começará a conduzir a criança, por meio de muita repetição, na direção do pensamento simbólico, de modo que ela conquiste a capacidade de usar números escritos e entender o que esses números representam.

Você não pode forçar uma criança a desenvolver o pensamento abstrato. Em vez disso, assente a fundação para ela através da prática. Você terá quatro anos para chegar lá. Não se apresse e a criança terá uma forte fundação sobre a qual construirá essas habilidades de alta ordem [3].

Tabuadas: uma defesa

Nós consideramos que a memorização de fatos matemáticos - fatos da adição e subtração, tabuadas de multiplicação e divisão - é essencial para formar uma sólida fundação. Sentimos que muito do protesto relacionado à aprendizagem da tabuada surgiu porque as crianças eram ensinadas a queimar a etapa da imagem mental. Se a criança for conduzida diretamente do modo manipulativo para o simbólico, os símbolos $2 + 4 = 6$ não terão significado algum. Ela jamais os terá praticado com feijões. Caso seja forçada a memorizar uma folha inteira de símbolos sem sentido ($2 + 1 = 3, \ \ 2 + 2 = 4, \ \ 2 + 3 = 5$), ela estará memorizando puro besteirol. Isto é decoreba na sua pior forma e, claro, não é produtivo.

Mas após ter praticado adição com objetos manuseáveis (2 feijões mais 1 feijão é igual a 3 feijões, 2 feijões mais 2 feijões é igual a 4 feijões, 2 feijões mais 3 feijões é igual a 5 feijões) e, então, praticado essas mesmas somas com feijões imaginários, a criança terá entendido o conceito da adição. Neste ponto, a memorização de tabuadas reforça e fortalece um conceito que a criança compreende.

O esforço de memorização também conduz a criança em direção ao pensamento abstrato, simbólico. O conhecimento completo de fatos matemáticos abre o caminho para um entendimento instintivo de rela­ções matemáticas. Veja, por exemplo, a tabuada de multiplicação por $9$:

$9 \times 2 = 18$

$9 \times 3 = 27$

$9 \times 4 = 36$

$9 \times 5 = 45$

$9 \times 6 = 54$

Quando se multiplica um número de $1$ algarismo por $9$, o primeiro algarismo do número resultante é sempre $1$ a menos do que o número com que você começou:

$9 \times 2 = 1$__

$9 \times 3 = 2$__

$9 \times 4 = 3$__

$9 \times 5 = 4$__

$9 \times 6 = 5$__

E a soma do segundo algarismo do número resultante, quando adicionado ao primeiro, sempre somará $9$.

$9 \times 2 = 18 \ \ (1 + 8 = 9)$

$9 \times 3 = 27 \ \ (2 + 7 = 9)$

$9 \times 4 = 36 \ \ (3 + 6 = 9)$

$9 \times 5 = 45 \ \ (4 + 5 = 9)$

$9 \times 6 = 54 \ \ (5 + 4 = 9)$

Este pequeno truque mental para lembrar a tabuada de multiplicação por $9$ também revela uma importante relação matemática: como $9$ é igual a $10$ menos $1$, a multiplicação de um número de um algarismo (como o $6$) por $9$ jamais produzirá aquele mesmo número de $1$ algarismo na coluna das dezenas. $6 \times 9$ tem que ser menor do que $60$, porque a soma de $9$ grupos de $6$ obrigatoriamente será menor do que a de $10$ grupos de $6$.


O domínio de fatos básicos neste momento assenta a fundação para o entendimento posterior. Um dos parentes de Jessie que está na oitava grade frequentou uma bem conceituada escola particular da vizinhança. Em vez de exigir que ele memorizasse os fatos matemáticos, a escola permitia que ele usasse a calculadora em seus estudos de Matemática desde as primeiras grades. Quando ele precisou aprender álgebra, ele conseguia resolver problemas banais - aqueles que seguiam exatamente o modelo do livro-texto - mas faltava-lhe uma verdadeira compreensão das relações matemáticas básicas. Quando se defrontava com problemas mais difíceis ou inovadores, ele ficava perdido. A máquina havia feito as computações em seu lugar por tempo demais.

Isto nos leva a um firme princípio do ensino da Matemática elementar: sem calculadoras. Não se deve permitir o uso de calculadora por nenhuma criança que ainda não tenha ainda memorizado os fatos matemáticos. Nós recomendamos que o início do uso de calculadoras se dê na sétima grade, e jamais antes.

Mantendo a Matemática em perspectiva

No capítulo 4, recomendamos uma ampla variedade de livros de histórias matemáticas e manuseáveis para uso com seu filho em idade pré-escolar. Quando você começa a usar um currículo matemático de verdade, é fácil permitir que as outras atividades caiam para segundo plano. Mas não se esqueça de que a Matemática não é meramente uma disciplina escolar: é uma forma de entender o mundo.

No primeiro capítulo de seu livro How Not to Be Wrong: The Power of Mathematical Thinking, o matemático Jordan Ellenberg observa que tratar a Matemática simplesmente como uma outra parte do currículo estimula os estudantes a pensar nela como se fosse irrelevante e inútil, especialmente quando chegam aos níveis mais elevados. ("O número de adultos que jamais fará uso da... divisão polinomial sintética", observa, "pode ser contado em alguns poucos milhares de almas"). Em vez disso, Ellenberg incentiva os leitores a pensar no conhecimento matemático como " um par de óculos de raios X que revelam estruturas ocultas sob a superfície confusa e caótica do mundo. A Matemática é a ciência de não estar errado sobre as coisas, suas técnicas e hábitos foram lapidados por séculos de trabalho duro e argumentação. Com as ferramentas da Matemática em suas mãos, você poderá entender o mundo de um modo mais profundo, inteligente e significativo") [4].

Assim, enquanto você avança em seu programa de Matemática, faça um esforço para conferir livros de Matemática e para praticar a Matemática do dia a dia. Nós sugerimos recursos para ambos nas listas ao final deste capítulo. Caso você não se sinta à vontade para integrar a Matemática à sua rotina diária (provavelmente porque ninguém fez isso por você durante seus anos escolares), estabeleça uma meta: leia um livro de histórias matemáticas e faça um projeto de Matemática "da vida real" a cada semana.

E leve a sério esta última parte.

Eduque-se

Para ensinar Matemática a seu filho, você precisa desenvolver seu pró­prio entendimento.

Não se preocupe: quando seu jovem estudante atingir os níveis mais avançados, você certamente poderá escolher o serviço de um tutor, de uma aula online ou de outra forma de instrução externa. Você não precisa necessariamente dominar as complexidades da álgebra ou de pré-cálculo para educar seus filhos em casa.

Mas você realmente precisa entender os aspectos básicos do pensamento matemático. Se o seu estudante em nível de primeira grade é capaz de dominar o valor-posição (realmente dominá-lo, não apenas memorizar passos), você também pode dominá-lo. Afinal, ele tem apenas seis anos. Você é um adulto.

E você tem a responsabilidade de ajudá-lo a aprender. Um estudo de 2015 publicado pela "Association for Psychological Science" [5] sugere que quando os pais ansiosos com Matemática tentam ajudar seus filhos de primeira e segunda grades a fazer seus deveres de casa, sua ajuda, paradoxalmente, reduz o desempenho matemático de seus filhos. Assim, caso o seu nível de "numeracia" seja baixo, decida-se a ler pelo menos um livro de Matemática popular por ano. Não fique estacado tentando dominar cada equação ou problema que eles apresentarem; em vez disso, tente entender o tipo de pensamento exigido pela Matemática. Nós apresentamos uma lista na seção de Recursos que vem logo em seguida.

Como escolher um programa

A escolha do programa de Matemática adequado para seu filho sempre envolverá algum tipo de concessão. A maioria dos currículos se inclina um pouco demais em uma direção ou outra. Programas conceituais de Matemática tendem a ter baixa pontuação no campo da " usabilidade" por pais que não sejam, eles mesmos, matematicamente vocacionados, ou no campo da escala de " acessibilidade" de preço, ou em ambos; eles também, geralmente, dedicam um tempo muito limitado à maestria dos fatos matemáticos ( "Escreva os números que somam seis. Memorize-os!", diz o Math Mammoth, porém, sem oferecer estratégias de memorização ou exercícios práticos de treinamento) . Os currículos que se inclinam na direção procedural são fortes na prática e no treinamento mas, geralmente, pecam por não explicar claramente os conceitos.

Além disso, cada estudante aprende de forma diferente. Quem pensa de forma muito concreta pode sentir-se frustrado com programas conceituais; algumas crianças precisam aprender o procedimento e, em seguida, receber instruções adicionais sobre conceitos. Outras precisam dominar o conceito primeiro e, em seguida, precisam de muito pouco sob a forma de ensino procedural. O ensino em espiral é adequado para alguns estudantes mas frustra outros tantos. O ensino orientado à maestria acende o interesse em algumas crianças, mas parece exagerado para outras.

Nós indicamos a abordagem adotada pelos currículos que apresentamos na lista a seguir e também acrescentamos uma lista de recursos adicionais para ensinar conceitos e procedimentos. Se você tem um programa conceituai, suplemente-o com treino matemático adicional; se você escolheu um programa procedural, certifique-se de adicionar alguma instrução adicional no campo dos conceitos.

Até que você efetivamente comece a ensinar a Matemática, você poderá não saber se a abordagem mais adequada para seu filho é em espiral ou de maestria. Nós recomendamos fortemente que você faça download de lições de amostra no website de cada editora e simule o uso dos programas antes de comprar um deles. Mas pode levar até seis meses ou mais de instrução para identificar o estilo de aprendizagem preferido de seu filho. Não se preocupe: o ensino da Matemática de primeira e segunda grades deve ser uma fase em que você pode experimentar e trocar programas sem preocupar-se em "ficar para trás". Sua prioridade absoluta deve ser encontrar a abordagem certa para seu filho.

Uma vez que você encontre um programa funcional, esforce-se para ficar com ele. Todos os programas de Matemática se desenvolvem a partir do que foi ensinado no ano anterior. Quanto mais você mudar os sistemas, maior a chance de confundir o estudante.

Muitos pais entram em desespero diante da tarefa de escolher o programa correto de Matemática. Mas cada um dos programas de Matemática que listamos aqui é uma boa opção. A decisão por um programa de Matemática não deveria levar ninguém a perder o sono.

Caso seu filho comece a chorar quando você traz o livro de Matemática, troque de programa, pouco importando o quanto "todo mundo " diga que é bom. Caso seu filho esteja progredindo, continue com o programa, mesmo que "todo mundo" em seu grupo de apoio à Educação Domiciliar decida trocá-lo por outro.

Caso você deseje conferir se o seu filho está realmente entendendo os ensinamentos do programa escolhido (em vez de simplesmente fazer os exercícios seguindo uma fórmula, sem nenhuma compreensão real dos princípios envolvidos), pegue uma ou duas lições de outro programa ou suplemento e peça que seu filho as complete. Certifique-se de que essas lições envolvam material estudado alguns meses antes, pois leva tempo para que os conceitos Matemáticos sejam "absorvidos". Caso a crian­ça consiga completar lições de outro programa, ela estará entendendo o que o programa ensina, pois é capaz de transferir conceitos de um programa para outro. Se, por outro lado, ela parece perdida, ela pode estar aprendendo "por fórmula", isto é, descobrindo como "encaixar" as respostas exigidas por um programa específico de Matemática, sem realmente entender porque o faz. Caso isso esteja acontecendo, experimente outro programa.

Sugestões de cronogramas

É melhor estudar Matemática todos o s dias, especialmente durante as grades iniciais. (A maioria dos pais educadores faz da aula de Matemática a primeira da manhã, momento em que as crianças estão mais alertas e dispostas a encarar um desafio). Um típico ano escolar tem 36 semanas, ou 1 80 dias, embora você possa organizar o ano escolar para ajustar-se às particularidades de sua família (veja o capítulo 40 para mais detalhes). Conte o número de lições em qualquer que seja o currículo escolhido. Em seguida, decida se você deseja fazer lições de Matemática cinco ou quatro dias por semana (reservando, no segundo caso, um dia para viagens a campo, visitas à Biblioteca, leituras sobre Matemática ou projetos práticos).

Por exemplo, o kit Saxon para ensino domiciliar na primeira grade tem 130 lições, o que significa que você pode fazer quatro lições por semana e reservar um dia para outra atividade, ou quatro lições por semana com a opção de estender uma lição ou duas por dois dias ou mais (algumas lições são mais longas do que as demais), ou ainda cinco lições por semana, tirando uma semana de folga do currículo de vez em quando. Quando Susan estava na primeira grade, ela adorava as lições de " brincar de loja" e, assim, nós estendíamos essas lições por dois dias. Nós também tirávamos uma semana de folga de tempos em tempos para nos concentrar em algum projeto específico de História ou Ciência: construir um modelo da Grande Muralha da China; montar um caderno de Natureza; plantar um jardim; visitar o museu científico.

Lembre-se: especialmente na primeira e na segunda grades, você não desejará tirar mais do que uma semana de folga das lições de Matemá­tica. Conceitos matemáticos com que a criança não esteja familiarizada são facilmente esquecidos.


Amostras de cronogramas (a penas duas entre muitas possibilidades)



Primeira Grade
30 a 40 minutos
por dia
Segunda-feira Lição de Matemática.

Terça-feira Lição de Matemática,
leitura de livros de
histórias matemáticas.

Quarta-feiraLição de Matemática.

Quinta-feira Lição de Matemática, 
projeto de Matemática
da "vida real"

Sexta-feiraDia reservado para
projeto ou biblioteca.



Segunda, Terceira e
Quarta Grades
40 a 60 minutos
por dia
Segunda-feira Lição de Matemática.

Terça-feira Lição de Matemática,
leitura de livros de
histórias matemáticas.

Quarta-feiraLição de Matemática.

Quinta-feira Lição de Matemática, 
projeto de Matemática
da "vida real"

Sexta-feiraDia reservado para
projeto ou biblioteca.

OU


Primeira Grade
30 a 40 minutos 
por dia
Segunda / Quarta / SextaLição de Matemática.

Terça-feira Lição de Matemática,
leitura de livros de
histórias matemáticas.

Quinta-feira Lição de Matemática, 
projeto de Matemática
da "vida real"

 


Segunda, Terceira e
Quarta Grades
40 a 60 minutos 
por dia
Segunda / Quarta / SextaLição de Matemática.

Terça-feira Lição de Matemática,
leitura de livros de
histórias matemáticas.

Quinta-feira Lição de Matemática, 
projeto de Matemática
da "vida real"


Recursos

A maior parte dos livros pode ser obtida em qualquer livraria ou biblioteca; a maior parte dos currículos pode ser adquirida diretamente na editora ou em um grande fornecedor de material para Educação Domiciliar, tal como o Rainbow Resource Center. Informações para contato com editoras e fornecedores estão disponíveis em www.welltrainedmind.com. Incluímos uma observação nos casos em que os títulos sugeridos têm disponibilidade limitada. Nos locais indicados, listamos os recursos em ordem cronológica (isto é, a ordem em que você os usará). Os livros que fazem parte de séries foram listados em conjunto. Lembre-se de que opções adicionais de currículos e outras informações estão disponíveis em www.welltrainedmind.com. Os preços variam constantemente, mas incluímos os valores de 2016 para que você tenha uma ideia do investimento necessário.

Educando a si mesmo

Comece com:

Ma, Liping. Knowing and Teaching Elementary Mathematics: Teachers' Understanding of Fundamental Mathematics in China and the United States, anniversary ed. New York: Routledge, 2010.

O estudo feito por Ma sobre as diferenças entre os professores americanos e chineses de Matemática em nível elementar é uma maravilhosa introdução ao pensamento matemático e também oferece uma compreensão de conceitos de ensino para jovens estudantes.

Em seguida, experimente aprofundar-se com alguns dos seguintes títulos (você descobrirá outros à medida que for lendo) :

Benjamin, Arthur. The Magic of Math: Solving for x and Figuring Out Why. New York: Basic Books, 2015.

Eastaway, Rob, and Jeremy Wyndham. Why Do Buses Come in Threes? The Hidden Mathematics of Everyday Life. New York: John Wiley & Sons, 2000.

Ellenberg, Jordan. How Not to Be Wrong: The Power of Mathematical Thinking. New York: Penguin Books, 2015.

Fernandez, Oscar E . Everyday Calculus: Discovering the Hidden Math Ali Around Us. Princeton, NJ: Princeton University Press, 2014.

Mlodinow, Leonard. The Drunkard's Walk: How Randomness Rufes Our Lives. New York: Vintage, 2009.

Oakley, Barbara. A Mind for Numbers: How to Excel at Math and Science (Even If You Flunked Algebra). New York: Tarcher, 2014.

Strogatz, Steven. The Joy of x: A Guided Tour of Math, from One to Infinity. New York: Mariner Books, 2013.


Currículos de Matemática (lista em ordem alfabética)

Math Mammoth

O Math Mammoth é um programa de Matemática elementar relativamente novo, mas altamente conceituado e fortemente orientado para a maestria que tem uma abordagem conceitua! - de fato, é provavelmente o mais conceitua! dos programas listados aqui. A apresentação é simples (há apenas um livro para cada nível, contendo tanto as explicações quanto os problemas), os conceitos são explicados em pequenos passos, contém muitas ilustrações (embora não inclua manuseáveis) e você pode fazer o download de cada nível por um preço extremamente atraente.

O programa é muito forte em termos de conceitos, de Matemática mental e de solução de problemas. Ele é bastante mais fraco em termos de procedimentos práticos e muito breve na parte de treinamento repetitivo. (Ocasionalmente, o texto traz notas com o título "Memorize these facts!" ["Memorize estes fatos!"] mas não oferece muita ajuda adicional).

Adicionalmente, não há praticamente nenhuma orientação ao professor. O programa é divulgado como sendo "de auto-ensino", mas não é, de forma alguma. Não há nada errado com as explicações do texto mas, caso seu filho não as entenda em uma primeira leitura, você terá de descobrir como reapresentar o material por conta própria. O programa Math Mammoth é definitivamente melhor para pais orientados à Matemática (e eu recomendaria fortemente que você lesse o livro de Liping Ma antes de tentar ensiná-lo).

Você precisará adicionar diversos elementos ao programa: treinamento de fatos matemáticos, conforme a necessidade; revisão frequente de conceitos abordados anteriormente; um conjunto de manuseáveis. A maior parte dos estudantes em nível elementar necessitará de algum esforço com a "mão na massa" em vez de simplesmente observar ilustrações. O autor do programa recomenda o uso de um ábaco, mas você também precisará adicionar outros dos recursos manuseáveis que recomendamos mais adiante nesta seção.

Amostras de lições e muitos recursos adicionais estão disponíveis no website da editora. O currículo está disponível tanto para download como em CD. Cada nível contém dois livros: um livro "A" para o primeiro semestre e um livro "B" para o segundo. Quando você adquire o "Full Set" ["Conjunto completo"] você também recebe chaves de respostas, revisões adicionais e um gerador de planilhas conectado à internet.

O download de cada conjunto custa $37.50; o preço dos CDs é $42.50:

Math Mammoth Light Blue Series
Grade 1 full set.
Grade 2 full set.
Grade 3 full set.
Grade 4 full set.
Grade 5 full set.

Math-U-See

O programa Math-U-See é baseado em uma série de vídeos instrucionais em que se demonstram os conceitos com o uso de manuseáveis; o estudante também se exercitará com esses manuseáveis enquanto estiver completando as tarefas do livro de exercícios. É adequado para pais que se sentem intimidados com a ideia de ensinar Matemática e para crianças que tenham um estilo de aprendizagem que seja muito visual ou tátil. A abordagem multissensorial é especialmente adequada para estudantes que tenham algum nível de dislexia.

O programa tem uma abordagem conceituai; certifique-se de comprar folhas de exercícios para prática adicional da própria MUS ou de suplementar o programa com os recursos sugeridos mais adiante, de modo que os estudantes tenham plena oportunidade de solidificar seu conhecimento dos fatos matemáticos.

O Math-U-See é primariamente um programa orientado à maestria, incluindo revisões frequentes. Em vez de oferecer textos divididos por grade, o Math-U-See Elementary Curriculum é dividido em níveis. O nível Primer (Cartilha), para a pré-escola e jardim de infância, provavelmente poderá ser omitido para a maioria dos estudantes, a menos que você julgue necessária uma introdução suave ao ensino formal da Matemática. Caso contrário, avance pelos seis livros do Currículo Elementar segundo a ordem: Alpha (adição e subtração de números com um algarismo), Beta (adicão e subtração de números com múltiplos algarismos), Gamma (multiplicação), Delta (divisão), Epsilon (frações) e Zeta (números decimais e porcentagens). Esta progressão levará seu filho até à quinta ou sexta grade. (Esta descrição reflete a revisão do programa Math-U-See do ano de 2004; caso você compre material de segunda mão com data de 2003 ou anterior, você encontrará um currículo dividido em Foundations of Mathematics, abrangendo o material da primeira, segunda e terceira grades, e Intermediate Mathematics, que abrange a quarta, quinta e sexta grades).

Cada nível inclui um Student Pack (Pacote do Estudante), que inclui um livro de exercícios e um livrete de testes, e um Instruction Pack (Pacote de Instruções), com manual de instruções e DVD.

Visite o website da editora para acessar os testes de nivelamento, vídeo demonstrativo e outros recursos.

Manipulative Blocks (Blocos manuseáveis). $38. Necessários para todos os níveis. O editor recomenda que você compre dois conjuntos.
Primer (pré-escola e jardim de infância).
Instruction Pack. $31.
Student Pack. $22.
Alpha (adição e subtração de números com um algarismo) .
Instruction Pack. $43.
Student Pack. $30.
Beta (adição e subtração de números com múltiplos algarismos) .
Instruction Pack. $43.
Student Pack. $30.
Gamma (multiplicação).
Instruction Pack. $44.
Student Pack. $30.
Delta (divisão) .
Instruction Pack. $44.
Student Pack. $30.
Epsilon (frações) .
Instruction Pack. $45 .
Student Pack. $30.
Folhas para sobreposição de frações. $40.
Zeta (número decimais e porcentagens) .
Instruction Pack. $45 .
Student Pack. $30.
Encartes para Álgebra e números decimais. $20.

Right Start Mathematics

O programa Right Start Math tem uma abordagem prática, baseada em princípios montessorianos. O programa, que faz uso intensivo de um ábaco e de manuseáveis, reduzindo a ênfase em folhas de exercícios, é bem concebido para estudantes que têm dificuldades com a coordenação motora fina; a aprendizagem não é vinculada à habilidade de Escrita do estudante.

Right Start Math tem uma orientação conceituai mas também oferece um bocado de instrução procedural. Embora seja, provavelmente, o mais abrangente programa de nossa lista, é também, de longe, o mais caro. Embora o editor alegue que o programa tenha uma abordagem tanto de maestria quanto em espiral, ele se inclina fortemente em direção à abordagem em espiral.

O programa elementar é dividido em níveis, em vez de grade; o nível A é uma preparação preliminar para o jardim-de-infância, e a maioria dos estudantes de primeira grade pode avançar diretamente para o nível B. O website da Right Start oferece um teste de nivelamento. Ao completar os níveis de B a E, o estudante estará no nível do quarta grade completa; veja no capítulo 15, [página 387] nossos pensamentos sobre a transição do Right Start para outro programa de Matemática.

Em 2015, o programa estava sob revisão; a segunda edição estava parcialmente completa, com os níveis restantes previstos para lançamento em 2017.

Amostras estão disponíveis no website da editora.

RS2 Math Set (ali manipulatives for all levels). $280.
Level A Book Bundle (2nd ed.) (optional). $85.
Level B Book Bundle (2nd ed.). $85.
Level C Book Bundle (2nd ed.). $85.
Level D Book Bundle (2nd ed.). $85.
Level E Starter Kit. $215.

Saxon Math

Saxon Math é o mais procedural dos programas de nossa lista. Alguns estudantes vão achá-lo seco e nada·inspirador, enquanto outros necessitarão da cuidadosa instrução passo a passo, dos exemplos concretos e da repetição constante para encontrar seu caminho na Matemática. Os Home Study Kits da Saxon contêm livros de exercícios para o estudante e um manual do professor que explica os conceitos para o pai-educador e esclarece a melhor maneira de ensiná-los. As grades 1 a 3 também incluem um Daily Meeting Book, que guia o pai-educador através de habilidades práticas como medições, aprender a ver as horas no relógio, leitura de mapas, entre outras. O programa Saxon Math também tem muitas atividades: jogos de histórias, medição de aposentos, plotagem gráfica das idades de todos os que a criança conhece, e assim por diante.

Os manuais recomendam que a criança pequena estude Matemática por curtos períodos, duas vezes por dia: na primeira sessão, explique o conceito usando manuseáveis e complete um lado da folha de exercícios; mais tarde, no mesmo dia, faça a criança revisar o material completando o outro lado da folha. Muitos pais-educadores (Susan entre eles) consideram que uma sessão por dia (e um lado da folha) são o bastante, e que não é necessário fazer os exercícios do Daily Meeting a menos que você goste muito deles. Certifique-se de usar os manuseáveis recomendados. 

O programa Saxon tem uma abordagem fortemente em espiral.

Saxon Math é graduado em níveis K, 1 , 2 e 3 para estudantes desde o jardim de infância até a terceira grade. Após a terceira grade, os livros-textos são divididos por "nível de habilidade" em vez de "nível de grade" . Assim, o volume Math 3 é seguido pelo Math 5/4, dirigido a estudantes em nível de quarta grade que tenham completado o livro Math 3 ou para crianças em nível de quinta grade que tenham levado dois anos para completar o livro Math 3. Ao volume Math 5/4 seguem-se os volumes 615 , 716, 817 (Matemática em geral para aqueles que necessitem de prática adicional) e, então, por Algebra 1/2 (veja o capítulo 5). Idealmente, você deveria passar direto d o Math 7/6 para o Algebra 1/2.

Sugerimos enfaticamente que você combine o programa Saxon com um dos suplementos conceituais listados a seguir. Além disso, os treinos cronometrados de fatos matemáticos não são adequados para estudantes do nível elementar, pois eles frequentemente entram em pânico quando o relógio começa a tiquetaquear; faça os treinos, mas não controle o tempo.

Saxon Homeschool Mathematics. Boston: Houghton Mifflin Harcourt.
Saxon Math 1 Homeschool Complete Kit (l st ed.) . $117.55.
Saxon Math 2 Homeschool Complete Kit (l st ed.). $117.55.
Saxon Math 3 Homeschool Complete Kit (l st ed.). $121.20.
Saxon Math 5/4 Homeschool Complete Kit (3rd ed.). $96.85.

Para estudantes em nível de quarta grade.

Saxon Homeschool Manipulative Kit (l st ed.). $94.40.

Contém todos os manuseáveis exigidos para as grades 1 a 3 .

Singapore Primary Math

Singapore Math é o programa usado nas escolas de Singapura [6]; o método tornou-se popular nos Estados Unidos em grande parte devido à elevada pontuação obtida pelas crianças cingapurenses nos testes internacionais de Matemática. O programa Singapore Math é fortemente conceituai, concentrando-se no ensino do pensamento matemático desde o início, sendo que os exercícios de "Matemática mental" são atribuídos tão logo as crianças aprendam a contar. Devido ao fato de que a meta do programa Singapore Math é produzir um entendimento do modo de funcionamento dos processos matemáticos, as habilidades são introduzidas em momentos diferentes dos adotados pelos métodos americanos. A multiplicação e a divisão entram em cena bem cedo (já no comecinho da segunda grade) de modo que o estudante se conscientiza da relação entre multiplicação e adição, e entre subtração e divisão.

Cada semestre do programa Singapore Primary Math (para as grades 1 a 6) consiste em um livro-texto, um livro de exercícios e um guia para os pais. Os livros-textos são coloridos, com ilustrações semelhantes às de histórias em quadrinhos e figuras que mostram cada novo conceito trabalhado com objetos reais (muito importante para estudantes no estágio Gramatical) . Os livros de exercícios são consumíveis.

O programa Singapore Math não é tão orientado a fatos como o Saxon ou Math-U-See, e não contém toda a instrução procedural que você pode encontrar no programa Right Start. Muitas crianças florescem com ele, enquanto outras simplesmente precisam de uma abordagem menos abstrata nos anos iniciais. O método Singapore conduz as crian­ças ao pensamento do estágio Lógico muito mais cedo do que outros programas. Caso você experimente o programa Singapore e seu filho fique frustrado, isto pode indicar uma lacuna de maturidade: mantenha-se com outro programa mais uns dois anos. Os "Home Instructor's Guides" ("Guias para o Instrutor Domiciliar", que são indispensáveis) proveem listas de manuseáveis recomendados, mas não são incluídos no programa. A abordagem de Singapura segue o método concreto - pictorial - abstrato - primeiro, você ensina os conceitos com objetos concretos; depois, com figuras; e, finalmente, com símbolos - de modo que é essencial ter à mão os objetos manuseáveis. Além disso, lembre-se de que este programa produz elevada pontuação em Singapura porque é parte de uma cultura orientada para a Matemática que provê amplo reforço adicional. Os livros-textos e de exercícios, sozinhos, não oferecem prática suficiente; invista nos recursos adicionais oferecidos pelo programa, tais como os livros Extra Practice e Challenging Word Problems.

Singapore Math, U.S. edition. $ 12.50 cada livro-texto e livro de exercícios, $ 17.50 cada "Home Instructor Guide". O programa pode ser adquirido na Singapore Math, Inc. (o distribuidor nos EUA, não a editora do programa), ou em um fornecedor de material para Educação Domiciliar. A edição dos EUA usa pesos e dinheiro americano.

Primary Math US 1A Textbook.
Primary Math US 1A Workbook.
Primary Math US 1A Home Instructor's Cuide.
Primary Math US 1 B Textbook.
Primary Math US 1 B Workbook.
Primary Math US 1 B Home Instructor's Cuide.
Primary Math US 2A Textbook.
Primary Math US 2A Workbook.
Primary Math US 2A Home Instructor's Cuide.
Primary Math US 2B Textbook.
Primary Math US 2B Workbook.
Primary Math US 2B Home Instructor's Cuide.
Primary Math US 3A Textbook.
Primary Math US 3A Workbook.
Primary Math US 3A Home Instructor's Cuide.
Primary Math US 3B Textbook.
Primary Math US 3B Workbook.
Primary Math US 3B Home Instructor's Cuide.
Primary Math US 4A Textbook.
Primary Math US 4A Workbook.
Primary Math US 4A Home Instructor's Cuide.
Primary Math US 4 B Textbook.
Primary Math US 4B Workbook.
Primary Math US 4B Home Instructor's Cuide.
Extra Practice for Primary Math US Edition 1. $11.20.
Extra Practice for Primary Math US Edition 2. $11.20.
Extra Practice for Primary Math US Edition 3. $11.20.
Extra Practice for Primary Math US Edition 4. $11.50.
Extra Practice for Primary Math US Edition 5. $11.50.
Challenging Word Problems for Primary Mathematics Common Core Edition 1. $12.80.
Challenging Word Problems for Primary Mathematics Common Core Edition 2. $12.80.
Challenging Word Problems for Primary Mathematics Common Core Edition 3. $12.80.
Challenging Word Problems for Primary Mathematics Common Core Edition 4. $12.80.
Challenging Word Problems for Primary Mathematics Common Core Edition 5. $12.80.


Objetos manuseáveis

Ábaco

Wooden Abacus. $14.99. Armação autossustentável, cem contas coloridas em fileiras 10x10. Faça seu pedido ao Rainbow Resource Center.

Va retas Cuisenaire

As varetas Cuisenaire vêm em comprimentos de 1 a 10 cm, cada uma delas identificada por um código de cor. Use-as junto com um dos livros da lista a seguir para representações visuais e práticas de valor das casas decimais e de operações matemáticas. Todos esses itens podem ser pedidos à Hand2Mind.

Varetas

Cuisenaire Rods lntroductory Set (Conjunto Introdutório de Varetas Cuisenaire), em plástico, conj unto com 74. $9.25 .

Livros

Bradford, John. Everything's Coming Up Fractions with Cuisenaire Rods. New Rochelle, NY: Cuisenaire Company of America, 1981.

Davidson, Patricia. Addition and Subtractions with Cuisenaire Rods. New Rochelle, NY: Cuisenaire Company of America, 1989.

Davidson, Patricia, and Robert E. Willcott. From Here to There with Cuisenaire Rods: Area, Perimeter & Volume. New Rochelle, NY: Cuisenaire Company of America, 1981.

Marolda, Maria R. Cuisenaire Rods Alphabet Book: Problem Solving A to Z. Vernon Hills, IL: Learning Resources, Inc., 2002.

Fraction Stax

$22.99. Faça seu pedido à Carson-Dellosa Publishing Group. 51 peças empilháveis permitem que o estudante forme metades, terços, quartos, quintos, sextos, oitavos, décimos e doze-avos.

Relógio mecânico

Student Geared Clock. $3.99. Faça seu pedido ao Rainbow Resource Center.

Linha numerada

Linhas numeradas para estudantes com giz ou marcador apagável. $2.50. Faça seu pedido ao Rainbow Resource Center.

Blocos para padrões

Em madeira, plástico ou espuma (maiores para mãozinhas menores). Avalie a possibilidade de pedir um dos guias listados a seguir. Faça seu pedido à Didax.

Blocos

Blocos para padrões em plástico. 250 peças, seis formas e cores, 0,5 cm de espessura. $17.95.

Blocos para padrões em espuma. 1.250 peças, 1 cm de espessura. $47.

Blocos para padrões em madeira. 250 peças, seis formas e cores. $22.95.

Guias

Swan, Paul, e White, Geoff. Developing Mathematics with Pattern Blocks. Greenwood, WA: RIC Publications, 2006.

Cubos Unifix

Cubos encaixáveis que permitem que você ensine padrões, contagem, adição, subtração, multiplicação e divisão, tudo em um único conjunto. Avalie a possibilidade de comprar o guia. Faça seu pedido à Didax.

Cubos

100 Cubos Unifix. $ 13.95.

300 Cubos Unifix. $37.95.

Guia

Swan, Paul, White, Geoff. Developing Mathematics with Unifix, Grades K-3. Greenwood, WA: RIC Publications, 2006.


Suplementos de Matemática Conceitual

Khan Academy

Fundada por Salman Khan como uma organização educacional sem fins lucrativos, a Khan Academy oferece "micropalestras" sobre todos os conceitos matemáticos elementares, acompanhadas de exercícios online e problemas práticos. Use para aprender ou revisar tópicos específicos, ou para criar um plano de instrução personalizado. Altamente recomendável como suplemento para qualquer programa de Matemática - www.khanacademy.org.

Mathematics Enhancement Program

Uma versão britânica de um programa de Matemática desenvolvido na Hungria, o MEP oferece gratuitamente online folhas de prática com respostas e dicas para o professor, bem como linhas numeradas e cartões de formas. Quando seguido fielmente, as lições têm uma abordagem espiral. Faça o download no Centre for Innovation in Mathematics Teaching - www.cimt.plymouth.ac.uk

Miquon Math

Miquon Math é um programa de "descoberta Matemática" que usa livros de exercícios ("fichas de laboratório" ) e varetas Cuisenaire para estimular os estudantes a entender princípios matemáticos através de uma combinação de atividades práticas, pensamento crítico e dedução. É especialmente útil como suplemento para o Singapore Math, pois oferece ilustrações práticas para compensar a abordagem mais abstrata do método de Singapura.

O programa exige uma boa dose de preparação por parte dos pais. Algumas crianças vão adorar a abordagem Miquon; outras ficarão frustradas devido à sua necessidade de que os conceitos sejam expostos claramente desde o começo. No entanto, o uso do programa Miquon depois que o conceito tenha sido apresentado e detalhadamente explicado em outro lugar pode levar a um novo patamar de entendimento.

Amostras, abrangência e sequência estão disponíveis no website da editora. Cada livro custa $8.95.

Orange Book (Levei 1)
Red Book (Levei 2)
Blue Book (Levei 3)
Green Book ( Levei 4)
Yellow Book (Levei 5)
Purple Book (Levei 6 )
Varetas Cuisenaire, conjunto introdutório. $9.95.


Suplementos de Matemática Procedural (Incluindo treina mento em fatos)

Audio Memory Songs. Newport Beach, CA: Audio Memory.

$9.95 cada CD, $ 1 2.95 cada conj unto de CD/livro de exercícios. Faça seu pedido à AudioMemory. Estes CDs contêm os fatos da adição, subtração, multiplicação e divisão em forma de Música. Toque-as no carro e aprenda todos os fatos matemáticos.

Addition Songs (Canções de Adição).

Subtraction Songs (Canções de Subtração).

Multiplication Songs (Canções de Multiplicação).

Division Songs (Canções de Divisão) .

Developmental Mathematics: A Self-Teaching Program. Halesite, NY: Mathematics Programs Associares.

Cada nível oferece um livro de exercícios ($10), um guia do professor ($4) e um manual de soluções ($15). Uma descrição completa dos vinte níveis disponíveis e um teste nivelamento estão disponíveis no website da editora. Inclui uma grande quantidade de problemas para prática extra em operações matemáticas elementares; útil para revisar conceitos abordados anteriormente durante o uso de um programa de maestria, ou para desenvolver maestria durante o uso de um programa em espiral. Melhor se adquirido no Rainbow Resource Center.

Levei 1. Ones: Concepts and Symbols. (Nível 1 . Unidades: Conceitos e Símbolos)

Levei 2. Ones: Addition Concepts and Basic Facts. (Nível 2. Unidades: Conceitos e Fatos Básicos)

Levei 3. Ones: Subtraction Concepts and Basic Facts. (Nível 3: Unidades: Conceitos d e Subtração e Fatos Básicos) .

Levei 4. Tens: Concepts, Addition and Subtraction of Tens. (Nível 4: Dezenas: Conceitos, Adição e Subtração de Dezenas) .

Levei 5 . Two-Digit Numbers: Addition and Subtraction without Regrouping. (Nível 5: Números com Dois Algarismos: Adição e Subtração sem Reagrupamento).

Levei 6. Tens & Ones: Adding and Grouping. (Nível 6. Dezenas & Unidades: Adição e Agrupamento)

Levei 7. Tens & Ones: Subtracting with Exchange. (Nível 7. Dezenas & Unidades: Subtração com "Empréstimos")

Levei 8. Multiplication: Concepts and Facts. (Nível 8 . Multiplicação: Conceitos e Fatos) .

Learning Wrap-Ups $8 .99 cada. Faça seu pedido à Learning Wrap­-Ups. À medida que você avança pelos fatos impressos em cada cartão, passe um cordão pelos furos das respostas certas para formar um padrão.

Addition (Adição).

Division (Divisão).

Fractions (Frações).

Multiplication (Multiplicação).

Subtraction (Subtração).

Montessori Flash Cards

Estes cartões de memória incluem não apenas os números ($3 + 4 =$) mas pontos de unidades impressos ao lado de cada número para servir de lembrete visual. O verso exibe a resposta da mesma maneira. Uma boa opção para um "primeiro conjunto de cartões de memória". Faça seu pedido à Shiller Math ou ao Rainbow Resource Center. $9.95 cada.

Montessori Flash Cards: Addition

Montessori Flash Cards: Subtraction

Montessori Flash Cards: Multiplication

Montessori Flash Cards: Division

Snow, Kate. Addition Facts That Stick: Mastering the Addition Tables in Six Weeks. Charles City, VA: Well-Trained Mind Press, 2016.

_______, Subtraction Facts That Stick: Mastering the Subtraction Tables in Six Weeks. Charles City, VA: Well-Trained Mind Press, 2016.

$14.95 cada. Faça seu pedido à editora. Cada livro contém um programa simples e eficiente, com seis semanas de duração, contendo jogos e atividades que não apenas explicam, mas cimentam os fatos da adição e da subtração. Adequado para as grades 1 a 4 (e acima).

Timed Math Flash Cards ( Cartões de Memória Cronometrados para Matemática).

Um conjunto de cartões de memória tradicional contendo fatos matemáticos; mas não cronometre o exercício, apenas use os cartões para treinamento. $ 11.99 cada. Faça seu pedido ao Rainbow Resource Center.

Timed Math Flash Cards: Addition

Timed Math Flash Cards: Subtraction

Timed Math Flash Cards: Multiplication

Timed Math Flash Cards: Division

Times Tales

$19.95. Faça seu pedido à Times Tales. Um sistema não-tradicional de memorização para as tabuadas de multiplicação, baseado em figuras e em uma narrativa simples.

Times Tales Print Edition. $26.95.

Times Tales DVD. $26.95.

Math Bundle Deluxe. $69.80.


Histórias Matemáticas

Esta é somente uma lista preliminar; você encontrará outros títulos à medida que começar a procurar.

Adler, David A. Perimeter, Area, and Volume: A Monster Book of Dimensions. New York: Holiday House, 2012.

_______ . Shape Up! Fun With Triangles and Other Polygons. New York: Holiday House, 1998 .

Calvert, Pam. Multiplying Menace: The Revenge of Rumpelstiltskin, illus. Wayne Geehan. Watertown, MA: Charlesbridge, 2006.

_______ . The Multiplying Menace Divides. Watertown, MA: Charlesbridge, 2011.

Clements, Andrew. A Million Dots. New York: Simon & Schuster, 2006.

Dodds, Dayle Ann. Full House: An Invitation to Fractions, illus. Abby Carter. Cambridge, MA: Candlewick, 2009.

_______ . The Great Divide: A Mathematical Marathon, illus. Tracy Mitchell. Cambridge, MA: Candlewick, 1999.

_______ . Minnie's Diner: A Multiplying Menu, illus. John Manders. Cambridge, MA: Candlewick, 2004.

Ellis, Julie. What's Your Angle, Pythagoras? A Math Adventure. Watertown, MA: Charlesbridge, 2004.

Gifford, Scott. Piece = Part = Portion, illus. Shmuel Thaler. Berkeley, CA: Tricycle Press, 2008 .

Giganti, Paul. Each Orange Had 8 Slices: A Counting Book. New York: Greenwillow Books, 1992.

Hulme, Joy N. Wild Fibonacci: Nature's Secret Code Revealed. Berkeley, CA: Tricycle Press, 2005.

Jenkins, Steve. Actual Size. Boston: Houghton Mifflin, 2004.

Juster, Norton. The Dot and the Line: A Romance in Lower Mathematics. San Francisco, CA: Chronicle Books, 2012.

Lasky, Kathryn. The Librarian Who Measured the Earth. Boston: Joy Street Books, 1994.

Neuschwander, Cindy. Mummy Math: An Adventure in Geometry. New York: Henry Holt, 2005 .

_______ . Patterns in Peru: An Adventure in Patterning. New York: Henry Holt, 2007.

Pallotta, Jerry. Apple Fractions, illus. Rob Bolster. New York: Scholastic, 2002.

Pappas, Theoni. The Adventures of Penrose the Mathematical Cat. San Carlos, CA: Tetra, 1997.

_______ . Fractals, Googols, and Other Mathematical Tales. San Carlos, CA: Tetra, 1993.

Pinczes, Elinor J. A Remainder of One. Boston: Houghton Mifflin, 1995.

Reimer, Luetta. Mathematicians Are People Too: Stories from the Lives of Great Mathematicians. Palo Alto, CA: Dale Seymour Publications, 1995.

Schwartz, David M. On Beyond a Million: An Amazing Math Journey, illus. Mike Reed. New York: Simon & Schuster, 2006.

Silveria, Gordon. The Greedy Triangle. New York: Scholastic, 1 994.

Tang, Greg. Math Fables: Lessons That Count. New York: Scholastic, 2004.

_______ . Math Potatoes: Mind-Stretching Brain Food. New York: Scholastic, 2005


Notas:

[1] Margaret M. Pearse and Kate Walton, Teaching Numeracy: 9 Criticai Habits to Ignite Mathematical Thinking (Thousand Oaks, CA: Corwin, 2011), pg. 4.

[2] Os educadores se referem a este fenômeno como a progressão do estágio manipulativo ou pré-operacional para o estágio da imagem mental ou operacional concreto.

[3] O conceito de "habilidades de alta ordem" parece implicar que as "habilidades de baixa ordem" (tais como o conhecimento da adição e dos fatos da divisão) seriam, de alguma forma, menos importantes ou desnecessários. Mas "mais alto", neste caso, significa apenas " que veio depois". O décimo andar de um prédio é "mais alto" do que sua fundação, mas ninguém argumentaria que a fundação é menos importante simplesmente porque é "mais baixa".

[4] Jordan Ellenberg, How Not to Be Wrong: The Power of Mathematical Thinking (New York: Penguin Books, 2015), pp. 2-3. [publicado no Brasil pela editora Zahar em 2015, com título O poder do pensamento matemático: a ciência de como não estar errado].

[5] Nota do tradutor: A "Association for Psychological Science (APS ) " (Associação para a Ciência Psicológica), anteriormente chamada de "American Psychological Society" (Sociedade Americana de Psicologia) é uma organização internacional sem fins lucrativos cuja missão é promover, proteger e desenvolver os interesses da Psicologia científica, especialmente em suas aplicações à Educação, Pesquisa e Bem Estar.

[6] Nota do tradutor: A República de Singapura é um país insular localizado no extremo sul da Península Malaia, no Sudeste Asiático, apresentando o maior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) dos países asiáticos e o 9º melhor do mundo. No exame Pisa 2015, teste para avaliar a preparação dos estudantes de 72 países pertencentes à OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econô­mico), Singapura obteve o primeiro lugar em todas as disciplinas testadas (Matemática, Leitura e Ciência) . No teste de Matemática, Singapura obteve 564 pontos contra apenas 548 de Hong Kong, o segundo colocado. Para efeito de comparação, no mesmo teste, a média da OCDE foi de 490 pontos. Os estudantes americanos obtiveram 470 pontos, ficando em 40º lugar. Já os brasileiros conquistaram apenas 377 pontos, ficando em 67º lugar, à frente apenas de Macedônia, Tunísia, Kosovo, Argélia e República Dominicana.

***

Leia mais em Educação Matemática da criança (de zero a 5 anos)

Leia mais em Os Objetivos da Educação Matemática, por George Pólya



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Apresentamos o Prefácio e a Introdução do livro A Técnica do Livro Segundo São Jerônimo, por Dom Paulo Evaristo Arns, traduzido por Cleone Augusto Rodrigues e publicado pela Editora Cosac Naify, 2007.

Prefácio

Paulo Evaristo, leitor de São Jerônimo

É como professor de Literatura e velho amigo dos livros — esses companheiros singulares que só nos falam quando nos dirigimos a eles e ao abrirmos o segredo de suas páginas — que desejo comentar a reedição pela Cosac Naify de um notável trabalho universitário composto por um inveterado amigo dos livros. O que lembramos hoje é a obra com que o estudante de Filosofia e Letras da Sorbonne se doutorou há mais de cinqüenta anos: A técnica do livro segundo São Jerônimo. Essa tese, vertida para o português em 1993, quando a publicou a editora Imago, intitula-se, no original francês La technique du livre d'après Saint Jérôme.

Qual foi a gênese, a motivação primeira que levou o jovem sacerdote Paulo Evaristo a embrenhar-se na selvo selvaggia de um dos maiores escritores cristãos de todos os tempos — São Jerónimo —, que costuma ser citado, sobretudo, pela sua versão latina das Escrituras, a Vulgata, fonte de quase todo o conhecimento bíblico no Ocidente durante mais de um milênio? É Dom Paulo que nos conta com a sua bela simplicidade franciscana:

No dia de minha profissão religiosa, estava iniciando os vinte anos de vida e me perguntava como faz todo mundo: ”que será do meu futuro?’. Nesse momento, me entregaram a carta de meu irmão padre, dizendo “dedique-se à literatura cristã dos primeiros séculos, porque você gosta de latim e grego e o Brasil precisa de informações sobre esta era tão rica e tão desconhecida”.

O jovem levita seguiu à risca o conselho do irmão. E atirou-se a um trabalho ingente de pesquisa erudita, que começava simplesmente pela decifração das 10 mil colunas dos tomos 22 a  29 da célebre Patrologia Latina de Migne, dedicada aos textos dos primeiros cristãos.

O objetivo da tese era descrever com exatidão filológica todo o longo processo de composição da escritas acionado nos primeiros séculos da era cristã. O que comportava o estudo de uma série de elementos que vão desde o tipo de suporte usado (o papiro, o pergaminho, as tabuletas de cera com o estilete), até, na outra ponta, aspectos ligados à difusão da obra, passando metodicamente pelas etapas da redação e das várias modalidades da edição. Os cinco capítulos da tese estão ordenados com clareza exemplar: o material, a redação, a edição, a difusão, o livro e os arquivos. A tese inclui uma bibliografia geral sobre o tema, que é um precioso guia para o leitor que deseje prosseguir seus estudos nesse mundo fascinante em que a técnica jamais foi um fim, em si mesma, mas, no caso de Jerónimo, apenas um instrumento apto para transmitir a palavra divina da revelação e as palavras humanas sobre a revelação.

Não é preciso dizer que, desde as primeiras linhas da tese, o leitor leigo, como eu, em cultura patrística, tem tudo a aprender. Cada parágrafo do pesquisador Paulo Evaristo dá uma informação nova, exata e sempre calçada pela nota erudita ao final de cada capítulo. Tratando, por exemplo, do papiro, que serviu de principal suporte à escrita no período em questão, o autor nos lembra a dificuldade de obtê-lo entre os monges do deserto, que se escusavam de escrever pouco por falta da rara planta egípcia. Adiante, esclarece-nos sobre o sentido do termo charta, que é a folha de papel-papiro, e não o texto inteiro que se envia a alguém, o qual tinha por nome epístula.

Ficamos sabendo que, como nós outros de hoje, São Jerónimo às vezes lançava mão de pedacinhos de. folha, as chartulae, para rascunhar alguma frase que só depois seria desenvolvida, e confessa modestamente: “Volo in chartulis meis quaslibet ineptias scribere, commentari de scripturis..'’ [“Quero escrever umas bobagens em minhas fichinhas, comentários sobre as escrituras”]. Mas a ficha, mesmo, era scheda, palavra que o italiano conservou, e nela Jerónimo fazia, de fato, os seus rascunhos, isto é, os manuscritos que precedem a redação definitiva. Mas quem. continuar lendo o tópico, vê que schedula não só vale para rascunho e acha, como também cobre, às vezes, por metonímia, o texto inteiro. Lembro que, na acepção de lista de anotações, ou agenda, o termo está vivo no inglês schedule.

Chega, enfim, à obra acabada, o codex ou códice, termo consagrado na bibliologia para o “livro” até a invenção da imprensa no século XV. De todo modo, na competição que houve entre o papiro e o pergaminho da tradição bíblica e judaica, é este que acaba vencendo; e da sua durabilidade é testemunho, até hoje, a conservação dos códices medievais.

São Jerônimo aprecia essas membranas tiradas da pele dos carneiros, mas, fiel ao espírito da sua missão de transmitir a Escritura, denuncia no seu comentário a Isaías aqueles que entesouram pergaminhos e os guardam em arcas sem interiorizar as mensagens neles escritas: “Legunt enim Scriptural sed non intelligunt, tenent membranas et Christuin, qui in membranis est, perdiderunt” [“Lêem, pois as Escrituras, mas não as compreendem; guardam as membranas, mas perderam a Cristo, que está nas membranas”].

Seria, para mim, um grande prazer acompanhar todos os passos deste livro ao mesmo tempo erudito e ameno. Fiquei apenas com passagens do primeiro capítulo, certo de que a curiosidade vai levar muitos a ler toda a obra.

Gostaria apenas de espicaçar essa natural curiosidade acenando para alguns temas superiormente tratados nos outros capítulos da obra. Dom Paulo estuda a maneira de Jerônimo compor as suas cartas, traduções e comentários: o ditado a verdadeiros taquígrafos, que iam velozmente preenchendo tabuinhas de cera, operação que se tornou cada vez mais necessária à medida que o grande escritor foi perdendo a luz dos olhos; os sistemas de sinais que esses taquígrafos e os copistas inventaram; a remuneração que recebiam, os defeitos das cópias; a vitória do liber-codex sobre o rolo (volumen); os problemas de divulgação dos escritos, os problemas de sua conservação em arquivos etc.

Quero terminar citando mais uma frase de Jerónimo, que vale muito especialmente para entender o espírito da carreira pastoral do seu comentador Dom Paulo Evaristo. O pensamento é este. As letras são belas, mas quando transformadas em um culto, podem impedir o seu devoto de voltar-se para o outro, o pobre, que é a efígie de Cristo padecente: “Tinge-se o pergaminho de cor de púrpura, traçam-se letras com outro líquido, revestem-se de gemas os livros, mas diante das suas portas, totalmente nu, Cristo esta morrendo”. Antevejo nessa pungente reflexão de São Jerónimo o traçado de um longo roteiro que Dom Paulo percorreu intrepidamente: primeiro, abeirando-se da cultura letrada, não por si mesma, mas enquanto estímulo para a ação inteligente; depois, voltando-se, no Brasil, para o pobre, o marginal, o oprimido. Dom Paulo soube, como poucos, ouvir o apelo de Jerônimo. E esta é a razão profunda da homenagem que lhe estamos prestando neste memento.

Alfredo Bosi


Introdução 

A palavra técnica, aos olhos dos modernos, toma um sentido cada vez mais complexo. Em geral, é empregada significando o conjunto dos procedimentos de uma arte, de um ofício. Se nos permitimos dar à nossa tese o título de Técnica do livro, não é, porém, nossa intenção nos determos na arte da composição nem na manufatura do livro. De fato, vamos tentar nos aproximar de um grande escritor cristão do fim do século IV e surpreender seus esforços para reunir o material, compor seus escritos, dar-lhes uma forma, assegurar-lhes a vitória, e prover-lhes a sobrevivência. Seria então o caso de pensar que toda nossa pesquisa vai consistir em captar o desenvolvimento de seu gênio. Não. Vamos apenas trazer à luz o que passa despercebido aos olhos da maior parte dos homens que lêem os volumosos escritos do santo Doutor. O material, em nossa tese, só apresentará o papiro, o pergaminho, a tabuleta e o estilete. A redação se resumirá para nós no ditado, na transcrição e no acabamento do exemplar-modelo. A edição, onde nos esforçaremos para definir em que consiste a publicação, recordará algumas formas do livro com suas subdivisões. A difusão nos evocará o esforço dos amigos e dos inimigos para garantir uma sorte mais ou menos feliz à obra literária. O livro e os arquivos nos mostram enfim os lugares onde serão conservados os manuscritos já bem modificados pelas reproduções sucessivas.

***

Por que nos limitamos agora a examinai os textos de São Jerônimo? O quadro que eles ajudarão a traçar será forçosamente imperfeito, porque incompleto, e isto por vários motivos. Primeiro, o autor jamais fez um tratado sobre uma dessas cinco partes; todas as nossas indicações foram colhidas na leitura, Citando apareciam aqui ou ali no texto. Depois, a interpretação textual fornecida pelo autor corre o perigo de ser vaga ou falsa, na medida em que não pôde ser confrontada com as indicações de outros escritos da mesma época. É também por essas duas razões que o desenvolvimento dado segundo os textos às diversas partes deste trabalho não é forçosamente proporcional a importância real delas.

Apesar de tudo, ficamos presos unicamente a São Jerônimo porque, no estado atual de nossos conhecimentos, os estudos em profundidade preparam as sínteses do futuro. Segundo o axioma dos filósofos, o trabalho ganhará em compreensão o que perde em extensão.

Além do mais, uma leitura assídua da obra de Jerônimo nos convenceu de que é um dos autores mais atentos aos detalhes no que tange à cópia e à edição. Com o auxílio de suas próprias indicações, tentaremos reconstituir, em parte, a história do livro nos séculos IV e V.

***

Para facilitar uma futura síntese sobre a técnica do livro naquela época, julgamos necessário citar os textos latinos por inteiro. Pela mesma causa, não hesitamos em repetir as mesmas citações para ilustrar diferentes partes de nossa exposição.

O estudo dos manuscritos de São Jerônimo, sobretudo dos mais antigos, poderia ter esclarecido alguns dos problemas levantados por nossa tese. Esta longa e paciente pesquisa será grandemente facilitada no dia em que pudermos consultar a edição de toda a obra do autor.

***

Resta nos cumprir o dever mais agradável: agradecer a todos aqueles que nos ajudaram em nossa primeira pesquisa científica: Nosso superior provincial, o Reverendíssimo Padre Dr. Ludovico Gomes de Castro, um grande amigo da França, nos permitiu realizar neste país esta longa e frutuosa estada. Os professores da Faculdade de Letras da Universidade de Paris sempre nos receberam e aconselharam com a cortesia e gentileza francesas, tão conhecidas e estimadas em nosso país. Aos senhores Jean Bayet, Henri-Irenée Marrou, Marcel Durry, entre outros, toda a nossa gratidão. O Reverendíssimo Padre Ferdinand Cavallera aceitou gentilmente ler nosso trabalho, e nos encorajou a perseverar em nosso esforço para ajudar a compreender melhor São Jerônimo. A direção do Thesaurus Linguae Latinae nos deu, em Munique, a mais generosa acolhida; o sr. professor Bernhard Bischoff, em relação a nós, foi de uma amabilidade prestativa e calorosa. À Província Franciscana da França, o nosso reconhecimento pela amizade, pela atenção fraterna e pela ajuda preciosa de que nos cercou sem cessar, no Convento de Paris.

Enfim, nossa última homenagem e a mais fervorosa e devida a nosso mestre, professor Pierre Courcelle. E a seus conselhos e a sua simpatia que devemos o melhor deste trabalho. Que nos permita testemunhar-lhe nosso mais profundo reconhecimento.

Paris, janeiro de 1952

Paulo Evaristo Arns


SUMÁRIO

Paulo Evaristo, leitor de São Jerônimo, Alfredo Bosi 7
Introdução 11
Siglas 15


CAPÍTULO l
O MATERIAL 21
O PAPIRO 21
Charta 21
Scheda 24
O PERGAMINHO 26
AS TABULETAS DE CERA 29
O ESTILETE 31
NOTAS 32


CAPÍTULO 2
A REDAÇÃO 43
O DITADO 43
Dictare 43
As circunstâncias do ditado 46 
Os inconvenientes do ditado 48
Manu propria 50
O TAQUÍGRAFO 50
A rapidez 51 
Os sinais 52 
Excipere 53
As tabuletas do taquígrafo 54
Remuneração do taquígrafo 56 
Evolução da palavra notarius 56
A TRANSCRIÇÃO 56
A profissão de copista 57
Tarefa do copista 58
Defeitos do Copista 59
A CORREÇÃO 60
O EXEMPLAR 62
NOTAS 65


CAPÍTULO 3
A EDIÇÃO 83
A PUBLICAÇÃO 83
AS FORMA DO LIVRO 87
A EPÍSTOLA 89
O LIBER 94
O CODEX 103
NOTAS 106


CAPÍTULO 4
A DIFUSÃO 129
ALGUNS ASPECTOS DO PROBLMA 129 
INTERMEDIÁRIOS E DEPOSITÁRIOS 132 
A REMUNERAÇÃO 138
PUBLICAÇÃO À REVELIA DO AUTOR 140
INFORMAÇÕES LITERÁRIAS 144
O EMPRÉSTIMO DE LIVROS 147
CÓPIA PARTICULAR 148
NOTAS 149


CAPÍTULOS 5
O LIVRO E OS ARQUIVOS 169
A AUTENTICIDADE DOS LIVROS 169
Crítica externa 169
Crítica interna 171
ADULTERAÇÃO DOS ESCRITOS 172
Adulteração acidental 172
Adulteração intencional 173
Alguns princípios para a reconstituição de texto 175
OS ARQUIVOS 176
NOTAS 179


CONCLUSÃO 189
NOTAS 192


Bibliografia 193
Índice de nomes e assuntos 199 
Sobre o autor 203
Crédito das ilustrações 207

***

Leia mais em Educação (Paideia) na Antiguidade Cristã

Leia mais em Uma breve história do livro



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Sobre o Ensino em S. Tomás de Aquino

Santo Tomás de Aquino, escrevendo em
frente do crucifixo, por Antonio Rodríguez

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Tempo de leitura: 46 minutos. 

Texto retirado do livro Sobre o ensino (De magistro) e Os sete pecados capitais, de S. Tomás de Aquino, com tradução e estudos introdutórios por  Luiz Jean Lauand, Editora Martins Fontes, 2000.

Apresentação

Apresentamos ao leitor dois importantes estudos de Tomás de Aquino: um dedicado ao ensino, outro à ética: Sobre o ensino e Os sete pecados capitais.

No estudo e apêndices que os acompanham, mais do que esmiuçar as teses que o leitor irá encontrar no próprio texto de Tomás, optamos por privilegiar, em cada caso, o referencial mais amplo que permita situar - no quadro de sua filosofia - cada um desses opúsculos do Aquinate: assim, apresentamos os conceitos fundamentais da antropologia e do conhecimento como prólogo ao Sobre o ensino e um enquadramento da ética - em sentenças do próprio Tomás - como Apêndice aos Pecados capitais, além de uma seleção especial de sentenças sobre a inveja e a avareza.

Sobre o ensino, o De magistro, é a questão 11 das Quaestiones Disputatae de Veritate [1] de Tomás e segue o sistema geral dessas aulas do Aquinate (por essa razão, retomamos em sua introdução algumas considerações que tecíamos ao apresentar, para esta mesma coleção, as questões sobre a verdade e o verbo [2]).

O opúsculo Os sete pecados capitais compõe-se de uma seleção de trechos das obras Questões disputadas sobre o mal [3] e da Suma teológica.

LUIZ JEAN LAUAND
março de 2000


Introdução

Sendo o De magistro de Tomás uma das questões disputadas sobre a verdade (a de nº 11), comecemos por relembrar o papel que essas questões tinham na universidade medieval .

A quaestio disputata, essência da universidade medieval

Da primeira regência de Tomás na Universidade de Paris procedem as Quaestiones Disputatae de Veritate. Essas questões foram disputadas em Paris de 1256 a 1259: as questões 1 a 7 (sobre a verdade; o conhecimento de Deus; as idéias divinas; o verbum; a Providência Divina; a predestinação e o "livro da vida") são do ano letivo 1256-7; as de 8 a 20 (sabedoria angélica; comunicação angélica ; a mente como imagem da Trindade; o ensino; a profecia como sabedoria; o êxtase; a fé; a razão superior e a inferior; a sindérese; a consciência; o conhecimento de Adão no Paraíso; o conhecimento da alma depois da morte e o conhecimento de Cristo nesta vida), de 1257-8, e as de 21 a 29 (a bondade; o desejo do bem e a vontade; a vontade de Deus; o livre-arbítrio; o apetite dos sentidos; as paixões humanas; a gra­ça; a justificação do pecador e a graça da alma de Cristo), de 1258-9.

A quaestio disputara, como bem salienta Weisheipl [1], integra a própria essência da educação escolástica: "Não era suficiente escutar a exposição dos grandes livros do pensamento ocidental por um mestre; era essencial que as grandes idéias se examinassem criticamente na disputa." E a disputatio, na concepção de um filósofo da universidade como Pieper, transcende o âmbito organizacional do studium medieval e chega até a constituir a própria essência da universidade em geral [2].

Para que o leitor possa bem avaliar o significado de uma quaestio disputara em S. Tomás, apresentaremos o modus operandi dessas quaestiones, procurando também indicar a ratio pedagógica que as informa.

Uma quaestio disputata está dedicada a um tema - como por exemplo a verdade ou o verbum - e divide-se em artigos, que correspondem a capítulos ou aspectos desse tema . Naturalmente, por detrás da "técnica pedagógica" está um espírito: a quaestio disputata, como analisaremos em tópico ulterior, traduz a própria idéia de inteligibilidade - devida ao Verbum (o Logos divino, o Filho) -, ao mesmo tempo que a de incompreensibilidade, a de pensamento "negativo" , também fundada no Verbum...

Procurando veicular, operacionalizar em método a vocação de diálogo polifônico - que constitui a razão de ser da universitas -, primeiro enuncia-se a tese de cada artigo (já sob a forma de polêmica: "Utrum... [3]") e a quaestio começa por um videtur quod non... ("Parece que não..."), começa por dar voz ao adversário pelas obiectiones, objeções à tese que o mestre pretende sustentar. 

Já aí se mostra o caráter paradigmático e atemporal (e atual...) da quaestio disputara, a essência da universidade, assim discutida por Pieper: "Houve na universidade medieval a instituição regular da disputatio, que, por princípio, não recusava nenhum argumento e nenhum contendor, prática que obrigava, assim, à considera­ção temática sob um ângulo universal. Um homem como Santo Tomás de Aquino parece ter considerado que precisamente o espírito da disputatio é o espírito da universidade." [4] E prossegue: "O importante é que, por trás da forma externa de disputa verbal regulamentada, a disputa - com toda a agudeza de um confronto real - dá-se no elemento do diálogo. Este ponto decisivo é hoje, para a universidade, mil vezes mais importante do que pode ter sido alguma vez para a universidade medieval."

Nos textos de Tomás, após as objeções, levantam-se contra-objeções (sed contra, rápidas e pontuais sentenças colhidas em favor da tese do artigo; ou algumas vezes in contrarium, que defendem uma terceira posição que não é a da tese nem a das obiectiones). Após ouvir estas vozes, o mestre expõe tematicamente sua tese no corpo do artigo, a responsio (solução) . Em seguida, a responsio ad obiecta, a resposta a cada uma das objeções do início.

Torna-se dispensável dizer que não se entende por quaestio disputata nada que tenha que ver com sutilezas enfadonhas e estéreis. Por outro lado, o que afirmamos acima sobre o diálogo e a impossibilidade de dar resposta cabal, de esgotar um assunto filosófico não significa, evidentemente, que na quaestio disputata não se deva tomar uma posição e defendê-la: não se trata, de modo algum, de agnosticismo. Podemos conhecer a verdade, mas não podemos esgotá-la. Posto que o homem pode conhecer a verdade (e na medida em que o pode fazer), a discussão filosófica chega a uma responsio, a uma certa determinatio.

Finalmente, dentre as características da quaestio disputata de S. Tomás de Aquino, destaquemos a de dar voz ao adversário com toda a honestidade, formulando sem distorções, exageros ou ironia (o que, em geral, nem sempre ocorre nas polêmicas e debates de hoje), as posições contrárias às que se defendem. Nesse sentido, Pieper faz notar que em S. Tomás a objetividade chega a tal ponto que o leitor menos avisado pode tomar como do Aquinate aquilo que ele recolhe dos adversários a modo de objeção. A propósito [5], é o caso do tão celebrado Carl Prantl, que interpretou como se fosse a posição de Tomás objeções brilhantemente por ele apresentadas às suas próprias teses.

O De magistro e a Antropologia Filosófica

Na "questão disputada" De magistro, Tomás de Aquino expõe sua concepção de ensino/aprendizagem em oposição às doutrinas dominantes da época. Por detrás de questões pedagógicas encontram-se, na verdade, concepções filosóficas - a Filosofia da Educação é inseparável da Antropologia Filosófica - e teológicas.

A antropologia de Tomás - revolucionária para a época - afirma o homem em sua totalidade (espiritual, sim, mas de um espí­rito integrado à matéria) e está em sintonia com uma teologia (também ela dissonante para a época) que, precisamente para afirmar a dignidade de Deus criador, afirma a dignidade do homem e da criação como um todo: material e espiritual. Sugestiva nesse sentido é, por exemplo, a luta que Tomás teve de travar na Universidade de Paris para defender a tese da unicidade da alma no homem: a mesma e única alma é responsável pelos atos mais espirituais e mais prosaicos no homem (a teologia dominante - pensando dar glória a Deus - separava "a alma espiritual" das "outras duas" - sensitiva e vegetativa - em favor de uma antropologia "espiritualista" e desencarnada).

Nesse quadro de oposição a um cristianismo demasiadamente espiritualista e que pretende exagerar o papel de Deus e aniquilar a criatura, compreendem-se as colocações de Tomás e até mesmo os artigos selecionados para a questão: art. 1 - Se o homem - ou somente Deus - pode ensinar e ser chamado mestre; art. 2 - Se se pode dizer que alguém é mestre de si mesmo; art. 3 - Se o homem pode ser ensinado por um anjo; art. 4 - Se ensinar é um ato da vida ativa ou da vida contemplativa.

Não é de estranhar, portanto, que Tomás comece discutindo a objeção: "Se o homem - ou somente Deus - pode ensinar e ser chamado mestre" (o fato curioso é que Tomás discuta isso precisamente como professor em sala de aula...). O exagero do papel de Deus - no caso em relação à aprendizagem - é por conta daquela teologia que considera tão sublime a intelecção humana que, em cada caso que ela ocorre, requereria uma iluminação imediata de Deus . Tomás, em seu realismo, admite uma iluminação de Deus, mas esta iluminação Deus no-la deu de uma vez por todas, dotando-nos da "luz natural da razão", aliás, dependente das coisas mais sensíveis e materiais...

Assim, no debate acadêmico no qual se gera o De magistro encontraremos - uma e outra vez - a objeção com que se abre o trabalho: "Diz a Escritura (Mt 23, 8): 'Um só é vosso mestre' (...) ao que diz a Glosa [6]: 'não atribuais a homens a honra divina e não usurpeis o que é de Deus'."

Para bem entender este e outros temas do De magistro é oportuno oferecer um resumo dos conceitos básicos da antropologia filosófica de Tomás (como se sabe, em boa medida tomada de Aristóteles).

O homem e a alma em Tomás

A palavra-chave para entendermos a doutrina de Tomás sobre o homem é "alma" , que, classicamente, designa o princípio da vida. Chamemos, desde já, a atenção para o fato de que, ao longo deste estudo, aparecerão outras palavras cujo sentido filosófico clássico não coincide exatamente com o sentido usual que lhes damos hoje: "potência", "ato", "matéria", "forma" etc.

O referencial a que Tomás se remete nestes temas é a doutrina basicamente estabelecida por Aristóteles em seu Peri PsychéSobre a alma. A "psicologia" de Aristóteles emergiu como uma reação de equilíbrio e moderação ante o exagerado espiritualismo da antropologia de Platão (que tem encontrado sucessivas versões tanto no Ocidente como no Oriente...). O espiritualismo platônico é uma certa tomada de posição radicalmente dualista diante da questão: "O que é o homem?". Platão situa espírito e matéria como realidades justapostas, disjuntas, em união fraca e extrínseca no homem. O homem, para Platão, seria primordialmente espírito (e o corpo seria, nessa visão, algo assim como um mero cárcere do espírito) [7].

Do ponto de vista aristotélico, esse dualismo platônico atenta contra a intrínseca unidade substancial do homem, ao desprezar a dimensão material do ser humano, exagerando a separação entre o espiritual e o corpóreo. E é esta unidade o que, afinal, permite a cada homem proferir o pronome "eu", englobando tanto o espírito quanto o corpo. Para os platônicos (e para a teologia dominante em Paris no tempo de Tomás), o homem seria essencialmente espírito, em extrínseca união com a matéria: a matéria não faria parte da realidade propriamente humana. Já para Tomás há, no homem, uma união intrínseca de espírito e matéria [8].

Do ponto de vista de Aristóteles e Tomás, a questão "O que é o homem?" é inquietante porque a realidade humana se apresenta como fenômeno muito complexo, integrando em si a unidade harmônica de espírito e matéria. Assim, a dimensão corporal é plenamente afirmada e reconhecida como integrante da natureza humana: o fato, afinal evidente, de que o homem é um animal , compartilhando uma dimensão material - um corpo, uma bioquímica... - com os outros animais [9]. Mas, se por um lado afirma-se a realidade corpórea, por outro afirma-se, com igual veemência, que há também, no homem, uma transcendência do âmbito meramente biológico: certas características que, classicamente, têm sido chamadas de espirituais, ligadas - como veremos mais adiante - às duas faculdades espirituais da alma humana : a inteligência e a vontade.

Potência-Ato. Matéria-Forma. Alma

O realismo aristotélico é considerado um dualismo equilibrado e apresenta uma grande unidade em sua concepção teórica, uma unidade centrada no conceito de "alma". É muito importante destacar essa unidade. Para Aristóteles e para Tomás a filosofia do homem é uma extensão da filosofia do ser vivo em geral, e esta, por sua vez, continua a mesma linha de análise filosófica do ser material em geral. Afirma-se pois, plenamente, a realidade espiritual, mas em articulação, em íntima conexão com a matéria.

A filosofia de Tomás reconhece uma impressionante unidade no mundo material: a mesma estrutura de análise filosófica do ente físico em geral, de uma pedra, digamos, é aplicada a todos os viventes e, também, ao homem, que é um ente espiritual.

Não é o caso aqui de examinarmos com detalhes técnicos os conceitos filosóficos que integram essa análise. Em todo caso, vale a pena mencionar, brevemente, alguns desses conceitos como: potência e ato; matéria e forma; alma e espírito.

Potência e ato são dois modos distintos e fundamentais de ser. Sendo modos fundamentais de ser são, a rigor, indefiníveis. Aristóteles contenta-se com descrevê-los: potência é a possibilidade, a potencialidade de vir a ser ato. E o ser-em-ato é aquele que propriamente é, enquanto o ser-em-potência pode vir a ser ato. O exemplo clássico é o da semente (potência) que pode vir a ser árvore (a árvore real é o ato contido na potência, na potencialidade da semente). Encontramos, ainda hoje, vestígios desse uso aristotélico da palavra "ato". Nesse sentido, é interessante notar o tributo que a língua inglesa paga a Aristóteles : para referir-se ao que realmente é, à realidade de fato, o inglês diz actually, que significa, ao pé da letra, o advérbio do ato, atualmente, significando: de verdade, de fato. E quando, em português, dizemos que algo é exato, estamos pensando em ex-actu, ex - a partir de / - actu, a realidade [10]

Para a análise do ser vivo (como para a análise do ser físico em geral) Tomás, seguindo Aristóteles, aplica o binômio ato-potência, sob a formulação matéria-forma. Devemos pensar estas palavras "matéria" e "forma" não no sentido usual que lhes damos hoje, mas num outro sentido, naquele que recebem no quadro da filosofia aristotélica da natureza, denominada hilemoifismo (literalmente: matéria-forma; hilé-morjé).

Assim, matéria ou matéria-prima [11] deve ser entendida simplesmente como potencialidade, como pura possibilidade de ser ente físico. Uma potência que se vê realizada (atualizada) pela união com o ato que é a forma (substancia [12]) . Desse modo, um ser físico qualquer, digamos, um diamante é composto de maté­ria e forma, em união intrínseca : a matéria-prima é a pura potência de ser ente físico e a forma substancial é o ato primeiro, fundamental, que determina a atualização dessa potência. Assim, se o diamante é um ser físico, é porque tem possibilidade, potencialidade de sê-lo (e assim todo ser físico tem matéria-prima, potencialidade de ser um ente físico).

Essa potencialidade da matéria-prima é realizada, atualizada, recebe seu ato, sua realidade, pela forma substancial: aquele componente que faz com que o diamante seja diamante e não, digamos, um gato ou uma orquídea . O diamante, a orquídea, o gato e o homem têm algo em comum: todos são seres físicos que se constituem, portanto, da pura potencialidade indeterminada que é a matéria-prima. Mas são distintos pela forma que cada um tem e que faz com que cada um seja o que é: o diamante é diamante porque tem forma substancial de diamante; Mimi é gato porque tem forma substancial de gato; João é homem porque tem forma substancial de homem [13].

E é tal a unidade de sua consideração do cosmos, que Tomás emprega o mesmo binômio matéria-forma para indicar tanto a composição substancial de uma pedra quanto a de um homem, que é um ser espiritual.

Nesse contexto é fácil entender o conceito de alma. Alma é pura e simplesmente uma forma: a forma substancial do vivente. Certamente, a alma é uma forma muito especial (daí que também receba um nome especial), mas é uma forma [14].

Sempre que houver vida - e a vida caracteriza-se por um modo especial de interagir com o exterior a partir de uma interioridade - essa vida implica uma especialidade de forma do vivente: a alma. Desse modo, pode-se falar em alma de um vegetal, alma de uma samambaia, em alma de uma formiga ou de um cão e, também, em alma humana (neste caso, trata-se de uma alma espiritual) . A alma (como, aliás, todas as formas substanciais) é um princípio de composição substancial dos viventes. Ou melhor, um co-princípio (em intrínseca união com o outro co-princí­pio: a matéria-prima). É pela alma que se constitui e se integra o vivente enquanto tal , e ela é também a fonte primeira de seu agir, de suas operações.

Estas são, aliás, as duas definições que Aristóteles e Santo Tomás dão da alma.

1ª definição: Alma é o ato primeiro do corpo natural organizado (Tomás de Aquino, De anima II, 1, 412, a 27, b.S).

Esta definição diz, pura e simplesmente, que a alma é forma substancial para o vivente: o princípio ativo constituinte da unidade e do ser do vivente.

2ª definição: Alma é aquilo pelo que primeiramente vivemos, sentimos, mudamos de lugar e entendemos... (Tomás de Aquino, De anima II, 2, 414, a 12).

Também esta segunda definição caracteriza a alma como forma substancial, mas, neste caso, enfatizando a forma substancial enquanto fonte radical das operações do sujeito. O cão late ou morde não porque tem boca, sim, mas em última instância, porque é vivo, porque tem forma substancial, alma de cão.

A alma e suas potências: os fatores na operação

A alma não opera diretamente, e é por esta razão que Aristó­teles diz: "A alma é aquilo pelo que primeiramente sentimos, mudamos de lugar etc." "Primeiramente" , aqui, significa que não é a alma diretamente que vê, anda, conhece ou quer, mas o vivente opera tudo isto por meio das potências ("potências" aqui, não no sentido entitativo, mas no sentido de potências operativas: faculdades) da alma: a potência visual, a potência motriz etc.

É conveniente, portanto, distinguir os diversos fatores presentes numa operação qualquer de um vivente. O mesmo vivente pode estar exercendo ou não tal operação e, no entanto, está continuamente vivo, está sendo informado pela alma. Daí que seja necessário distinguir a alma (substancial, sempre atuante) de suas potências operativas (que podem estar operando ou não). A potência visual ou a motriz não estão atuando quando, por exemplo, estou dormindo, mas a alma, princípio vital, está sempre presente, como forma substancial do vivente.

Enumeremos os diversos fatores que concorrem nas opera­ções do vivente.

1) O próprio vivente. O sujeito, João, que faz esta ou aquela operação (por exemplo, ver ou ouvir).

2) A alma. Se João realiza tais e tais operações é porque é vivente e, em última instância, porque é dotado de alma. Se ele fosse pedra, não veria nem ouviria.

3) As potências da alma. Pois não é a alma diretamente que vê , ouve, se locomove etc. Ela realiza estas operações por meio de suas potências. A alma é dotada de uma potência visual, que realiza o ato de ver; de uma potência auditiva , que realiza o ato de ouvir etc.

4) Os atos das potências. Sabemos que a alma é dotada de diferentes faculdades, precisamente porque são distintos os atos que o vivente realiza: o ato de ver é diferente do de ouvir; pensar é distinto de querer etc.

5) Os objetos (formais) dos atos. Podemos dizer que se esses atos (de ver e de ouvir, por exemplo) são diferentes é porque são diferentes seus objetos: o objeto do ato de ver é a cor; o objeto do ato de ouvir é o som.

6) O objeto material. Claro que o mesmo objeto material - uma fogueira, por exemplo - pode ser apreendido por diversas potências, mas cada uma o apreende pelo seu particular objeto formal (a potência visual capta a cor do fogo; a auditiva , seu crepitar; o olfato se ocupa do cheiro de queimado etc.).

Os três graus de vida. Espírito e inteligência no homem

Vida é a capacidade de realizar operações com espontaneidade e imanência, portanto, por iniciativa própria, a partir de si mesmo e operações que terminam no próprio sujeito.

Três graus de vida correspondem a três graus de espontaneidade e de imanência na realização das operações. E correspondem também a três tipos de alma: vegetativa, sensitiva e intelectiva.

Ao primeiro grau de vida - a vida vegetativa - corresponde um ínfimo grau de espontaneidade e imanência: o vegetal é senhor apenas da mera execução da operação: do seu "nutrir-se", do seu crescimento, de sua reprodução.

Note-se de passagem que, na medida em que subimos na escala da vida, ao mesmo tempo que a alma vai crescendo em espontaneidade e imanência ocorre também uma ampliação de seu campo de relacionamento: desde o limitado meio que circunda uma planta ao mundo sem fronteiras do espírito humano.

A alma em cada grau de vida é - como princípio vital - única e realiza todas as funções dos graus inferiores: a alma espiritual responsável pelas delicadas poesias que João da Silva compõe é a mesma e única que é o princípio de operações vegetativas, como a circulação de seu sangue ou sua digestão.

Para além da mera execução das operações - que caracteriza a vida vegetativa -, a alma sensitiva do animal é responsável também - e isto diferencia o animal da planta - pelo sentir, pelo conhecimento sensível: pela apreensão (cognoscitiva) de realidades concretas e particulares que o circundam.

Assim, pelo conhecimento, que é claramente um fator importante em suas operações, o animal é mais dotado de espontaneidade e imanência do que o vegetal : o gato Mimi percebe este pires de leite, apreende-o com seus sentidos, e este conhecimento é responsável pelo seu movimento em direção a ele. Assim, os animais têm uma dimensão de vida superior à das plantas: são mais donos de suas operações e de suas interações com o ambiente, porque são capazes de sentir, isto é, são capazes de conhecimento de realidades sensíveis, de conhecimento de realidades particulares e concretas.

Essas faculdades do sentir ou faculdades do conhecimento sensível são os sentidos: a visão, a audição etc. [15]. Estão presentes nos animais e no homem. O conhecimento dos outros animais, porém, não transcende o âmbito do sensível, do concreto: esta cor, este cheiro, este som...

No caso do homem (que é o caso da vida intelectiva), sua alma, além das características próprias e peculiares, realiza todas as operações dos graus inferiores de vida. A alma humana não só é responsável pela realização das operações ligadas às faculdades da vida vegetativa - a circulação do sangue, a digestão etc. -; a mesma e única alma realiza também as operações sensitivas (pró­prias da vida animal, como o conhecimento sensível) e, além de tudo isto, essa mesma alma irrompe numa dimensão nova: a do espírito.

A alma humana está dotada de duas potências espirituais: a inteligência e a vontade.

Para nossa questão, interessa-nos especialmente a inteligência. Se o conhecimento sensível versa sobre a realidade particular e concreta (este vermelho, este sabor salgado, esta forma triangular etc.), a inteligência humana transcende, supera esse âmbito do particular, do material e do concreto e pode versar sobre o universal. A geometria, por exemplo, como conhecimento intelectual humano, não se ocupa desta forma triangular do recorte de papel que tenho diante dos olhos; ela trata, sim, do triângulo abstrato. E diz: "A soma dos ângulos internos do triângulo vale dois retos. "Destaquemos, nessa afirmação, seu caráter abstrato e universal: pouco importa se o triângulo é azul ou amarelo, se é acutângulo, retângulo ou obtusângulo; a inteligência versa sobre "o triângulo". E para "o triângulo": "A soma dos ângulos internos é dois retos. " Já a medicina estuda hepatologia, independentemente deste ou daquele fígado concreto.

Esta capacidade da inteligência de apreender o universal e abstrato abre um mundo sem fronteiras para o conhecimento: ele não se limita à realidade concreta que o circunda, mas atinge todo o ser. E precisamente essa abertura para a totalidade do real é o que se chama de espírito. Espírito é a capacidade de travar relações com a totalidade do real. Daí que Tomás repita, uma e outra vez, a sentença aristotélica: "Anima est quodammodo omnia", "A alma humana, sendo espiritual, é, de certo modo, todas as coisas"...

Podemos agora, com base na definição de inteligência como faculdade de conhecimento espiritual do homem, rever, com luzes novas, os conceitos básicos de Tomás.

Contra todo dualismo que tende a separar exageradamente no homem a alma espiritual e a matéria, Tomás afirma a intrínseca união, a substancial união de ambos os princípios: a alma espiritual, como forma, requer - em tudo e por tudo - a integração com a matéria. Pense-se, por exemplo, em todo o tema - hoje mais agudo e atual do que nunca - das doenças psicossomáticas: da relação, digamos, entre um desgosto ou uma crise existencial, por um lado, e uma gastrite ou uma úlcera, por outro. Mas o exemplo mais veemente dessa integração é encontrado na discussão do objeto próprio da inteligência humana.

Como dizíamos, não operamos diretamente pela alma, mas por meio de suas potências operativas. Ora, cada potência da alma é proporcionada a seu objeto: a potência auditiva não capta cores, a potência visual não atua sobre aromas.

Dizer que a inteligência é uma potência espiritual é dizer que seu campo de relacionamento é a totalidade do ser: todas as coisas - visíveis e invisíveis - são inteligíveis, "calçam" bem, combinam com a inteligência. Contudo, a relação da inteligência humana com seus objetos não é uniforme. Dentre os diversos entes e modos de ser, há alguns que são mais direta e imediatamente acessíveis à inteligência. É o que Tomás chama de objeto próprio de uma potência: aquela dimensão da realidade que se ajusta, por assim dizer, "sob medida" à potência (ou, melhor dizendo, é a potência que se ajusta àquela realidade). Não que a potência não incida sobre outros objetos, mas o objeto próprio é sempre a base de qualquer captação: se pela visão captamos, por exemplo, nú­mero e movimento (e vemos, digamos, sete pessoas correndo), é porque vemos a cor, objeto próprio da visão. Ora, próprio da inteligência humana - potência de uma forma espiritual acoplada à matéria - é a abstração: seu objeto próprio são as essências abstratas das coisas sensíveis. Próprio da inteligência humana é apreender a idéia abstrata de "cão" por meio da experiência de conhecer pelos sentidos diversos cães: Lulu, Duque e Rex...

Assim, Tomás afirma: "O intelecto humano, que está acoplado ao corpo, tem por objeto próprio a natureza das coisas existentes corporalmente na matéria. E, mediante a natureza das coisas visíveis, ascende a algum conhecimento das invisíveis" (S. Th. I, 84, 7). E nesta afirmação, como dizíamos, espelha-se a própria estrutura ontológica do homem: mesmo as realidades mais espirituais só são alcançadas, por nós, através do sensível. "Ora - prossegue Tomás -, tudo o que nesta vida conhecemos, é conhecido por comparação com as coisas sensíveis naturais." Esta é a razão pela qual o sentido extensivo e metafórico está presente na linguagem de modo muito mais amplo e intenso do que, à primeira vista, poderíamos supor.

Contra todo dualismo que tende a separar exageradamente no homem a alma espiritual e a matéria, Tomás afirma a intrínseca união e mútua ordenação de ambos os princípios. Contra todo "espiritualismo", Tomás conclui: "É evidente que o homem não é só a alma, mas um composto de alma e de corpo" (Summa theologica I, 75, 4). E esta união se projeta na operação espiritual que é o conhecimento: "A alma necessita do corpo para conseguir o seu fim, na medida em que é pelo corpo que adquire a perfeição no conhecimento e na virtude" (C.G. 3, 144.).

Para Tomás o conhecimento intelectual (abstrato) requer o conhecimento sensível. É sobre os dados do conhecimento sensí­vel que atua o intelecto, em suas duas funções: intelecto agente e paciente.

A seguir apresentaremos um resumo tipificado (com as limitações que se dão nesses casos...) de como ocorre uma apreensão intelectual: o sujeito cognoscente está diante de um objeto determinado, digamos, João diante de um gato, Mimi. O que se conhece, segundo Tomás, é a própria realidade (ainda que para isso sejam necessários certos intermediários: as espécies...). Na passagem da impressão sensível para a idéia abstrata, o intelecto vai exercer duas funções: a de intelecto agente e a de intelecto paciente (ou passivo). Por isso, Tomás compara o intelecto a um olho que emite luz sobre aquilo que ele mesmo vê.

Todo conhecimento começa pelos sentidos: uma vez que os sentidos apreendem uma imagem (imagem em qualquer dimensão sensível, não só visual, mas também auditiva etc.), essa imagem assim interiorizada (que recebe o curioso nome de "fantasma") é oferecida ao intelecto (agente) para que - para além das impressões sensíveis (a determinada cor, aspecto, cheiro etc. deste gato concreto) - torne "visível" sua essência abstrata de gato. Nesse sentido, um filósofo contemporâneo, ]ames Royce, compara a ação do intelecto agente a um tubo emissor de raios X que torna visí­vel a estrutura óssea (na comparação: a essência) subjacente à pele (comparada aos aspectos sensíveis): esta é visível em nível de luz normal (conhecimento sensível); aquela (a essência), em nível de raios X (na comparação: o conhecimento intelectual). Esse "fantasma" despojado de suas características particularizantes [16], abstraído, é oferecido ao intelecto passivo (que só é passivo no sentido de que depende da ação do intelecto agente), para que produza o conceito. Na metáfora, o intelecto paciente poderia ser comparado ao filme virgem de raios X (com a ressalva de que o filme é totalmente passivo, enquanto o intelecto reage ativamente para formar o conceito) . O conceito, por sua vez, é meio para a união com o próprio objeto. O intelecto agente está assim ligado à atividade de aquisição do conhecimento; o paciente, ao estado de saber.

O conhecimento é assim uma apropriação imaterial, intencional [17] de formas (acidentais ou substanciais) sensíveis ou não, pelas quais o sujeito se une à própria realidade do objeto (que tem a forma materialmente, constituindo-o como tal ente). A potência intelectiva de posse de formas está in-formada, conhece.

A segunda potência espiritual: a vontade

Mas o homem - tal como os outros animais - não é só inteligência. Há nele, além disso, uma dinâmica , um tender à posse efetiva (e não meramente cognoscitiva) de objetos, e isto é o que se chama, classicamente, apetite. Um animal, um cachorro, por exemplo, não só tem um conhecimento, digamos, de um osso (conhecimento que, no caso do animal, não supera o âmbito do sensível, do particular, do concreto), mas tende a esse osso realmente, tende à posse efetiva do osso: é o que, como dizíamos, se chama apetite (um apetite que, no caso dos animais, está limitado também ao âmbito do sensível, do particular, do concreto).

Apetite é a tendência a aproximar-se do bem (daquilo que o conhecimento apresenta como bem) e afastar-se do mal. Naturalmente, o apetite está ligado ao conhecimento e dele decorre: porque farejou o osso é que o cachorro procura roê-lo; porque viu o lobo é que a ovelha foge... Ora, assim como no homem há, além do conhecimento sensível um conhecimento intelectual, assim também, além do apetite sensível, estamos dotados de uma outra potência apetitiva que se articula com o conhecimento intelectual: é a vontade. A vontade é, pois, a potência apetitiva espiritual, o apetite que decorre do conhecimento intelectual. Esta é a razão pela qual podemos nos motivar não só pela obtenção de uma realidade particular e concreta, digamos, um sorvete de creme, mas também ser motivados por: "a justiça", "a dignidade", "o bem", "os direitos do homem", "a honra" etc. Se o objeto formal de todo apetite é o bem, o objeto formal da vontade, enquanto apetite intelectual, é o bem intelectualmente conhecido como tal.

O problema do ensino no De magistro

O problema do ensino, como não poderia deixar de ser, é proposto por Tomás nos quadros de sua antropologia e doutrina sobre o conhecimento.

A própria palavra "educação", ainda que não apareça em Tomás, é como que sugerida diversas vezes em suas análises: trata-se de um eduzir o conhecimento em ato a partir da potência: "scientia educatur de potentia in actum (art. 1, obj. 10); a mente extrai o ato dos particulares dos conhecimentos universais (ex universalibus cognitionibus mens educitur - art. 1, solução); leva ao ato (educantur in actum - art. 1, ad 5) [18].

Ensinar é, pois, uma edução do ato; uma condução da potência ao ato que só o próprio aluno pode fazer. Tomás está distante de qualquer concepção do ensino como transmissão mecâ­nica; o professor, tudo o que faz é en-signar (insegnire), apresentar sinais para que o aluno possa por si fazer a edução do ato de conhecimento, no sentido da sugestiva acumulação semântica que se preservou no castelhano: enseñar (ensinar/mostrar): o mestre mostra! Nesse contexto, é altamente sugestiva a genial comparação da aprendizagem com a cura e a do professor com o médico, no art. 1.

Tomás, ainda no art. 1 (solução) , contesta algumas concep­ções da época, como a da existência de um único intelecto agente, separado, para todos os homens. Para ele, os que afirmam que Deus é o único agente (também no caso do ensino) atentam contra o plano do próprio Deus, causa primeira que age também pelas criaturas (causas próximas): "Ignoram a dinâmica que rege o universo pela articulação de causas concatenadas: Deus pela excelência de sua bondade confere às outras realidades não só o ser, mas também que possam ser causa."

No art. 2, Tomás aprofunda na discussão do ensino em oposição à aquisição de conhecimentos por si próprio. E conclui afirmando a superioridade do ensino.

O art. 3 é dedicado à curiosa questão da possibilidade de o homem ser ensinado por um anjo: "se bem que só Deus infunda na mente a luz da verdade, o anjo ou o homem podem remover impedimentos para a percepção da luz" (Em contr. 6). E estuda também de que formas o homem pode ser ensinado por um anjo (o anjo, ao contrário do homem, não raciocina - o intelecto angé­lico atinge diretamente o conhecimento e não precisa dos enlaces lógicos e dos silogismos, que classicamente se chamam razão).

No art. 4, Tomás mostra o caráter, ao mesmo tempo ativo e contemplativo, do ensinar

Cronologia

Contexto em que ocorre o nascimento de Tomás

c. 1170. Nascimento de São Domingos em Caleruega (Castela).

1182. Nascimento de Francisco de Assis. Francisco e Domingos irão fundar, no começo do séc. XIII, as ordens mendicantes: franciscanos e dominicanos. As ordens mendicantes, voltadas para a vida urbana, e, posteriormente, para a Universidade, sofrerão duras perseguições em Paris.

c. 1197. Nascimento de Alberto Magno, um dos primeiros grandes pensadores dominicanos, mestre de Tomás.

1210. Primeira proibição eclesiástica de Aristóteles em Paris.

1215. Estatutos fundacionais da Universidade de Paris. Inglaterra: Carta Magna.
Fundação da Ordem dos Pregadores.

1220. Coroação do imperador Frederico II.

1224-5. Nascimento de Tomás no castelo de Aquino, em Roccasecca (reino de Nápoles). Filho de Landolfo e Teodora. Seu pai e um de seus irmãos pertencem à aristocracia da corte de Frederico II.
Frederico II funda a Universidade de Nápoles para competir com a Universidade de Bolonha (pontifícia).

1226. Morte de São Francisco de Assis.

Infância e adolescência no Reino de Nápoles

1231. Tomás é enviado como oblato à abadia de Monte Cassino (situada entre Roma e Nápoles). Monte Cassino, além de abadia beneditina, é também um ponto crucial na geopolítica da região: é um castelo de divisa entre os territórios imperiais e pontifícios.

1239-44. Tomás estuda Artes Liberais na Universidade de Nápoles e toma contato com a Lógica e a Filosofia Natural de Aristóteles, em pleno processo de redescoberta no Ocidente. Conhece também a recém-fundada ordem dominicana, que - junto com a franciscana - encarna o ideal de pobreza e de renova­ção moral da Igreja.

Juventude na Ordem dos Frades Pregadores

1244. Tomás integra-se aos dominicanos de Nápoles, sob forte oposição da família, que tinha para o jovem Tomás outros planos que não o de ingressar numa
ordem de pobreza.

1245-8. Superada a oposição da família, Tomás faz seu noviciado e estudos em Paris. A Universidade de Paris, desde há muito, goza de um prestígio incomparável.

1248. Sexta Cruzada.

1248-52. Tomás com Alberto Magno em Colônia, onde em 1250-1 recebe a ordenação sacerdotal.

1250. Morre Frederico II.

Os anos de maturidade

1252-9. Tomás professor em Paris. Inicialmente (1252-6), como bacharel sentenciário e, de 1256 a 1259, como mestre regente de Teologia. Escreve o Comentário às sentenças de Pedro Lombardo. Em 1259, come­ça a redigir a Summa contra Gentiles. Em defesa da causa das ordens mendicantes, perseguidas, escreve em 1256 o Contra impugnantes Dei cultum et religionem.

1260-1. Tomás é enviado a Nápoles para organizar os estudos da Ordem. Continua a compor a Contra
Gentiles.

1261-4. O papa Urbano IV - pensando numa união entre o Oriente cristão e a cristandade ocidental - leva Tomás por três anos a sua corte em Orvieto.

1264. Tomás conclui a Summa contra Gentiles.

1265. Tomás é enviado a Roma com o encargo da dire­ção da escola de Santa Sabina. Começa a escrever seus comentários a Aristóteles e a Summa theologica. Nascimento de Dante Alighieri.

1266. Nascimento de Giotto.

1267. Um novo papa, Clemente IV, chama Tomás à sua corte em Viterbo, onde permanece até o ano seguinte.

1269-72. Tomás exerce sua segunda regência de cátedra em Paris. Escreve o Comentário ao Evangelho de João. Recrudesce a perseguição contra as ordens mendicantes na Universidade de Paris.

1272-3. Tomás regente de Teologia em Nápoles.

1274. Tomás morre a caminho do Concílio de Lyon.

1277. Condenação, por parte do bispo de Paris, de 219 proposições filosóficas e teológicas (algumas de Tomás) em Paris.

1280. Morte de Alberto Magno.

1323. Tomás é canonizado por João XXII

Notas:

Apresentação

[1] O texto latino de que fundamentalmente nos valemos para essa tradução do De Veritate é o da edição eletrônica feita por Roberto Busa, Thomae Aquinatis Opera Omnia cum hypertextibus in CD-ROM. Milão, Editaria Elettronica Editei, 1992 (Textus Leoninus aequiparatus).

[2] Cf. Tomás de Aquino, Verdade e conhecimento, São Paulo, Martins Fontes, 1999; trad. e estudos introdutórios de Luiz Jean Lauand e M. B. Sproviero. Nessa edição, o leitor encontrará um estudo biobibliográfico sobre Tomás que traz também alguns outros textos do Aquinate (das Questões disputadas sobre a verdade e do Comentário ao Evangelho de João). E em outro volume desta mesma "Coleção Clássicos"- Cultura e Educação na Idade Média, L. J. Lauand (org.) - encontram-se outros quatro pequenos estudos de Tomás de Aquino sobre o amor, o estudo, o bom humor e o reinado de Cristo (comentário ao salmo 2).

[3] O texto latino de que nos valemos para a tradução dos artigos do De Malo é o texto crítico da edição leonina: S. Thomae Aquinatis Doctoris Angelici, Opera Omnia iussu Leonis XIII, P. M. edita, curo et studio fratrum praedicatorum, Romae 1882 ss., reproduzido na edição I vizi capitali (intr., trad. e nota di Umberto Galeazzi), Milão, Biblioteca· Universale Rizoli, 1996. A Summa e as sentenças seguem a edição eletrônica feita por Roberto Busa, Thomae Aquinatis Opera Omnia cum hypertextibus in CD-ROM. Milão, Editoria Elettronica Editel, 1992.

Introdução

[1] Weisheipl, ]ames A. Tomás de Aquino - Vida, obras y doctrina, Pamplona, Eunsa, 1994, p. 235.

[2] Pieper, Abertura para o todo: a chance da Universidade, São Paulo, Apel, 1989, p. 44.

[3] Utrum é o "se" latino que indica uma entre duas possíveis opções (daí neutrum, "nem um nem outro").

[4] Pieper, Abertura..., pp. 44-5.

[5]. Cf. Pieper, Wahrheit der Dinge, Munique, Kösel, 1951, pp. 113 ss.

[6] Entre as autoridades citadas por Tomás está a Glosa. A Glosa - ordinária e interlinear (esta mais breve) - deriva dos ensinamentos de Anselmo de Laon e de sua escola (séc. XII) e utiliza muito material exegético anterior.

[7] Platão chega a admitir a existência de três almas no homem, que correspondem às três funções da mesma e única alma humana na doutrina aristotélica.

[8] União extrínseca é a que se dá, digamos, entre um indivíduo e sua roupa ou entre o queijo e a goiabada; união intrínseca é a que ocorre, por exemplo, entre um objeto e sua cor (a cor não se dá sem o objeto e nem se dá objeto sem cor).

[9] E aqui é interessante notar a força do realismo de Tomás: a própria expressão "outros animais", em suas diversas formas latinas - alia animalia, aliis animalibus etc. - aparece nada menos do que cerca de quatrocentas vezes na obra do Aquinate.

[10] Um terno exato em suas medidas e feitura é um terno feito a partir da realidade do sujeito que vai usá-lo, e não, digamos, um terno comprado pronto e mal-ajustado a quem o usa...

[11] Conceito que, aliás, não coincide com a acepção industrial que hoje damos à expressão "matéria-prima".

[12] A forma substancial é aquela que, em união com a matéria-prima, constitui a substância do sujeito. Naturalmente, há também formas acidentais (cor, tamanho etc.) que inerem na substância.

[13] Cabe aqui uma breve explicação sobre o modo como a filosofia chegou a esses conceitos. Para analisar a realidade material, Aristóteles parte da experiência dos fenômenos da unidade substancial de cada ente, de cada sujeito. Aristóteles parte também da realidade das mudanças substanciais, isto é, aquelas, por assim dizer, mais sérias, nas quais o que muda é não já esta ou aquela qualidade acidental do sujeito (que ficou mais alto, mais gordo, mais corado, ou mudou de lugar...), mas o próprio sujeito: uma coisa, X deixa de ser o que era e passa a ser outra coisa: Y (para mero efeito de exemplificação didática, pensemos em um pedaço de madeira que se queima e deixa de ser a substância que era - madeira - e passa a ser outra coisa: cinza). Nesses casos de mudança substancial, o novo ser Y não proveio do nada (mas, evidentemente, de X) e o ser X não se reduziu ao nada (deixou de ser X e passou a ser Y). Examinando, portanto, esses casos de mudança de substância, vemos que há algo que permanece e algo que muda (o que indica que a substância é composta de dois elementos: um que permanece, outro que muda). O que permanece é a matéria-prima, realizada, atualizada, em cada caso, por um fator determinante dessa potência que faz com que X seja X e Y seja Y: a forma substancial.

[14] Sempre que falo desse ponto, lembro-me do comentário jocoso (mas pleno de sentido...) feito por um aluno. "Com a palavra 'alma' (em relação às demais formas)- dizia ele- dá-se algo de semelhante ao que ocorre com certas denominações de sanduíche: os sanduíches com queijo são prefixados por cheesecheese-burger, cheese-dog etc. Mas o 'misto quente' é um sanduíche tão tradicional, tão especial, que ninguém o chama de cheese-presunto, mas por um nome também especial: 'misto quente'". Brincadeiras à parte, podemos dizer que a alma é uma forma, mas uma forma muito especial, porque atua, in-forma o vivente, constituindo o princípio da vida e, portanto, recebe o nome especial de alma.

[15] A filosofia clássica divide as potências dos conhecimentos sensíveis, ou seja, os sentidos, em: sentidos externos (basicamente os tradicionais cinco sentidos) e sentidos internos, em número de quatro: sentido comum, imagina­ção, memória e capacidade estimativa.

[16] Outra operação importante nesse processo é a collatio, a confrontação (feita pelo sentido interno chamado "capacidade cogitativa", que participa do intelecto) entre esta impressão e outras semelhantes, preparando a formação do conceito intelectual.

[17] No sentido de intentio, o conhecimento que se apropria de uma forma.

[18] Daí também que Tomás afirme que a aquisição do conhecimento, com as devidas ressalvas, pode ser comparado às "razões seminais", aquelas potencialidades que "não se tornam ato por nenhum poder criado, mas estão inscritas na natureza só por Deus" (obj. 5). Ressalvas, pois se trata de potencialidades que não procedem da criatura, mas que podem ser conduzidas ao ato pela ação do ensino humano (resposta ã obj. 5).

***

Leia mais em O professor e a docência em S. Tomás de Aquino

Leia mais em Progresso e Tradição em Pedagogia



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