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Primeiramente quero agradecer bastante todo o apoio e todos que acessaram ao Summa Mathematicae. Já são mais de 100 textos divulgados por aqui. Para facilitar a procura desses textos no blog, fiz este sumário abaixo mais organizado, divididos por tópicos e com os links de todos os textos já publicados por aqui. Aproveitem!

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LISTA DE LIVROS

Lista de livros sobre a Educação verdadeira - parte 1

Lista de livros sobre a Educação verdadeira - parte 2

Lista de livros sobre a Educação verdadeira - parte 3

Lista de livros sobre a Educação verdadeira - parte 4

Lista de Livros Clássicos, segundo o Instituto Hugo de São Vitor

Livros para aprender bem Matemática


EDUCAÇÃO CLÁSSICA

O que é educação clássica

Introdução à Educação Clássica Católica

As 4 causas da Educação Clássica

Os Termos da Educação Clássica Católica

A diferença entre a Educação Clássica e a atual

As artes liberais são a base da educação católica

A Arte da Memória

A Pedagogia Medieval

Princípios Fundamentais de Pedagogia - parte 1

Princípios Fundamentais de Pedagogia - parte 2

Opúsculo sobre o modo de aprender e de meditar

A Educação em Ilíada e Odisseia

Platão Educador

Prática x Teórica: Educação Isocrática e Educação Platônica

Matemática e Pedagogia de Platão

Educação = Escola?

Paideia de Werner Jaeger

O Cristianismo e a Educação Clássica - parte 1

O Cristianismo e a Educação Clássica - parte 2

O Cristianismo e a Educação Clássica - parte 3

Santo Agostinho e a Educação

Pedagogia de S. Bento

Boécio e Cassiodoro

Institutiones, um livro que preservou a Educação Clássica

Monges copistas e a preservação da Civilização Ocidental

Sobre S. Isidoro de Sevilha

S. Isidoro, Bispo de Sevilha e Doutor da Igreja

Carlos Magno e a expansão da Educação Clássica

Alcuíno de York: difusor do Trivium e Quadrivum

Sobre Rabano Mauro

Hugo e Ricardo de São Vítor

Um tesouro perdido da Educação

A Educação Infantil na Idade Média - por Ricardo da Costa

Educação Clássica e John Henry Newman


TRIVIUM E QUADRIVIUM

O que é o Trivium? - por Roberto Helguera

Para entender O Trivium, por José Monir Nasser

Sobre as artes e as disciplinas das letras liberais, por Cassiodoro

Sobre as Sete Artes Liberais, por Rabano Mauro

As Artes Liberais do Trivium e do Quadrivium

O que é o Quadrivium? - por Roberto Helguera

Sobre o quadrivium - Didascalicon

Elementos de Euclides

Introdução geral ao Quadrivium (Matemáticas)

Breve Introdução às Disciplinas Matemáticas

O ensino dos números no Primário antigo

O papel das matemáticas na educação, segundo Platão

Os Sólidos Platônicos

O ensino da Matemática (Quadrivium) no período clássico

Sobre as origens da Matemática Clássica

A Matemática na Europa Medieval

A divisão da Aritmética - por Boécio

A Matemática de S. Isidoro de Sevilha e a Educação Medieval

Uma Enciclopédia Matemática esquecida na História

Rábano Mauro e o Significado Místico dos Números

A incrível história do papa matemático

Papa Silvestre II - O Papa Matemático

Matemática Sagrada na Divina Comédia de Dante

Matemática e Teologia

VOCÊ PRECISA DISTO PARA ENTENDER MATEMÁTICA!

Desse modo, o Mundo é regido pelo Número

Música e a Educação da criança

Introdução à Astronomia Clássica

Nicolau de Oresme, precursor de Copérnico

O Heliocentrismo: O cônego Nicolau Copérnico

Galileu Galilei à luz da História e da Astronomia

Galileu Galilei, a Ciência e a Igreja

O Matemático Jesuíta Cristóvão Clávio

Dúvidas Geométricas

Quadrivium: O Estudo dos Números

Matemática e Astronomia em Os Lusíadas

O Currículo da Matemática Medieval


FILOSOFIA / HISTÓRIA DA MATEMÁTICA / ARISTOTELISMO-TOMISMO

Filosofia Tomista da Matemática

Aristotelismo e Filosofia da Matemática

μάθημα: Pensar matematicamente

A distinção mais básica na Matemática

As quatro causas e as cinco vias

Matemática segundo a Filosofia Perene

Graus de Abstração

Matemática: Ciência da Quantidade

Sobre a Realidade das Matemáticas

Os paradoxos de Zenão e a solução de Aristóteles

Notas sobre a Filosofia da Natureza em Aristóteles

A interpretação tomista da Física de Aristóteles

Ciência Aristotélica e Matemática Euclidiana

Matemática e Poesia juntas

O Xadrez e a Matemática

O Conceito de Infinito em Plotino

A Matemática leva a Deus: Euclides, Hilbert e o futuro da Matemática

Algumas filosofias da Matemática

A sabedoria medieval na ponta dos dedos


HISTÓRIA/FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO E EDUCAÇÃO MODERNA

Definição de educação

O que é Educação?

A verdadeira filosofia da educação

Educação (Paideia) na Antiguidade Cristã

Uma breve história do livro

Instrução Didática, Mimética e Socrática

O modelo de Educação Jesuíta

Sobre o modo de estudar

DICAS E SUGESTÕES PARA ESTUDAR SOZINHO (Para alunos do ensino fundamental e médio)

Escola x Universidade

Quem matou o Latim nas escolas?

Bento XVI sobre a Educação

Dez mandamentos para professores

O professor católico e a Regra de São Bento

Inger Enkvist: “A nova pedagogia é um erro. Parece que não se vai à escola para estudar”

Dos sintomas às causas da Crise na Educação

Paulo Freire, patrono ou ídolo de barro?

A Educação Cristã da Juventude - Divini illius magistri

Elementos de crise na educação

A Escola sem Deus

S. João Batista de La Salle, padroeiro dos Educadores

Progresso e Tradição em Pedagogia

A Educação no Brasil

A Educação Doméstica no século XIX

Educação e Formação da Personalidade

Edith Stein e a educação

Fundamentos da Pedagogia Cristã

Ensinar é uma Arte

Sobre as escolas laicas

Como era a educação brasileira há 100 anos atrás

Livro A Vida Intelectual

A Educação e a Verdade

Livro A Crise da Educação Ocidental

A Pedagogia das artes liberais

O declínio da escola tradicional

A Educação no Brasil até 1930

Fé, razão e universidade: Recordações e reflexões

O professor e a docência em S. Tomás de Aquino


MATEMÁTICA MODERNA

Como ler livros de Matemática

Matemática e Vida Intelectual

A implausível eficácia da Matemática nas Ciências Naturais

Artigo - Desigualdades Elementares Versão Integral

TCC - Introdução ao Cálculo Discreto

TCC: Uma breve descrição da ideia de infinito

Terence Tao explica se você tem que ser um gênio para fazer Matemática

A dura tarefa de escrever livros de Matemática

Definição de Número

Matemática de Singapura - O que é?

A Matematização do Mundo

Os Números Divinos

O ensino de Cálculo no Ensino Médio

Sobre as Geometrias Não-Euclidianas e Não-Arquimédicas

Número de ouro, coelhos e Fibonacci

Os números e a vida concreta

Para aprender bem Matemática

Livros para aprender bem Matemática

Como estudar Matemática de Nível Superior

Apologia da Matemática, de GH Hardy

Matemática e Cristianismo

Os três componentes da Matemática

A Matemática é para sempre


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Edith Stein e a educação


Edith Stein e a Educação por Magna Celi Mendes da Rocha

Qual é a grande enfermidade de nosso tempo e de nosso povo? Na grande maioria das pessoas é a desintegração interna, a falta total de convicções e princípios firmes, à deriva sem direção e, por causa da insatisfação com esse tipo de existência, a busca de entorpecimento em novos prazeres cada vez mais sofisticados […] O remédio contra a doença de nosso tempo são seres humanos plenos […] que fincados no chão da eternidade não se deixam abalar em suas convicções e em seu agir por opiniões, asneiras e vícios da moda que grassam à sua volta (STEIN, Edith. A mulher: sua missão segundo a natureza e a graça. Bauru: EDUSC,1999).

O princípio mais elementar do método fenomenológico: considerar as coisas por elas mesmas […] aproximar-se delas com um olhar privado de preconceitos e captá-las com uma visão imediata. Se queremos saber o que é o ser humano, devemos nos colocar no modo mais vivo possível, na situação na qual fazemos experiência do seu aqui, quer dizer, daquilo que experimentamos em nós mesmos e daquilo que experimentamos no encontro com os outros (STEIN, Edith. La estructura de la persona humana. Madri: Biblioteca de Autores Cristãos, 2002).

O verdadeiro educador é Deus, o único que conhece cada homem singular em profundidade, que tem diante dos olhos o fim de cada um e sabe de quais meios tem necessidade para conduzi-lo ao fim. Os educadores humanos são instrumentos nas mãos de Deus (STEIN, Edith. La estructura de la persona humana. Madri: Biblioteca de Autores Cristãos, 2002).

A questão educativa perpassou grande parte da vida e da obra de Edith Stein, embora seja um aspecto ainda pouco explorado e conhecido no conjunto de sua produção. Defendia uma reforma no sistema educacional alemão, que considerava em crise havia décadas, por estar fortemente marcado pelos ideais iluministas, que davam uma ênfase excessiva a um “saber enciclopédico”. Pressupunha-se que a alma não passava de uma tábula rasa em que deveria ser gravado o máximo, seja pela assimilação racional, seja pela memorização. Stein acreditava que mais valia educar a inteligência e a vontade para que as pessoas pudessem apropriar-se de qualquer matéria que viesse a ser importante para elas.  

A autora ressalta a necessidade de que o conhecimento capte a individualidade das pessoas, pois não se deveria educar para a mesma finalidade, segundo um esquema geral, sem dar espaço para as especificidades. Compreendia, ainda, que o espírito humano está direcionado à criação, à compreensão e ao gozo da cultura. Ele não é capaz de desenvolver-se plenamente se não tiver contato com a diversidade dos campos da cultura, e o indivíduo não poderá alcançar a meta de sua vocação se não chegar a conhecer o campo que lhe é indicado por seu talento natural. Entendia formação como preparação do ser humano para ser aquilo que deve ser, em um processo que abrange o corpo, a alma (psique) o espírito com todas as suas forças. 

Após sua conversão ao catolicismo, Edith Stein realiza uma síntese muito interessante entre a destinação natural e sobrenatural do ser humano, com repercussões muito concretas em seu modo de conceber a educação. Recoloca a dimensão religiosa no centro da questão, de uma forma elegante e inteligente. Em seus escritos, Pedagogia, Antropologia filosófica e teológica dialogam com fluidez e sem cisões, pois entendia que seria necessário formar a interioridade, visando ao desenvolvimento da individualidade, num processo que acontece de dentro para fora, como atualização das potencialidades já existentes na pessoa.

Deus é apresentado por Edith Stein como o educador por excelência, por ser o único a conhecer o ser humano em profundidade e a ter diante dos olhos o fim de cada um e os meios necessários para concretizá-lo. Os educadores humanos, se tiverem abertura e disponibilidade para prestar atenção em Seus sinais e segui-los, podem ser instrumentos eficazes nas mãos de Deus para ajudar outros a descobrirem o seu caminho, realizarem a sua obra.

Para Edith Stein, todo ser humano traz em si uma marca de eternidade e anseia por ela. Uma educação que vise apenas ao imediato, o terreno, o provisório, não corresponde ao desejo mais profundo dos seres humanos; não contribui para que cada um realize seu próprio caminho, sua própria via, contribuindo para o bem comum; ao contrário, busca uma padronização, ou uma competitividade, na qual os seres humanos não se reconhecem mais como irmãos, como vindo de uma raiz comum.

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O Matemático Jesuíta Cristóvão Clávio

Retrato do Cardeal Cristóvão Clávio,
por Francesco Villamena, 1606

por Rubem Queiroz Cobra

Christopher Clavius (1538-1612), ou Cristóvão Clávio foi o astrônomo jesuíta que ajudou o papa Gregorio XIII a introduzir o que é chamado agora o calendário gregoriano. Clavius entrou para a ordem Jesuíta em 1555 e recebeu sua instrução dentro da Ordem. Frequentou a universidade de Coimbra em Portugal. Depois foi para a Itália e estudou teologia no Colégio Romano mantido pelos jesuítas em Roma.

Após os estudos permaneceu no Colégio Romano como professor de matemática. Na verdade, à exceção de um período em Nápoles em torno de 1596 e uma visita à Espanha em 1597, haveria de continuar professor no Colégio Romano para o resto de sua vida.

A regra do ano bissexto do calendário Juliano criava 3 bissextos em cada período de 385 anos, um avanço demasiado em relação ao tempo natural. Em consequência, a ocorrência real dos equinócios e dos solstícios moveu-se lentamente afastando-se de suas datas de calendário. A data do equinócio da primavera determina a data da Páscoa e por isso a Igreja começou a pressionar para a reforma.

Clavius propôs que a quarta-feira, 4 de outubro de 1582, antigo calendário Juliano em uso, fosse seguida por quinta-feira, 15 de outubro de 1582, novo calendário gregoriano. Propôs que os anos bissextos ocorressem nos anos exatamente divisíveis por quatro, salvo os anos terminando em 00 que teriam que ser divisíveis por 400 para que fossem bissextos. Esta regra é usada ainda hoje e é tão exata que nenhuma reforma adicional do calendário será necessária por muitos séculos.

Viète não gostou do calendário de Clavius e os povos de Frankfurt se amotinaram contra o papa e os matemáticos que - eles acreditavam - conspiravam juntos para roubar-lhes 11 dias. Clavius escreveu Novi calendarii romani apologia (Apologia do novo calendário romano) (1595) justificando as reformas do novo calendário, defendendo-as contra esses ataques.

Embora Clavius produzisse pouca matemática dele mesmo, ele fez mais do que qualquer outro intelectual alemão do século XVI para promover o conhecimento da matemática. Clavius era talentoso professor e escritor de livros didáticos. Produziu uma versão de Elementos de Euclides em 1574 o qual contem ideias próprias. Um outro livro bem escrito foi a Álgebra (1608). Seus livros de aritmética foram usados por muitos matemáticos incluindo Leibniz e Descartes. Clavius produziu vários instrumentos. Ele trabalhou em um instrumento para medir frações dos ângulos. Também projetou relógios solares e desenvolveu um quadrante para o uso em agrimensura.

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Texto disponível em LINK.


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Platão Educador

Texto retirado de MARROU, Henri-Irénée. História da Educação na Antigüidade. 4ª Impressão, São Paulo, Editora Pedagógica Universitária Ltda. e Editora da Universidade de São Paulo, 1973. (Esta obra foi reeditada pelas Edições Kírion, em 2017).


A PROCURA DA VERDADE

A obra pedagógica de Platão ultrapassou de muito em importância histórica, o papel propriamente político que ele lhe havia designado. Opondo-se ao pragmatismo dos Sofistas, demasiado apegados à eficácia imediata, Platão edifica todo o seu sistema educacional sobre a noção fundamental da verdade, sobre a conquista da verdade pela ciência racional.

O verdadeiro homem de Estado, este dirigente, este "rei" ideal que urge plasmar, distinguir-se-á de todas as suas contrafações por possuir a ciência [23], a ciência crítica e direta do comando [24], no sentido técnico que, no grego de Platão, reveste a palavra ἐπιστήμη, a saber, o de ciência verdadeira, fundada em razões, por oposição à δόξα, a opinião vulgar.

Mas esta "ciência real" qualificará, também, aquele que, ao invés de uma cidade, tem apenas sua família e sua casa para reger [25]. Mais ainda: é o mesmo critério, ou seja, a posse da verdade, que definirá o verdadeiro orador, por oposição ao sofista [26], como também o verdadeiro médico [27], e, evidentemente, também o verdadeiro filósofo [28]. Por conseguinte, o tipo de educação que Platão concebe com vistas à formação do dirigente político é um tipo de educação dotado de valor e alcance universais: qualquer que seja o campo da atividade humana para o qual alguém se oriente, não há mais que uma alta cultura válida: a que aspira à Verdade, à possessão da verdadeira ciência. Todo o pensamento de Platão é coroado por esta alta exigência; ela se afirma, já, com a máxima nitidez, na famosa réplica do Hipias Maior [29]:

-- Sócrates, será que esta distinção escapará ao nosso adversário?
De qualquer modo, Hípias, juro que ela não escapará àquele homem perante o qual eu me ruborizaria, mais do que perante qualquer outro, se disparatasse e falasse sem dizer nada!
-- Que homem?
-- Eu mesmo, Sócrates, filho de Sofronisco, que não mais me permitirei fazer levianamente uma afirmação não verificada do que me permito crer que sei o que ignoro.
 
A norma não é mais o sucesso, mas a verdade: daí o valor conferido ao saber verdadeiro, fundado em rigor demonstrativo, cujo símbolo é a verdade geométrica que o Ménon oferece como exemplo. Por toda a obra de Platão insinua-se este mesmo tema: o Protágoras, e mesmo os primeiros Diálogos Socráticos, fazem-nos descobrir que a ἀρετή, isto é, a nobreza espiritual, pressupõe, ainda que não se identifique com ele, o conhecimento, a ciência do Bem; no sétimo livro da República [30], o célebre mito da Caverna proclama o poder emancipador do saber, que delivra a alma desta incultura (ἀπαιδευσία), já no Górgias [31] denunciada como o maior dos males. 

Esta educação "científica", Platão não a sonhou apenas: durante cerca de quarenta anos (387-348), subministrou-a aos discípulos reunidos ao seu redor na Academia.

ORGANIZAÇÃO DA ACADEMIA

Os modernos arguem-se no afã de determinar se esta era uma "associação para o progresso da ciência" ou, antes, um estabelecimento de ensino superior (8). Discussão um tanto vã: o entusiástico realismo da Escola e a bonomia desta idade arcaica impedem-nos de transferir para esse ambiente a idéia moderna de ciência em evolução e contínuo desenvolvimento: a ciência existe, constituída fora de nós, ao nível das Idéias, e o problema é adquiri-la, antes que construí-la. Somente com Aristóteles [32] se manifestará, no pensamento grego, a distinção, tão nitidamente realçada entre os modernos por Max Scheler, entre a alta Ciência e sua réplica pedagógica, o Saber configurado nos programas escolares. Não se poderia contar com uma pedagogia autônoma, servindo para transmitir esta pubescente ciência platônica, fremente ainda de sua novel descoberta: o sino aí coincide com o método de investigação.

Tudo o que os Diálogos nos permitem entrever mostra-nos Platão como um partidário dos métodos ativos: seu método dialético é bem o contrário de uma doutrinação passiva. Longe de inculcar a seus discípulos o resultado, já elaborado, de seu próprio esforço, ao Sócrates pintado por Platão apraz, ao contrário, fazê-los trabalhar, fazê-los descobrir por si mesmos, de início, a dificuldade, e depois, à custa de aprofundamento progressivo, o meio de superá-la. A Academia era, pois, ao mesmo tempo, uma Escola de Altos Estudos e um instituto de educação.

Começamos agora a visualizar, de maneira bastante nítida, os quadros de sua organização; a Academia tem uma sólida estrutura institucional: ela não se apresenta como uma empresa comercial, mas na forma de uma confraria, de uma seita, cujos membros se acham estreitamente unidos pela amizade (sempre este vínculo afetivo, senão passional, entre mestre e alunos). Do ponto de vista legal, ela é, como a seita pitagórica, uma associação religiosa (Θίασος), uma confraria votada ao culto das Musas (9) e, após a morte do mestre, ao culto de Platão heroificado: precaução útil para açaimar as suscetibilidades da beatice democrática, sempre disposta a acusar os filósofos de impiedade (10), como o haviam mostrado os processos intentados contra Anaxágoras (432), Diágoras e Protágoras (415), para não falar no

de Sócrates (399), e na expectativa dos de Aristóteles (entre 319 e 315) e Teofrasto (307). Este culto corporificava-se em festas: sacrifícios e banquetes, meticulosamente regulamentados. Tinha por sede um santuário consagrado às Musas, e depois ao próprio Platão, situado à sombra do bosque sagrado dedicado ao herói Acádemos, lugar afastado e solitário da zona norte de Atenas, perto de Colona, e que Platão havia escolhido não por sua comodidade -- pois nos é dito [33] que era, ao contrário, um sítio insalubre -- mas pelo prestígio religioso que o cercava (11), pois era um lugar santo, ilustrado por muitas lendas, pretextos para jogos fúnebres regulares, e onde havia vários outros santuários, consagrados aos deuses infernais -- a Posídon, Adrasto ou Dioniso. A propriedade de Acádemos encontrava-se no termo de um caminho retilíneo saindo de Atenas para o Dípilon, caminho ao qual uma dupla fila de túmulos e monumentos comemorativos conferia um caráter religioso; o bosque sagrado, propriamente dito, devia estar sem dúvida reduzido a um pequeno arvoredo, emoldurado nesse conjunto incôndito, em que as áreas consagradas, circundando templo e altares, repletas de monumentos votivos, se justapunham a campos de esporte cercados de colunatas. Era num desses ginásios [34] que o Mestre ensinava, sentado no centro de uma êxedra [35] (12).

Não imaginemos este ensino sob uma forma demasiado doutoral: paralelamente às lições, concedamos um lugar bastante amplo a entretenimentos familiares durante as "patuscadas em comum" (συμόσια): estas, habilmente conduzidas representavam, para Platão, um dos elementos constitutivos da educação [36]. A vida da Academia implicava, com efeito, certa comunidade de vida entre mestre e discípulos, mas não uma organização propriamente colegial (pois não está seguramente estabelecido que eles tenham habitado, juntos, um edifício vizinho).

Infelizmente, conhecemos melhor, desta escola, o estatuto jurídico, o local e até o mobiliário (havia ali quadros murais, ilustrativos da classificação dicotômica dos seres) (13) do que a vida quotidiana. Alguns raros testemunhos -- como o do cômico Epicrates, mostrando os jovens platônicos em busca da definição da abóbora [37], ou o de Aristóteles sobre a orientação do ensino oral de Platão em sua velhice [38] -- não bastariam para proporcionar-nos uma imagem precisa do conteúdo da educação platônica, se não possuíssemos os programas, tão notavelmente detalhados, contidos nas grandes utopias da República e das Leis.

UTOPIA E ANTECIPAÇÕES

Naturalmente, não se trata de pretender que Platão haja executado, de maneira sistemática, no âmbito restrito de sua Academia, os planos que elaborou nessas duas obras, com plena liberdade teórica: ele próprio salienta bastante, que a realização do seu ideal pedagógico teria exigido uma transmutação completa do Estado. Com efeito, o lugar de primeira plana que reinvindico para Platão, nesta história da educação, não é apenas função de educador por ele desempenhado, concretamente, na Academia: foi todo o seu pensamento, inclusive sob os aspectos paradoxais que ele conscientemente lhe deu, que exerceu profunda influência sobre a educação antiga.

Nem tudo, aliás, era pura utopia, mesmo em tais aspectos: eles encerram muitas antecipações proféticas; digamos, para racionalizar, que esses paradoxos representavam o reconhecimento de aspirações profundas da consciência grega, aspirações às quais as instituições do período seguinte deviam, em ampla medida, satisfazer. Citarei dois exemplos:

Antes de tudo, a exigência fundamental: a educação deve -- diz ele -- tornar-se coisa pública; os mestres serão escolhidos pela cidade, controlados por magistrados especiais... [39]. Em sua época, este anseio não era realizado quase senão nas cidades aristocráticas, como Esparta; por toda parte, alhures, a educação era livre e privada. Ora, veremos que a Grécia helenística adota- ria, muito genericamente, um regime bastante análogo

àqueles que recomendam as Leis. Do mesmo modo, a igualdade rigorosa que ele preceitua, entre a educação dos rapazes e a das moças [40] (educação paralela, mas não co-educação: a partir de seis anos, os dois sexos têm mestres e classes distintos [41]), assume, nas tintas de sua pena, o exagero de um paradoxo: ela reflete apenas um fato real, qual seja a emancipação das mulheres na sociedade do quarto século, e, também nisto, antecipa as realizações da época helenística.

Utopia ou antecipações, a teoria platônica da educação merece, porém, ser estudada, por si mesma, em seu conjunto.

EDUCAÇÃO ELEMENTAR TRADICIONAL

No topo do sistema alcandoram-se os altos estudos filosóficos, reservados a um escol de indivíduos especialmente dotados. Esses estudos supõem a prévia aquisição de uma sólida formação básica: aquela que, na República (livros II-III), Platão dispensa a todos os membros da aristocracia militar dos φύλακες; é a mesma que descrevem as Leis, com mais detalhes, e reduzindo suas exigências àquilo que permitia o estado real da civilização grega. Esta "educação preparatória" (προπαιδεία) [42] não pretende conduzir à verdadeira ciência: contenta-se com tornar o ser humano capaz de ter-lhe acesso um dia, desenvolvendo-lhe harmoniosamente o espírito e o corpo; paralelamente, ela o predestina e o predispõe a tal aquisição, incutindo-lhe hábitos salutares. É notável que Platão não tenha elaborado um programa original para este primeiro ciclo de estudos; no momento de empreender-lhe a análise, faz Sócrates [43] dizer:

Qual será, pois, essa educação? Parece difícil descobrir uma melhor do que a adotada pelos Antigos: ginástica para o corpo, "música" para a alma...

E, de fato, é ao quadro da "antiga educação" ateniense, pintado por Aristófanes [44], que nos remete outra vez a pitoresca evocação das Leis [45], mostrando-nos, ao romper

do dia, as crianças que se dirigem juntas para a escola, sob a guarda dos "pedagogos". Ter Platão assim alojado, na base do seu sistema pedagógico, a educação grega tradicional, eis um fato que se revestiu de considerável importância para o desenvolvimento da tradição clássica, cujas continuidade e homogeneidade ela reforçou: por um lado, a cultura filosófica, longe de romper com a educação anterior, apresentou-se como um prolongamento, um enriquecimento desta; por outro lado, esta educação primeira veio a constituir um denominador comum entre a cultura filosófica e a cultura rival, que Isócrates lhe opunha -- uma e outra apresentando-se como duas variedades de uma mesma espécie, como dois ramos divergentes oriundos de um tronco comum.

Os primeiros anos da criança deveriam, segundo Platão, ser ocupados por jogos educativos [46] praticados em comum, pelos dois sexos, e sob vigilância, em jardins de crianças [47]; mas, para ele, como para todos os gregos, a educação propriamente dita só começa aos sete anos. Ela compreende, pois (as Leis [48] retomam a distinção da República), ginástica para o corpo, e "música" -- ou melhor: cultura espiritual para a alma.

No referente à ginástica, Platão reage, violentamente [49], contra o espírito de competição que, como o lembrei, causava já tantos danos ao esporte do seu tempo. Queria ele reduzi-la à sua finalidade original, a preparação para a guerra: eis por que, no atletismo puro, interessa-se ele sobretudo pela luta [50], que é preparação direta para o combate. Sem dúvida, o programa dos jogos que deverão constituir a sanção da educação física não exclui os outros esportes: compreende a gama normal das corridas a pé: estádio, duplo estádio, etc. [51]; mas Platão aí introduz, também, combates de esgrima, combates de infantaria pesada e de infantaria leve [52] e, de maneira geral, insiste particularmente nos exercícios de caráter militar [53] (que destina tanto às mulheres como aos homens: a cidade platônica inclui mulheres-solda-

dos): o arremesso de flecha com arco, o dardo, a funda, a esgrima, as marchas e manobras táticas, a prática do acampamento. Anexa, enfim, a esta formação-tipo, o aristocrático esporte hípico (que será, igualmente, obrigatório para as moças), com seu acompanhamento normal, a caça [54]: outros tantos traços arcaicos recebidos diretamente da mais velha tradição nobre. Mas eis que, aqui, ao contrário, orienta-nos para o porvir e para as instituições helenísticas: toda esta formação pré-militar será instilada nos ginásios, estádios e picadeiros públicos, sob a direção de monitores profissionais assalariados pelo Estado [55].

Outro traço arcaizante: a preocupação de dar ao esporte seu valor propriamente educativo, seu alcance moral, seu papel, em pé de igualdade a cultura intelectual, e, em estreita colaboração com ela, na formação do caráter e da personalidade [56]. Mas, também aqui, o arcaísmo associa-se intimamente ao "modernismo": em sua concepção da ginástica, Platão inclui todo o domínio da higiene, as prescrições concernentes ao regime de vida e, notadamente, ao regime alimentar, assunto tratado com predileção pela literatura médica de seu tempo. A influência da medicina foi muito profunda sobre o pensamento de Platão, pelo menos igual à da matemática (14). Ora, a medicina grega, por um progresso notável, cujas etapas podemos acompanhar ao longo do quinto e do quarto séculos, havia chegado a considerar que seu objeto fundamental era não o cuidado imediato com a doença, mas, principalmente, a manutenção da saúde, por meio de um regime adequado. Daí uma estreita aproximação entre os domínios do médico e do treinador esportivo, que a dupla carreira de Heródico de Selímbria simboliza a nossos olhos [57].

À ginástica, as Leis acrescentam ainda a dança, que, inseparável do canto coral [58], pertenceria também à música: Platão insiste, longamente, sobre seu ensino e sua prática [59]; reserva-lhe um lugar nos concursos e nas festas, ao lado das procissões solenes para as quais a juventude é convidada [60]. Salienta-lhe, igualmente, as virtudes educativas: a dança é o meio de disciplinar, de submeter à harmonia de uma lei a necessidade, espontânea em todo ser jovem, de exaurir-se, de agitar-se [61]; ela contribui assim, da maneira mais direta e mais eficaz, para a disciplina moral [62]. (...)

Todavia, o lugar que Platão concede, em sua discussão, aos aspectos propriamente espirituais da cultura, mostra claramente ter já o papel da educação física passado para segundo plano: lentamente, a cultura helênica se distancia de suas origens cavalheirescas e evolui na direção de uma cultura de letrados. Sem dúvida, a mutação não está ainda concluída: a música, no sentido preciso em que a entendemos, ocupa, sempre, um lugar na honra educação [65], e, para Platão, um lugar de (κυριωτάτη): a criança aprenderá, pois, do mestre de música (κιθαριστής), o canto e o manejo da lira [67]. Sempre fiel às velhas tradições, ele gostaria, à custa de uma regulamentação severa, de preservar o ensino artístico na via traçada pelos antigos clássicos, ao abrigo das inovações e das tendências dissolventes da música "moderna", suspeita de veicular alguma debilidade, espírito anárquico e relaxamento moral [68]: pois aqui, como em toda parte, a ambição moralizadora domina todo o esforço do educador.

Mas já a música propriamente dita, "o canto e as melodias [69]" , começa a ceder o passo às letras -- λόγοι [70], γράμματα [71]; a criança deverá aprender a ler e a escrever [72], depois passará aos autores clássicos, estudando-os integralmente [73] ou em antologias [74] (é a primeira vez que a história menciona este recurso aos "trechos escolhidos", destinados a tão frutífera carreira); aos poetas, únicos autores estudados outrora, Platão junta autores em prosa [75]; os estudos literários serão, naturalmente, sancionados em concursos ou jogos musicais [76].

Quais serão estes autores? É sabido que Platão critica violentamente os poetas reputados clássicos em seu tempo, começando pelo velho Homero (mas sua crítica atinge também os Trágicos, e, de maneira geral, o papel desempenhado pelos mitos na educação tradicional da criança grega): formulada pela primeira vez nos livros II-III da República [77], essa crítica é retomada, em profundidade, no livro X [78] e será repetida nas Leis [79]. Seu caráter paradoxal não deve escamotear o quanto ela se prende à essência mesma da doutrina platônica.

Ela condena os poetas porque seus mitos são mentiras, apresentando da divindade ou dos heróis uma imagem falaciosa, indigna de sua perfeição. Sua arte, repassada de ilusão, é perniciosa por ser contrária à Verdade -- essa verdade a que toda a pedagogia deve estar subordinada --, por desviar o espírito de seu fim, que é a conquista da ciência racional. Opondo com tal vigor a poesia e filosofia [80], rompendo com a mais constante tradição, que, como vimos, situava Homero na base de toda educação, Platão punha a alma grega diante de uma opção difícil: devia a educação permanecer basicamente artística e poética ou devia tornar-se científica? Este problema não deixou, desde Platão, de apresentar-se à consciência de todo educador, e nunca foi resolvido de maneira definitiva: nosso próprio ensino não se acha sempre dividido entre as reivindicações opostas das "letras" e das "ciências"?

Sabe-se que, de modo geral, a civilização antiga não subscreveu essa condenação de Homero e não aceitou as soluções radicais propostas por Platão [81]: submeter os textos poéticos a uma severa censura, expurgá-los, corrigi-los, ainda que para isto fosse necessário reescrevê-los! A própria obra de Platão depôs contra ele: seus Diálogos não são bem o modelo mesmo duma poesia magnífica,

que não renuncia a nenhum dos procedimentos da arte, que termina por servir-se do próprio mito para instilar a persuasão por um encantamento quase mágico? Disso, sem dúvida, Platão, antes de todos, tinha consciência: "Também nós somos poetas", brada ele, dirigindo aos Trágicos um desafio cheio de ousadia [82]; e, meio sério, meio jocoso, propõe adotar-se o próprio texto de suas Leis, para explicação nas aulas [83].

Mas não somente isto: cada página de seus Diálogos testemunha, de maneira brilhante, quanto a cultura pessoal de Platão se havia nutrido e beneficiado do ensino tradicional dos poetas: a citação de Homero, dos líricos, dos trágicos, brota espontaneamente de sua pena, serve para exprimir seu pensamento profundo, que ela sustenta tanto quanto o ilustra. Pelo uso que dela faz, Platão demonstra, contra si mesmo, não apenas a fecundidade dessa cultura literária, mas também o proveito que o espírito filosófico podia dela tirar.

Entretanto, não se deveria considerar essa crítica como uma facécia vã: ela não foi suficiente para banir Homero da cidade, assim como a crítica do Emilio não expulsou o deleitoso La Fontaine das nossas escolas -- mas não deixou de infiltrar-se, por sua vez, na tradição antiga, como uma interrogação levantada, um repto, um desafio, e cada geração, cada letrado teve, por sua vez, de reconsiderá-la.


Notas:

[23] [PLATÃO] O Político, 259b. 
[24] Idem, 292b. 
[25] Idem, 259bc. 
[26] Fedro, 270a s. 
[27] Idem, 270b.
[28] O Sofista, 267e.
[29] Hipias Maior, 298b. 
[30] A República, VII,
[31] Górgias, 527e. 514a s.
[32] ARISTÓTELES, Partes dos Animais, 639 a 1 s.
[33] ELIANO DE PRÊNESTO, Histórias Variadas, IX, 10; PORFÍRIO, Da Abstinência, 36, 112; SÃO BASÍLIO DE CESARÉIA, Sermões, XXII, 9. 
[34] EPIGRATES ap. ATENEU, Banquete dos Sofistas, II, 59 D, 10. 
[35] DIÓGENES LAÉRCIO, Vidas dos Filósofos, IV, 19. 
[36] PLATÃO, As Leis, I, 41cd; II, 652a.
[37] Ap. ATENEU, Banquete dos Sofistas (ed. Casaubon), II, 59 D. 
[38] ARISTÓTELES, Metafisica, VI-VIII. 
[39] PLATÃO, As Leis, VI, 754cd; 765d; VII, 801d; 804c; 813e; 809a.
[40] A República, V, 451d-457b; As Leis, VII, 804d-805b; 813b. 
[41] Idem, 794c; 802e; 813b.
[42] A República, VII, 536d. 
[43] Idem, II, 376e; cf. VII, 521de. 
[44] ARISTÓFANES, As Nuvens, 961 s. 
[45] PLATÃO, As Leis, VII, 808d.
[46] Idem, I,  643bc.
[47] Idem, VII, 793e-794b. 
[48] Idem, 795d-796d. 
[49] Idem, 796a, d; VIII, 830a. 
[50] Idem, VII, 795d-796a; VIII, 814cd. 
[51] Idem, 832d-833d. 
[52] Idem, 833d-834a. 
[53] Idem, VII, 794c; 804d-806c; 813b; VIII, 829e; 833cd.
[54] Idem, VII, 823c; 824a.
[55] Idem, 804cd; 813e. 
[56] A República, III, 410c-412a.  
[57] Idem, 406ab; Protágoras, 316e; Fedro, 227d. 
[58] As Leis, II,  654b. 
[59] Idem, 653d s.; VII, 795e; 814e-816d.
[60] Idem, 796c. 
[61] Idem, II, 653de. 
[62] Idem, 654a-655b. 
[65] PLATÃO, A República, III, 398c-403c.
[66]. Idem, 401d. 
[67] As Leis, VII, 812be. 
[68] Idem, II, 656ce; III, 700a-701c. 
[69] A República, III, 398 c.  
[70] Idem, II, 376e.
[71] As Leis, VII, 809b. 
[72] Idem, 810b. 
[73] Idem, 810e. 
[74] Idem, 81la.
[75] Idem, 809b.
[76] Idem, VIII, 834e-835b.
[77] A República, 377a-392b.
[78] Idem, 595a-608b. 
[79] As Leis, VII, 810c-811b.
[80] A República, X, 607b. 
[81] Idem, III, 386c; 387b; As Leis, VII, 801d-802b; cf. VIII, 829de.
[82] As Leis, VII, 817b. 
[83] Idem, 811ce. 


Notas Complementares

(8) O que era Academia: P. BOYANCÉ, Le Culte des Muses chez les Philosophes grecs, p. 261, resume o debate: uma associação de sábios (U. VON WILAMOWITZ-MÖLLENDORF, Platon 2, Berlim, 1920, ps. 270 segs; Antigonos von Karystos, Philogische Untersuchungen, IV, Berlim, 1881, ps. 279 segs.; H. USENER, Organisation der Wissenschaftlichen Arbeit, Vorträge und Aufsatze, Leipzig-Berlim, 1907, ps. 67 segs.), ou uma Universidade (E. HOWALD, Die Platonische Akademie und die moderne Universitas litterarum, Berna, 1921)?

(9) A Academia como tíase das musas: P. BOYANCE, ibid., ps. 261-267; sobre a heroificação de Platão, ibid., ps. 259-261, 267-275, e O. REVERDIN, La Religion de la Cité platonicienne, Paris, 1945.

(10) Sobre Les Procès d'impiété intentés aux Philosophes à Athènes aux Ve.-IVe siècles, cf. o trabalho, publicado sob este título, de E. DERENNE, ap. Bibliothèque de la Faculté de Philosophie et Lettres de l'Université de Liège, XLV. Liège, 1930.

(11) Caráter sagrado do sítio da Academia: CH. PICARD, Dans les Jardins du héros Académos, Institut de France, Séance publique annuelle des cinq Académies du jeudi 25 octobre 1934, Discours, Paris, 1934. Por iniciativa, e com o patrocínio de P. ARISTOPHRON (L'Académie de Platon, Paris, 1933), a Academia de Atenas empreendeu, no sítio, escavações que, infelizmente, foram interrompidas no momento em que começavam a tornar-se frutíferas: ver-lhe a crônica ap. Bulletin de Correspondance hellénique, de 1930 (t. LIV, ps. 459-460) a 1937 (t. LXII, ps. 458-459), ou Jahrbuch des Deutschen archäologischen Instituts, Archäologischer Anzeiger, notadamente 1934, c. 137-140 (plano: Abb. 8).

(12) A êxedra de Platão: para ajudar o leitor moderno na "composição de lugar", lembrarei os mosaicos (que embora romanos reproduzem um original helenístico) do museu de Nápoles e da cidade Torlonia-Albani, representando uma assembléia de filósofos (os Sete Sábios?): G. W. ELDERKIN, American Journal of Archaeology, XXXIX (1935), ps. 92-111; O. BRENDEL, Römische Mitteilungen, LI (1936), ps. 1-22 e ainda ELDERKIN ibid., LII (1937), ps. 223-226.

(13) Quadros murais usados na Academia para os exercícios práticos de classificação (cf. ARISTT., P. A., I, 639 a): A. DIES, Notice em sua edição do Politique, coleção "Budé", Paris, 1935, p. XXVII.

(14) Influência da medicina e, notadamente, da ciência higiênica sobre o pensamento de Platão: cf. W. JAEGER, no admirável capítulo que abre o tomo III de sua Paideia, ps. 3-45, "a medicina grega como paideia".


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Sobre o modo de estudar

Monges Dominicanos, detalhe do Ciclo de
Quarenta Membros Ilustres da Ordem
Dominicana, 1342 - Tomaso da Modena

Texto retirado do capítulo XVIII: São Tomás de Aquino: estudo, do livro Cultura e Educação na Idade Média. Luiz Jean Lauand (org.). Editora WMF Martins Fontes, 2013.

A. INTRODUÇÃO

1. O estudo segundo Tomás de Aquino: uma carta

O "De Modo Studendi" [DMS] é uma carta de autoria de Tomás de Aquino [1], aconselhando sobre o modo de estudar. Tomás dava muita importância à correspondência. Victor White observa que não é raro que Tomás deixe de lado seu trabalho em obras maiores para elaborar respostas a cartas, especialmente de seus irmãos dominicanos [2]. O destinatário da "De modo studendi", um tal "irmão João", é um dominicano jovem [3] que, iniciando seus estudos, e afoito por mergulhar no "oceano da sabedoria", resolveu escrever ao mestre consumado, perguntando sobre atalhos.

Tomás, que -- no "Comentário à Ética" de Aristóteles -- afirma ser o tempo o grande colaborador (bonus cooperator), começa por responder ao impaciente frei João que não há atalhos, mas caminhos: pelos riachos é que se chega ao mar e o "difícil deve ser atingido a partir do fácil" (DMS, intr.).

Já no início da carta, Tomás, referindo-se à tarefa de obter o conhecimento, emprega sugestivamente o gerúndio - acquirendo, adquirindo - como que a indicar que a formação intelectual é mais um contínuo processo do que pacífica posse decorrente de uma ação que se perfaz de uma vez. Significativo, nesse sentido, é o uso do verbo incedere, caminhar, marchar. Com efeito, já na primeira questão da Suma, referindo-se à busca pela razão humana da verdade mais elevada, Tomás diz que "só poucos, depois de muito tempo e com mistura de muitos erros, podem chegar".

O "De modo studendi" é um espelho em que se reflete uma concepção de educação totalmente diferente da que prevalece em nosso tempo. Se um grande educador de boje fosse consultado sobre "o modo de estudar" ou sobre como "adquirir conhecimentos", certamente sua resposta dirigir-se-ia a questões técnicas, programático-curriculares, motivacionais... O conhecimento é, para nós, compartimentado, separado da existência. Já Tomás, que pensa no saber como algo integrado à existência, ante as mesmas perguntas, aconselha "sobre como deve ser tua vida" (DMS, intr.).

Se o objetivo da escola, hoje, é formar o bom profissional, ou, quando muito, "educar para a cidadania", ou formar para uma análise crítica do mundo; os conselhos de Tomás, no século XIII, incidem sobre a própria estrutura nuclear intima do ser humano.

2. A educação para a sabedoria

Assim, já na primeira questão da Suma Teológica, ao procurar caracterizar o que é a sabedoria, Tomás explica que a sabedoria não deve ser entendida somente como conhecimento que advém do frio estudo, mas como um saber que se experimenta e saboreia. Tomás, sempre muito atento aos fenômenos da linguagem, à fala do povo, como fonte de profundas descobertas filosóficas, encanta-se com o fato -- para ele experiência pessoal vivida -- de que em sua língua latina sapere signifique tanto "saber" como "saborear". Esta coincidência de significados na linguagem do povo -- Tomás bem o "sabe" -- não é casual: se há quem saiba porque estudou, verdadeiramente sábio, porém, é aquele que saboreou...

Se a sabedoria não pressupõe só uma dimensão intelectual, mas está integrada ao todo da existência, não é de estranhar que, dentre os conselhos dados por Tomás sobre o modo de estudar, encontremos a exortação ao silêncio, à vida de oração, à amabilidade, à humildade, à pureza de consciência, à santidade...

Nesse sentido, deve-se observar também que o alcance semântico da própria palavra studium em latim é muito mais abrangente do que a nossa, estudo. Studium significa amor, afeição, devotamento, a atitude de quem se aplica a algo porque ama e, não por acaso, esse vocábulo acabou especializando-se em dedicação aos estudos. Assim, o próprio título do opúsculo de Tomás "Sobre o modo de estudar" sugere algo assim como: "Sobre o modo de aplicar-se amorosamente...

E, na verdade, o que Tomás propõe é nada menos do que uma dedicação integral, uma consagração à vida intelectual. Um estilo de vida muito exigente, que supõe uma ascese de relacionamento do homem com Deus (cf. DMS, 3), com os outros (cf. DMS, 5) e consigo mesmo (cf. DMS, 12).

Na visão compartimentada do conhecimento que temos hoje, esperamos que nosso aluno demonstre teoremas, calcule empuxos, balanceie equações químicas, escreva redações sugestivas e conjugue corretamente os verbos; o que ele é enquanto homem, isto é lá com ele... Já para Tomás, como se vê no "De modo studendi", alguém dedicado ao estudo deve, antes de mais nada, cuidar das atitudes da alma.

3. A descoberta da realidade como objetivo da vida intelectual

No que se refere à vida intelectual, Tomás afirma a existência de uma ordo, de uma dinâmica própria do conhecimento, daí que o Aquinate freqüentemente compare o sábio ao arquiteto. Certamente, essa ordo exige uma ordenação do próprio objeto de estudo: do mais fácil para o mais difícil; do riacho para o alto-mar. Mas a aquisição do tesouro do saber exigirá também uma ordenação interior do sujeito que estuda. A essa ordo interius referem-se os conselhos do "De modo studendi". Afinal, o conhecimento da realidade é, para Tomás, o objetivo da educação, e mais, a própria realização do homem.

B. CARTA SOBRE O MODO DE ESTUDAR

Introdução

Já que me pediste, frei João -- irmão, para mim, caríssimo em Cristo --, que te indicasse o modo como se deve proceder para ir adquirindo o tesouro do conhecimento, devo dar-te a seguinte indicação: deves optar pelos riachos e não por entrar imediatamente no mar, pois o difícil deve ser atingido a partir do fácil. E, assim, eis o que te aconselho sobre como deve ser tua vida:

1. Exorto-te a ser tardo para falar e lento para ir ao locutório.

2. Abraça a pureza de consciência.

3. Não deixes de aplicar-te à oração.

4. Ama freqüentar tua cela, se queres ser conduzido à adega do vinho da sabedoria.

5. Mostra-te amável com todos, ou, pelo menos, esforça-te nesse sentido; mas, com ninguém permitas excesso de familiaridades, pois a excessiva familiaridade produz o desprezo e suscita ocasiões de atraso no estudo.

6. Não te metas em questões e ditos mundanos. 

7. Evita, sobretudo, a dispersão intelectual.

8. Não descuides do seguimento do exemplo dos homens santos e honrados.

9. Não atentes a quem disse, mas ao que é dito com razão e isto, confia-o à memória.

10. Faz por entender o que lês e por certificar-te do que for duvidoso.

11. Esforça-te por abastecer o depósito de tua mente, como quem anseia por encher o máximo possível um cântaro.

12. Não busques o que está acima de teu alcance.

13. Segue as pegadas daquele santo Domingos que, enquanto teve vida, produziu folhas, flores e frutos na vinha do Senhor dos exércitos.

Se seguires estes conselhos, poderás atingir o que queres.

Saudações.


Notas:

[1] Martin GRABMANN - em seu Die Werke des Hl. Thomas von Aquin, Münster, Verlag der Aschendorffschen Verlagsbuchhandlung, 2a ed., 1931, pp. 372-3 -- considera o De modo studendi um opúsculo autêntico. Contra as reservas (embora mínimas) que Mandonnet guarda a propósito da autoria do De modo studendi - incluído por ele entre os vix dubia de Tomás, Opusculum XLIV, opúsculos de que dificilmente se pode duvidar de que o autor seja o Aquinate (S. Thomae Aquinatis: Opuscula Omnia cura et studio R.P. Petri Mandonnet, vol. IV, Paris, Lethielleux, 1927) --, Victor White, em seu How to study, 2a ed., Oxford, Blackfriars, 1949, aponta razões intrínsecas que confirmam a tese da autenticidade desse opúsculo. Para a tradução, valemo-nos do texto latino apresentado por White.

[2] Como é o caso de sua carta Resposta a seis questões do irmão Gerardo de Soissons: "Embora esteja muito ocupado em diversos assuntos, cuidei de responder logo que me foi possível, para não desatender a vosso pedido." E o mesmo diz a um importuno veneziano que escreveu uma carta dirigindo-lhe 36 questões e exigindo, como ironicamente frisa Tomás, "resposta em quatro dias"

[3] White observa que São Tomás, seguindo o uso do século XIII, sempre se valia do tratamento "vos" para superiores ou iguais; nesta carta, porém, emprega o "tu".

***

Leia mais em DICAS E SUGESTÕES PARA ESTUDAR SOZINHO (Para alunos do ensino fundamental e médio).


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Os números e a vida concreta


Os números e a ordem na alma - por Instituto Hugo de São Vitor

Se homem não descobrisse os números, não seria capaz de ordenar sua vida. Não seria, em resumo, capaz de ação racional.

Porque racionalidade é ordem, e só existe ordem com a noção de número. Quando você decide organizar uma festa, por exemplo, precisa priorizar alguma tarefa, secundarizar outra, terceirizar uma terceira e assim por diante.

Se não faz isso, então seus atos são improvisos sujeitos a toda sorte de acidentes.

Muitas pessoas passam a ter dificuldades com a matemática tão logo ela deixe de falar em frutas e barras de chocolate. A questão é que os números estão em tudo, e que a melhor forma de os estudar é observando-os na vida concreta, mais do que em frutas imaginárias.

O número está nas coisas diante de você; como, por exemplo, nos livros em sua mesa de estudos. Quantos há? Quantos está lendo? E, se muitos, que qualidade têm essas leituras esparsas?

Veja, fazendo uma simples enumeração de leituras pendentes ou por iniciar, você já se organiza. Agora guarde o excesso de livros, que você finge estar lendo, mas que estão apenas ocupando espaço mental e físico na sua vida, e veja uma mágica acontecer. Faça o mesmo com suas abas no computador.

Agora, volte-se para dentro, para seu caos interior. Quantas coisas se agitam aí! Bem, por que você não as enumera? Quantos desejos espreitam num dia? Quantas planos estão quase esquecidos? Quantos maus pensamentos o assombram? Conte-os! Isso já será um exorcismo do que não presta.

Viu como o número está também na alma do homem? Se seus cabelos estão todos contados, quanto mais seus pensamentos, e, pior, aqueles vãos e sem sentido!

Tudo isso é só enumerar, contar, anotar. Mas é claro que você pode aplicar matemática mais complexa a sua vida. Você pode dividir seu dia de modo otimizado; pode calcular quantas páginas lê com proveito por dia e ir tabelando seus avanços e assim por diante.

Essa matemática é muito mais útil do que apenas aprender cálculos complexos. Estes só farão sentido quando você vir a matemática como útil a você em alguma medida.

Conte, pois, conte tudo! Não faça nada que não esteja, mentalmente, tabulado e ordenado em sua rotina.

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Texto retirado do link.


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